A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach
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sexta-feira, 5 de abril de 2019

LEMBRE-SE DE AMANHÃ

 Brauchitsch vencendo


Dia desses, alguém me perguntou se uma vez que sempre se encontrava aspectos diferentes em histórias sobre automobilismo, se haveria alguma que reunisse o esporte a motor e o ocultismo. Uma que lembrei é a de Erik Jan Hanussen, um hipnotizador, mentalista, ocultista e astrólogo austríaco, que viveu na Alemanha nos anos vinte do século passado. Homem importante no tempo das bandeiras da cruz gamada, teria sido Hanussen quem ensinou a Adolf Hitler a técnica do domínio das multidões, utilizando gestos grandiloquentes e pausas dramáticas. Era o editor de um jornal ocultista, publicação que só tratava de assuntos  esotéricos e astrologia. Excêntrico, morava em uma mansão, chamada "o Palácio do Oculto". 

Erik Jan Hanussen

Circulando com desenvoltura entre a sociedade alemã e os oficiais nazistas, a quem  emprestava  grandes  somas  de  dinheiro,  era  natural  que  se  aproximasse  do  famoso  chefe da equipe Mercedes-Benz, o volumoso Alfred Neubauer. Certa vez estavam reunidos em um bar chamado "Roxy", Neubauer e os pilotos Hans Stuck von Villiez, Rudolf Caracciola, Manfred von Brauchitsch, René Dreyfus, Malcolm Campbell e o príncipe checo  Georg Christian Lobkowicz, um gentleman  driver, além  de Erik Hanussen. Conversavam sobre a corrida a ser disputada em Avus no dia seguinte, especulando quem seria o ganhador. Isso levou Neubauer num dado momento, a desafiar Hanussen, pois era ali entre eles, aquele que tinha o poder de desvendar o desconhecido e enxergar o futuro. Que ele previsse então, quem venceria a prova. Após alguns minutos de concentração, Erik pediu papel e nele escreveu dois nomes, logo em seguida fechando a previsão em um envelope, sem que ninguém a visse. Pediu então silêncio e declarou: "Um de nós nesta mesa, vencerá amanhã, mas o outro morrerá". 

 Brauchitsch treinando.
a largada...
Rudolf  Caracciola
A Bugatti de Lobkowicz chegando ao autódromo.

No dia seguinte, disputou-se a Avusrennen de 1932. Brauchitsch havia feito bons tempos com seu Mercedes SSKL Streamlinner, mas ficou com a quinta posição devido  ao  sorteio;  Caracciola  foi  o  segundo  com  o Alfa-Romeo Monza; Dreyfus no Maserati V-5 ficou em sexto e Campbell com o Sunbeam Tiger, o oitavo. Stuck em outro Mercedes SSKL, apenas o décimo e Lobkowicz no Bugatti T-54, o P-16 e último. Louis Chiron e Achille Varzi da Bugatti estavam inscritos, mas não apareceram e Tazio Nuvolari e sua Alfa-Romeo Monza também não. Apesar das ausências sentidas, a prova em Avus despertava interesse no aficionado alemão, devido a característica da pista ser a sua alta velocidade. Logo no começo,  Dreyfus  liderou  por  uma  volta, mas  atrasou-se; Campbell  abandonou  depois  de  duas  voltas por um vazamento de óleo; o drama porém ocorreu logo no primeiro giro. O príncipe checo Lobkowicz não treinara o bastante com sua Bugatti T-54, carro manhoso, que superava facilmente os 240 km/h, graças ao seu motor de 8 cilindros e compressores Roots. Contudo pesava 950 kg e era bruto, pouco estável e de condução difícil. Lobkowicz saiu da pista, voou uns vinte metros e bateu contra um aterro da estrada de ferro. Levado ao hospital, ele morreu sem recobrar a consciência. Alheios a tudo isso, Caracciola assumiu a ponta na sexta passagem mas logo von Brauchitsch juntou-se a ele e duelaram até o final. A leve Alfa-Romeo Monza ia bem nas curvas, mas o feioso SSKL disparava nas retas graças  ao  seu  aerodinamismo. Foi  o  dia  em  que  von Brauchitsch demonstrou que seu azar tinha limites e venceu.

 A Bugatti após o acidente.
Georg Christian Lobkowicz...
...e o brasão de sua família.

 Neubauer procurou o envelope de Hanussen, que ficara sob a guarda do barman do Roxy e ao abri-lo achou os nomes de Brauchitsch e do príncipe Lobkowicz . Mais tarde, ele descobriu que Erik havia procurado o Automóvel Clube da Alemanha, o organizador da prova, pedindo que o príncipe fosse impedido de correr, mas ninguém o escutou. Espantado, Alfred Neubauer narrou essa história em sua autobiografia "Speed Was My Life". Apesar de seus poderes paranormais, Erik Hanussen não conseguiu evitar seu próprio destino. Ele foi assassinado em março de 1933, muito possivelmente por sua grande influência junto a Hitler estar provocando a inveja de integrantes do staff do ditador, ou simplesmente por um segredo que o ocultista protegia: sua origem judaica.

CARANGUEJO