A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach

quarta-feira, 31 de março de 2021

Novato e agora com carro....

WV Divisão Três de 1971- Meu amigo Carlos Mesa Fernandes o Caco.

 Desci a rua Buri lá do alto, quase na Paulista, vinha rápido, na esquina com a Itabirito o carro deu uma saída de traseira, consertei já bem de lado, e lá foi ele de frente bater no muro da casa que fica na esquina da Buri com a Morro Verde, ainda bem que bati de lado. Fiquei ali sem poder respirar por uns quinze minutos (rsrsr). Ainda bem que ninguém lá em casa tinha visto, tirei o capacete, que havia pegado de meu irmão, coloquei meu carro de rolimãs nas costas e fui para casa, uns cinquenta metros dali!  

 De volta a 1971- Não lembro como cheguei a equipe do PV e fiquei sabendo do VW D3 que poderia ser alugado, algo em minha mente lembra de uma conversa que tive com a Gigi, casada com Pedro, bela e simpática, tocava a administração da escola e da equipe.
Tratei a principio o aluguel do carro para a próxima corrida de novatos, que seria em junho. Já tinha um carro, mas não a grana. Teria que arcar com o aluguel, inscrição, combustível,  e a contratação de um mecânico  ou equipe, já que o combinado seria apenas o carro. Algo como cerca de US$ 1.500, talvez uns R$ 20.000 de hoje.
Contei ao meu irmão que tirou o corpo fora, jamais iria enfrentar papai. Nesse meio tempo por algumas vezes quando estava com meu pai havia conversado algumas vezes sobre corridas, mas nunca pedindo nada, sua posição era firme. Havia até feito um pedido de emancipação, que foi negado tanto por ele quanto por minha mãe.
Minha vida era boa, recebia uma "mesada" de dois salários depois do desquite de meus pais, mesmo no ano anterior quando trabalhei nos supermercados, onde não tinha salário. Tinha de meus pais casa na praia no campo e quando queria viajar a grana necessária, morava com minha mãe. 
Nunca havia pedido um tostão aos meus pais, as vezes quando estava com ele perguntava "quer alguma coisa?", dizia não precisar de nada. O Dart era meu terceiro carro, antes foi um Galaxy, aos dezesseis anos e depois um Karmann Ghia, e vende-lo agora seria um tolice, tinha planos para ele, era meu pecúlio para fazer um VW D3 para 72.
Me enchi de coragem, liguei para o escritório da Mooca para saber se ele estava lá, era o local onde mais gostava de estar com ele, só ele e eu. A telefonista, uma querida que trabalhava conosco há muito, cujo nome não consigo lembrar, confirmou e lá fui eu.
Entrei em sua sala com a cara e a coragem, dei um beijo em seu rosto, e contei que havia encontrado um carro para alugar, a categoria que ia correr, de quem era o carro e pedi apenas a grana, podia ter pedido dez ou vinte vezes mais, seria a mesma coisa, caso contasse que queria viajar e tivesse esquecido as carreras, estaria tudo nas minhas mãos na hora, mas jamais trairia sua confiança, jamais o enganaria. Conto a vocês com a alma e mente serenas, nunca o questionei  de ele ter comprado o Porsche paro o Paulo correr, sequer tocava no assunto, ele sabia que éramos muito diferentes.
Continuamos o papo e ao final ele me disse apenas "vem amanhã, vou pensar".
No dia seguinte quando cheguei meu irmão me esperava e entrou comigo, beijei papai sorrindo, ele acenou para o Paulo, me perguntou quanto era que precisava, ele já sabia, e me estendeu o cheque, pedindo segredo olhou para meu irmão com um olhar que dizia tudo.
Ainda contei que precisaria dar um cheque de caução, que seria meu, beijei-o com carinho e fui embora feliz.
Agora tinha um carro para o Torneio União e Disciplina, uma homenagem que a federação prestava ao Exercito Brasileiro.


 
Depois continuo...  

Rui Amaral Jr

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PS: Aos meus amigos Palmeirenses, Santistas, Corintianos devo dizer, torço para o Tricolor do Morumbi, na foto abaixo estou ao lado de papai, como sempre, e quem inaugura uma de nossas indústrias é ninguém menos que o Gen. Porfirio da Paz, presidente de honra do São Paulo Futebol Clube, autor de nosso hino, nosso torcedor símbolo. Na época da foto governador em exercício do Estado de São Paulo. 

