A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Targa Florio 1974/75/76/77

VV Nino...
A paixão por seus heróis levava o povo Siciliano à saudá-los e incentivá-los nos muros, paredes e asfalto!

 Talvez por minha avó Emma Angrisani, mãe de minha mãe, nascida em Salerno no Sul da Itália, que infelizmente morreu quando eu era recém nascido. Ou Dona Emma, outra italiana, com o mesmo nome de minha avó, e que foi governanta de casa, minha segunda mãe, a vó que não tive e minha mentora, que perdi aos treze anos, e faz falta até hoje...
 Talvez pela grande paixão por toda Itália, ou a admiração que tenho por grandes pilotos italianos, começando por Tazio...
 Minha paixão pela Targa Florio é insubstituível.
 Sobre a bela Sicilia e a criação da mitiga Targa Florio já escrevi algumas páginas aqui, sobre minha grande admiração por Nino também.
 De minha carreira bissexta, minha maior frustração foi nunca ter acelerados lá.
 Do começo em 1906, ela foi interrompida por quatro etapas durante a Primeira Guerra 1915 à 18, e sete durante a Segunda Guerra de 1941 à 47. 1948/49/50 ela foi disputada como Rallye...  
 Até 1973 fazia parte do Mundial de Endurance, depois teve mais quatro etapas, mas sem o mesmo interesse das grandes equipes, pois não valia pontos para o campeonato. Acredito também que a busca por segurança, nascida poucos anos antes, a tenha afastado do mundial.

 Vamos às quatro últimas etapas, que apesar de não valerem para nenhum campeonato, teve a participação de grandes equipes e pilotos italianos, principalmente.

1974
Gerard Larrousse e Amilcare Ballestrieri levaram a Lancia Stratos à vitória. Reduzida a oito voltas, ante as onze da etapa anterior, a média foi semelhante à de Herbert Muller e Gijs van Lennep que com o Porsche 911 Carrera RSR venceram a corrida de 1973.

1975
 Uma Alfa Romeo TT33-12, dois grandes pilotos italianos Nino Vaccarella e Arturo Merzario, e a vitória, levaram o povo Siciliano à loucura!

1976
     Terceira vitória consecutiva de uma "Rossa", a Osela PA$-BMW de Eugenio "Amphicar" Renna e Armando Floridia.

1977

 Após um trágico acidente no inicio da quinta volta, a vitória, decretada para as colocações da quarta volta, foi do Chevron B36-BMW de Raffaele Restivo e Alfonso Meredino.  



Perdoem minhas elucubrações ,  sou apenas um contador de histórias, e elas me trazem à memória muitas coisas, talvez coisas demais quando me proponho à escrever.

Ao povo Italiano, seus grandes pilotos e suas belas corridas.

Rui Amaral Jr  

  
Emma Angrisani, minha avó.
Dona Emma, minha amada.
1957-Rocca Sul Monte/Salerno, com um tio, uma prima e seus filhos, minha mãe Arinda abraça uma tia, meu pai Rui, minha irmã Cida e eu... 





quarta-feira, 1 de julho de 2020

Willians, a primeira e a...

Clay vencendo...
Willians FW07

 Depois de muitas batalhas finalmente Frank tinha um carro vencedor, a equipe fortalecida pelos dólares sauditas, agora podia se dar ao luxo de contratar pilotos, ter motores, pneus e tudo mais à vontade.
 Desde o ano anterior apostava em seu primeiro piloto Alan Jones, que dois anos antes havia vencido sua primeira corrida na Formula Um para a Shadow. Em 1979 trouxe o grande Clay Regazzoni, para adicionar sua experiencia à grande vontade de vencer de Alan.
 E foi em casa que a Willians teve sua primeira vitória na categoria e justo nas mãos de Clay.
A pole foi de Alan, com Jabuille em segundo,  Nelson em terceiro e Clay em quarto, a 1"300/1000 de Alan. 
 Na corrida Alan vinha ponteando com Clay em segundo, depois de algumas brigas, mas o ponteiro quebrou na metade da corrida e a vitoria veio com Clay.
 Depois de Silverstone Alan venceu três corridas seguidas, e mais uma ao final da temporada, mas já era tarde, Jody e a Ferrari venceram o mundial, com Gilles e segundo, Alan em terceiro e Clay em quinto.

