A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach
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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Conta Ricardo...SOBRE SER PILOTO NO BRASIL, ANOS 60-II


C. Quais as grandes sacadas tecnológicas desse tempo?

D. Dava para ver e ouvir o mundo exterior (Argentina? Europa? EUA?) ?

E. Qual era o sonho dele, nos anos 60?




Amigo Walter,

fazendo uma retrospectiva no tempo vou encontrar algumas limitações de memória para responder a sua pergunta com embasamento sólido. Vou caminhar na estreita alameda das minhas impressões para alinhar algumas lembrança que me causaram impacto no campo do esporte motor.

Chaparral e o ícone dos ícones Jim Hall se destacam nessa revolução de impressões que formatam nossas mentes de forma realmente indelével.


".... Quando nós ( Hap Sharp e Jim Hall de par e liga) construímos o carro de motor central em 63, tivemos que rodar sem carroceria inicialmente. Decidimos então colocar uma carroceria de um projeto que eu tinha da GM e acredite tudo virou fumaça. Era lento, as rodas dianteiras se elevavam do solo a 120 milhas por hora. Senti que tinha que direcionar meus esforços e medições em torno da carroçaria e dali partir tentando descobrir o que de fato acontecia. Foi quando eu percebi que estávamos lidando não só atrito com o solo, mas também as forças aerodinâmicas verticais. GM ( que dava bom suporte ) nunca tinha dito nada sobre as forças verticais..."

Quando você lê esse trecho da carreira e período inicial do que veio a ser de alguma forma a maldição da F-1 dos tempos atuais, não por culpa de Jim Hall mas por vertigem no campo da cartolagem, você percebe a impressionante influência que Jim teve no mundo da evolução do esporte motor. É a ilimitação dos efeitos aerodinâmicos que se caracteriza por um processo de alienação ou deformação da própria essência do esporte motor que se justifica num binômio homem - máquina e certamente não máquina - homem...

"... percebemos o quanto colocando força vertical sobre o carro era tão importante. Pensamos que o segredo havia vazado quando o carro deu presença. No início, as pessoas diziam: "Isso de asa é apenas um recurso de muleta, uma suspensão mal projetado. Foi interessante observar que levou dois anos para a Fórmula 1 captar o princípio e um longo tempo para que eles reconhecerem a validade da carga vertical..."

Lendo esse trecho expresso pelo próprio Jim Hall qualquer um interessado no desenvolvimento do esporte motor dá largas a imaginação e Colin Chapman deu largas quânticas no processo todo. Creio que esse trecho do tempo compacta vividamente um momento explosivo da evolução do automóvel de competição especialmente por ter sido mal entendido e rejeitado no universo dos observadores por um tempo relativamente longo em se tratando de automobilismo.

Construtor dos carros de corrida alados Chaparral, ex-proprietário de Indy-car, "aerodynamicista" renegado, e um completo cavalheiro Texano, Jim Hall, 76 anos, recorda a era dourada das corridas de carros esportivos.

De tirar o chapéu. Desejo que concordem.

Sua pergunta : "Se dava para ouvir o mundo exterior?

O que parece uma simples pergunta tem um corredor profundo quanto obscuro no contexto da explicação de como sequer ouvir o mundo exterior. Implico sempre com esta justa expressão nacional "mundo exterior"na media em que vivemos "dentro...". Uma questão gravíssima de neuro linguística que nos atrapalha, diminui, nos compele a subserviência e quando não, apenas ausência para não passar vergonha.

A morte dos GP da Gávea que foram monumentais em sua época, quer pela bravura dos pilotos, quer pela qualidade das máquinas de absoluta vanguarda para o tempo que existiram, quer pela qualidade do mundo internacional que nos enfeitou na cidade do Rio de Janeiro. Paulo Scali, jornalista e escritor documentou com imensa bravura as "Gáveas "do idos dos tempos no legando um livro de extraordinário valor sobre os fatos e a época.

