A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach

sábado, 27 de abril de 2013

Conta Ricardo...

Vitória de Ricardo em Malory Park, Luiz Pereira Bueno, Chris Steel, Ricardo e na ponta Antonio Ferreirinha.

"Quando eu fui correr na Inglaterra eu fui sob risco de não poder fazer nada não fosse a ajuda leal, insistente, cooperativa de todos os ingleses envolvidos na questão de cabo a rabo. Foi um comando, um esforço em comando característico do espírito inglês. Barley tinha um cunhado que era diretor de competições da Burmah-Castrol na Inglaterra e estava convicto que eu seria um piloto de carreira, portanto apostava ser possivelmente seu team manager. Joakim Bonnier, piloto sueco respeitado na Europa, era o presidente da Associação de Pilotos de Fórmula 1 (GPDA) e era representante oficial da LOLA para toda a Europa. 
Ricardo e Jo Bonnier
Bonnier era um intermediário internacional da F-1. Quando se deu conta, informado pelo Real Automóvel Clube da Inglaterra (RAC), que uma carteira internacional havia sido concedida a um brasileiro sob bandeira do RAC, ele se interessou muito porque desejava ver o Brasil retornar e receber pilotos e provas internacionais. Como ia competir no International Tourist Trophy em Oulton Park na Inglaterra, a mais tradicional competição de esporte protótipos da época, solicitou ao RAC que estendesse um convite para eu correr na prova de apresentação que seria de Fórmula-Ford. Ali então, além de me auxiliar a reconhecer a pista rodando três voltas comigo num esporte protótipo, pode avaliar rapidamente o meu grau de pilotagem e me convidou para visitar a Lola (o que aconteceu ao meu retorno com o Luiz Pereira Bueno em Dezembro de 1968 para o teste com o Stirling Moss. 
 Peter Arundell era o segundo do Jim Clark na Lotus e tinha sofrido um tremendo acidente em Le Mans. Como se recuperava e era considerado um grande piloto e instrutor, fora convidado para assumir por alguns meses a escola de Pilotagem Motor Racing Stables, hoje uma página gravada na história do automobilismo inglês e muito cultuada. O curso de pilotagem para monoposto era de 60 dias. Ricardo Barley havia conseguido que o RAC solicitasse uma atenção especial a minha pessoa a pedido do Jim Hill chefe do departamento de competições da Burmah-Castrol e cunhado do Ricardo Barley. Peter Arundell nos recebeu e me direcionou para o Tony Lanfranchi e o seu segundo que era o Sid Fox, ambos os pilotos reputados sendo o Lanfranchi de todas as categorias do esporte motor. O processo se dava por estágios e o Lanfranchi desde o primeiro estágio foi a torre de comando de Brands Hatch e solicitou ao Peter Arundell que me permitisse prosseguir porque eu era um pouco mais do que aluno. No terceiro estágio o Arundell sob pressão do Barley, permitiu que eu voasse solo e monoposto com limitação a 5500 giros no espia do conta-giros a cada 8 voltas conferidos pelo Sid Fox. Como eu fui passando todos os estágios, no final o Peter já em nível de discussão com o Barely insistente lhe dizendo que não tínhamos recursos para ficar na Inglaterra por mais tempo, Arundell propôs que eu fizesse 8 voltas contra o tempo dele de 8 voltas em outro carro da escola. Se eu ficasse a dois décimos do tempo dele me daria a carta que eu quisesse para o RAC emitir a carteira internacional. No entanto, para ser justo ele propunha que girássemos no sentido contrário da pista de Brands Hatch uma vez que nenhum dos dois havia jamais circulado contra o relógio em Brands Hatch. Barley me questionou e eu disse que topava. Escolhemos um carro cada e Arundell fez as 8 voltas tendo dado uma rodada forte em Druids (180º) e encostado de traseira no barranco na 3ªvolta. Depois eu sentei no meu carro escolhido com câmbio à esquerda... e fiz apenas 4 voltas quando me deram bandeira de parada. Entrei no Box , desci do carro e o alto falante me chamou na torre. Quando subia as escadas da torre de controle, um vasto público beirava a pista e o palanque de Brands Hatch em dia de treino, os alto falantes anunciaram que o brasileiro havia feito 2/10 melhor tempo na terceira volta do que Peter Arundell nas 8 voltas completadas. Ao chegar na sala da torre Arundell me disse: “Escreve a carta que você achar melhor para você que eu assino em baixo. Você é um piloto profissional. Parabéns”. 
Esta é toda a verdade dita pelo cavalheiro Peter Arundell na presença de todos e de Ricardo Barley que provaria a seguir o quanto era absolutamente indispensável para que chegássemos a qualquer lugar...Em nome do Brasil."