Foto de meu arquivo, originalmente em preto e branco, colorizada por meu amigo Edwin Takeuti.

As Cinco Estrelas que carregamos com honra são; Os dois ouros em olimpíadas, Helsinque 1952, Melbourne 1956, do grande Adhemar Ferreira da Silva, as grandes vitórias da magnifica Maria Esther Bueno e nossos três mundiais de clubes, por enquanto!

Rui
     

 

sexta-feira, 26 de março de 2021

Novato e sem carro...

 

Rua Canuto Saraiva 429, Mooca, sede dos Alimentos Selecionados Amaral S.A. Onde entrei naquele dia...

 Sai do encontro com meu pai consciente que ele não iria me apoiar, mas sabendo que lá no fundo de sua alma ele estava contente, alguém em nossa família havia tomado uma atitude sem a dependência dele, e atitude era algo que ele apreciava muito.

Rolando, Raimundo Hernandez, braço direito de meu pai nas Cestas de Natal Amaral, Rui Amaral e eu.

Me permitam esquecer um pouco o automobilismo e divagar...

Naquele 1971 meu pai não estava feliz, um montão de coisas o perturbavam. A situação familiar, o fechamento das Cestas, sua menina dos olhos, fechou a grande empresa pura e simplesmente, pagou todos os credores, como era de seu feitio, ficou com todos os imóveis,  e agora tocava os Alimentos e uma rede de super mercados que havia aberto no ano anterior, aliás onde trabalhei por um tempo.

Depois de exercer seu mandato como deputado federal, se esforçava na fundação, com outros abnegados, que não vou citar, do partido que seria a oposição ao governista, o MDB. Logo ele que tanto se opôs  aos descalabros da administração que sucedeu Jânio Quadros no comando da nação. Tenho um discurso seu na Câmara dos Deputados que mostra toda situação vivida no país nos tempos pré Revolução, onde coloca os pingos nos iiiis. Os dois grandes nomes da politica paulista, Adhemar de Barros e Jânio Quadros, estavam fora, e novos nomes deveriam surgir.

Os Amaral Lemos, no dia em que meu pai teve confirmado seu nome para Câmara dos Deputados.
No mesmo dia, eu, Arinda, sem a colher de madeira, Maria Aparecida, papai, Paulo e agachada Creusa, que mamãe havia adotado tempos antes. 

Batalhador consciente, pelo MDB foi ao sacrifício em duas disputas, três anos antes  pela prefeitura de São Bernardo do Campo, onde ficava a sede das Cestas, quando perdeu por poucos votos. E no final do ano anterior na disputa pelo senado, quando seu nome era indicado para liderar a chapa, e numa deliberação partidária aceitou sair como vice de Lino de Mattos, quando perderam a cadeira para um candidato da situação, sendo que o MDB elegeu um senador.

Ele que tinha lutado pela criação do partido, sendo que sua sede em São Paulo, à rua Nestor Pestana, antigo escritório das Cestas, foi cedida gratuitamente  por ele para sediar o partido.

Ele estava desiludido, eu que no ano anterior, na primeira eleição  em que votava, havia tido a grande honra de votar nele, pensava que ele deveria tomar outros rumos politicamente. Eu, que desde quando comecei a ler jornais, lá pelos doze anos, era de direita, sendo fã antes de tudo dele e de Carlos Lacerda, via seu perfil mais à direita de onde ele se situava agora.

Me desculpem misturar minha situação familiar com automobilismo, mas foi assim que aconteceu.

Voltando às pista...


