A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach
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segunda-feira, 6 de maio de 2019

...E JIMMY NÃO PASSOU.

Dá um jeito Beaky...
Mike Gregory e Dave Sims...a equipe Lotus.


Um dos primeiros pontos que nos chama a atenção nos acontecimentos que cercaram a primeira etapa do europeu de Fórmula 2 em 1968, na pista de Hockenheim (a prova em Montjuich Park fora extracampeonato) é o número  de integrantes da equipe Gold Leaf Team Lotus  envolvidos.



Já no grid Jimmy e Beaky.

Jim Clark contava com Dave "Beaky" Sims para preparar seu carro e Graham Hill tinha Mike "Carnoustie" Gregory para cuidar do seu e era tudo. Dois pilotos, dois mecânicos.
E algum desavisado diria que eram muitos, para um evento onde nada parecia dar certo para a Lotus. Um fim de semana a ser esquecido, mas não mais do que isso, até a quinta volta da  primeira bateria. " Quando não o vimos passar, não percebemos de imediato", conta Sims. "Teria havido uma quebra com Jimmy?" 




Então um dos carros de serviço apareceu e um fiscal de pista perguntou: "Você é o mecânico de Jim Clark?" Sims quis saber o que ocorrera e foi informado do acidente. Quando foi ao local da batida, viu uma ambulância e questionou: "Ele está bem?" "Não posso dizer", foi a resposta. Então viu o carro. Não havia sobrado muita coisa. Onde estavam a caixa de velocidades, o motor? A resposta: "Ah, pela floresta. Ele atravessou a mata ao sair da pista". Perplexo, Beaky perguntou se poderia ver Clark. A resposta foi não. 
Sem certeza do que causara tudo aquilo, Sims teve a idéia de pedir ao fiscal que o levara até o local do acidente, que voltasse aos boxes e dissesse a Michael Gregory que chamasse G.Hill de volta aos boxes. 

Quando Graham chegou disse:"OK, Beaky. O que temos de fazer é pegar o caminhão e carregá-lo com tudo isso. Venha e sente-se por alguns minutos. Acalme-se. É isso o que vamos fazer, está bem?" E assim foi. Eles encheram o caminhão da equipe com os destroços do Lotus 48 e voltaram ao paddock. Restava a Hill identificar o corpo de Jimmy. Antes de realizar a triste tarefa, ele determinou que o caminhão não deveria ser aberto para ninguém. Beaky e Carnoustie retornaram ao Hotel Luxhof onde estavam, com o pesado veículo. 
Mas logo a Polícia chegou e lhes deu uma contra-ordem. Ninguém poderia sair do hotel ou deixar a Alemanha. O pesadelo particular de Sims continuou com a chegada de Colin Chapman. Era uma da manhã e todos continuavam de pé. "Que diabos você fez?", vociferou Colin a Dave, que retrucou: "Por Cristo. Foi um acidente". Chapman pareceu conter-se. "Certo. Está bem". Fiel da balança, Graham pediu calma. Chapman então disse: "Quero o caminhão fora daqui. Agora". Sims alertou que não poderiam e que o carro da polícia estava bloqueando a saída. Colin não queria saber: "Não importa. Temos que tirá-lo da Alemanha". Meia hora depois, o pequeno Volkswagen da Polícia tinha  desaparecido. Dave e Gregory assumiram o volante e Chapman lhes disse: "Vão para o oeste, para a costa; até Zeebrugge na Bélgica". Ao chegarem à costa belga, o passo seguinte seria fretar um barco que transportaria o caminhão até a Inglaterra. Sims recorda:"Então fomos. Subimos uma colina, outra, depois outra. Até chegarmos a uma barreira vermelha e branca. Era a alfândega, mas não havia ninguém lá. Nós prosseguimos, encontramos Zeebrugge no mapa e chegamos. O cara do barco já estava sabendo da tragédia e parecia interessado. Perguntou se conhecíamos Jim Clark. Disse que éramos seus colegas de equipe. Foi quando o sujeito falou que queria olhar o caminhão, tirar fotos". Dave protestou e respondeu que não era possível. O barqueiro foi irredutível: "Sem fotografias, sem barco". Sims e Gregory decidiram rapidamente. Dave abriu a porta do caminhão."Era só uma bagunça, mais nada. Havia uma lona cobrindo o que restara do carro, mas o homem não desistiu e fez algumas fotos". Satisfeito, a última etapa da viagem enfim começou. Em seu destino encontraram a polícia britânica esperando-os no porto. 
Mas estavam ali para escoltá-los, pois havia a imprensa por todo o lado e muitos curiosos. De volta à sede da equipe, Sims ficou sem aparecer por algum tempo. Quanto ao que restara do Lotus 48, Colin enviou o motor à Cosworth, o câmbio para a Hewland, os pneus à Firestone  e qualquer outro fragmento para a Farnborough Aircraft. Tudo foi examinado e nada encontrado, embora a Firestone apontasse para a deflação do pneu traseiro direito como uma possível causa. Mas os tablóides escolheram Beaky para apontarem seus dedos acusatórios. Quem tocara por último no carro? Sims, aos vinte e sete anos era pouco experiente e deixou-se levar por essa onda, até o dia em que falou com Colin Chapman outra vez e perguntou-lhe o que faria. "O que quer dizer com o que vai fazer?" Beaky retrucou: "Eu era o mecânico do Jimmy e ele morreu. O que faço?" A resposta de Chapman foi direta: "Você vai à Jarama amanhã, levando o novo chassi para o Graham, que o usará no Grande Prêmio".