Ricardo Achcar

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As vezes é difícil separar o ídolo e amigo, ou amigo e ídolo quando vou escrever, mas sobre o Ricardo é fácil, foi um bota em todas categorias por onde correu, Campeão Carioca da Formula Vê em 1967 e Brasileiro em 1968 correndo pela equipe Fittipaldi, tendo Pace chegado em segundo lugar e Emerson, então já se dividindo entre Europa e Brasil em terceiro. No mesmo ano foi agraciado com o prêmio Victor da Quatro Rodas como o melhor piloto de monopostos do Brasil.
Ricardo faz parte daquela geração que encantou o mundo com suas conquistas no automobilismo quando seguiram o caminho da Europa, especificamente da Inglaterra, mostrando ao mundo a qualidade de nossos pilotos profissionais, fizeram parte desta verdadeira esquadra Emerson, Luiz Pereira Bueno, Carlos Pace, Antonio Carlos Avallone...Sei que antes tivemos representantes de grande valor nas grandes categorias como seu Chico, Nano Silva Ramos, Frtiz D`Orey...Mas essa geração chegou para ficar.

Do Ricardo certa vez me disse Chico Lameirão “o piloto mais rápido que vi pilotar”, e posso acrescentar rápido e técnico, certamente com a concordância do Chico. Piloto e construtor de sucesso, vide o Polar Formula Super Vê, no texto um pouco dele em suas palavras, e logo vem muito mais.





Um abração Ricardo


Rui Amaral Jr     





NT:
Texto do site da FASP editado e reproduzido com a autorização do Ricardo por meu amigo Joel e por mim.





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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Museu Ferrari por Milton Bonani



Para os amantes de automobilismo, Maranello é o paraíso. A cidade que abriga a fábrica da Ferrari possui atrações para no mínimo dois dias de visita. No Planet Hotel que fica em frente à fábrica, o dia começa cedo, pois às 9 horas já se ouve os motores dos carros alugados roncarem. Atração imperdível, a Warm-Up aluga desde a Califórnia modelo de entrada na linha, até a 599, o mais caro dos modelos, para passeios que vão de 15 minutos pela cidade até uma hora e meia na pista de Modena a vinte quilômetros dali. 
Até o “estranho no ninho” Lamborghini Aventador está disponível. Só o museu que está localizado ao lado da fábrica já justifica a visita a essa cidade, que ainda tem como atrações o ótimo restaurante Cavallino e uma espetacular loja de produtos Ferrari. Em dias de corrida, os moradores hasteiam suas bandeiras da escuderia nas janelas das casas e a Ferrari disponibiliza telões para que todos os tifosi assistam a corrida torcendo juntos.


Na foto à esquerda Enzo com Niki e Lucca, na da direita Enzo pilotando uma Alfa Romeo. 
 A Ferrari 512M de David Piper que chegou em 5º lugar nas 24 Horas de Le Mnas 1971 pilotada por Chris Craft e David Weir, no painel uma foto da Ferrari 166.
A 250  GT SWB com que Stirling Moss foi campeão do Tourist Trophy em 1961, vencendo 12 das 14 etapas do campeonato. 
 Milton acelerando uma 430 Scuderia


O Museu muda constantemente suas atrações o que por si só já justifica novas visitas.

Milton Bonani

quarta-feira, 24 de abril de 2013

É assim...