 Não fiquei frustrado, saí com a firme convicção que conseguiria um carro para as próximas corridas da temporada.
Meu caminho natural seria prosseguir com o Carlos Mauro Fagundes, que tanto me ensinou, incentivou e ajudou. Mas eu não queria continuar na Divisão Um, e transformar aquele Dart em Divisão Três, seria muito caro, grana que não tinha. 
Teria que trocar cambio, rodas, mexer no motor e  mesmo assim para andar talvez uns 16 segundos mais rápido em Interlagos, tempo que não seria suficiente para acompanhar os Lorenas de meus amigos Edo e Jacob, o Puma do Zé Martins, nem mesmos os VW que na Divisão Três já vinham muito bem preparados. 
Nos VW lembro com carinho o pessoal da Kinko, os irmãos Kenety e Hiroshi Hioshimoto, bem mais velhos que nós, corriam como Novatos já há algumas temporadas. A Kinko era competente na preparação e os irmãos experientes e rápidos.
A Divisão Três era o caminho a seguir...Foi quando fuçando encontrei um carro para alugar na equipe De Lamare. O VW D3 que foi pilotado por Márcio Brandão, filho do grande técnico Oswaldo Brandão, estava disponível.
E dois meses depois da corrida com o Dart lá estava eu novamente em Interlagos, agora com um carro preparado e rápido...

A memória de Rui Amaral Lemos.

Aos amigos Walter, Danilo, Márcio, Carlos e Roberto.

Ao Jacob, Edo, Zé Martins, João Carlos, à lembrança de Guaraná que já não está entre nós, uma grande honra privar de suas amizades até hoje.  


Rui Amaral Jr     



quarta-feira, 24 de março de 2021

1971... Agora Novato...

 

Foto de meu amigo Rogério Da Luz, largada de uma corrida de Novatos. 


   Bem...No post anterior contava que na segunda feira, após a vitória com o Dart e ver minhas fotos em alguns jornais, que não guardei, fui até o escritório de meu pai, na Mooca.

Agora, como sou um contador de histórias, me permitam divagar.

Meus pais eram separados há cerca de quatro anos, e meu pai antes de tudo guardava um enorme respeito e admiração pela mulher que junto a ele construiu um império nos quarenta e tantos anos de casamento. E como eu, talvez um pouco de medo dela! 

Com dezoito anos já não aprontava muito, namorava firme, não bebia ou fumava, era apenas apaixonado pelas corridas.

Fui criado por uma criatura maravilhosa, que tomava conta de nossa casa nas constantes viagens de meus pais, dona Emma era tudo para mim, a avó que não cheguei a conhecer, a amiga, a mentora.   Nesta altura ela já havia subido e olhava por mim lá do alto, como ainda olha.

Confesso que eu era um bicho, e dona Emma um para raios entre minha mãe, a colher de madeira e eu, de meu pai nunca ouvi uma bronca sequer. Eu era o caçula, doze anos mais novo que meu irmão e nove de minha irmã Cida.

Quando mamãe chegava em casa e algum passarinho soprava minhas travessuras lá ia ela direto para cozinha pegar a tal colher, quando me encontrava lá estava dona Emma entre nós!

-Arinda (este era o nome de minha mãe ) não toque no menino!

-Emma, você é protetora dos animais! ( desconfio levemente a quem ela se referia!)

Voltando àquela segunda feira...Entrei na sala de meu pai, ao transpor a porta parecia que havia freado uns dez metros depois do ponto na Curva Três, mas continuava na pista...Ele me olhou, com todos aqueles jornais sobre a sua mesa e disse "parabéns, já contou para sua mãe?". Não, e também não contei a ele que havia saído escondido, pegado o primeiro carro que vi na garagem saindo sem fazer barulho.

Conversamos, falei que aquela era a vida que queria, que gostava e sabia que pilotava bem. Pedi seu apoio. Meu pai tinha um grande conhecimento do mercado publicitário, nossas Cestas de Natal Amaral, indústria fechada poucos anos antes, era uma das maiores anunciantes de rádios, tvs e jornais. Mesmo os Alimentos Selecionados Amaral S.A, onde agora estávamos, era um grande anunciante, com quase duzentos produtos nas prateleiras de armazéns e super mercados, sendo que apernas um pedaço da verba publicitária do Mandiopã daria para mim montar uma grande equipe.

Ele negou, disse "sua mãe me mata!". Conversamos mais algum tempo, acredito que almoçamos por lá mesmo ou em sua casa e lá fui eu enfrentar minha mãe.

Eu ia continuar, custasse o que custasse...

Rui Amaral Jr


quarta-feira, 17 de março de 2021

Curva3

 

Começo de ano triste, amigos que nos deixaram, relembro com saudades meu amigo Arturão.