E assim Dave Sims começou a tentar superar o trauma da morte do terceiro Gigante... 

Dave Sims  

CARANGUEJO 

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 NT: "Terceiro Gigante" = Tazio Nuvolari, Juan Manuel Fangio e Jim Clark.

 Fotos internet.



terça-feira, 14 de junho de 2016

Hockenheim 1968...

...o belo circuito alemão era de altíssima velocidade, saindo da parte que chamam de Stadium entrava na Floresta na parte de alta, pé no fundo até Ostkurve e foi no meio desta grande reta que Jimmy perdeu o controle de seu Lotus 48 FVA Cosworth da Formula 2 e bateu em uma árvore, perdemos Jimmy, morre o grande campeão, o mito vive! 

Algumas teses falam em "furo lento do pneu". Eu acredito em "quebra lenta da suspensão". Acho que Clark está mais desconfiado dos pneus Firestone de chuva, inadequados para uma pista com aquelas características.
Os melhores carros aquele dia eram as Matra MS7 e as Brabhams BT23. O Lotus 48 era um bom carro e Jimmy já vencera com ele antes, mas talvez estivesse agora algo defasado.



A panca em Jarama...
...e a chegada ao box. 


Caranguejo


   

quinta-feira, 5 de março de 2015

PASTOR DE OVELHAS


500 Metros para a Eternidade. Esse era o título para a matéria com a cobertura sobre o acidente fatal de Jim Clark em Hockenheim, na revista Quatro Rodas de maio de 1968. Comentei a respeito com o Rui que vem de lá com um de seus inícios de frase preferido: “Por que você não escreve sobre os 2.860 dias de Jimmy até a eternidade, na F1?” Bom, seria tema de uma tese de doutorado e ainda ia ficar muita coisa de fora. Se fosse cometer uma loucura dessas, iria focar em três fases distintas da carreira do Jimmy: início meio e fim. E ver o bicho que iria dar. O cara topou. E foi após essa pequena história ilustrativa, que você, meu caro leitor, teve mais uma vez de me engolir (ou não, tem muita coisa melhor por aí), contando como um garoto pastor de ovelhas, um dia resolveu ser o melhor motorista do mundo.

