A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Monstros velozes...

 

Notem os dois turbos saindo de cada bancada de cilindros.

 Vou escrever como se estivesse sentado com vocês numa mureta de box em algum autódromo, como tanto fiz e ainda faço com meus amigos. De um comentário de meu amigo Walter, vou tentar escrever, sem pesquisas, apenas o que vier a mente, descontraído. Aliás, descontração é uma coisa que sempre tenho quando escrevo para vocês, não sou um historiador, apenas um contador de histórias que gosta do que faz.
 As corridas do Grupo 7 da FIA proliferavam pelo mundo, já mostrei aqui muitas delas, Graham Hill na Inglaterra e inúmeras outras, inclusive aqui no Brasil quando o fantástico Avallone promoveu algumas copas. 
 Mas as corridas do Grupo 7 eram em abundancia nos EUA, talvez dezenas de corridas nos muitos autódromos todos finais de semana, e os americanos amavam estes monstros.
 O regulamento do Grupo 7 da FIA era bem simples, os carros deveriam ser bipostos, suas rodas cobertas, simples, deixando na cabeça e imaginação dos construtores e equipes todo o resto, inclusive o tamanho dos motores..
 O grande mercado para esses bólidos era sem dúvida os EUA, na grande nação eram talvez milhares de corridas, de todas as categorias, em cada temporada.
 Este imenso mercado, de carros de pista e rua alavancou os fabricantes europeus. Ferrari, Porsche, MG, Austin Healey, Jaguar, Maserati e outros lá fizeram a "américa".  
 A Ferrari tinha em Luigi Chinetti e sua NART - North American Racingo Tean - seu grande vendedor, tanto dos carros de rua quanto os de pista. O nome do grande representante da Porsche me foge agora, mas foi lá que a alemã cresceu.
 As equipes europeias corriam em alguma dessas provas, mas acredito que não disputassem seriamente nenhum dos campeonatos, nem o nacional.
 Foi aí que apareceu o palco principal para eles, o desafio entre canadenses e americanos, com cerca de nove corridas nos dois países, altamente patrocinados e divulgados. Com belíssimos prêmios nascia a CanAm em 1966.
 Lola e McLaren logo viram aí sua galinha dos ovos de ouro, era o palco perfeito para divulgação de seus carros, e venda de centenas deles. 
 A primeira prova da CanAm foi vencida, assim como o campeonato, por Big Jonh Surtees com a Lola T70 MK II com um "motorzinho" Chevrolet de "apenas" 5.900cc e talvez "meros" 350/400 hps!
 Depois vieram os cinco campeonatos seguidos da McLaren, que na última vitória da equipe em 1972 Hulme correu com motor Chevrolet de 8.100cc, que segundo relatos da época desenvolvia cerca de 600 hps.
 Ferrari e Porsche fizeram alguns carros para CanAm e Europeu, sendo que a italiana, se não me engano, usou até um motor de sete litros em carro pilotado pelo grande Chris Amon. A Porsche com seu 917/10 aberto correu até 1971 com seu "motorzinho" de cinco litros que desenvolvia cerca de 500 hps

Willy Khausen na Copa Brasil, com o 917/10.

 De olhos no mercado a Porsche pega o 917/10 com seu motor de 5.000cc e adiciona dois turbos compressores, um para cada bancada de cilindros e já em 1972 tira deles cerca de mil hps. 
 Foi a derrocada da McLaren e Lola, apesar de Hulme haver vencido em 72 a vitória da Porsche no campeonato foi arrasadora. 
 Tendo a equipe Penske como sua principal aliada venceu de forma absoluta os campeonatos de 1972/73 quando a Porsche se retirou.
 A evolução dos 917/10 foi o 917/30, com 5. 374cc e dois turbo compressores KKK trabalhando com até 1.5 bar, alguns relatos da época falam de cerca de 1.300/1.400 hps em classificação.



    
 Fico aqui imaginando como seria pilotar um monstro desses, que mesmo com as rodas traseiras que chegaram, se não me engano, às 20 polegadas de tala, sem controle de tração e nada das frescuras dos carros de hoje.
 Sair do Sargento e acelerar forte, chegar a Um de Tarumã depois de sair acelerando da Nove e descer forte a reta, ou mesmo entrar na grande reta de Jacarepaguá pisando fundo e chegar a curva Sul em maior velocidade que a desenvolvida por um Boeing para alçar voo. 