A revista Curva3, periódico impresso focado no automobilismo nacional, acaba de inaugurar seu site www.curva3.com.br dentro do portal Autoentusiastas, plataforma dedicada à automóveis e mobilidade reconhecida como uma das mais sérias e abrangentes do setor. A nova ferramenta de comunicação da publicação segue a linha editorial de prestigiar o cenário nacional do esporte, como explica o jornalista e publisher Wagner Gonzalez:

“Seguimos fiéis à proposta inicial do projeto, que vai desde resgatar a história do esporte até fomentar novos valores humanos e técnicos que contribuam para a manutenção e desenvolvimento do negócio automobilismo. O conteúdo da revista segue exclusivo e será complementado pelo novo espaço dentro de um dos portais mais respeitados do segmento automóvel, liderado por Bob Sharp e Paulo Keller, dará maior protagonismo ao trabalho de nossa equipe.”

De acordo com Bob Sharp a incorporação do site da revista Curva3 amplia a abrangência do portal Autoentusiastas:

“A chegada da revista Curva3 ao mercado, em novembro de 2020, preencheu um espaço há tempos relegado, o das publicações impressas. Abrigar uma nova ferramenta de comunicação ao projeto da agência Beepress vai ao encontro dos valores o portal Autoentusiastas pratica desde 2008: seriedade, diversidade e emoção, sempre com conteúdo próprio e diversificado feito por apaixonados por carros.”

O site da revista Curva3 terá conteúdo específico e diverso do conteúdo da revista, com informações produzidas pela redação e seus correspondentes em sete estados brasileiros e um correspondente internacional. O espaço inclui ainda a coluna “Conversa de Pista”, publicada semanalmente e que abrange o automobilismo internacional com destaque para a F-1, categoria que Gonzalez acompanhou in loco por mais de duas décadas. Com circulação nacional focada em entusiastas e profissionais atuantes em todos os setores do automobilismo de competição, a publicação impressa pode ser adquirida em números avulsos ou por assinatura e pedidos podem ser feitos através do email curva3@beepress.com.br.


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 Vai lá Wagner, muito sucesso.
 Parabéns Bob, você sempre na vanguarda, um abração.

Rui Amaral Jr 


terça-feira, 16 de março de 2021

Agora era minha vez...

 Walter, João Carlos, Zé Carlos e amigos que nos acompanham, antes de tudo meu muito obrigado pelo prestigio que nos trazem ao acompanharem o Histórias. Ficamos felizes  e envaidecidos. Não uma vaidade fútil, mas aquela que nos mostra o sentido de ter feito algo que vale a pena, que contribui.
 De minha parte nem preciso comentar! 
 Rui

 Então, ganhei este carro de meu pai quando completei dezoito anos, em maio do ano anterior. Fui busca-lo zerinho na Janda da rua Rosa e Silva, branco, minha cor favorita, como já havia tido um Karmann Ghia e muitos outros carros depois. Era 1970 e como na época seu cambio era de três marchas com alavanca na coluna de direção, freios a tambor.

 No próprio dia dezessete de maio lá estava eu na porta do despachante que nos servia, o Waldemar Batista, se não me engano na Alameda Joaquim Eugenio de Lima, quase chegando na Rua Estrados Unidos. Pobre Waldemar, há uns três anos, quando ia levar algum documento, perguntava à ele se já podia tirar minha CNH... Agora podia! 
  
 Na época a CNH demorava algum tempo, ainda mais que no exame de baliza dei uma mancada no VW da Auto Escola, e tive que voltar à fazer o exame pouco depois. Desta vez fui com um Galaxie lá de casa e foi tudo muito mais fácil.
Quando enfim minha CNH ficou pronta já não havia mais corridas naquele ano, até por que o autódromo de Interlagos estava em reformas para os grandes acontecimentos que sediaria nos próximos anos.    

 Eu maluco para ir à Federação pedir minha carteira de Estreante e Novatos, e quando fui no começo de 1971, uma grande decepção. Meus pais deveriam assinar a autorização, coisa que jamais aconteceria. A história daquele Porsche 550 RS que meu pai havia comprado para meu irmão correr os 500 Km de 1961, jamais se repetiria. Meu irmão era um diletante, foi a única corrida em que participou e não queria mais pensar no assunto, minha ideia firme era de seguir carreira, mesmo antes de estrear. A negativa de ambos foi peremptória.   
No calendário daquele ano, entre as poucas corridas de Estreantes E Novatos a primeira era a promovida pelo Expedito Marazzi, o Festival de Marcas. Fui procura-lo, e mesmo sem a carteira de piloto avisei que correria, quando me perguntou com que carro disse que não tinha ideia. 
Dez anos antes Expedito havia testado o Austin Healey de minha irmã para a revista Quatro Rodas, tinha então oito anos e não me recordava dele, apesar de ser um leitor ávido de seus textos. Um amigo querido, partiu muito antes da bandeirada final, faz falta, deixou saudades.

