Tazio, Scapinelli e a Ferrari 166 Spyder Corsa
1948, a Itália era um país devastado pela guerra que tentava
reerguer-se.
Às vésperas da tradicional Mille Miglia, encontravam-se dois homens na mesma condição. Um deles era Enzo Ferrari. Sua fábrica ainda não era um ícone de velocidade e ele necessitava urgentemente resultados nas competições ou não poderia vender seus carros. O outro era o campeão Tazio Nuvolari.
Aos 56 anos, debilitado por uma doença pulmonar, ele
era um homem arrasado pela morte prematura de seus dois filhos, Giorgio e Alberto. Quem poderia dizer o
que Nivola ainda buscava nas corridas?
Enzo & Tazio
Neste cenário, Enzo encontraria Nuvolari.
Il Drake acreditava que o
velho campeão é de quem necessitava para pilotar o modelo 166 Spyder Corsa. Para o carismático Nuvolari, duas vezes vencedor das Mille Miglia,
ganhador das 24 Horas de Le Mans, o convite era tentador, apesar dele desconhecer o carro e nem mesmo teria tempo para realizar um teste. O jovem mecânico Andrea Scapinelli foi designado como seu acompanhante e o carro recebeu o numeral 1049.
Tazio e o mecânico Scapinelli na largada.
O percurso das Mille Miglia 1948
Já sem a tampa do motor sendo reverenciado pelo povo Italiano!
No controle de Roma.
No dia 2 de maio, teve início a maratona
de 1.600 km. Alberto Ascari liderou com seu Maserati A6GCS, seguido por
Franco Cortese (Ferrari 166S Spyder); em terceiro vinha Nuvolari lutando
contra Sanesi (Alfa 6C 2500) acompanhados por Taruffi (Cisitalia 1200). Até
Forli, apenas retas longas que faziam a alegria das Maseratis e Alfas. Quando o
caminho se tornou a sucessão de curvas até Passo del Furlo é que Nuvolari
fez sua mágica. Em Gualdo Tadino, na descida de uma encosta, a tampa do
motor se abriu e bloqueou a visão de piloto e mecânico. Situação resolvida
com um tapa de Tazio. "Isso é bom - disse ele - nosso motor resfriará
mais rapidamente", enquanto o perplexo Scapinelli só balançava a cabeça. Nuvolari chegou à
Roma
com a Ferrari mutilada, mas com treze minutos de vantagem para o
segundo colocado. Taruffi desistiu; Ciccio Ascari quebrou a caixa de velocidades
e Sanesi parou também. Prosseguindo, no retorno para Brescia, Nuvolari era o líder
e para aquela nação ferida, isso era especial. Começou a chover, mas o Gigante
não cedeu. Nem quando seu banco quebrou. Tazio improvisou um saco com
laranjas e limões à guisa de almofada e nada de tirar o pé. Até chegar à Villa
Ospizio, perdeu também um dos para-lamas,mas só desistiu quando Enzo Ferrari conseguiu
convencê-lo: a suspensão traseira estava quebrada.
Nuvolari tinha vinte e
nove minutos de vantagem para Clemente Biodetti (Ferrari 166 S Coupe Allemano).
Levado para uma casa paroquial, por fim pode descansar e recuperar-se o sr. Fogo.
Quando o Drake foi vê-lo novamente, tentou consolá-lo: "Tazio, ficou para o
próximo ano". Ao que o velho campeão retrucou: "Ferrari, na minha idade, não há
muitos dias como este".
Sem nunca ter abandonado oficialmente as pistas, faleceu em
1953.
À Sebastião Prado e Simão Pedro, amigo de além-mar, que me chamaram a atenção para mais essa façanha de Nuvolari.
CARANGUEJO
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Como comentei antes o Caranguejo e eu já escrevemos incontáveis posts sobre Tazio, fiquei emocionado ao ler este texto, conhecia a história pois meu amigo Adolfo Cilento me emprestou um livro, talvez quarenta anos atrás que contava esta história, só não lembrava que era de uma Mille Miglia...
Salve Tazio!
Rui Amaral Jr