A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

MIL MILHAS BRASILEIRAS 1984 - III por Rui Amaral Jr

Opala de João Lindau/Roberto Ferreira/Sebastião Santos .

No final de 1983 os amigos Marcos e Arno Levorin da retífica SALECAR, convidaram-me a correr as MM com Fabio filho de Marcos, usaríamos meu carro que, havia sido deles e estava parado desde o final de 1982. Correríamos na cat. Hot Car, eles tinham como patrocinador, uma indústria de café, teríamos de mudar a cor do carro para amarelo. Motor poderíamos usar o 1.800 cc. Carro amarelo para mim nunca deu certo de umas oito corridas que fiz com essa cor não terminei nenhuma.
Início de janeiro e dos treinos com 1.800 cc, o torke do carro ficava muito bom e começamos a andar bem rápido, acertamos chassi, agora poderia usar meus amortecedores Koni e iríamos correr com pneus da Peneubras na medida de altura de 20, pois a caixa três já estava com as relações acertadas para eles.
A equipe da rede Record chegou para fazer a chamada da corrida que transmitiriam e seus repórteres viram aquele VW andando uma barbaridade, quiseram gravar as cenas da chamada... apareci vestindo a touca o capacete e meu nome e depois o carro na pista. Aí o amarelo começou a funcionar. A indústria de café, apesar de já termos pintado o carro, deu para trás.
José Ferraz/Julio Miglioli
Os Levorin receberam uma oferta do Amadeu Rodrigues para dividir a tocada do carro comigo e o Fabinho e, apesar de gostar do Amadeu acabei não aceitando, até hoje me arrependo, e veio o Alexandre Benevides para dividir o carro conosco. O Alexandre, bi-campeão Brasileiro de gaiola nunca havia pilotado em pista de asfalto muito menos com pneus slick. Lembro em um treino ao levá-lo dar uma volta na pista, eu amarrado ao banco com cinto de seis pontas e ele sentado ao lado provavelmente na bateria. Não andaria forte, ia só mostrar a pista a ele, mas quando a 1ª encheu e fui descendo o “Retão” enfiando as marchas em sequência seus olhos estavam bem maiores que o normal, afinal aqueles Fusquinhas aceleravam uma barbaridade!
Mas além de super simpático o Alexandre não era bobo, afinal era bi-campeão de uma categoria que na época era super disputada. Correríamos com o patrocínio da Ind. de Pneus Levorin e verba levada pelo Alexandre.
Na classificação ficamos esperando um jogo de rodas que havia sido levado para dar um passe e de repente o organizador diminuiu o tempo do treino e tivemos de sair com pneus usados, faltando uns 5 min. para o final. E nós que achávamos que largaríamos lá na frente acabamos por largar na 4/5 fila.
Recordando a fantástica equipe de profissionais da CIBIÉ, quando foram instalar os seis faróis, quis dar um palpite e o chefe deles, que já havia feito 20 MM me disse que se não gostasse do modo que colocariam os faróis eles usariam meu palpite! Ficou simplesmente ótimo, e eu que já amava aquela pista de dia fiquei maravilhado de poder andar à noite praticamente no mesmo ritmo.

A CORRIDA.

