A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Uma volta no Circuito de Tarumã com Pedro Garrafa

 

Pedro e o VW D3...

Caro amigo Rui

 

Como não poderia deixar de ser um pedido do Rui, para mim, torna-se uma ordem.Olhem só o que ele me pediu: uma volta pela pista de Tarumã-RS, o circuito mais rápido do Brasil.

Vou tentar relatar uma volta com a experiência que tive com os Speeds, pois na época em que corri lá foi exatamente com o meu Speed 1600, ainda com motor a ar.

Fazer uma viagem saindo de São Paulo, para o Rio Grande do Sul, para correr,pode até parecer para alguns pura loucura, ainda mais puxando uma carreta com um carro de corrida, um monte de tralhas como: motor, cambio, rodas com pneus e mais um monte de peças de reserva, percorrer mais de 1.300 kms, só de ida, pois tem também a volta a mesma distancia, e lembrando somente com recursos próprios, quero dizer sem patrocínio nenhum, realmente é só para quem é louco e muito apaixonado pelo que faz e pelas corridas. Não deixa de ser uma emocionante e cara aventura, mas eu fazia isso com o maior prazer (pois tudo o que vi e participei jamais conseguirei esquecer), e também por profissão. Quero dizer, eu conseguia unir o útil ao agradável, pois não só das corridas eu vivia, e sim da venda dos produtos que fabricava e negociava, e também dos carros que montava, isto é, eu fazia de um hobby a minha profissão, e foi assim por um bom e inesquecível tempo, que me levou a conhecer e andar em todos os autódromos do Pais, que existiam naquela época.

Para uma viagem dessas saímos de São Paulo já na madrugada da 3º feira, pois tínhamos uma longa distancia a percorrer, contando também com possíveis imprevistos na estrada, onde praticamente passávamos durante dois dias viajando, com chegada na pista prevista para a 5º feira. Primeiros passos e contatos feitos com a administração da pista e Federação local, partíamos para reconhecimento da pista, alojamento para todo o material e veículos e também hospedagem para mim e equipe.

Para nossa alegria e sorte, o pessoal do Sul em geral, é altamente hospitaleiro e amigável, por isso que lá se pratica um automobilismo INCOMPARAVEL, a qualquer outro estado no Brasil, (não querendo desmerecer nenhum dos outros estados que tive a oportunidade de estar e participar de provas). É que eles tem muita tradição, eles tem o automobilismo no sangue e no coração, igual a eles não existe outros. Digo isso porque, quando da ocasião dessa corrida fomos muitíssimo bem recebidos por todos de lá ( evitarei citar nomes, pois foram tantos e corro o risco de esquecer de alguém), mas tem um que não posso deixar de citar o inesquecível e querido amigo, o preparador Hamiltom, que nos acolheu como verdadeiros irmãos, e também porque eu era o único louco que vinha de São Paulo para participar com eles de uma prova em Tarumã-RS.

Convém lembrar que na época meu Speed, obedecia ao regulamento paranaense, que era bem diferente do regulamento gaúcho, portanto para me enquadrar e ter condições de participar juntamente com os demais, tive que efetuar algumas modificações em meu carro, portanto tive que também tomar emprestado um jogo de rodas e pneus aro 13, pois originalmente eu corria com aro 14.Não precisa nem dizer que o  comportamento do carro tornava-se bem diferente, inclusive até mais rápido, porem não podia fazer muita coisa pois alterava-se também a relação de cambio, que não pude mexer, então tive que me adaptar com o que tinha no momento.

 

Vamos então para uma volta na pista mais rápida do Brasil:

 

-Saindo dos boxes, já adentramos na reta de chegada bem próximos a temida e assassina curva 1 (lembrem-se do Giovanni Salvatti e alguns outros), ainda não temos uma noção de giro nem velocidade, pois estamos começando a acelerar.

-A curva 1 além de ser longa e de altíssima velocidade, é também desafiante e temida pela maioria dos pilotos, pois no nosso caso (obedecendo as características técnicas do carro utilizado) tem que ser feita em 4º marcha e com o pé embaixo, pois já estamos vindo na reta em descida e no embalo, é só dar uma pequena aliviada, apontar o carro, sentir se está seguro, e cravar novamente o pé embaixo, trabalhando o volante para dentro, pois ela te joga para fora, fazemos ela a aproximadamente 186/188 kms p/hora a um giro de quase 6.100 rpms.