 Bem, como disse bem gostaria de estar papeando com vocês, ouvindo e falando ao invés de escrever solitário neste feriado e isolamento. Papos longos como sempre bato com  Chico, Bird, Ricardo Bock, Julio Caio e batia com meus amigos saudosos Expedito e Arturão, Avallone. Outro bom de conversa é o Elcio Pelegrini, papudo como só um bicampeão pode ser, outro ser único como vários de meus amigos que deixo de citar.

 Ótimo feriado e um forte abraço.

Rui Amaral Jr.

PS: Todo piloto é papudo, em nossos encontros,  falando de algumas corridas, mais de um a venceu, todos fizeram a melhor volta, pole...! Isso é bom demais!


 

          
   
  



    


segunda-feira, 19 de abril de 2021

François na CanAm - 1972

Sempre bem assistido!

 No ano anterior François já estava entre os melhores do mundo, havia vencido seu primeiro Grand Prix em Watkins Glen, sendo terceiro no mundial de Formula Um, atrás de seu parceiro de equipe Stewart e do veloz Ronnie Peterson. Estava inscrito pela Matra, no fatídico  1.000 KM de Buenos Aires mas não correu, sua dedicação a F.Um foi total, era o preferido de Ken Tyrrel para o lugar de Stewart, quando este parasse. 
 Agora era hora de colocar no bolso os lucros de uma fantástica carreira. Contei vinte e nove corridas dele em 72, doze na F.Um, onde foi quinto no campeonato, sete na CanAm pela equipe Young American Racing pilotando o McLaren M8F Chevrolet de 8.000cc. Uma na Itália onde com seu parceiro Stewart pilotou um Ford Capri, e as demais pela Matra Simca no Mundial de Endurance. 
 Com bons resultados em todas categorias foi na CanAm com este McLaren das fotos que venceu sua única corrida no ano, em Donnybrooke.

Liderando um Porsche - Foto enviada por meu amigo Zé Carlinhos.

 1972 foi o ano em que a equipe Penske, com o Porsche 917/10 desbancou o domínio de  cinco temporadas da McLaren. A primeira corrida do ano em Mosport foi vencida por Denny Hulme, com a McLaren M20, que venceria também a terceira em Watkins Glen. Depois foram as vitórias arrasadoras da Penske com os 917/10 pilotados por Mark Donohue e George Follmer o campeão. 
 Em Donnybrook Cevert largou com o sexto tempo,. atrás dos dois carros da Penske com Donohue e Follmer, das duas McLaren de Hulme e Revson e o Porsche 917/10 de Milt Minter.
Na briga de gigantes os dois carros da McLaren ficaram pelo caminho, assim como o 917/10 de Donohue. 
 François venceu à frente de Milt Minter, Jack Oliver com o Shadow MK III Chevrolet e o 917/10 de Follmer.  
 No campeonato Follmer teve o dobro de pontos do segundo Hulme, era o Velho Urso que mesmo com um carro inferior mostrava suas garras. Milt Minter empatado com Hulme foi o terceiro e Donohue o quarto. Terminando Cevert em quinto, atrás apenas dos fabulosos 917/10 e de toda experiência de Hulme, bicampeão da categoria.   





François Cevert um grande piloto.


Rui Amaral Jr 


   Racing Sports Cars
pesquisa e fotos   


 
  

 

sábado, 3 de abril de 2021

Torneio União e Disciplina

Luiz e o Porsche 908/2 da equipe Z, com as mãos no bolso olhando Jan Balder.