Maldonado e a Willians FW34

 Vinte e três anos se passaram, a Willians venceu muito, com Alan, Nelson, Nigel, Villeneuve o filho, Prost, Damon, Rosberg o pai...
 E numa fase que já não vinha tão bem, chega a corrida da Espanha em Montmelo. Pastor Maldonado que não vinha fazendo uma grande temporada, até por que enfrentava feras com um "pedigree" mais consistente que o dele. Briga com Hamilton pela pole, fica 5/10 de segundo atrás dele, mas larga na pole, pois Hamilton perde a posição por uma bobagem.
 Maldonado aproveita a pole, não dá atenção à concorrência ( locutores televisivos, que nunca colocaram seus traseiros num carro de corridas, falam assim, assisti a corrida e calculo como foi difícil ), e vence de forma soberba, como só caberia à um piloto da Willians.

Nestes difíceis tempos de pandemia, quando equipes de fábricas gastam fortunas na Formula Um, muito se tem comentado sobre a venda da equipe, principalmente por causa dos últimos e desastrosos anos. 
Mas... aqui ainda torço e acredito que Frank vai dar outro "pulo do gato" e levar a Willians novamente ao topo, a ser competitiva.

Rui Amaral Jr  
      

  

domingo, 21 de junho de 2020

300 SRL- A Mercedes Benz que venceu todas corridas em que participou!

Drundod - Tourist Trophy - 1º Moss/Fitch, 2º Fangio/Kling e 3º von Trips/Simon/Kling 

Ela ficou pronta apenas na terceira corrida do mundial, mas quando chegou venceu tudo! 
Das seis corridas do mundial de 1955 venceu três, a equipe se retirou de Mans após o fatídico acidente, quando vinha na liderança com Fangio & Moss.
Todas com primeiro e segundo lugares, apenas que em Drudot fizeram primeiro, segundo e terceiro!
Rudolf Uhlenhaut, o chefe do projeto, usou o conceito da fabulosa W196, e muitos de seus componentes, para desenvolver esta bi-place.

Moss & Jenkinson na Mille Miglia

Chassi tubular de estrutura espacial, motor dianteiro entre eixos, suspensão dianteira e traseira independentes, freios a tambores internos com servo freio, cambio de cinco marchas sincronizadas junto ao diferencial, os semi eixos saiam de uma posição baixa no diferencial para abaixar o centro de gravidade. Sua suspensão era por barras de torção com amortecedores, e ajustáveis em sua altura pelo piloto. Seu motor colocado bem baixo, e deitado à 33º,  dava ao carro uma silhueta baixa e aerodinâmica bem diferente dos modelos da época. Seu peso sem óleo, água, e outros fluídos era de 840 kg.   
  
Derivado do fabuloso motor de oito cilindros em linha W196 da Formula Um, teve sua capacidade cúbica aumentada dos 2,496cc para 2,981cc.
A tomada de força ficava no meio, entre os cilindros quatro e cinco, possibilitando assim dois girabrequins acoplados, livrando o conjunto da grande vibração de um longo girabrequim, e facilitando o balanceamento do conjunto.
Duas válvulas por cilindro, acionadas por comando de válvulas no cabeçote, pelo sistema desmodrômico¹. A injeção direta foi o enorme "pulo do gato" neste motor, que contava também com vários tamanhos dos coletores de admissão, que eram usados conforme as características da pista². 

Fangio em Mans.

   Um sistema hidráulico acionava este "freio aerodinâmico" que vi apenas em Mans. Em minha juventude, quando olhava em foto este aparato, ficava pensando se o capô traseiro de Fangio havia se soltado. Parece que ajudava muito nas freadas e tração nos contornos das curvas.

 Moss/Kling na Targa Florio.
Moss em Drundot, notem que nesta curva de baixa, não é acionado o aparato aerodinâmico, mesmo o carro vindo de uma reta e freando forte. 

CHASSI
O tanque de óleo com 35 litros, os grandes freios in board. Os altos coletores de admissão.
A leveza da estrutura espacial, a beleza dos escapamentos, o tanque de combustível acima do conjunto diferencial/cambio. Notem uma alavanca ao lado do banco, não consegui descobrir se era para o freio aerodinâmico ou para regulagem da suspensão traseira, o mais provável. 
   
Os enormes tambores dos freios traseiros, amortecedores reguláveis e as barras de torção polidas. Com o cambio bem baixo atrás do diferencial.



