A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach

sábado, 3 de abril de 2021

Torneio União e Disciplina

Luiz e o Porsche 908/2 da equipe Z, com as mãos no bolso olhando Jan Balder.

 Carro alugado fui buscar uma equipe ou um mecânico, bati na oficina do Amador Pedro, alguém que já conhecia os VW D3. Ele que tinha um carro para alugar, que eu não sabia, com muita má vontade me disse que não cuidaria pois o carro estava bichado, nem respondi, dei as costas e fui embora, não gosto de gente assim, poderia ter falado a verdade, talvez eu até tentasse mudar. Voltei a equipe do Pedro, não sem antes buscar outras alternativas, conversamos e concordou em dar assistência na pista.   
 Já contei aqui a deliciosa sensação de pilotar aquele carro, muito diferente do Dart. Um verdadeiro carro preparado para Divisão Três, o cambio uma caixa Três, a primeira muito longa com todas outras marchas juntas, dois Webber 48, comando de vávulas P3 ( Iskanderian 12/12) rodas de liga com pneus Pirelli Cinturatto, acredito que 165/13 na dianteira e 185/13 na traseira, apenas com o banco concha do piloto, sem forração alguma e todo aliviado de peso.
Havia andado com ele uns dez dias antes, quando acertei o aluguel, se  não me falta a memória o Marcio e um parceiro haviam feito uma corrida longa com ele, então o tanque de combustível era bem grande, talvez uns 80/90 litros, e o contagiros não funcionava.
Fui para o primeiro treino na sexta feira, na corrida anterior havia apenas nós, os estreantes e novatos, agora nos boxes ao lado do meu só feras. Nem sei contar quem...Luiz estrearia o Porsche 908/2 da equipe Z, Camilão, Ciro...
Treinei bastante aquele dia, até dei duas ou três rodadas, era a vontade de andar forte, buscar o limite, encarar alguns carros que vinham correndo há tempos na categoria.
Os foguetes da Kinko dos irmãos Yoshimoto.

No sábado também andei um pouco e no grid larguei na segunda fila, três carros por fila, mais de vinte e cinco carros no grid.
Sabia que a largada seria trabalhosa, a primeira com aquela configuração chegava a uns 85 km/h e com o comando que abria lá no alto, complicado para uma corrida de seis voltas. Mas sabia também que apenas uns dez entre todos aqueles carros tinha o mesmo nível de preparação do meu, sendo que alguns eram bem melhores.
Mas eu estava lá...
Larguei, apenas larguei,  sem forçar a embreagem para uns 120/150 metros depois da largada estar em último, no final do pelotão. A primeira encheu e lá estava eu na entrada da Um já em terceira, começando à remar...Na entrada da Três já tinha deixado mais de dez carros para trás, mas muitos ainda estavam à minha frente. Lá na frente meu amigo José Martins Jr reinava absoluto com seu Puma #48, preparado por mestre Crispim e que havia comprado de Angi Munhos, era da Divisão Quatro, agora com motor 1.600cc mas mesmo assim no mínimo cinco segundos mais rápido que o VW D3. 

José Martins Jr e o Puma.

Na primeira volta já passei no meio do pelotão, daí para frente seria cada vez mais difícil ultrapassar, mas minha vontade era grande, andando no limite o tempo todo, aproveitando cada metro de pista para buscar quem estava à frente. Fazendo também sua primeira corrida na categoria um nome que viria a se tornar um marco da velocidade, meu amigo Alfredo Guaraná Menezes, talvez o piloto mais rápido de minha geração.
Deixei muitos para trás e lá pela quinta volta já estava em sexto, que descontando o Puma seria o quinto lugar, nada mal.
A segunda bateria foi igual, só que com mais experiência, andando cada vez mais forte, nesta se não me falha a memória fui quinto, na classificação das duas baterias fui sexto.

Ranking Auto Esporte
O Torneio União e Disciplina foi uma homenagem dos organizadores ao Exercito Brasileiro.

