Silverstone, a primeira largada do novo campeonato.
Fagiolli e Fangio na ponta.
Organizado na esteira do sucesso do Campeonato Mundial de Motociclismo, criado em 1949, foi instituído no ano seguinte o Mundial de Condutores, certame que reuniu os melhores pilotos e os mais velozes carros de então. Grandes disputas, equilíbrio entre marcas e “era de ouro”? Talvez, mas naquele primeiro campeonato tivemos o domínio massacrante da Alfa-Romeo e a fantástica Alfetta 158. A indústria automobilística europeia ainda se reorganizava após a II Guerra Mundial e muitas equipes ainda estavam se preparando para enfrentarem o desafio da Alfa, que criara a Alfetta ainda em 1938, no pré-guerra. Quase duas décadas depois, a incrível criação de Gioacchino Colombo, ainda era o carro a ser derrotado.
Fagioli, Fangio e Farina.
As Alfettas no grid.
Disputa a ser vista portanto, só entre os “Três Efes” (Farina, Fangio e Fagioli), os pilotos da Equipe do Trevo. Giuseppe Farina, aos 43 anos, tivera sua carreira prejudicada pela guerra. De certa forma, aquela era sua chance derradeira de ser campeão; Juan Manuel Fangio, o maior piloto sulamericano, era o mais jovem deles (39 anos) e estava pronto para tornar-se o melhor de todos; Luigi Fagioli, o mais experiente, com 52 anos, já não tinha mais a mesma garra de antes, mas ainda sabia guiar um carro de corridas.
O primeiro dos Mundiais teve início num sábado, 13 de maio, na pista de Silverstone, com Nino Farina marcando a primeira pole da nova modalidade. Para esta ocasião, a Alfa-Romeo cedera uma das 158 para o local Reg Parnell e a corrida pode ser resumida dessa forma: um calmo passeio das Alfas, com Fangio abandonando devido a problemas de motor, faltando oito voltas. Farina entrou para a história como o primeiro vencedor de um GP, secundado por Luigi Fagioli e Reg Parnell.
Silverstone, Farina vence.
Na Semana seguinte em Monte Carlo, tudo mudaria. Juan Manuel Fangio foi o pole e além disso, ele foi o homem escolhido pela onda. Após a largada, Farina antecipou-se e liderou alguns metros mas antes da Curva do Tabaco, Fangio já retomara a dianteira, o que influenciou diretamente no resultado: após a passagem do Chueco, uma onda mais forte do Mediterrâneo, empurrada pelo vento invadiu o circuito e surpreendeu os pilotos que vinham atrás. Farina rodou, Gonzalez o atingiu, Fagioli tentou desviar...nove pilotos envolveram-se na confusão, transformando aquele trecho da pista em um amontoado de destroços. O líder, alheio a isso, prosseguiu e logo daria uma
demonstração de sua incrível capacidade de intuir o perigo. Ao aproximar-se da Curva na volta seguinte, Fangio percebeu que o público nas arquibancadas não olhava para ele, mas sim para algo ocorrendo à frente e imediatamente diminuiu sua velocidade, o que lhe possibilitou encontrar um trecho livre para passar com a Alfetta e continuar. O Chueco foi o único piloto a completar as 100 voltas (!!) e venceu com relativa facilidade, mas não compareceu ao pódio.
No principado Fangio passa pela onda!
Luigi Fagioli
Fangio
Sabedor que seu amigo Froilan Gonzalez havia sofrido queimaduras devido ao acidente coletivo da primeira volta, ele optou por ir ao hospital ver como estavam Pepe e Alfredo Pian, também piloto argentino, que se acidentara nos treinos.
Naqueles tempos, as 500 Milhas de Indianápolis, contavam pontos para o Mundial mas os pilotos que corriam na Europa não participavam da prova no superoval, enquanto os norte-americanos também não se afastavam de seu reduto. Nesse ano, vitória de Johnnie Parsons e seu Kurtis Kraft Offenshauser.
Farina treina em Bremgarten.
Em Bremgarten, as Alfa Romeo 158/50 de Farina #16, Luigi Fagioli #12 e Fangio #14 .
Vitória de Nino Farina.
