Stewart, Emerson e Cevert
E foi no dia 28 de
janeiro de 1973, que escreveu-se uma das mais belas páginas das corridas em
todos os tempos. Local, Autódromo Municipal de Buenos Aires. A corrida , prova
inaugural do campeonato mundial de fórmula 1 . Os protagonistas... Emerson
Fittipaldi, François Cevert e Jackie Stewart. O início da mais esperada
temporada de F1 com o duelo direto entre Emerson Fittipaldi o novo campeão
mundial e o escocês Jackie Stewart bicampeão mundial 1969/1971, que queria
porque queria ganhar o tri em 1973 e assim encerrar a sua brilhante carreira
como tricampeão. Havia ainda mais atrativos para engrossar o caldo. O recorde de vitórias de outro escocês voador
Jim Clark estava perigosamente ameaçado pelo compatriota Stewart. Faltavam
apenas 3 vitórias para que Jackie igualasse o recorde de Jim. O regulamento mudava em favor da segurança. A
CSI resolveu se mexer após tantas mortes de pilotos. Esses mesmos pilotos
liderados por Jackie Stewart vinham num movimento cada vez maior em prol desse
importante quesito. Sendo assim as equipes deveriam a partir da 4ª etapa ,
Espanha , apresentar seus carros com a estrutura do chassi deformável quando em
colisões frontais. Os tanques de combustível, deveriam ser de borracha ao invés
dos até então metal rígido, usados desde os primórdios. Tentava-se assim
diminuir os tão frequentes incêndios. O que se veria é que como sempre a teoria
e a prática nem sempre convergem. A prova foi o pavoroso acidente de Clay
Regazzoni no GP da África do Sul e o acidente fatal da jovem promessa inglesa
Roger Willinson com transmissão via TV ao vivo para todo planeta das cenas horríveis
durante a disputa do GP da Holanda . Do lado técnico, após anunciar a sua
retirada a Firestone, que era o pneu campeão pois equipava a Lotus, resolveu
continuar. Só que aí já era tarde. As duas grandes forças foram para a
Goodyear, Lotus e Ferrari. O fabricante americano de pneus começava com grande
vantagem sobre sua concorrente tb dos EUA. A equipe campeã JPS Lotus, tinha
como principal piloto o brasileiro Emerson Fittipaldi o vencedor do título de
1972. O seu companheiro equipe seria outra fera, o sueco Ronnie Peterson, que
substituiria o medíocre australiano David Walker, que após brilhantes
temporadas nas fórmulas menores, simplesmente parece que esqueceu como andar
rápido. Colin Chapman, faria alterações
nas suspensões para que a vencedora Lotus 72, continuasse seu reinado. E parece
que o Gênio acertou a mão mais uma vez. Os pneus Goodyear caíram como uma luva
na 72 D. Na Tyrrell apesar de fechar a temporada de 1972 com duas dominantes
vitórias nas derradeiras corridas no Canadá e EUA, o competente projetista
Derek Gardner passou os meses de novembro e dezembro debruçado sobre a
prancheta desenhando novas atualizações para a nova Tyrrell agora denominada
005/2 a de Stewart e 006/2 a de Cevert. A ordem de Tio Ken Tyrrell era ser
campeão de preferência com o super escocês Jackie Stewart. Cevert seria o fiel
escudeiro. Com toda certeza o promissor piloto francês seria o 1º piloto a
partir da temporada de 1974, com Stewart atuando como consultor técnico. Mas
como quase sempre a teoria diverge da prática. Que pena Cevert. No resto do grid,
tínhamos mais uma vez uma claudicante Ferrari com seus eternos problemas
internos, com o Comendador Enzo Ferrari dispensando Clay Regazzoni e
contratando o pequeno mas bom piloto Arturo Merzario para ser o companheiro do
belga Jacky Ickx, que já não tinha aquela MOTIVAÇÃO TODA. Iniciariam a
temporada com velha e confiável 312 B2 em seu 3º ano, aguardando a tão sonhada
