A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach

quinta-feira, 17 de junho de 2010

TURISMO 5.000



Domingo, 1 de fevereiro de 2009


Turismo 5000



Vocês já viram por aí um Ford Maverick GT à venda? Difícil, mas existe. Até aí, nenhuma novidade, o que impressiona são os preços pedidos por esse automóvel. Chega a ser irônica a história desse carro no Brasil, que se iniciou em 1973 como um carro grande, de luxo (na América omesmo carro era considerado um compacto popular), rapidamente se tornou o grande vilão das ruas, devido ao alto consumo do seu motor V8 de quase 200 cv, até ninguém mais o querer. Pode parecer inacreditável, mas no começo dos anos 80 tinha gente doando Maverick por aí.
Meu pai tinha um GT 1974, impecavelmente novo, comprado da frota de imprensa da Ford. Ele não usava, pois tinha outros mais econômicos e mais práticos que esse, de forma que o carro ficava sempre na garagem. Eu preferia meu Fusquinha. Mas o carro já era um clássico familiar, uns seis anos conosco, quando ele chegou com a idéia de criar uma categoria de competição para carros com motores de 5.000 cm3 ou mais. Cheguei a argumentar que o carro era muito novo para ser depenado e colocado na pista, mas ele sequer escutou. Em pouco tempo o carro não tinha mais forração, parachoques e bancos, além de ganhar uma gaiola, um par de escapamentos diretos e suspensões rebaixadas. O resto ficou, inclusive um perigoso jogo de rodas de magnésio da Ital, que, sabíamos, quebrariam na curva Três, e o teto de vinil. Fez a primeira prova, pegou gosto pela coisa e começou a depenar outros Mavericks para aumentar o grid. Logo estavam largando mais de 70 carros na Turismo 5000, em provas apenas pelo anel externo do antigo traçado do Autódromo de Interlagos. Entre eles estava eu: meu pai fez tantos Mavericks que me deu o nosso querido membro da família.
Parecia que eu era o piloto mais importante da equipe, pois queria apenas sentar e correr, já que os custos eram todos bancados por ele. Mas tive que trabalhar bastante, pois o carro estava sempre precisando de cuidados, como da vez que eu coloquei um radiador "novo", comprado em um desmanche, para treinar no sábado, e ele estava entupido de terra. Não dormi, procurando e trocando o radiador para a corrida no dia seguinte.
O carro era muito bom, eu estava sempre no pelotão da frente no grid de largada. A suspensão, feita por nós mesmo, era ótima, apenas rebaixada e com amortecedores recondicionados do Rogério. Os pneus, quando sobrava dinheiro, eram Pirelli CN 36 5 estrelas. Quando sobrava mais dinheiro, eles eram torneados. (mas aí duravam apenas uma corrida). Por dentro o carro era feinho, tinha apenas um banco original, daqueles reclináveis, com dois cintos abdominais cruzados no peito. Segurança? Era assim mesmo. Painel original, com o conta-giros na coluna. Aos poucos fomos obrigados a ir equipando os carros da 5000, com equipamentos de segurança como chave geral e outros bichos.
Eu treinava todas as quarta-feiras em Interlagos, e, em fim de semana de corrida, na sexta e no sábado. Depois do treino de quarta eu corria para a Cidade Universitária, com o carro todo pintado, para pegar o final da aula na Escola Politécnica, e, de lá, sempre tinha um "rachinha" com alguns colegas que também tinham Maverick V8.
A última corrida que fiz teve um grid recorde. Larguei em quinto, e logo nas primeiras voltas fui passando quase todos à minha frente, menos o Ney Faustini, que era o mito, ninguém se aproximava dele. Até que eu achei que poderia encostar no seu Maverick branco. Nesse ponto, pensando na glória de vencer a prova, abusei da sorte e, quase chegando no primeiro colocado, rodei na curva Três, parando atravessado na frente de quase 70 outros competidores. O motor apagou, não pegava de maneira alguma, e eu ia perdendo posições. O pior, no entanto, era ficar no caminho de um bando de pilotos doidos, no meio da curva. Até que um deles me acertou em cheio na porta esquerda. Aqueles garotos que ficavam em cima do muro vieram me socorrer, mas, antes que eu pudesse me soltar daqueles cintos assassinos, um deles berrou: - Este aqui já morreu, vamos ver o outro!
Não esperei o rabecão, saí do carro e comecei a caminhada de volta aos boxes. Quando cheguei lá, a corrida já havia terminado. Depois fui ver o carro: perda total, inclusive com o eixo traseiro arrancado pela pancada.
Foi minha última corrida de Turismo 5000: meu paitrocinador suspendeu a verba. tenho saudade desse época e, quando vejo o quanto está valendo atualmente um Maverick V8, penso naqueles tantos carros depenados para as brincadeiras em Interlagos.



Postado por Gabriel Marazzi



 
Vendo a bela caricatura que o Ararê fez para o Maverick de Alberto Junior, lembrei da postagem em que o Gabriel conta de sua participação na TURISMO 5.000. Já que meu amigo Gabriel não encontra mais tempo para nos contar um pouco mais de suas aventuras vai aí seu post do começo do ano passado.
Um abraço ao Gabriel e ao Ararê.
 
 
 
 

8 comentários:

  1. Obrigado pelo espaço Rui.
    Já fiquei sócio do pedaço aqui hehe.
    Valeu!

    Um abraço.

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  2. Rui,
    já tentei de todo jeito colocar o video, não vai!!!
    Mas tem o link!
    Beijo

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  3. Obrigado a vc Ararê pelas belezuras que está fazendo!

    Abs

    Rui

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  4. Sensacional a história!!! A parte "
    Este aqui já morreu, vamos ver o outro!" é de rolar de rir...
    Abraço

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  5. Francis o Expedito era uma figurassa só quem teve o privilégio de conviver com ele sabe. E o Gabriel "filho de peixe ...".
    Qd vc vier nos visitar vai conhecer.

    Abs

    Rui

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  6. Belíssima história. Assitia muito às provas de 5000

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  7. A Turismo 5000 era sempre a última das categorias a entrar na pista, sempre com aquele friozinho de fim de tarde de interlagos. Tinha, além dos Mavericks, alguns Dodge Dart e pouquissimos Galaxie... Muito bons tempos! Bela história.
    rp

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  8. O falecido Nenê, Carlos Alberto do Amaral, irmão do Roberto Coruja Amaral corria de Maverick cor de burro quando foge. Dava para contar os elos das molas dianteiras na curva 3.

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Rui Amaral Jr