 Foi quando, foi quando mesmo, que na casa do casal Barros Mattos, dona Célia e Dr. Manoel amigos de minha mãe e pais de meus amigos, encontrei o Tigrão - Carlos Mauro Fagundes - em um jantar. Irmão do Tigrão da Torke, que era sócio de Claudio Daniel Rodrigues que era cunhado do grande Luiz Pereira Bueno. A Torke uma "fábrica" de campeões, grandes talentos lá se revelaram.
No meio da conversa, eu sempre contando que queria ir para as pistas, o Tigrão se vira e diz "corre com o Dart!". No dia seguinte já estava em sua oficina a Muray, na Av. Sto. Amaro, preparando o carro de acordo com a Divisão Um, foi um grande apoio, jamais me esquecerei.
Ia esquecendo a autorização. Num arroubo que só se tem aos dezoito anos, fui até um "despachante" que um passarinho havia soprado em meu ouvido, e saí de lá com a assinatura deles com firma reconhecida. Contei ao meu pai tempos depois à minha mãe nunca.
A preparação para Divisão um consistia em abaixar o carro, colocar Sto.Antonio, de três pontos, conta giros e volante emprestados de meus amigos, afinação precisa do carburador, tirando o filtro de ar, e ponto com algum avanço a mais, eliminação de abafadores e escapamento saindo ao lado da porta. Amortecedores bem mais firmes, bem duros. No banco dianteiro inteiriço duas mantas grossas enroladas bem amaradas de cada lado, não permitiam que eu deslizasse nas curvas, foram feitas por minha namorada, e foram muito uteis. 
Walter, José Carlos, eu vinha na Um em terceira marcha e dava uma tiradinha de pé para faze-la, devia chegar lá por volta dos 160/165 km/h saía da Dois já de pé no fundo desde a tangência dela e chegava à freada da Três com o conta giros já no limite, cerca de 175/180 km/h. Apertava o alicate dos freios cerca de 150 metros antes, apesar de serem a tambor freavam o carro reto, sem trepidação, contornava a Três e Quatro em terceira. 
Aqui um adendo: Tarde da noite daquele domingo, reunidos na Av. Sumaré entre outros com o Guaraná, num papo ele me  diz "vc tirava o pé na Um", acontece que o grande piloto, que estreou no mesmo dia, já tinha uma grande experiência no kart, enquanto eu com um metro e noventa, noventa quilos nunca pude competir neles. 
"Mas venci Guaraná!" " venceu bem Rui" um grande piloto, um amigo querido que também subiu antes da bandeirada final, deixou o exemplo e saudades.
Antes da primeira perna da Ferradura, à direita, tirava o pé, e na tangencia dela, em linha reta, freava forte, bem forte e engatava segunda e contornava a segunda perna a esquerda com o motor quase cheio para logo em seguida engatar terceira novamente.
Na Subida do Lago, curva traiçoeira e complicada, que o digam meus amigos Chico Lameirão e Jr Lara, que lá andaram "passeando pelo muro". Uma tiradinha de pé em terceira, acelerava contornando a parte baixa da curva e na tangência enfiava a segunda para logo no começo da Reta Oposta enfiar a terceira novamente.     
Chegava ao Sol rápido, talvez a uns 160/165, pois mesmo com os 4/5 hps a mais que i Tigrão havia acrescentado ao motor a terceira longa não deixava que o carro desenvolvesse bem naquela subida. Bem o Sol,...Aquela curva que separava os homens dos meninos, seu raio longo, com duas tangências...tirava o pé na entrada, bem pouco e vinha nela toda em terceira, depois de sua segunda tangência, já de olho na reta que levava ao Sargento, pé no fundo, já pensando na complica freada que viria.
O Sargento começava em descida e pouco antes da tangência começava a subir, chegava lá em terceira talvez à uns 165/170, e quando freava a transferência de peso da traseira para dianteira era brutal, freava a uns 150 metros, pendurado! Entrava em terceira, para logo num punta taco enfiar a segunda, com a traseira querendo escapar acelerava forte para subida que ia ao Laranja, que era feita em terceira com o carro querendo sair nas quatro.
No S uma freada e segunda marcha, para contorna-la e ao Pinheirinho, e na saída tocando i final da pista, que na época estava sem as zebras, caprichar para não tocar a terra.
Veja Walter, chegava no Bico de Pato em terceira, no começo numa manobra complicada reduzia para segunda e primeira ao faze-lo. Acontece que em primeira, naquela curva feita a mais ou menos 45 km/h, quando acelerava as rodas traseiras patinavam, estava no momento máximo do torque e lento, e acredito que perdia tempo. Depois passei a faze-la em segunda que levava até o começo da curva do Mergulho e engatar novamente a terceira.   
Na Junção chegava em terceira, ela já havia me pegado nos treinos, freava com muito cuidado, enfiava a segunda para logo a seguir acelerar forte, o contorno perfeito e a forte acelerada nela que levavam os carros a chegarem forte a Um.
Daí até a Um em terceira com o pé no fundo o tempo todo.
Na foto vocês podem ver que o carro, com aquela configuração de amortecedores e molas, rolava muito pouco, balançava, mas nada muito assustador.    
Bem meus amigos, ao menos nos treinos era assim, na corrida depois de 4/5 voltas os freios já não seguravam tanto, e na Três e no Sargento era um sufoco daqueles!