312 B3, que era conhecida nos bastidores como a Ferrari Lotus, dado o seu
desenho em cunha.... seria um grande e estrondoso fracasso. A Mclaren veio para
a América do Sul do mesmo jeito que terminou a ótima temporada de 1972. Os pilotos,
Denny Hulme e Peter Revson e o M19C. Era aguardada o novíssimo M23 que
estrearia na 3ª etapa na África do Sul. A BRM após uma temporada em que
desperdiçou importantes chances com excesso de carros, devido ao polpudo
patrocínio da Marlboro, agora vinha enxuta, com apenas 3 carros. Jean Pierre
Beltoise continuava sendo o principal piloto, secundado por Clay Regazzoni e a
jovem promessa Niki Lauda. O modelo P160 revisado e prometendo um motor mais
potente. A Brabham dispensou os serviços do bi campeão Graham Hill que resolveu
montar o seu próprio time, seguindo o caminho de Jack Brabham, Dan Gurney,
Bruce Mclaren, John Surtees. Graham estrearia na Espanha, junto com outra equipe
a americana Shadow. Carlos Reutemann e Wilson Fittipaldi Jr seguiriam junto com
o projetista Gordon Murray, que finalizava o esperado BT42. Bernnie Ecclestone
o dono do time, cada vez mais usava a sua astúcia para ir dominando os
bastidores do circo da F1, e a partir de então, transformando-o e um negócio
altamente lucrativo. O baixinho de bobo não tinha NADA. A equipe Surtees vinha
de um ano mediano e já tinha feito a lição de casa, estreando na Argentina o
novíssimo TS14A para Mike the Bike Haillwood e seu novo companheiro de equipe o
brazuca José Carlos Pace que tinha feito ótima estreia na corrida dos campeões
em Brands Hatch, onde chegou na 2ª colocação. Pace deixou o time de Frank
Williams que por pouco não faliu de vez. O perspicaz inglês, juntou-se à empresa
italiana Iso Rivolta. Juntos conseguiram o patrocínio da Marlboro italiana e
reestruturaram a equipe que contava agora com o neozelandês Howday Ganley e o
italiano Nanni Galli. A March depois da perda do sueco Ronnie Peterson e de
Niki Lauda e um mal campeonato em 1972, estava praticamente na roça. Veio para
a Argentina com apenas um carro para o novo integrante da equipe, o francês
Jean Pierre Jarier. No carro particular continuava o inglês Mike Beuttler. A
grande ausência seria a equipe Matra que declinou da F1 para focar no
campeonato mundial de Marcas. Com isso por enquanto o neozelandês Chris Amon
estava a pé. Nos bastidores havia rumores que ele seria a grande cartada da
equipe Tecno que preparava um novo modelo. Ao todo apresentaram-se para
disputar o gp argentino, 19 carros. Nos treinos classificatórios as surpresas
já começaram acontecer. Clay Regazzoni cravou a pole, provando mais uma vez que
mandava o sapato onde sentasse. A BRM ainda comemorou o 7º tempo de Jean Pierre
Beltoise. E a Firestone tb estava VIVA. Com o 2º tempo, a 3 décimos do pole, o
campeão mundial Emerson Fittipaldi mostrou que não estava para brincadeira.
Abrindo a 2ª fila, e como sempre veloz o belga Jacky Ickx ladeado pelo escocês
Jackie Stewart numa não tão costumeira 4ª posição. Na 3ª fila Peterson
estreando relativamente bem na Lotus e François Cevert que não gostou nada do
seu posicionamento. O francês deixou escapar que tinha ótimo carro para a
corrida. Os brasileiros Wilson Fittipaldi fez o 12º tempo, dentro do esperado
no BT 37 que ele usava pela 1ª vez. José Carlos Pace após um monte de problemas
conseguiu o 15º tempo. O novo Surtees tinha que ser ainda bem desenvolvido.
Clay na pole.
Na largada o Rato pula na frente, Ickx tenta enfiar a Ferrari entre eles.
Clay já na ponta com Cevert e Emerson.