Chovia “canivetes”, eu largaria, lembro de conversar com o Fabinho e o Alexandre e ver a preocupação em seus rostos, fomos para o grid. O único senão era que usaria pneus PIRELLI de F 3 cuja altura era de 22 o que tornaria o câmbio muito mais longo e a largada bem mais lenta até encher à 1ª.
Ao contrário do que escrevi antes, estava bem atrás da Alfa Romeo do Paulão e ele teimava em não fechar a porta, certamente para refrescar e eu preocupado. Ao acender a luz vermelha os carros das filas de trás já largaram e, olha que eram mais de 60, esperei o sinal verde, largando com toda dificuldade, pois a 1ª marcha com aquela relação e pneus 22 atingia mais de 120 KM/H e tirar o carro da imobilidade não foi fácil. Não vi o acidente da largada, estava no lado esquerdo da pista e preocupado com aquele enxame de Fiat, Passat e etc. da D1 que iam ultrapassando-me. Na descida do “Retão” comecei a tomar as posições desses carros que eram muito mais lentos que eu, os Pirelli grudavam na pista e até a junção tinha retomado muitas posições. Aí encontrei o Fiat Hot Car amarelo nº 25 do Chico Lameirão/Paternostro, quando fui ultrapassá-lo no “Café” notei algumas bandeiras já dentro da pista, tirei o pé preocupado com os que viam atrás , felizmente nada aconteceu, eram nossos “Anjos da Guarda” fazendo seu trabalho, cuidando de nossa segurança. Só ao chegar aos boxes fiquei sabendo do que ocorrera na largada, uma alicatada de um piloto inexperiente e a afoiteza de quem vinha atrás. Graças a Deus ninguém se feriu com gravidade.
Acredite se quiser, apesar de toda tensão em nosso Box, fui buscar um telefone para ligar a minha mãe, que assistia e devia estar preocupada, com ajuda do grande amigo Carpinelli.
A segunda largada foi mais tranquila, com a perda de muitas posições, mas logo recuperadas – dos Divisão 1 no “Retão” passei um monte e, no final da 1ª volta já vinha entre os 15. Os Pirelli grudavam no chão e o motor empurrava muito, com o câmbio me ajeitei, usando uma marcha mais curta que o normal e a 4ª somente na “Reta oposta”, “Reta dos Box” e “Retão”. Duas ultrapassagens lembro bem, o Capeta Palhares/Murilo Piloto de Alfa Romeo nº 33 que encontrei na freada da “TRÊS” e apesar de vir bem mais rápido só ultrapassei-o na freada do “Sargento”. A “Alfona” vinha o tempo todo de lado, da “Quatro” até a “Ferradura” o tempo todo derrapando, quando dava motor saia de traseira aí corrigia - grande piloto o Capeta . A outra foi quando ultrapassei o Paulão/Fabio Souto Mayor com a outra Alfa nº 22 , foi na curva depois do “Bico de pato”, coitada aquela curva nunca teve nome, ele vendo que eu vinha muito mais rápido fez um sinal com a mão e tomei a curva antes dele. Campeão é campeão até cedendo a posição ele foi um grande piloto.
Lá pela 8ª volta já estava entre os dez, e ao chegar na “Junção” notei a pressão de óleo a zero e entrei no Box - motor havia estourado. O interessante é que por conta do câmbio longo não o havia forçado, andando mais em cima dos pneus e freios
Motor foi trocado rapidamente e voltei à pista. Não tinha completado meu turno.
Na freada da “Três” uma desagradável surpresa, a ambulância que estava parada no Retão, atrás do Guard Rail havia saído, e como era meu ponto de referência quase estampo ali mesmo.
José Ferraz/Julio Miglioli

Saindo da “Subida do lago” notei óleo saindo de meu motor novo, tentei ir até o box, mas o motor apagou na freada do “Sargento” e lá ficou meu carro!
Ao parar logo veio um bandeirinha, deles escrevi neste blog “Anjos da Guarda” e segurando meu braço levou-me até um lugar seguro, para logo a seguir com seus companheiros sinalizar ao lado do carro, e veja bem um lugar dificílimo onde os Stock, Maverick e outros carros vinham numa freada forte, dificultada pelas condições do tempo.
Ao atravessar a pista, subindo pelo lado do “Sargento” algumas pessoas que assistiam dali a corrida aplaudiram-me - devo ter feito umas 5 ultrapassagens naquela freada. Chateado agradeci-lhes e um deles com o carro junto à cerca além dos aplausos ofereceu-me um copo de Congnac, agradecido bebi. Agora já podia, para chegar a meu box e ver o Fabinho e o Alexandre cabisbaixos, nossa corrida tinha acabado.
Confesso a vocês que fiquei muito chateado. Em momento algum forcei os motores, o conta-giros JONES com espia foi prova disso, confesso também que com os Stock parando para reabastecer muito antes de nós tinha a esperança de entregar o carro ao Fabinho numa boa colocação, talvez até na ponta.
Nunca mais corri, já tinha 32 anos, e se alguém algum dia me convidar a pilotar um carro de corridas que, por favor, não seja amarelo!
O detaque negativo dessas MM foi o atrolelamento de um espectador por um Maverick em pleno "Retão" , o bandeirinha que veio me contar quando voltei a Interlagos quase no final da corrida ainda estava emocionado .

Agradeço à Graziela Rocha , Fabiano Guimarães , José Ferraz , Duran , Romeu , Cláudio , Rui , Bifulco , Joel pelo apoio .
Dedico esta postagen à memória de dois amigões , os saudosos Arno Leverin e João Lindau Neto .