 Segunda feira- Por volta das oito horas um primo me acorda, minha foto estava na primeira página do caderno de esportes de um jornal, e depois também no Jornal da Tarde e mais uns dois ou três. Me vesti, ao sair não vi minha mãe, graças ao bom Deus, e fui para Mooca, o querido bairro onde meu pai dava expediente pela manhã, na sede dos Alimentos Selecionados Amaral S.A. 
As pessoas me cumprimentavam e na porta do escritório dele a secretária só apontou o dedo, indicando que ele estava só.
Ele me olhou, os jornais sobre sua mesa, beije-o...
Saudades pai.   

Deste final de semana algumas amizades que me acompanham até hoje, Jacob Kounrouzan, Edo Lemos, João Carlos Bevilacqua...
E aqueles que fazem uma tremenda falta, Expedito e Guaraná. 


Rui Amaral Jr

    

  




quarta-feira, 10 de março de 2021

50 anos atrás....Agora era minha vez!

 

Muray, oficina na Av. Sto Amaro de Carlos Mauro Fagundes e seu sócio, onde meu carro foi preparado.

 Nove anos antes eu havia entrado naquela pista ao lado de meu irmão Paulo em seu Porsche 550 RS Spider, então era um simples carona, um expectador. Naquele asfalto havia visto muitos de meus ídolos duelarem, vencerem, quebrarem, mas era o mesmo asfalto, e ia pisar pela primeira vez nele como piloto.

 Naquela sexta feira, primeiro dia de treinos, sentei naquele Dart que conhecia tão bem, com cinto abdominal bem apertado, as proteções laterais feitas no banco me segurando bem, capacete afivelado e gaiola de proteção. Primeira engatada saí lento dos boxes, na barreira antes da pista o fiscal me liberou...

 De repente era eu que chegava rápido na Curva Três, era aquele asfalto que os carros do Luiz, Bird, Camilo, Cyro, "seu" Chico engoliam que meu carro engolia agora, rápido, e era eu que pilotava.   

 Não fiz curso de pilotagem e era a primeira vez que pilotava em Interlagos, hoje autódromo José Carlos Pace, e acredito que de tanto ver grandes pilotos tomarem aquelas curvas e retas, já tinha alguma noção de onde andar. Depois de algumas voltas ao entrar nos boxes o Carlos Mauro me disse que queria dar algumas voltas ao meu lado, outros tempos! Lembro algumas correções que me fez, e lembro muito bem que ao contornar a Ferradura ele me disse "para de telegrafar, acelera suave, depois crava o pé". "Telegrafar" é uma técnica em que o piloto levanta e crava o pé no acelerador, forçando, nos carros de tração traseira, um sobresterço.