Como sempre, comentei com o Caranguejo sobre este post, e ele com seu incrível  conhecimento e memória, lembrou que este motor foi testado em uma prova da Formula Libre. 

"A prova, (de Fórmula Livre), foi duas semanas depois do GP da Argentina. A Mercedes aproveitou para testar seu motor 300SLR nas W196. Naquele dia, correram Fangio, Moss e Kling com as Mercedes com um ressalto no capo (daí os jornais argentinos terem-nas apelidado de "Dromedários") e Herrmann com um 2.5 "aprimorado". Corrida disputada no sistema de baterias, Nino Farina venceu a primeira e Moss a segunda. Fangio, macaco velho,fez dois segundos lugares e papou na geral. Fangio e Moss foram primeiro-segundo e depois, Gonzalez/Trintignant. Kling ficou em quarto e Herrmann não terminou. 
Dia da prova......30 de janeiro de 1955.
No ADAC Eiffel Rennen em 29 de maio de 1955, tínhamos as três Trezentonas. A prova foi em Nurburg, Fangio venceu, com Moss em segundo. Kling foi só o quarto. Masten Gregory meteu a Ferrari 750 Monza em terceiro...

Caranguejo

A prova do mundial de 1955 na Alemanha foi cancelada, então como explica o Caranguejo elas estrearam nesta prova não válida pelo campeonato.   
Em Buenos Aires as W196 com o motor três litros e o ressalvo no capô, Fangio e Moss.
 Nino Farina e a Ferrari 625.


MOTOR


Oito cilindros em linha.
Duas válvulas por cilindro.
Comando de válvulas no cabeçote, acionamento desmodrômico.
Diâmetro x Curso 78,0 x 78,0 mm = 2,981cc (76,0 x 68,8 mm no motor 2,500cc da F.Um) 
Injeção direta, com vários tamanhos dos coletores de admissão.
Trinta e cinco litros de óleo.
290 cv à 7,500 rpm ou 310 cv à 8,500 rpm - conforme configuração dos coletores de admissão.  

CHASSI

 Tubular em estrutura espacial (supeleggera).
Comprimento 4,580mm
Largura 1,750mm
Entre eixos 2,370mm
Peso, 1280kg com o tanque de 100 litros e 1,320kg com o tanque de 130 litros usado em Mans.  
Cambio de cinco marchas mais ré.
Pneus 185/80/16 na dianteira e 210/80/16 na traseira.


Rui Amaral Jr
   

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NT; Confesso à vocês que me frustei ao escrever sobre a 300 SRL, busquei detalhes técnicos que não consegui encontrar, gostaria de ter esmiuçado este carro detalhe por detalhe. De seu magnifico motor pouco encontrei, do chassi fiquei esmiuçando nas fotos os detalhes para escrever.
Ao contrário de muitos, aqui no Histórias não somos adeptos do "ctlc + ctlv" , e pela internet encontrei um montão de mesmices sobre ele.
Não descobri qual o sistema desmodrômico que usavam, e muitos outros detalhes, 
Poderia ter discutido detalhes dele com o Bock, Achcar e Chico, mas nesta quarentena e por telefone fica complicado.

1- Desmodrômico - Muitos desses sistemas foram desenvolvidos, ao contrário do comando normal que abre as válvulas e elas são fechadas por molas, eles as abrem e fecham com um mecanismo que as empurram e puxam, alguns com auxilio das molas . Tentei escrever sobre com um amigo engenheiro, mas depois de umas quatro horas de conversa, acreditamos que não conseguiríamos transmitir à vocês a conversa.
A Ducati usa há muito, a F.Um acredito que use hoje. Vou postar alguns links sobre.
O pioneiro sistema da Peugeot, do início do século passado.


2 - Coletores, no caso apenas de ar, pois a injeção direta envia o combustível direto dentro das câmeras. São alterados em seu comprimento, de acordo com as características que precisamos do motor no circuito,  mais altos para pistas em que o motor trabalha mais tempo em alta rotação, ou mais baixos quando o torque é fundamental.

Outra coisa que gostaria de declinar; após a Segunda Guerra os EUA através do Plano
Marshall, financiou amplamente a industria do países derrotados, principalmente Alemanha e Japão, e acredito que este carro é fruto desta soma, a competência da indústria alemã e as verbas do plano!