Na
largada Emerson conseguiu um ótimo pulo, ponteou os primeiros 100 metros que foi
ultrapassado simultaneamente por Clay Regazzoni e François Cevert que veio
babando da 3ª fila. Ao fecharem a 1ª
volta das 96 voltas previstas, Regazzoni liderava, seguido de Cevert, Emerson,
Peterson, Beltoise, Ickx, Hulme, Stewart que fez péssima largada, Reutemann e
Revson. Wilsinho em 11º e Moco em 13º.
Na 3ª volta Stewart começa e sua ascenção, ultrapassando o campeão mundial de
1967 Denny Hulme. Logo atrás Peter Revson passa Carlos Reutemann que passa a
correr secundado por Wilson Fittipaldi e Niki Lauda que fazia uma boa estreia
na BRM. Estamos na 7ª volta e Stewart passa Ickx indo para a 6ª posição. Lá na
frente tudo igual. Todos economizando pneus, esperando os tanques baixarem, já
que naqueles tempos não havia pit stops. Piloto tinha que se virar com o mesmo
jogo de pneus e acertar nos ajustes de suspensões para que o carro tivesse
desempenho satisfatório do começo ao fim da corrida. Regazzoni liderava sóbrio
seguido de Cevert,Emerson,Peterson, Beltoise,Stewart. Todos juntos. Um pouco
mais atrás, Ickx começou a ficar seguido de Hulme, Revson, Reutemann, Wilsinho,
Lauda. Na 11ª volta abandono simultâneo tirando a equipe Surtees da corrida.
Moco com várias vibrações dos pneus Firestone sobre a suspensão que não resiste
e quebra, Hailwood tem o diferencial quebrado. Muito trabalho pela frente para
o time. Na 13ª volta Stewart passa Beltoise e assume a 5ª posição colado em
Peterson. O escocês como sempre fazendo uma bela corrida. Na 16ª volta Carlos
Reutemann abandona com pane na caixa de marchas. A torcida argentina fica frustrada.
A corrida segue sem novidades com os 5 primeiros andando juntos até que na 24ª
volta Stewart passa Peterson assumindo da 4ª posição. O sueco começa a ter
problemas no motor da Lotus.
Cevert passa Clay e Stewart encosta em Emerson.
Wilsinho e a Brabham.
Na 29ª volta François Cevert ultrapassa Clay
Regazzoni. O suíço tem mais uma vez um azar danado. Assim como no GP de 1972,
Regazzoni passa na reta de chegada e um pedaço de papel aloja-se no bico do BRM,
fazendo o motor perder rendimento devido alteração na temperatura do mesmo. O suíço
começa a perder posições até ter que recorrer aos boxes. Na 30ª volta Stewart
faz uma manobra espetacular e ultrapassa Emerson Fittipaldi indo para a 3ª
posição. Na 32ª volta Stewart passa por Regazzoni fazendo a dobradinha da
Tyrrell. Depois de passar a 1ª volta na 9ª posição fez uma recuperação
estupenda. Na 33ª volta Emerson finalmente passa Regazzoni fixando-se na 3ª posição.