Sim, ali morria o nosso esporte motor no que disse respeito a internacionalização do Brasil como nação participante desta expressão dinâmica e tecnológica que era o esporte motor em plena evolução na época do pós guerra renascente.

No negrume dos anos 60 inexplicavelmente, sem nenhuma razão de benefício nacional, convenceram autoridades dirigentes a criar a Confederação Brasileira de Automobilismo - CBA,.

Convenceram, recuso-me a citar nomes quer por mim falecidos de longa data. O que não posso deixar de elucidar com clareza é a imbecilidade nacional do "esporte motor"ser um segmento de atividades sob a égide do ministério de educação e cultura com letras minúsculas, é claro.

Será necessário informar por confirmar que esta atividade tem e deve ser submetida ao Ministério da Indústria e Comércio em se tratando de tecnologia de ponta? Ou vamos incluir nas próximas olimpíadas no Rio de Janeiro o ...esporte motor..?

Como resultado desta falácia de proporções ofensivas, o Brasil sob o comando da CBA conseguiu criar uma cisão internacional com a FIA de Paris, orgão máximo administrador do esporte motor mundial, que não desejava romper a credencialidade universal dos Automóveis Clubes do mundo como representantes da FIA. Em consequência deste entrave ficaram todas as atividades esportivas dirigidas sob regulamento internacional da FIA e todos os pilotos credenciados por Automóveis Clube filiados a FIA proibidos de competir no Brasil. Em contrapartida os gatos pingados nacionais, carreteras e carangas igualmente. Longos anos decorreram nesse impasse brutal que liquidou com muitas esperanças para o nosso esporte motor sob todos os quadrantes e canais que compõe o esporte motor. Ficamos ilhados, sós e abandonados.

Bird Clemente conta uma passagem penosa em que convidado para participar de provas fora do país neste período evitou correr o constrangimento de ser alijado das competições no Brasil regidas pela CBA quando era um piloto de fábrica assalariado. O primeiro do Brasil. Wilson Fittipaldi teve uma caminhada próxima deste percurso do Bird e talvez outros que eu não tenho conhecimento a esta altura do nosso abandono.

Vou colocar um chocolate na minha narrativa porque trata-se de um doce real. Não de uma mentira. Um piloto certo dia escarafunchou o código internacional da FIA e descobriu que o artigo 167 daquela época afirmava que a carteira de piloto INTERNACIONAL era dada o piloto não por sua nacionalidade mas pelo clube que defendia. A brecha estava aberta. Só era preciso ler em Francês. Leu-se.

Então um piloto desprendeu-se do fundo das algas do rio da mesmice e se soltou na corrente das águas ouvindo por muito tempo de perto e gradualmente ao longe muitas vozes suplicando que voltasse e que não se perdesse na marola da amargura e incompetência.

"O que a lagarta chama o fim do mundo, o mestre chama de borboleta."

Tirei essa plagiando o Richard Bach do seu livro Ilusões....ou João Capello Gaivota!

Desprendeu-se, rolou rio abaixo, encontrou pedras e troncos que lhe deram encosto e apoio dentre este Joaquim Bonnier presidente da Associação dos Pilotos de Gran Prix nos idos de 1968 e la então numa tarde de brilho, sorte e raiva, rompeu a barreira que seis meses depois forçou a cambada do ralo restritor a fazer um acordo que liberasse o Brasil e Emerson Fittipaldi voou para a glória arrastando Nelson e Ayrton no rabo do cometa. Caso não fosse iriam todos correr pela Rainha, a da Inglaterra.

Pensa que a Globo, a CBA, o governo e a imprensa despertou para o manancial de oportunidades que o Brasil teve por longo tempo mesmo perdendo José Carlo Pace o que seria o quarto campeão mundial? Pensa....

Qual era o sonho dele (piloto) nos anos 60.....

Obrigado pela pergunta Walter.






Ricardo Achcar

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Obrigado caro Ricardo por nos brindar com suas reminiscencias para nós tão caras, segue outra frase de Richard Bach escrita no topo do Historias "A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO", Walter e eu agradecemos pelo carinho e amizade,

Rui Amaral Jr