-Breve alivio na reta pequena que antecede a curva 2, só dá para dar uma rápida olhadinha nos instrumentos, e continuamos acelerando sempre em 4º marcha, seguindo para a curva 3, também suave e rápida, e nessa altura com o motor cheio, giro alto a aproximadamente 5.500 rpms.

-Estamos a frente na entrada da Curva do Laço, freiada forte e redução brusca, alias a única, pois seguindo adiante é só pé embaixo, praticamente sem mudança de marcha, logicamente dependendo do carro e de como o piloto poderá mantê-lo dessa forma.

-Saindo da Curva do Laço, um trecho de duas curvas bem suáveis, a curva 5 e a curva 6, praticamente retas e rápidas, que antecede a temida Curva Tala Larga.

-A Tala Larga, é um cotovelo em descida, onde exige-se grande perícia e sangue frio dos pilotos. O giro é bem instável, e não se dá tempo nem de ler os instrumentos, a concentração tem que ser total, pois um instante de desatenção, coloca todo o trabalho da volta em risco e consequentemente na corrida também.

-Feita a Curva Tala Larga , entramos num pequeno trecho também rápido, que antecede a curva 8, giro alto aproximadamente 5.800/5.900 rpms.

-Estamos na entrada da curva 9. Curva bastante desafiante, pois também tem redução brusca, não se pode deixar o motor cair de giro, e será preciso entrar e contornar bem ela, para se poder sair também em velocidade boa, pois a mesma antecede a reta de chegada que tem um trecho em subida, depois muda para descida, giro constante na entrada da reta em torno de 5.900 rpms, e pé embaixo ,aproximando-se da descida, ponto de altíssima velocidade, e tendo pela frente mais uma vez a temida curva 1.

-A volta é tão rápida, que parece que o circuito é pequeno, porem super desafiante e agradável de se pilotar, e também impossível de se esquecer.......

 

Claro que hoje a época é outra, os carros são ainda muito mais rápidos, eficazes e seguros, mas tentem imaginar a quase 20 anos ou mais atrás, como era empolgante e maravilhoso pilotar numa pista dessa, sem muita tecnologia e sem muito recurso, apenas no braço , apenas na raça e na vontade de se fazer o melhor a cada volta.

 

É impossível de se esquecer, e quem teve a sorte de viver isso jamais esquecerá.........

 

PEDRO GARRAFA


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 Abril de 2011, pedi ao meu grande amigo Pedrão, pequeno por fora mas um gigante de alma e coração, que nos contasse como pilotava no Taramã, eis a resposta...

Fraterno abraço Pedrão

Rui Amaral Jr


segunda-feira, 9 de novembro de 2020

O TEMPLO DO SUL

 

Pedro Pereira Carneiro, Opala Divisão Três.


“...e vai ser dada a largada!”, dizia a voz emocionada de Pedro Carneiro Pereira cinquenta anos atrás. Marcava assim, o início da saga da pista mais veloz e desafiadora do Brasil. 

Clovis

Leonel

Claudio

Ferri


Tarumã, com todas as suas curvas de alta, média e baixa velocidades, para fortes e corajosos enfrentarem. Alguém disse “heróis”? Sim, a pista de Viamão tem heróis. Clovis de Moraes; Amedeo Ferri; Leonel Friedrich; Walter Soldan; Jorge R. Fleck; Giovanni Salvati; o próprio Pedro Carneiro Pereira e tantos outros que dentro de seus limites tiveram momentos felizes, marcantes, cruciais, inesquecíveis. Curva 1, quem não eriça os pelos da nuca ao contorná-la? Ou a sua sequência, a Curva 2? A Curva 3 te prepara para os segredos da Curva do Laço; decifrá-la te permitirá se dar bem no famoso cotovelo em descida, a Curva do Tala-Larga; respire, e aprume-se para a Curva 8, onde dependendo do que sabes, poderás chegar forte na decisiva curva 9, importantíssima para vir tempo (ou não) e seguirá em frente para outra volta. Volta da vida? Sim, portanto acelere, pois a corrida não terminou e os adversários não são páreo. Parabéns, Templo do Sul, pelos seus cinquenta anos. 

