Speed 1997 - O Templo pulsava, os grids eram lotados!
Seria um paradoxo, talvez sim talvez
não.
Prostrado em seu leito, antes de vida
pungente, dinâmica, triunfal eu diria, hoje a espera que se desliguem os
aparelhos que o mantem vivo talvez esperando a morte.
Assim como seu primo mais novo de
nome estranho foi cruelmente assassinado a beira do mar na cidade maravilhosa.
Seu corpo jaz em estado de decomposição irreversivelmente eliminado.
Há salvação com certeza, mas aqueles
que desejam sua morte já são maioria.
No leito de morte ele se debate a
procura de uma lufada de oxigênio a mais que o possibilite respirar sem estes
malditos aparelhos que o mantem internado, enclausurado em uma UTI suja,
abandonado aos interesses diversos que não são a sua total cura.
Um outro primo seu agoniza no
corredor da morte sem nunca ter cometido qualquer crime se não o regozijo de
quem se deliciou ao conhece-lo.
Mas ele resiste, inimigos o
vilipendiam anualmente.
É explorado como a um animal de
tração, sentenciado a gerar lucros de todas as formas.
Seus inimigos sabem que devem antes
de mata-lo, matar sua ilibada e rica historia para que possam justificar também
a sua morte.
Estou falando de Interlagos, o nosso
Templo onde um dia ousamos a nós mesmos desafiar, onde enfrentamos todos os
nossos medos, onde derrotamos nossos fantasmas.
Onde disputamos curvas imaginarias ou
não, onde desafiamos as leis da gravidade e da logica, onde em frações de
segundo aprendemos a nos completar como seres dinâmicos que somos.
Não aceito que se mate uma parte de
mim, uma parte melhor do meu eu.
Sei que meu grito encontra eco e
através deste eco estrondoso que reverbera da largada até a chegada, passando
pelo esse do Senna, retão, descida do lago, laranjinha, essinho, bico de pato,
mergulho, junção e subindo o café esse eco traz nomes que jamais poderão ser
sepultados com escombros provindos daquele chão que centenas de pessoas reais,
pessoas que de alguma maneira escreveram e escrevem a historia deste Patrimônio
Brasileiro.
Eu convoco nossos ídolos e
companheiros ascencionados ou não, José Carlos Pace, Ayrton Senna, Luizinho
Pereira Bueno, Chico Landi, Marivaldo Fernades, Antonio Carlos Avalonne,
Antonio Castro Prado,Adu Celso, Camilo Cristoforo Cezar “Bocão” Pegoraro,
Amadeu Rodrigues, Amadeu Fernandes, Chico Lameirão, Bird Clemente, Ingo Hofmann,
Paulo Gomes, Arthur Bragantini,Pedro Mufatto, Ricardo Mallio Mansur, Claudio
Cavalinni, Orlando Lovechio, Edimir Fernandes, Claudio Dudus, Hamilton Vloso
Prado, Benedito Gianetti , Airton Favoretto, Celso Lara Barberis, são milhares
de nomes e com certeza não há espaço para mencionar fisicamente a todos, mas
com certeza eu peço a energia de todos para que se salve nosso Templo.
Convoco também aqueles que tombaram
dentro do Templo:
Milton Zapia em 1947
Djalma Pessolato em 1957
Fernando Mafra Moreira em 1962
Celso Lara Barberis em 1963
Dinho Bonotti em 1963
Américo Gioffi em 1964
José Almemida Santos em 1973
Paulo Rosito Filho em 1981
Zeko Gregurinic em 1985
Valdir del Grego em 1987
Rafael Sperafico em 2007
João Lisboa em 2011
Gustavo Sondermann em 2011
Paulo Kunze em 2011
Que literal e fisicamente deram seu
sangue por, e em Interlagos, vamos salvar nossa historia.
Sei que muitos, principalmente os
nomes que citei, não dependem de Interlagos para serem lembrados, muitos
brilharam inclusive em outros continentes, mas assim como eu, um amante
anônimo, tem muita gente que andou em cada metro daquele asfalto e ajudou a
escrever sua historia mesmo sem assinaturas.
Não creio que pessoas sem
conhecimento do quão importante para cada um é cada palmo, cada curva, cada
bolinha de brita, cada pedaço de zebra, cada guard-rail, possa vir a
assassina-lo com requintes de crueldade para com toda rica historia de
Interlagos.
Mesmo as historias que não foram
escritas, elas existem dentro de cada um de nós, do quão fomos e somos felizes
em Interlagos, espero profundamente que em algum momento alguém com
sensibilidade suficiente faça com que seja preservada a memoria de cada Piloto,
mecânico, ajudantes, fotógrafos, Repórteres, Jornalistas, Guincheiros,
Pedreiros, Pintores, eletricistas, enfim todos que um dia pisaram em
Interlagos!!!
EDSON MILTON RIBEIRO PAES
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