Desculpem as divagações e o pouco conteúdo técnico, assim que souber mais volto ao tema, muito obrigado pelo prestigio que cada um nos confere, ao ler nosso blog. 


Por fim, peço que me desculpem sobre as poucas informações aqui contidas, meu desejo foi apenas escrever um pouco sobre este carro.  

Abraços,

Rui Amaral Jr




             





quarta-feira, 17 de junho de 2020

1955 – O World Sports Car Championship – FIA - Moss e a incrível Mercedes Bens 300 SRL


Jenkinson e Moss-Mille Miglia 1955 


No ano de 1954 a Ferrari havia reinado absoluta, vencendo quatro das seis corridas, tendo Jaguar vencido uma e a Osca outra.

A Ferrari 375 Plus de Enrique Saenz Valiente/José-Maria Ibanez.  

Em 1955 o campeonato começa na Argentina, sem a participação oficial das grandes marcas, vence a Ferrari 375 Plus da dupla local, Enrique Saenz Valiente/José-Maria Ibanez.  

Mike Hawthorn em Sebring.
Phil Walters.

Na segunda corrida, 12 Horas de Sebring, a Jaguar entra na briga e vence com seu D-Type XKD pilotado por Mike Hawthorn e Phil Walters.


Jenkinson passou mal a corrida toda, mas foi firme e forte, uma vitória inesquecível!
Fangio no box...

Na terceira corrida, a icônica Mille Miglia, estréia a 300 SRL e num verdadeiro show Stirling Moss levando como navegador o jornalista Denis Jenkison, vence com mais de trinta minutos seu companheiro de equipe Juan Manuel Fangio, que por sua vez coloca mais de quinze minutos na Ferrari do terceiro colocado.

24 Horas de Le Mans -Hawthon pilotando.
Mans, tocada de Fangio com o incrível freio aerodinâmico inventado pela MB.


A quarta corrida foi na fatídica 24 Horas de Le Mans, quando depois do acidente em que pereceram mais de oitenta pessoas, algumas horas depois o chefe da MB Alfred Neubauer chamou seus carros aos boxes e se retiraram da corrida, quando a dupla Juan Manuel Fangio e Stirling Moss vinham na ponta. Venceu o Jaguar de Mike Hawthorn e Ivor Bueb.

Drundot  a vitória.
A briga com Hawthorn.
A largada...
No vídeo, a forma perfeita com que Moss contorna essa curva de baixa, é indescritível!
Jean Berha na Ferrari
Ferrari 750 Monza da Equipe Nationale Belge -Jaques Swaters-Johnny Claes.

A quinta corrida foi no circuito de estrada de Drundot, na Inglaterra, o Tourist Trophi. Assisti ao vídeo desta corrida dias atrás. Fiquei muito impressionado pela briga de Moss com Hawthorn. A tocada de Moss com os braços esticados, levando aquele carro de entre eixo longo, com grande maestria. Moss, que dividiu a tocada com o americano John Fitch  bate e volta à corrida, briga outra vez com Hawthorn até que este quebra. Vence novamente com a dupla Fangio e Kalr Kling  em segundo, e em terceiro outra 300 SRL de Von Trips e André  Simon.
Outra coisa que me impressionou muito e Drundot foram as três mortes de pilotos, os carros continuaram a corrida e passavam pelos acidentes, mais tarde conversando com um grande amigo, mais velho, ele lembrou de uma morte em Interlagos, ele não chegou à correr, mas o piloto morto ficou na pista coberto até o final da corrida...outros tempos!  

Targa Florio, Moss em sua tocada...

E por fim vem o que para mim era a mais incrível de todas as corridas, nas terras da Sicilia a Targa Flório. Moss novamente fazendo dupla com Kling vence seu companheiro de equipe Fangio que fez dupla com Kling. A vitória por longos quatro minutos sobre Fangio- Kling, colocando mais de dez minutos na Ferrari 857 de Casttelloti-Manzon os terceiros colocados! 

Alfred Neubauer, o chefe da MB, o grande nome por trás de todas as vitórias.

A 300 SRL era um biposto feito à partir da W196.



Ao final de 1955, depois de vencer o mundial de Formula Um e o de carros esporte a Mercedes Benz abandonou as competições, ao menos oficialmente.



Rui Amaral Jr

Pesquisas e algumas fotos Racing Sports Cars