 Carro alugado fui buscar uma equipe ou um mecânico, bati na oficina do Amador Pedro, alguém que já conhecia os VW D3. Ele que tinha um carro para alugar, que eu não sabia, com muita má vontade me disse que não cuidaria pois o carro estava bichado, nem respondi, dei as costas e fui embora, não gosto de gente assim, poderia ter falado a verdade, talvez eu até tentasse mudar. Voltei a equipe do Pedro, não sem antes buscar outras alternativas, conversamos e concordou em dar assistência na pista.   
 Já contei aqui a deliciosa sensação de pilotar aquele carro, muito diferente do Dart. Um verdadeiro carro preparado para Divisão Três, o cambio uma caixa Três, a primeira muito longa com todas outras marchas juntas, dois Webber 48, comando de vávulas P3 ( Iskanderian 12/12) rodas de liga com pneus Pirelli Cinturatto, acredito que 165/13 na dianteira e 185/13 na traseira, apenas com o banco concha do piloto, sem forração alguma e todo aliviado de peso.
Havia andado com ele uns dez dias antes, quando acertei o aluguel, se  não me falta a memória o Marcio e um parceiro haviam feito uma corrida longa com ele, então o tanque de combustível era bem grande, talvez uns 80/90 litros, e o contagiros não funcionava.
Fui para o primeiro treino na sexta feira, na corrida anterior havia apenas nós, os estreantes e novatos, agora nos boxes ao lado do meu só feras. Nem sei contar quem...Luiz estrearia o Porsche 908/2 da equipe Z, Camilão, Ciro...
Treinei bastante aquele dia, até dei duas ou três rodadas, era a vontade de andar forte, buscar o limite, encarar alguns carros que vinham correndo há tempos na categoria.
Os foguetes da Kinko dos irmãos Yoshimoto.

No sábado também andei um pouco e no grid larguei na segunda fila, três carros por fila, mais de vinte e cinco carros no grid.
Sabia que a largada seria trabalhosa, a primeira com aquela configuração chegava a uns 85 km/h e com o comando que abria lá no alto, complicado para uma corrida de seis voltas. Mas sabia também que apenas uns dez entre todos aqueles carros tinha o mesmo nível de preparação do meu, sendo que alguns eram bem melhores.
Mas eu estava lá...
Larguei, apenas larguei,  sem forçar a embreagem para uns 120/150 metros depois da largada estar em último, no final do pelotão. A primeira encheu e lá estava eu na entrada da Um já em terceira, começando à remar...Na entrada da Três já tinha deixado mais de dez carros para trás, mas muitos ainda estavam à minha frente. Lá na frente meu amigo José Martins Jr reinava absoluto com seu Puma #48, preparado por mestre Crispim e que havia comprado de Angi Munhos, era da Divisão Quatro, agora com motor 1.600cc mas mesmo assim no mínimo cinco segundos mais rápido que o VW D3. 

José Martins Jr e o Puma.

Na primeira volta já passei no meio do pelotão, daí para frente seria cada vez mais difícil ultrapassar, mas minha vontade era grande, andando no limite o tempo todo, aproveitando cada metro de pista para buscar quem estava à frente. Fazendo também sua primeira corrida na categoria um nome que viria a se tornar um marco da velocidade, meu amigo Alfredo Guaraná Menezes, talvez o piloto mais rápido de minha geração.
Deixei muitos para trás e lá pela quinta volta já estava em sexto, que descontando o Puma seria o quinto lugar, nada mal.
A segunda bateria foi igual, só que com mais experiência, andando cada vez mais forte, nesta se não me falha a memória fui quinto, na classificação das duas baterias fui sexto.

Ranking Auto Esporte
O Torneio União e Disciplina foi uma homenagem dos organizadores ao Exercito Brasileiro.

Notem que na matéria sobre a corrida o Guaraná e eu não somos citados, corrigido depois no Ranking. Mas em compensação os jornais do dia seguinte davam destaque a nós dois, sendo que o grande jornalista Luiz Carlos Secco em sua coluna do Estadão ou Jornal da Tarde, dá destaque a nós dois, como os nomes da corrida, e ainda escrevendo que até dias antes eu não tinha carro para correr. Perdi este recorte assim como as fotos minhas desta corrida

 Na próxima corrida, Uma Hora de Calouros, vencida por meu amigo Jacob Kourouzan, não tive carro para correr, voltaria para as duas etapas do Torneio Sulam no final do ano.


Rui Amaral Jr



quarta-feira, 31 de março de 2021

Novato e agora com carro....

WV Divisão Três de 1971- Meu amigo Carlos Mesa Fernandes o Caco.

 Desci a rua Buri lá do alto, quase na Paulista, vinha rápido, na esquina com a Itabirito o carro deu uma saída de traseira, consertei já bem de lado, e lá foi ele de frente bater no muro da casa que fica na esquina da Buri com a Morro Verde, ainda bem que bati de lado. Fiquei ali sem poder respirar por uns quinze minutos (rsrsr). Ainda bem que ninguém lá em casa tinha visto, tirei o capacete, que havia pegado de meu irmão, coloquei meu carro de rolimãs nas costas e fui para casa, uns cinquenta metros dali!  

