A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach

quarta-feira, 10 de março de 2021

50 anos atrás....Agora era minha vez!

 

Muray, oficina na Av. Sto Amaro de Carlos Mauro Fagundes e seu sócio, onde meu carro foi preparado.

 Nove anos antes eu havia entrado naquela pista ao lado de meu irmão Paulo em seu Porsche 550 RS Spider, então era um simples carona, um expectador. Naquele asfalto havia visto muitos de meus ídolos duelarem, vencerem, quebrarem, mas era o mesmo asfalto, e ia pisar pela primeira vez nele como piloto.

 Naquela sexta feira, primeiro dia de treinos, sentei naquele Dart que conhecia tão bem, com cinto abdominal bem apertado, as proteções laterais feitas no banco me segurando bem, capacete afivelado e gaiola de proteção. Primeira engatada saí lento dos boxes, na barreira antes da pista o fiscal me liberou...

 De repente era eu que chegava rápido na Curva Três, era aquele asfalto que os carros do Luiz, Bird, Camilo, Cyro, "seu" Chico engoliam que meu carro engolia agora, rápido, e era eu que pilotava.   

 Não fiz curso de pilotagem e era a primeira vez que pilotava em Interlagos, hoje autódromo José Carlos Pace, e acredito que de tanto ver grandes pilotos tomarem aquelas curvas e retas, já tinha alguma noção de onde andar. Depois de algumas voltas ao entrar nos boxes o Carlos Mauro me disse que queria dar algumas voltas ao meu lado, outros tempos! Lembro algumas correções que me fez, e lembro muito bem que ao contornar a Ferradura ele me disse "para de telegrafar, acelera suave, depois crava o pé". "Telegrafar" é uma técnica em que o piloto levanta e crava o pé no acelerador, forçando, nos carros de tração traseira, um sobresterço.

 Era prazeroso pilotar aquele carro tão diferente de quando andava nas ruas, rebaixado alguns centímetros, a suspenção muito dura por conta dos amortecedores, acredito que feitos pelo Barchi, cinquenta libras nos pneus Pirelli Cintutato, escapamentos livres saindo ao lado da porta. Motor muito bem acertado de carburação, ponto e outras "cositas" feitas pelo Carlos Mauro, sem filtro de ar dava para ouvir ele engolindo e misturando o combustível.

 Muitas voltas mais e já vinha no tempo dos Opalas que treinavam comigo, foi quando numa bobeada rodei na curva da Junção, freei muito tarde ou acelerei muito cedo, não lembro, só sei que atolei no acostamento. Interlagos estava sendo reformado e naquele ponto o acostamento era barro. 

Sábado teria mais, e domingo a corrida...    

 Na primeira fila larguei muito bem, sem deixar que as rodas patinassem demais, estiquei as marchas até o limite, o contagiros me olhando, cheguei no Retão em primeiro, freei na Três no gargalo, olhando nos retrovisores para ver se aquele Opala não chegava, estiquei forte para chegar à Ferradura, onde não telegrafava mais. Via o Opala perto, na Subida do Lago tomei suave enfiando uma marcha no meio dela cheguei à Reta Oposta, fiz o Sol rápido ( foto acima ) e rápido estava no Sargento, contornado em segunda. "S", Pinheirinho, Bico de Pato e aquele Opala sempre perto. Na Junção caprichei, ela não ia me pegar outra vez, e logo passava em frente aos boxes para tomar a Um...

 


 Depois de cinco ou seis voltas já não via o Opala do Wanderlei tão perto, e apesar de meus freios ( tambores ) estarem bem comprometidos continuei no ritmo forte do começo, agora já conhecendo a pista bem melhor. A freada do Sargento era um sufoco, a transferência de peso  eram bem maior que a da Três, e quando pisava forte no "alicate" parecia que nada acontecia. Temperatura e pressão de óleo normais, concentrado na condução tudo ia bem.

 Nona volta, vejo o Expedito, que viria a ser um grande amigo, acenar que era a última, tudo mudou...Um olho no contagiros, outro na pressão, outro na temperatura, um em cada retrovisor e ainda tinha que olhar para frente...Alguma coisa quebraria, furaria um pneu, ou o Wanderlei chegaria...Saí da Junção, subi e no meio da reta que antecede a linha de chegada vi o Expedito com a quadriculada nas mãos, mesmo com toda concentração e adrenalina as lágrimas teimavam em escorrer...Ele pula e abaixa a quadriculada, e foi com os olhos embaciados e o braço levantado que vi a cena...Era minha vez!

Na frente da Muray.


A todos amigos que muito me ajudaram nesta primeira corrida, a minha namorada de então que muito me ajudou, e a todos amigos que fiz nestes cinquenta anos.

Revista Auto Esporte - Ranking 1971

Revista Auto Esporte, abril de 1971 



Rui Amaral Jr






 
 
  



  




6 comentários:

  1. bom dia rui muito legal sua estreia na epoca eu com 10 anos ja comprava aesporte e tenho esta revista ate hoje sonhava e delirava quando ela chegava nas bancas de minha cidade mas me tire uma curiosidade era 3 marchas em cima? abraços

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    1. Bom dia João Carlos, a A&E era ótima, este carro era 1970, havia ganhado de meu pai no ano anterior, quando fiz 18 anos, quando ainda não eixistia o cambio de quatro marchas. Era de três e com freios a tambor!rsrsr Acredite!
      Muito obrigado pelo prestigio, um abraço.

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  2. Que baita História!

    Eu nunca vi um Dodge andar bem.em Interlagos! Tinha que ser Rui Amaral!

    Tenho a mesma dúvida do Godoy: cambio no alto (coluna de direção)? Ou tinha alguma modifixação?

    E maos, se não for abuso: como era uma volta de Dodge, com três marchas? Imagino uma 2a na saída da Ferradura, uma primeira rápida no Bico de Pato, mas quase todo o resto seria em 3a.

    E brecar? Balançava muito?

    Estréia com vitória (a la Jody Schecketer na Wolf: Parabéns!!

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  3. Oi Walter, mais tarde escrevo um post contando.
    Muito obrigado pelo carinho e consideração se sempre.

    Um abraço.

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Rui Amaral Jr