O que importava portanto, seria a quarta etapa, disputada em Bremgarten, Suiça. Fangio tentaria impor-se a Nino Farina, com quem estava empatado na liderança. E ele começou marcando a pole position, ficando na primeira fila, ao lado de Farina e Fagioli mais uma vez. El Chueco liderou inicialmente, enquanto as Ferrari de Ascari e Villoresi não aguentavam o ritmo e abandonavam. Só que novamente uma das Alfas teve problemas e de novo, aconteceu com a de Fangio. Desta vez foram problemas elétricos que o afastaram da disputa à nove voltas do final, fazendo-o assistir novo triunfo de Nino Farina.
Após Bremgarten, o Balcaceriano caiu para a terceira colocação no campeonato, com metade da pontuação de Farina (18 x 9). Era preciso reagir. Em Spa Framcorchamps, a oportunidade. Mas a pole fica com Farina. Na corrida, disputa entre Fangio e Farina, com Fagioli acompanhando de longe. Raymond Sommer brigava contra as Ferraris de Ascari e Villoresi com seu Talbot-Lago. Quando as Alfettas fizeram o pit-stop, Sommer chegou a liderar, mas teve problemas com o motor. Ascari tomou a ponta, mas quando chegou sua vez de reabastecer, a corrida voltou ao “normal”, ou seja, briga de Alfas...Farina, pela primeira vez na temporada teve problemas com seu carro (transmissão) e no final caiu para o quarto lugar. Fangio venceu tranquilo, seguido por Fagioli e por Louis Rosier, que com seu Talbot, teve o mérito de chegar na frente de uma Alfa-Romeo.
O Talbot-Lago de Étancelin.
Duas semanas depois, foi disputada a sexta etapa, no circuito francês de Reims-Gueux. Disputada sob forte calor, deve ter sido um daqueles finais de semana que Enzo Ferrari gostaria de esquecer. Seus pilotos, Ascari e Villoresi apresentaram-se com o modelo 175/275, equipado com o novo motor V12 e deram vexame. Seus problemas foram tantos que a equipe decidiu abandonar o GP da França ainda nos treinos, deixando o inglês Peter Whitehead e sua Ferrari 125 privada como sua única representante. Grid completado por alguns Talbots e Maseratis, ficando as Alfas em seu mundo particular, às voltas com a luta fratricida de “Los três Efes”. Fangio, o pole, não teve grandes dificuldades, pois cedo o carro de Farina apresentou problemas na bomba de combustível, o que o fez atrasar-se. Restava-lhe então dominar Fagioli, o que não foi difícil: na chegada, o Chueco abrira mais de vinte segundos sobre seu companheiro de equipe. Em terceiro chegou Whitehead com a Ferrari restante. Com esta terceira vitória, Fangio finalmente liderava sozinho o campeonato e chegaria a prova derradeira com uma vantagem de 4 pontos sobre Giuseppe Farina.
Alberto "Ciccio" Ascari e a 125
Ferrari 125
Ferrari 375
Ferrari 275
As coisas pareciam correr bem. Mas para a prova de Monza, a Ferrari, humilhada na França, apressou-se em lançar o modelo 375 com motor 4.5 litros e a Alfa-Romeo pareceu acusar o golpe. A equipe reviu sua decisão de alinhar três carros e inscreveu mais duas Alfettas, para Piero Taruffi e Consalvo Sanesi. Mesmo com sua vantagem, seria um grande esforço para a Alfa preparar cinco automóveis com igual desempenho. Após os treinos, descobriram que apenas as Alfas #10 e #18 eram competitivas. As #36, #46 e #60 fariam quando muito, figuração. Na noite que antecedeu o GP, a equipe resolveu sortear as duas melhores Alfettas entre seus pilotos mais rápidos: Fangio, que fizera a pole position e Farina, terceiro melhor tempo. Colocaram os números dos carros em um chapéu e escolheram primeiro o carro de Farina. A ele tocou a #10. Na prova, domínio inicial de Fangio, seguido de Farina e Ascari, pela primeira vez competitivo e com a Ferrari de motor aspirado. Ciccio enfrentou problemas de superaquecimento que o fizeram trocar de carro com o novo parceiro, Dorino Serafini. Fangio também teve problemas, com a caixa de câmbio, o que o fez passar para o carro de Piero Taruffi. Recuperou-se mas novos problemas, agora de motor o levaram a novo abandono.
Farina campeão.
Mas a conta já estava encerrada: Emilio Giuseppe “Nino” Farina, completou as oitenta voltas, venceu e deu início à história da mais importante categoria de automobilismo do
mundo: a Fórmula 1.
Para o amigo Juanh Henares