A seguir o relato do Romeu para a largada .
F250GTO disse...
Nessa Mil Milhas de 84 eu estava lá.
Exatamente na linha onde estava o Opala do Beto.
Na hora da largada desabou um verdadeiro toró em Interlagos.
A largada erroneamente numa situação dessas, foi dada com os carros parados no grid.
O carro apagou justamente na hora de largar, e o piloto ficou com o braço levantado acenando desesperado e já prevendo o pior, pois atras dele largavam mais de 60 e tantos carros.
Alguns, que vinham log atrás, perceberam e desviaram e por milimetros não acertaram o Opala.
Mas o pessoal que vinha detrás mesmo, sem visão por causa do "spray" e em maior velocidade encheu a traseira do Opala e bateram uns nos outros, algun tiveram inclusive principio de incendio.
Se não me engano, apesar dos estragos (grandes) dos carros, ninguem se feriu gravemente, felizmente.
Poderia ter sido bem pior.
Romeu.


10 comentários:

  1. Boa noite Ruy,

    Gostei. Muito boa a sua matéria. Faz a gente voltar no tempo e reviver um automobilismo apaixonante, carregado de emoção, suor, risos e lágrimas. Ja vivi os bastidores de uma Mil Milhas (uma bem mais recente, aquela MM que os italianos ganharam com um Viper)supervisionando o abastecimento de gasolina para todas as equipes (o monopóplio era nosso ...). Só quem lá esteve um dia no meio dos boxes, sabe o quanto voce deve ter vibrado relembrando esta epopéia de 84. Ah; o apelido "pinico atomico" realmente caia bem nestes Fuscas Hot Car, os bichinhos andavam uma barbaridade.

    Um grande abraço,

    Fernando

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  2. Obrigado Fernando , gostaria de ter corrido outras . Nunca vou esquecer a vibração de meu amigo Victório Azzalin quando me contou sua vitória em 65 . Só o Barão e o Elói poderiam ter nos dado este presente .

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  3. Pessoal eu que tenho que agradecer a todos vôçes pelas lembranças maravilhosas desses tempos que se foram, mas continuam nas nossas lembranças.....e pena pelos amigos que já se foram que eu tenho certeza que se cá estive-sem estariam junto com agente narrando e rindo de algumas coisas que fizemos....belos comentários e vamos para a proxima e está chegando o final de mais um ano e a tão sonhada reunião entre nós( quando vái ser) um abraço Ferraz.

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  4. O Maverick que atropelou o espectador foi do Sérgio Bernardo, que após o acidente nunca mais pisou no autódromo.
    Abraço,

    Fabiano.

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  5. É Fabiano , o comissário que o ajudou a sair do carro me contou os detalhes , o atropelamento foi a mais de 200 km/h , uma tristeza .
    Deixo aqui ao Sérgio Bernardo .minha solidariedade .

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  6. Caro amigo, Rui
    não canso em reler seus relatos... esta MM é pura emoção!!!
    Cada dia sou mais sua fã!
    Deixou um grande abraço a Cláudia que empresta vc inúmeras horas para seu blog e a nós seus leitores.
    Bom final de semana.
    Abraços,
    Graziela

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  7. Parabéns para nós apaixonados é uma leitura obrigatória dos relatos como costumo dizer, é de quem estava lá pilotando.

    Juntando todas as experiência de vocês na pista já dá um livro hein!

    Muito bom e parabéns a todos.

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  8. Obrigado em meu nome do Fabiano e do Ferraz .Gostei muito tambem do depoimento deles , o Fabiano que chegou quietinho em meu blog com um comentário e hj escreve como ninguem e logo vai contar sua carreira e o Ferraz que desde o começo muito contribuiu com suas fotos e a sua rica história dentro do automobilismo .

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  9. Caros, parabéns pelo blog.
    Ainda bem que o acidente não foi como o do Tom Pryce, que se vcs se lembram, levou o "bombeiro" e o o pioto.
    Abraços.

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  10. Obrigado. O acidente a que me refiro foi no "Retão" e não tinha nenhum bandeira por perto. A rapaz atravessou a pista e não calculou a velocidade do carro. Infelizmente isso era comum na época.
    Assisti a morte do Tom, outro acidente horroroso.

    Abs

    Rui

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Rui Amaral Jr