1ª parte

O Sunbean Talbot
DKW Sonderklasse

James Clark Jr. iniciou cedo seu amor pelos carros. Imagine o pequeno James, um jovem varão cercado por quatro irmãs maiores, morando numa fazenda em Kilmany House Farm, Fife, Escócia, tentando garantir o seu espaço. Filho obediente, jamais lhe passou pela cabeça contrariar seus pais, que é claro, não viam corridas de automóveis como “atividade de gente séria”. Secretamente, Jimmy já conhecia os macetes de como dirigir um carro, segundo parece, desde os oito anos. E aos dezessete, foi-lhe permitido participar de eventos amadores de Rally, contanto que não atrapalhasse seus estudos. Porém, a adrenalina, mesmo nessas competições modestas falou mais alto e levou o tímido Jim Clark a desobedecer os pais: começou a dizer publicamente que iria tornar-se um piloto de competições. Foi quando passou a enfrentar além da desaprovação paterna, o deboche e o escárnio de seus vizinhos e amigos, que o viam como uma piada. “O Fracote do filho dos Clark pilotando? Foi a melhor do dia”. Mas a decisão estava tomada. Jimmy esperou até completar 20 anos, idade mínima para competir na Escócia e lá foi ele com seu Sunbean Talbot para as primeiras disputas. Ligou-se à equipe de Ian Scott Watson e experimentou também um DKW Sonderklasse. Em seus dois primeiros anos, seus resultados e participações foram singelas e faltou pouco para que ele voltasse a cuidar do rebanho de ovelhas da família. Salvou-o um convite de um time melhor estruturado, o Border Rievers, que o deixou então mais perto da eternidade...

2ª parte



Lotus Ford Cortina
 1964 Indianápolis...
....notem os pneus escolhidos por Chapmam!

Em 1964, Jimmy atingira a metade da trajetória para a eternidade, mas ele não sabia disso...Deixara de ser objeto de riso de sua comunidade. Um ano antes, vencera com o Lotus Climax 25, o campeonato mundial de F1, sem tomar conhecimento da concorrência. Seguramente, em 64 o script seria o mesmo, não fosse a ânsia de seu chefe, um certo Colin Chapman, por estar sempre um passo adiante das outras equipes. A temporada chegara à metade com Clark na liderança. O Lotus 25 o conduziria ao bicampeonato, mas Chapman considerou que o time não poderia ficar parado esperando que os adversários melhorassem seus carros. Estava na hora de estrear o Type 33, com seus pneus mais largos e nova suspensão. No meio da temporada, o título na mão e o desafio de um carro novo. Os adversários agradeceram: Com o Lotus 25, cinco GPs, três vitórias; com o Lotus 33, cinco GPs, três quebras. Como consolo, a pole position nas 500 Milhas de Indianápolis. Só não venceu porque Chapman (outra vez?) optara por usar os pneus Dunlop em vezes dos confiáveis Firestone. A escolha equivocada custou seu abandono, com a suspensão avariada. E vitória incontestável no British Touring Car Championship com o Lotus Cortina. Pela frente, havia a perspectiva de dias melhores com o acerto do Lotus 33 e...o que o futuro reservaria para Clark?

3ª parte

Vitória em Kyalami
1968 Tasman Series no grid.
1968 Tasman Series brigando com Chris Amon em Surfers Paradise.
(Chris vem pendurado, sente-se a velocidade na foto!)
No dia anterior à Hockenheim, no programa Werner Scheneider no F2 o piloto alemão Kurt Ahrens.

  Largada em Hockenheim ao lado de Chris Amom.
No Estádio em Hockenheim.

Grandes esperanças se descortinavam ante Jim Clark, o melhor piloto do mundo e suas 25 vitórias na F1. Era o ano de 1968 e já no primeiro dia de janeiro, ele atingira a marca histórica, vencendo a etapa de abertura do campeonato em Kyalami. Bem melhor do que no ano anterior, quando começara a temporada com o problemático Lotus BRM 43, depois passando para o Lotus Climax 33, até o modelo 49, equipado com o motor Cosworth V8 ficar pronto. A união de Jimmy com esse fantástico carro aconteceu um pouco tarde, contudo. Denny Hulme e a Brabham Repco tiraram partido de que, como todo carro novo, o Lotus 49 carecia de alguns acertos. Moral da história: Clark venceu quatro GPs mas Hulme só precisou de duas vitórias para ser o campeão. Mas isso era passado. Com o carro acertado, Jimmy estava pronto para o Mundial e demonstrara isso vencendo a Tasman Series, com a versão “oceânica” do 49, havendo ainda a promessa de bons resultados com o Lotus Turbine, que estrearia em Indianápolis. Mas antes, teria de realizar um compromisso menor: disputar uma etapa do campeonato europeu de Fórmula 2, em Hockenheim, Alemanha. Um evento pequeno com a presença de tamanha personalidade e mal sabíamos nós, que sua carreira nesse mundo de aflitos, teria termo em uma das árvores da Floresta Negra em Hockenheim...

À você Jimmy que no dia 4 de Março faria 79 anos.

CARANGUEJO