Notem que na matéria sobre a corrida o Guaraná e eu não somos citados, corrigido depois no Ranking. Mas em compensação os jornais do dia seguinte davam destaque a nós dois, sendo que o grande jornalista Luiz Carlos Secco em sua coluna do Estadão ou Jornal da Tarde, dá destaque a nós dois, como os nomes da corrida, e ainda escrevendo que até dias antes eu não tinha carro para correr. Perdi este recorte assim como as fotos minhas desta corrida

 Na próxima corrida, Uma Hora de Calouros, vencida por meu amigo Jacob Kourouzan, não tive carro para correr, voltaria para as duas etapas do Torneio Sulam no final do ano.


Rui Amaral Jr



quarta-feira, 31 de março de 2021

Novato e agora com carro....

WV Divisão Três de 1971- Meu amigo Carlos Mesa Fernandes o Caco.

 Desci a rua Buri lá do alto, quase na Paulista, vinha rápido, na esquina com a Itabirito o carro deu uma saída de traseira, consertei já bem de lado, e lá foi ele de frente bater no muro da casa que fica na esquina da Buri com a Morro Verde, ainda bem que bati de lado. Fiquei ali sem poder respirar por uns quinze minutos (rsrsr). Ainda bem que ninguém lá em casa tinha visto, tirei o capacete, que havia pegado de meu irmão, coloquei meu carro de rolimãs nas costas e fui para casa, uns cinquenta metros dali!  

 De volta a 1971- Não lembro como cheguei a equipe do PV e fiquei sabendo do VW D3 que poderia ser alugado, algo em minha mente lembra de uma conversa que tive com a Gigi, casada com Pedro, bela e simpática, tocava a administração da escola e da equipe.
Tratei a principio o aluguel do carro para a próxima corrida de novatos, que seria em junho. Já tinha um carro, mas não a grana. Teria que arcar com o aluguel, inscrição, combustível,  e a contratação de um mecânico  ou equipe, já que o combinado seria apenas o carro. Algo como cerca de US$ 1.500, talvez uns R$ 20.000 de hoje.
Contei ao meu irmão que tirou o corpo fora, jamais iria enfrentar papai. Nesse meio tempo por algumas vezes quando estava com meu pai havia conversado algumas vezes sobre corridas, mas nunca pedindo nada, sua posição era firme. Havia até feito um pedido de emancipação, que foi negado tanto por ele quanto por minha mãe.
Minha vida era boa, recebia uma "mesada" de dois salários depois do desquite de meus pais, mesmo no ano anterior quando trabalhei nos supermercados, onde não tinha salário. Tinha de meus pais casa na praia no campo e quando queria viajar a grana necessária, morava com minha mãe. 
Nunca havia pedido um tostão aos meus pais, as vezes quando estava com ele perguntava "quer alguma coisa?", dizia não precisar de nada. O Dart era meu terceiro carro, antes foi um Galaxy, aos dezesseis anos e depois um Karmann Ghia, e vende-lo agora seria um tolice, tinha planos para ele, era meu pecúlio para fazer um VW D3 para 72.
Me enchi de coragem, liguei para o escritório da Mooca para saber se ele estava lá, era o local onde mais gostava de estar com ele, só ele e eu. A telefonista, uma querida que trabalhava conosco há muito, cujo nome não consigo lembrar, confirmou e lá fui eu.
Entrei em sua sala com a cara e a coragem, dei um beijo em seu rosto, e contei que havia encontrado um carro para alugar, a categoria que ia correr, de quem era o carro e pedi apenas a grana, podia ter pedido dez ou vinte vezes mais, seria a mesma coisa, caso contasse que queria viajar e tivesse esquecido as carreras, estaria tudo nas minhas mãos na hora, mas jamais trairia sua confiança, jamais o enganaria. Conto a vocês com a alma e mente serenas, nunca o questionei  de ele ter comprado o Porsche paro o Paulo correr, sequer tocava no assunto, ele sabia que éramos muito diferentes.
Continuamos o papo e ao final ele me disse apenas "vem amanhã, vou pensar".
No dia seguinte quando cheguei meu irmão me esperava e entrou comigo, beijei papai sorrindo, ele acenou para o Paulo, me perguntou quanto era que precisava, ele já sabia, e me estendeu o cheque, pedindo segredo olhou para meu irmão com um olhar que dizia tudo.
Ainda contei que precisaria dar um cheque de caução, que seria meu, beijei-o com carinho e fui embora feliz.
Agora tinha um carro para o Torneio União e Disciplina, uma homenagem que a federação prestava ao Exercito Brasileiro.


 
Depois continuo...  

