A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach
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segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Batalha de Cavalheiros


O ano é o longínquo 1969, a F1 ainda em seus tempos românticos onde os pilotos eram amigos e se reuniam regularmente com suas famílias nas casas uns dos outros.

   Chegando a Silverstone, templo do automobilismo e palco do GP da Inglaterra daquele ano ( o GP inglês alternava as pistas de Silverstone e Brands Hatch ano a ano), a temporada apresentava a seguinte situação: Stewart e Rindt eram visivelmente os mais velozes incontestavelmente, mas enquanto o escocês liderava com folga tendo vencido todos os GPs com exceção a Mônaco, o austríaco não possuía nenhum ponto, vítima de quebras e de um impressionante acidente nas ruas do parque Montjuïc na Espanha, do qual escapou por milagre com o nariz quebrado e diversas escoriações!
   Durante os treinos os dois já mostravam a que vinham, com o austríaco sendo o único a baixar da casa de 1'21", demonstrando ser o piloto mais rápido do momento, com seu estilo agressivo e suas belas derrapagens controladas! O escocês não era tão veloz, mas era veloz sempre e com a vantagem de exigir pouco do equipamento, imprescindível naqueles tempos. Isso fazia dos outros pilotos meros coadjuvantes ante as bonitas disputas entre os dois.

Grid- #2  Rindt, #3 Stewart, #5 Hulme, #11 Amon...
Rindt pula na frente...

   No dia da corrida, o roteiro já estava mais ou menos escrito e o que as mais de cem mil pessoas presentes puderam presenciar, foi mais uma batalha épica entre esses dois monstros, que de forma distinta escreveram seus nomes nos anais da F1! Rindt aproveitou a pole position e pulou na frente, impondo um ritmo impressionante o qual apenas Stewart conseguiu acompanhar. Com quinze voltas Stewart comandava depois de ter ultrapassado Rindt na sétima, na curva Becketts quando este deu um refresco, voltando a carga logo depois. Nesse momento Hulme que era o terceiro, já vinha quase vinte e cinco segundos atrás da dupla! Na volta seguinte o austríaco supera o escocês na mesma curva da primeira ultrapassagem e o que era bonito de se ver, era que um sinalizava ao outro, mostrando o melhor local para realizar a manobra em uma fantástica sintonia!


Rindt e Stewart
( ao receber esta foto do Marco notei, um pouco impressionado, a maneira como a Lotus de Rindt está saindo de frente quase na tangencia da curva- Rui )   

   A batalha continuou franca por um tempo, mas depois de mais algumas voltas Stewart não conseguia mais acompanhar Rindt tão de perto e com seu problema de embreagem se agravando o escocês preferiu preservar o equipamento e acompanhar o austríaco mais a distância.
   Com cinquenta e seis voltas, a dupla parecendo estar em uma corrida a parte, coloca uma volta no terceiro colocado, a essa altura o belga Jacky Ickx, pilotando um Brabham. Só que duas voltas antes, a sorte que não sorriu para Rindt desde o início do ano, resolveu abandoná-lo novamente. A aleta do lado esquerdo do seu aerofólio começou a se soltar, dobrando com a pressão e começando a raspar no pneu. Stewart fez a ultrapassagem na sexagéxima segunda volta e Rindt vendo que seu esforço foi por água abaixo, pára na volta seguinte para arrancar a aleta e volta a toda velocidade, mas a essa altura trinta e cinco segundos atrás. Stewart começa a ter problemas com o motor falhando nas curvas para a esquerda e Rindt diminui consideravelmente a diferença, para vinte e quatro segundos. Só que a essa altura ele começa a ter problemas com falta de combustível, comum a todos os Lotus que participaram da corrida e teve que recorrer novamente aos boxes, para adicionar alguns litros e voltar já sem qualquer chance de subir ao pódio. Na época não existia tempo limite e as corridas eram muitas vezes longas e extremamente cansativas e era incrível como esses super-homens com pouca preparação física e na maioria dos casos levando uma vida desregrada, conseguiam completar com bravura!


Stewart toma a ponta...
...e parte para vitória.

   Ao fim das oitenta e quatro voltas Stewart recebe a bandeirada, chegando a quarenta e cinco pontos e aumentando sua esmagadora vantagem no campeonato! A Rindt ainda restou ter roubado o quarto lugar do seu melhor amigo Piers Courage na última volta e marcar seus primeiros pontos na tabela. Pouco para aquele que se mostrava cada vez melhor e provava estar pronto para vencer e disputar o título mundial! Duas carreiras distintas, dois monstros que eram vizinhos em frente ao lago Geneva, mas infelizmente à Rindt a sorte o abandonava quando ele mais precisava e isso se deu até o seu triste fim! Stewart dispensa comentários, além de guiar muito, tinha sorte e sabia planejar tanto uma corrida quanto a carreira com total maestria, digno dos grandes campeões!

Marco Zanicotti