Quem vê de longe um piloto conversando com seu preparador e mecânicos talvez não perceba a relação que exista entre nós. Eu fui e sou amigo da grande maioria dos que trabalharam comigo, fora algumas exceções que nem vale à pena comentar. Acredito que hoje na F Um essa amizade não exista, dá para ver de longe!

Pois bemmmmm, já falei aqui do Chapa -Flávio Cuono-, de como ele é implicante, chato e outras cositas más, mas sobretudo muito capaz e um amigo querido, então vou contar algumas dele;
1987/88 na época o começo do uso do álcool em competições, as otoridades implicando com pilotos e carros de corrida, tínhamos que ir treinar bem cedo, chegávamos às pistas nas primeiras horas do dia, e como o Tarumã e o terrível Minuano em Interlagos quando venta e esfria a coisa fica feia! 
Naquele dia quase de madrugada quando cheguei ao Box já estava tudo preparado e o Chapa esquentava o motor do #14, vejam no VW D3 usávamos o carter seco e mais de oito litros de óleo, então no frio era muito importante esquentar os motores para não detonar o filtro de óleo. Eu estava com um anorak azul, vermelho e branco que gostava muito, e ele já foi falando “se troca, que vou verificar a folga de válvulas com o motor quente!”. Fui tirando a roupa para vestir o macacão e vi que ele estava de camiseta, os outros mecânicos bem agasalhados e o Velho só de camiseta, peguei o anorak e disse-lhe para que usasse, deu um sorriso e disse “bonito Ruizinho!”, logo a seguir entra embaixo do carro, COM MEU CASACO, para num descuido encostar a manga no cano de escapamento quente, ouvi até o chiado! Sem graça falou “pois é!”, na hora dei o anorak para ele ao que ele me disse “queimado!?”. 
E ainda digo que gosto e é meu amigo!!!RS


Em um treino com este mesmo carro, não lembro se no mesmo dia, estávamos com um problema no burrinho e os discos traseiros não freavam direito, na Três ou Sargento quando apertava os alicates dava até um certo pavor, acertávamos outros detalhes e numa parada ele começou a mexer nos freios, com o problema aparentemente acertado saí e dei umas duas ou três voltas com tudo aparentemente certo, voltando ao Box para que ele examinasse, disse que estava freando bem. E voltei novamente à pista para andar rápido, na primeira volta cheguei à Um bem rápido, contornei e na tangência da Dois o carro saiu debaixo de mim, foi uma rodada daquelas, certamente a mais de 170 km/h e ainda por cima o Jr que vinha atrás tirou uma fina de meu carro. Foi proposital e depois ele ria, não sei se ele vai lembrar, mas um dia desconto!
Cheguei ao Box e o Chapa foi imediatamente tirando a roda traseira direita para descobrir um vazamento no disco, olhou para mim branco e assustado e disse apenas “desculpe”.

Seus motores verdadeiros canhões!

Já contei aqui da vez que em 1982 fomos treinar com vários motores que estavam simplesmente sem disco de embreagem, e ele achando que eu estava fazendo firula para sair do Box. Larguei ele carro, carreta e os outros mecânicos na Marginal e fui embora de táxi, não sem antes dar-lhe uma bronca, afinal o dia era meu! Sem xingar ou falar nenhum palavrão, e até hoje quando lhe apresento alguém ele fala “o Ruizinho é muito educado!” e tenho que ouvir isto!rsrsrs
Só mais uma coisinha, quem me apresentou o Chapa foi o amigão Manduca -Armando Andreoni-, lembro bem o dia, e ainda conto...   

À todos preparadores e mecânicos que infernizaram nossas vidas, mas que juntos vivemos grandes momentos de pura emoção, derrotas, vitórias e sobretudo amizade verdadeira...ao Carlão  Jaqueire, Quim Miranda, Edimar Della Barba...

O Macacão

Nivaldo e a Yamaha TZ350cc.
Sua Yamaha era numero 13 , com meu adesivo na lateral da bolha.