 Era prazeroso pilotar aquele carro tão diferente de quando andava nas ruas, rebaixado alguns centímetros, a suspenção muito dura por conta dos amortecedores, acredito que feitos pelo Barchi, cinquenta libras nos pneus Pirelli Cintutato, escapamentos livres saindo ao lado da porta. Motor muito bem acertado de carburação, ponto e outras "cositas" feitas pelo Carlos Mauro, sem filtro de ar dava para ouvir ele engolindo e misturando o combustível.

 Muitas voltas mais e já vinha no tempo dos Opalas que treinavam comigo, foi quando numa bobeada rodei na curva da Junção, freei muito tarde ou acelerei muito cedo, não lembro, só sei que atolei no acostamento. Interlagos estava sendo reformado e naquele ponto o acostamento era barro. 

Sábado teria mais, e domingo a corrida...    

 Na primeira fila larguei muito bem, sem deixar que as rodas patinassem demais, estiquei as marchas até o limite, o contagiros me olhando, cheguei no Retão em primeiro, freei na Três no gargalo, olhando nos retrovisores para ver se aquele Opala não chegava, estiquei forte para chegar à Ferradura, onde não telegrafava mais. Via o Opala perto, na Subida do Lago tomei suave enfiando uma marcha no meio dela cheguei à Reta Oposta, fiz o Sol rápido ( foto acima ) e rápido estava no Sargento, contornado em segunda. "S", Pinheirinho, Bico de Pato e aquele Opala sempre perto. Na Junção caprichei, ela não ia me pegar outra vez, e logo passava em frente aos boxes para tomar a Um...

 


 Depois de cinco ou seis voltas já não via o Opala do Wanderlei tão perto, e apesar de meus freios ( tambores ) estarem bem comprometidos continuei no ritmo forte do começo, agora já conhecendo a pista bem melhor. A freada do Sargento era um sufoco, a transferência de peso  eram bem maior que a da Três, e quando pisava forte no "alicate" parecia que nada acontecia. Temperatura e pressão de óleo normais, concentrado na condução tudo ia bem.

 Nona volta, vejo o Expedito, que viria a ser um grande amigo, acenar que era a última, tudo mudou...Um olho no contagiros, outro na pressão, outro na temperatura, um em cada retrovisor e ainda tinha que olhar para frente...Alguma coisa quebraria, furaria um pneu, ou o Wanderlei chegaria...Saí da Junção, subi e no meio da reta que antecede a linha de chegada vi o Expedito com a quadriculada nas mãos, mesmo com toda concentração e adrenalina as lágrimas teimavam em escorrer...Ele pula e abaixa a quadriculada, e foi com os olhos embaciados e o braço levantado que vi a cena...Era minha vez!

Na frente da Muray.


A todos amigos que muito me ajudaram nesta primeira corrida, a minha namorada de então que muito me ajudou, e a todos amigos que fiz nestes cinquenta anos.

Revista Auto Esporte - Ranking 1971

Revista Auto Esporte, abril de 1971 



Rui Amaral Jr






 
 
  



  




sexta-feira, 5 de março de 2021

Curva3

 



 A terceira edição da revista Curva3, que circula neste fim de semana, traz uma matéria especial sobre os 90 anos de Toni Bianco. A lista dos Furias (sem acento, pois é na grafia italiana), a recuperação do projeto do Bino Mark II e porque ele recusou um Mercedes-Benz de presente são algumas das histórias que ele conta na matéria. O exemplar de 28 páginas traz outras matérias sobre o automobilismo brasileiro, custa R$ 15,00. Pedidos pelo e-mail curva3@beepress.com.br.

Ajude-nos a manter uma publicação impressa!

Wagner Gonzalez

quinta-feira, 4 de março de 2021

YouTube



  Resolvi ativar um canal do Histórias no YouTube, ele existe já há algum tempo e agora comecei à fazer alguns vídeos.
É complicado, pois minha falta de conhecimento em tecnologia é grande, com boa vontade logo teremos um canal para conversar com os amigos.
O Caranguejo sugeriu uma "live" e vamos tentar.
Ao lado dos posts um link parta ele, e abaixo das foto os links para dois vídeos.
Obrigado pelo carinho e presença,

Rui Amaral Jr