Aqui, o Sidney, com o
carro ligeiramente desalinhado, volta aos boxes, onde será 'protegido' pela
equipe JOBI...
Dia desses, estávamos
eu e o Rui Amaral Jr, meu sócio, conversando sobre a carreira do piloto Antonio
Carlos Avallone e lá pelas tantas, pintou a lembrança do dia em que o AC tentou
acabar com a 4ª etapa do Torneio Rio-S.Paulo de Stock cars, no distante ano de
1981. Papo vai, papo vem, lembrei que o amigo Renaldo Ival, ex-mecânico do
campeão Marcos Troncon, me disse uma vez que conhecia o piloto Sidney Alves, a
melhor testemunha desse dia, posto que estava lá e tornou-se protagonista de todo o lance. Sugerido pelo Ruizão, entrei
em contato com o Rei, que gentilmente, me apresentou de forma virtual ao gentil
Sidney, cuja memória ainda tem vivos aqueles acontecimentos. Mas primeiro, sua
carreira. Como começou tudo, Sidney?
Sidney Alves (#163) na
caça ao AC (#6)...
-“Começou nos Rachas.
Aposta entre amigos. Um dia em 1973, resolvemos ir a Interlagos para ver quem
era o bom. Fui com meu ‘Fuscão’. Preparação muito simples, tudo improvisado, um
cano como santantônio, fita crepe nos faróis e pronto. Os resultados foram
aparecendo. Vitórias. Foram dois anos nessa categoria. Em 74, passei para o
Chevette, o qual não gostei. Posteriormente, fui atraído pela categoria
Turismo/Classe C, que englobava Opalas, Mavericks e Dodges. Optei pelo Opala e
junto com meu amigo
Wilson, comprei o carro que pertencera ao pai do inesquecível José Carlos
Pace, o Moco. O carro não podia ser
muito mexido, exceto
a remoção de parachoques. O
resto, eram pneus radiais, tapeçaria interna e estepe, como carro de rua. Meu
Opala 71 era um dos “velhinhos” da categoria e assim fiquei por dois anos até
comprar a parte do Wilson, meu amigo e correr ‘solo’. Fiz uma pintura em três
cores e continuei até 1979, quando finalmente surgiu a Stock-cars. Sempre fui
competitivo apesar de não contar com patrocínio, pois para mim, corrida era
hobby, tinha meu trabalho. E foi assim que em 1981, correndo na Stock-cars,
encontrei meu amigo Antonio Carlos Avallone. O AC chegou com sua bela Mercedes
amarela e trouxe um Stock e ainda um Dodge da categoria Turismo 5000. Queria
correr conosco, mas a inscrição tinha sido feita em nome de seu filho (que
tinha o mesmo nome). Tendo alinhado no grid, Avallone começou a mover o carro,
quando viu que iriam barrá-lo. O pessoal o procurava no fundo do grid; ele ia
para a frente; procuravam-no na frente; ele retornava para o fundo. Até que o
seguraram. O carro do AC levado para o box, começou a prova. Eu, largava em
terceiro ou o quarto naquele dia. De repente, em pleno Retão, quem aparece? O
Avallone. Ele havia conseguido acionar o Stock e aparentemente, queria acertar
o Paulo Gomes ou o Ingo Hoffmann. Na
Curva 3, nos achamos. Ele me prendeu atrás dele por uma volta. Como éramos
amigos, não sei se me viu ou não. Na volta seguinte, irritado pela provocação,
o acertei na Ferradura. Grudei em seu carro na Reta Oposta e no “Sol”, o
acertei outra vez. Na Curva do Sargento, o peguei de novo e desta vez fiquei
empurrando seu carro na proteção, até que dei ré e
fui para os boxes. Quando cheguei, a equipe do Waltemir Spinelli, o “Bolão” me tirou do carro e me protegeu.
De lá vi quando os mais exaltados que
estavam por ali quebraram os
carros do Avallone, que teve de
deixar o autódromo escoltado por dez viaturas da ROTA. Quando já estava
pensando em ir embora, o sistema de alto-falantes chamou meu nome, durante a
entrega dos troféus. Eu tinha sido escolhido o “Piloto do Dia”. Só então
lembrei que naquele dia, meu amigo o cantor Antonio Marcos, estava presente em
Interlagos, acompanhado de um empresário que pensava em patrocinar meu carro.
Depois da confusão, continuei sem patrocínio...Seis ou oito meses depois,
estava eu na Oficina do preparador Anésio Hernandes, quando vejo em minha
frente, Antonio Carlos Avallone. Ele, apesar de baixinho, era lutador de artes
marciais e adorava uma encrenca. Na ocasião, porém, só me perguntou se eu
estava louco quando o tirei da prova, naquele dia. Respondi que ele devia saber,
já que eu continuava na ativa e ele havia sido suspenso por seis anos. O tempo
havia passado e a coisa não foi além. Só tornei a vê-lo mais uma vez, quando
estava na Balsa de São Sebastião, na travessia para Ilhabela e o AC se meteu
numa briga com uns gaiatos que se engraçaram com sua esposa. Mais tarde, soube
que falecera...”
Caranguejo-Carlos Henrique Mércio