O ano 1977/78, me liga um amigo e pede uma ajuda para um corredor de motocicletas seu amigo, peço que ele me ligue. Logo depois me liga o Nivaldo, pergunto-lhe o que precisa ele diz "tudo, corro o campeonato Paulista no domingo e não tenho patrocínio, preciso da inscrição, combustível e tudo mais". Marco com de passar em sua oficina no começo da noite para conversarmos. Ao chegar em sua oficina em Moema ele fica feliz ao me ver de moto e fico sabendo que era verdade, ele precisava de tudo! Aqui abro um parêntesis para escrever sobre os corredores de moto, muito diferentes dos de automóvel, mais despojados, diria até mais simples que os de automóvel, a grande maioria correndo por amor ao esporte. Ajudei nessa 1ª corrida que foi difícil, pois até os amortecedores de sua moto já não tinham mais condições, a moto chimando muito. Tiramos os amortecedores de minha moto, uma BMW R 90 RS mas não couberam na sua. Foi assim mesmo.
Para 2ª corrida fui falar com Edgard Soares, expliquei a ele a situação conversamos algum tempo ai ele me diz " Rui passa amanhã por aqui " ( escrevendo agora seu sotaque e sorriso me vem à mente ). Dias depois vou à "esquina do veneno" como o Edgard havia pedido, de carro. Dos fundos de sua loja vem um auxiliar seu com algumas caixas, eram camisas, pistões e um monte de peças. Colocado tudo em meu carro pergunto a ele " quanto te devo ? " e ele " é tudo usado, é minha parte para ajudar o menino, você faz o resto "
Levei tudo a oficina do Nivaldo, que ficou surpreso e feliz, a próxima corrida seria melhor. Não lembro sua colocação mais foi bem melhor , inclusive com pneus novos, coisas que ele nunca tinha usado.

Jacaré abraça Jonny Ceccoto , ao lado Tucano , Edgard sorri.
À esquerda um casal amigo, de boné o mecânico ao lado Nivaldo e namorada e eu tentando caber na Yamaha TZ350... 

O Nivaldo e eu ficamos amigos, passeávamos de moto com as namoradas e estávamos sempre conversando. Um dia ele me pede " Quando der me compra um macacão, este que uso comprei do Jacaré e antes que pudesse pagar aconteceu o acidente em que ele perdeu a vida. Quero deixar este macacão na Igreja das Almas e pedir uma missa a meu amigo ". ( Esta igreja fica se não me engano na Av Liberdade ). Como a grande parte dos motociclistas que conheci ele era devoto de Nossa Senhora Aparecida, como eu, e disse-lhe que compraríamos o macacão para próxima corrida.
Uns dias depois passo em sua oficina à noitinha para ver como andavam as coisas e a encontro fechada. Como tinha luz lá dentro bati, e aparece alguém que não me lembro, " Cadê o Nivaldo" e a pessoa me diz " foi assassinado, três dias atrás ladrões entraram na oficina, e o mataram, não tínhamos seu telefone por isso não deu para avisar"
Sai desolado , fui andar de moto , não dava para acreditar ...
N.T. Só hoje tive coragem de contar isso que me aconteceu, trinta anos depois guardo na memória como se fosse ontem. Dedico à memória de três grandes motociclistas, meus amigos Edgard e Nivaldo e ao Jacaré - Carlos Alberto Pavan - a quem não tive tempo de conhecer bem.


Agradeço ao Ricardo da Motoclassicas 70 , a seguir o link para bela matéria sobre o Jacaré .
http://www.motosclassicas70.com.br/carlos_alberto_jacare_pavan.htm


NT: Hoje tive vontade de ver este post que escrevi no começo do blog, consertar alguns erros e adicionar novas fotos e postar novamente. Sempre com a mesma emoção que tive ao escrevê-lo e ainda com a lembrança de outro grane motociclista e amigo Expedito Marazzi.




às 17:01   Marcadores: Carlos Pavan, Edgard Soares, Jacaré, Nivaldo Correa, Yamaha 350cc TZ
Postado por Rui Amaral Lemos Junior