Rui Amaral Jr

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PS: Aos meus amigos Palmeirenses, Santistas, Corintianos devo dizer, torço para o Tricolor do Morumbi, na foto abaixo estou ao lado de papai, como sempre, e quem inaugura uma de nossas indústrias é ninguém menos que o Gen. Porfirio da Paz, presidente de honra do São Paulo Futebol Clube, autor de nosso hino, nosso torcedor símbolo. Na época da foto governador em exercício do Estado de São Paulo. 

Foto de meu arquivo, originalmente em preto e branco, colorizada por meu amigo Edwin Takeuti.

As Cinco Estrelas que carregamos com honra são; Os dois ouros em olimpíadas, Helsinque 1952, Melbourne 1956, do grande Adhemar Ferreira da Silva, as grandes vitórias da magnifica Maria Esther Bueno e nossos três mundiais de clubes, por enquanto!

Rui
     

 

sexta-feira, 26 de março de 2021

Novato e sem carro...

 

Rua Canuto Saraiva 429, Mooca, sede dos Alimentos Selecionados Amaral S.A. Onde entrei naquele dia...

 Sai do encontro com meu pai consciente que ele não iria me apoiar, mas sabendo que lá no fundo de sua alma ele estava contente, alguém em nossa família havia tomado uma atitude sem a dependência dele, e atitude era algo que ele apreciava muito.

Rolando, Raimundo Hernandez, braço direito de meu pai nas Cestas de Natal Amaral, Rui Amaral e eu.

Me permitam esquecer um pouco o automobilismo e divagar...

Naquele 1971 meu pai não estava feliz, um montão de coisas o perturbavam. A situação familiar, o fechamento das Cestas, sua menina dos olhos, fechou a grande empresa pura e simplesmente, pagou todos os credores, como era de seu feitio, ficou com todos os imóveis,  e agora tocava os Alimentos e uma rede de super mercados que havia aberto no ano anterior, aliás onde trabalhei por um tempo.

Depois de exercer seu mandato como deputado federal, se esforçava na fundação, com outros abnegados, que não vou citar, do partido que seria a oposição ao governista, o MDB. Logo ele que tanto se opôs  aos descalabros da administração que sucedeu Jânio Quadros no comando da nação. Tenho um discurso seu na Câmara dos Deputados que mostra toda situação vivida no país nos tempos pré Revolução, onde coloca os pingos nos iiiis. Os dois grandes nomes da politica paulista, Adhemar de Barros e Jânio Quadros, estavam fora, e novos nomes deveriam surgir.

Os Amaral Lemos, no dia em que meu pai teve confirmado seu nome para Câmara dos Deputados.
No mesmo dia, eu, Arinda, sem a colher de madeira, Maria Aparecida, papai, Paulo e agachada Creusa, que mamãe havia adotado tempos antes. 

Batalhador consciente, pelo MDB foi ao sacrifício em duas disputas, três anos antes  pela prefeitura de São Bernardo do Campo, onde ficava a sede das Cestas, quando perdeu por poucos votos. E no final do ano anterior na disputa pelo senado, quando seu nome era indicado para liderar a chapa, e numa deliberação partidária aceitou sair como vice de Lino de Mattos, quando perderam a cadeira para um candidato da situação, sendo que o MDB elegeu um senador.

Ele que tinha lutado pela criação do partido, sendo que sua sede em São Paulo, à rua Nestor Pestana, antigo escritório das Cestas, foi cedida gratuitamente  por ele para sediar o partido.

Ele estava desiludido, eu que no ano anterior, na primeira eleição  em que votava, havia tido a grande honra de votar nele, pensava que ele deveria tomar outros rumos politicamente. Eu, que desde quando comecei a ler jornais, lá pelos doze anos, era de direita, sendo fã antes de tudo dele e de Carlos Lacerda, via seu perfil mais à direita de onde ele se situava agora.

Me desculpem misturar minha situação familiar com automobilismo, mas foi assim que aconteceu.

Voltando às pista...