Quem venham outros cinquenta, praça dos sonhos e desejos. 

Feliz Aniversário.

O projeto inicial previa uma variante, onde ficam os boxes...





Autódromo Internacional de Tarumã, 08.11.1970.

 

CARANGUEJO


quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Rio Negro - Tragédia na Um -

 

Quatro Rodas Julho de 1962

 Ontem quando mostrei o Camilo no Porsche 550 RS não havia lido o recorte da QR que o Romeu havia enviado. A trágica corrida e suas consequências. Mais tarde o Romeu comentou no post, e esclareceu tudo...
"Rui essas fotos que mandei, são do dia 20/05/62. Nessa prova morreu o piloto Rio Negro, que partiu ao meio ao bater nos eucaliptos da curva 1, a Ferrari 290MM, que era do Agnaldo de Góes. Na foto 2 além do Camilo, estão o Rio Negro ao lado do Porsche 550,#8A, atrás o Celso L. Barberis, com a Maserati #28 e ao lado dele o Celidonio com outra Ferrari #66." Romeu Nardini.

Camilo Porsche 550 RS, ao seu lado Celso Maserati 300S, atrás Celidonio Maserati e Rio Negro com a Ferrari MM. 

 Sobre o acidente já ouvi tantas histórias. 
Histórias de amigos mais velhos e que correram em outras categorias no mesmo dia.
Uma delas que é factível; Agnaldo não poderia correr por motivos outros, cedeu a Ferrari ao Rio Negro apenas para completar o grid de cinco carros, o mínimo para uma largada. E que o combinado foi que ele largasse e desse apenas uma volta, para em seguida abandonar.
Outra conta que a Ferrari tinha a pedaleira com os pedais de freio e embreagem invertidos, e ao frear para a curva Um ele havia cometido algum engano.  

O certo é que na verdade a Ferrari, um verdadeiro carro de corrida, complicado de pilotar. Diferencial autoblocante, cambio seco, as marchas não eram sincronizadas, e por aí vai.

Meu irmão Paulo me contava sempre de sua experiência com uma Ferrari que seu amigo Agnaldo - Araujo de Goes Filho - queria vender para ele, não sei se o mesmo carro. Contava sobre o cambio seco, da violenta resposta do motor. Cerca de cinco anos atrás, após a mote de meu irmão, conversando com um concunhado dele, o Carlão - Whitaker Sobral -, ele me contou que saiu algumas vezes com o Paulo na Ferrari, e que realmente mesmo nas ruas era complicado dirigir o carro.


 

 A triste verdade é que a tragédia de Rio Negro é uma daquelas que ficará eternamente sem que ninguém saiba o verdadeiro motivo.

Obrigado Romeu.


Rui Amaral Jr 

Depois da tragédia Agnaldo deu a suspenção traseira da Ferrari ao Camilo, na foto ele fazendo  a adaptação em sua carretera. Vê-se claramente o De Dion, as molas semi elípticas ao alto, a ponta de eixo sem os tambores de freio. No painel o volante que parece de uma Ferrari.  

Celidonio larga em sua última parada no box, para vencer em dupla com Camilo, as Mil Milhas Brasileiras de 1966.

   









quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Camilo e o Porsche 550 RS


 Nas duas fotos que recebi de meu amigo Romeu Nardini o Camilo pilotando o Porsche 550 RS. A foto deve ser de 1959/60, o carro ainda estava vermelho, a mesma cor que o Celso usou. Já em 1961 ele foi comprado por meu pai e meu irmão e Luciano Mioso correram os 500 KM de Interlagos com ele.
Não encontrei nenhuma referencia sobre a corrida, deve ser, como se vê na ponte, a comemoração do aniversário da ACRSP - Associação dos Cronistas Esportivos de São Paulo - vou fuçar mais e conto assim que encontrar. 
Não sei a autoria da foto, mas assim que requisitado colocarei os devidos créditos!


#8 Camilo, duas Maseratis e atrás dele o que acredito ser uma Ferrari, igual à que meu amigo Adolfo Cilento teve muitos anos depois.
E para não esquecer o grande ídolo, na foto de meu amigo Mike Mercede, Eduardo Celidonio parte para a vitória nas Mil Milhas Brasileiras de 1966...


Rui Amaral Jr