Na 34ª volta é a vez do sueco Ronnie Peterson ultrapassar Regazzoni. Assim
tínhamos nesse momento da corrida as 2 Tyrrell, as 2 Lotus e as duas BRM nas 6
primeiras posições. Depois vinham Ickx já bem atrasado com sua Ferrari, as duas
Mclarens de Hulme e Revson e já bem atrasados, mas correndo juntos Wilsinho e
Lauda. Cevert liderava com maestria e começava a abrir de Stewart que começava
a perder terreno para Fittipaldi. O esforço do escocês para voltar para o bloco
dianteiro começava a cobrar o preço devido ao maior desgaste de pneus. Na 47ª
volta o Belga Jacky Ickx finalmente ultrapassa seu ex companheiro de equipe
Clay Regazzoni alojando-se no 5º lugar, mas distante 30 segundos do quarteto
líder da corrida. Na 58ª volta Regazzoni vai aos boxes devido a um furo no pneu
traseiro. Faz a troca os mecânicos tiram o papel que tanto atrapalhava o
desempenho do BRM e o suíço retorna à prova na 12ª posição. Na 60ª volta
Emerson já está colado no câmbio de Stewart e os dois iniciam uma tremenda
batalha pela 2ª colocação. O escocês apesar do desgaste de pneus vai fechando a
porta para o brasileiro e assim Cevert vai abrindo na ponta. A vantagem do
francês sobre a dupla já é de 3 segundos. Ronnie Peterson já vem a 10 segundos
dos ponteiros com sua Lotus perdendo cada vez mais rendimento. Na 67ª volta o
austríaco Niki Lauda encerra sua estreia na BRM abandonando com o motor
estourado. Na 75ª volta Wilson Fittipaldi ultrapassa Beltoise ganhando a 7ª
posição. Na 76ª volta Emerson Fittipaldi após 40 voltas de luta intensa
consegue ultrapassar Jackie Stewart, não antes de ser espremido pelo escocês,
que vendeu caro a posição. Emerson teve que pôr os dois pneus direitos na grama
para consolidar a ultrapassagem. Agora o brasileiro tinha que ir buscar Cevert
que abrira 4,6 segundos na ponta. Estava difícil, mas não impossível.
Cevert, Stewart e Emerson indo a sua caça.
Já colado...
Lauda sai para as Feras...
Vindo com tudo num belo sobresterço para cima de Cevert.
Na 79ª
volta Emerson Fittipaldi na sua caça a Cevert crava a melhor volta corrida,
1'11¨22'" novo recorde da pista argentina. Na volta 82 Emerson cola na
traseira de Cevert . Faltando 14 voltas para o término da corrida esse duelo
estava pegando fogo. Todos os 10 mil brasileiros que se deslocaram para a Argentina,
que estavam assistindo a corrida das arquibancadas estavam de pé torcendo muito
por Fittipaldi. Na volta 86, na curva La Horquilla, Emerson retarda a freada em
manobra radical, conseguindo surpreender Cevert que nada pode fazer para
defender-se. O francês é inapelavelmente ultrapassado pelo brasileiro, que vai
para a ponta e começa abrir vantagem.
Se cuida François...
Nas 10 voltas restantes Emerson roda num
ritmo seguro controlando Cevert que se contenta com a 2ª colocação. O
brasileiro cruza a linha de chegada ganhando uma corrida de forma espetacular
com 4.5 segundos de vantagem sobre Cevert. Jackie Stewart chega na 3ª colocação
a mais de 30 segundos. O belga Jacky Ickx resiste com sua Ferrari terminando na
4ª colocação a mais de 40 segundos de Emerson. Em 5º lugar o velho urso Denny
Hulme , seguido por Wilson Fittipaldi que com o 6º lugar marca o seu primeiro
ponto no campeonato mundial em espetacular corrida com o já ultrapassado
Brabham BT37. Pela 1ª vez em uma corrida válida pelo mundial dois irmãos marcam
pontos numa mesma prova. Após o pódio a
torcida brasileira levou Emerson nos braços celebrando essa brilhante vitória.
Foi uma grande vitória do campeão mundial Emerson Fittipaldi. O automobilismo
estava devidamente emplacado no coração do torcedor brasileiro, que iria ficar
mais feliz ainda com nova vitória de Emerson, só que agora no GP Brasil. Tudo
isso há 50 anos.... EEeeehhhh saudadeeeeee....
Ronaldo Nazar
Post original do
Ronaldo no Facebook.
______________________________________________________________________
Ronaldão, meu irmão do
coração, não lembro o motivo, mas não assisti esta corrida e lendo seu relato parece
que estava ao seu lado na mureta dos boxes em Buenos Aires com você berrando ao
meu lado a cada momento. Quem assistiu diz que foi a corrida da vida do Rato e
lendo seu relato concordo.
A Sonia e a você, o
querido casal, um beijão no coração.
Ronaldão, Caranguejo –
Carlos Henrique Mércio e eu escrevemos sobre o GP da França 1973...
GP DA FRANÇA 1973