 De volta a 1971- Não lembro como cheguei a equipe do PV e fiquei sabendo do VW D3 que poderia ser alugado, algo em minha mente lembra de uma conversa que tive com a Gigi, casada com Pedro, bela e simpática, tocava a administração da escola e da equipe.
Tratei a principio o aluguel do carro para a próxima corrida de novatos, que seria em junho. Já tinha um carro, mas não a grana. Teria que arcar com o aluguel, inscrição, combustível,  e a contratação de um mecânico  ou equipe, já que o combinado seria apenas o carro. Algo como cerca de US$ 1.500, talvez uns R$ 20.000 de hoje.
Contei ao meu irmão que tirou o corpo fora, jamais iria enfrentar papai. Nesse meio tempo por algumas vezes quando estava com meu pai havia conversado algumas vezes sobre corridas, mas nunca pedindo nada, sua posição era firme. Havia até feito um pedido de emancipação, que foi negado tanto por ele quanto por minha mãe.
Minha vida era boa, recebia uma "mesada" de dois salários depois do desquite de meus pais, mesmo no ano anterior quando trabalhei nos supermercados, onde não tinha salário. Tinha de meus pais casa na praia no campo e quando queria viajar a grana necessária, morava com minha mãe. 
Nunca havia pedido um tostão aos meus pais, as vezes quando estava com ele perguntava "quer alguma coisa?", dizia não precisar de nada. O Dart era meu terceiro carro, antes foi um Galaxy, aos dezesseis anos e depois um Karmann Ghia, e vende-lo agora seria um tolice, tinha planos para ele, era meu pecúlio para fazer um VW D3 para 72.
Me enchi de coragem, liguei para o escritório da Mooca para saber se ele estava lá, era o local onde mais gostava de estar com ele, só ele e eu. A telefonista, uma querida que trabalhava conosco há muito, cujo nome não consigo lembrar, confirmou e lá fui eu.
Entrei em sua sala com a cara e a coragem, dei um beijo em seu rosto, e contei que havia encontrado um carro para alugar, a categoria que ia correr, de quem era o carro e pedi apenas a grana, podia ter pedido dez ou vinte vezes mais, seria a mesma coisa, caso contasse que queria viajar e tivesse esquecido as carreras, estaria tudo nas minhas mãos na hora, mas jamais trairia sua confiança, jamais o enganaria. Conto a vocês com a alma e mente serenas, nunca o questionei  de ele ter comprado o Porsche paro o Paulo correr, sequer tocava no assunto, ele sabia que éramos muito diferentes.
Continuamos o papo e ao final ele me disse apenas "vem amanhã, vou pensar".
No dia seguinte quando cheguei meu irmão me esperava e entrou comigo, beijei papai sorrindo, ele acenou para o Paulo, me perguntou quanto era que precisava, ele já sabia, e me estendeu o cheque, pedindo segredo olhou para meu irmão com um olhar que dizia tudo.
Ainda contei que precisaria dar um cheque de caução, que seria meu, beijei-o com carinho e fui embora feliz.
Agora tinha um carro para o Torneio União e Disciplina, uma homenagem que a federação prestava ao Exercito Brasileiro.


 
Depois continuo...  

Rui Amaral Jr

--------------------------------------------------------------------------------------------------------

PS: Aos meus amigos Palmeirenses, Santistas, Corintianos devo dizer, torço para o Tricolor do Morumbi, na foto abaixo estou ao lado de papai, como sempre, e quem inaugura uma de nossas indústrias é ninguém menos que o Gen. Porfirio da Paz, presidente de honra do São Paulo Futebol Clube, autor de nosso hino, nosso torcedor símbolo. Na época da foto governador em exercício do Estado de São Paulo. 

Foto de meu arquivo, originalmente em preto e branco, colorizada por meu amigo Edwin Takeuti.

As Cinco Estrelas que carregamos com honra são; Os dois ouros em olimpíadas, Helsinque 1952, Melbourne 1956, do grande Adhemar Ferreira da Silva, as grandes vitórias da magnifica Maria Esther Bueno e nossos três mundiais de clubes, por enquanto!

Rui