 Não fiquei frustrado, saí com a firme convicção que conseguiria um carro para as próximas corridas da temporada.
Meu caminho natural seria prosseguir com o Carlos Mauro Fagundes, que tanto me ensinou, incentivou e ajudou. Mas eu não queria continuar na Divisão Um, e transformar aquele Dart em Divisão Três, seria muito caro, grana que não tinha. 
Teria que trocar cambio, rodas, mexer no motor e  mesmo assim para andar talvez uns 16 segundos mais rápido em Interlagos, tempo que não seria suficiente para acompanhar os Lorenas de meus amigos Edo e Jacob, o Puma do Zé Martins, nem mesmos os VW que na Divisão Três já vinham muito bem preparados. 
Nos VW lembro com carinho o pessoal da Kinko, os irmãos Kenety e Hiroshi Hioshimoto, bem mais velhos que nós, corriam como Novatos já há algumas temporadas. A Kinko era competente na preparação e os irmãos experientes e rápidos.
A Divisão Três era o caminho a seguir...Foi quando fuçando encontrei um carro para alugar na equipe De Lamare. O VW D3 que foi pilotado por Márcio Brandão, filho do grande técnico Oswaldo Brandão, estava disponível.
E dois meses depois da corrida com o Dart lá estava eu novamente em Interlagos, agora com um carro preparado e rápido...

A memória de Rui Amaral Lemos.

Aos amigos Walter, Danilo, Márcio, Carlos e Roberto.

Ao Jacob, Edo, Zé Martins, João Carlos, à lembrança de Guaraná que já não está entre nós, uma grande honra privar de suas amizades até hoje.  


Rui Amaral Jr     



quarta-feira, 24 de março de 2021

1971... Agora Novato...

 

Foto de meu amigo Rogério Da Luz, largada de uma corrida de Novatos. 


   Bem...No post anterior contava que na segunda feira, após a vitória com o Dart e ver minhas fotos em alguns jornais, que não guardei, fui até o escritório de meu pai, na Mooca.

Agora, como sou um contador de histórias, me permitam divagar.

Meus pais eram separados há cerca de quatro anos, e meu pai antes de tudo guardava um enorme respeito e admiração pela mulher que junto a ele construiu um império nos quarenta e tantos anos de casamento. E como eu, talvez um pouco de medo dela! 

Com dezoito anos já não aprontava muito, namorava firme, não bebia ou fumava, era apenas apaixonado pelas corridas.

Fui criado por uma criatura maravilhosa, que tomava conta de nossa casa nas constantes viagens de meus pais, dona Emma era tudo para mim, a avó que não cheguei a conhecer, a amiga, a mentora.   Nesta altura ela já havia subido e olhava por mim lá do alto, como ainda olha.

Confesso que eu era um bicho, e dona Emma um para raios entre minha mãe, a colher de madeira e eu, de meu pai nunca ouvi uma bronca sequer. Eu era o caçula, doze anos mais novo que meu irmão e nove de minha irmã Cida.

Quando mamãe chegava em casa e algum passarinho soprava minhas travessuras lá ia ela direto para cozinha pegar a tal colher, quando me encontrava lá estava dona Emma entre nós!

-Arinda (este era o nome de minha mãe ) não toque no menino!

-Emma, você é protetora dos animais! ( desconfio levemente a quem ela se referia!)

Voltando àquela segunda feira...Entrei na sala de meu pai, ao transpor a porta parecia que havia freado uns dez metros depois do ponto na Curva Três, mas continuava na pista...Ele me olhou, com todos aqueles jornais sobre a sua mesa e disse "parabéns, já contou para sua mãe?". Não, e também não contei a ele que havia saído escondido, pegado o primeiro carro que vi na garagem saindo sem fazer barulho.

Conversamos, falei que aquela era a vida que queria, que gostava e sabia que pilotava bem. Pedi seu apoio. Meu pai tinha um grande conhecimento do mercado publicitário, nossas Cestas de Natal Amaral, indústria fechada poucos anos antes, era uma das maiores anunciantes de rádios, tvs e jornais. Mesmo os Alimentos Selecionados Amaral S.A, onde agora estávamos, era um grande anunciante, com quase duzentos produtos nas prateleiras de armazéns e super mercados, sendo que apernas um pedaço da verba publicitária do Mandiopã daria para mim montar uma grande equipe.

Ele negou, disse "sua mãe me mata!". Conversamos mais algum tempo, acredito que almoçamos por lá mesmo ou em sua casa e lá fui eu enfrentar minha mãe.

Eu ia continuar, custasse o que custasse...

Rui Amaral Jr