A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach
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quinta-feira, 7 de junho de 2012

MIL MILHAS BRASILEIRAS 1956 - A QUASE VITÓRIA DE UM FUSQUINHA


 Na edição nº 4 de seu jornal, Ari Moro ao contar da participação de Germano Schlögl nas Mil Milhas Brasileiras de 1956, cita o VW em que correram Eugênio Martins e Christian Heins como um fusquinha original. Pesquizando depois, Ari com a ajuda de Paulo Trevisan, que consultou ninguem menos que Jorge Lettri o preparador do carro que lhes deu o seguinte depoimento.



" Referente ao VW nas I Mil Milhas Brasileiras -Interlagos/SP - 25/11/56 

Pilotado por ChristianHeins e Eugênio Martins e devidamente preparado em minha firma de então - Argos Equipamentos - tenho o seguinte a comentar :
1) A performance apresentada pelo fusquinha número 18 nessa dura prova , constituiu-sa no maior feito esportivo mundial de um veiculo VW até aquela data e , muito em especial em toda a América Latina !

Largada das Mil Milhas Brasileiras - 1956 - Christian e Eugênio entre as "feras"

No miolo de Interlagos, a tocada de dois grandes pilotos!

A chegada, braço levantado quase uma vitória!

2) Devido aos detalhes de momento, as condições externas foram mantidas quase que inalteradas ao original, o que publicitáriamente deram uma gigantesca penetração ao fato em si! Observe-se que nem o automático rebaixamento das suspensões foi introduzido no caso, isso mesmo em detrimento à perda de performance em curvas, detalhe tão necessário nesse tipo de disputa em autródromos como o de Interlagos!
3) A potência do motor 1500cc - Porsche 1.5 - bloco original VW de duas partes, de acordo com o regulamento conhecido - veículo e bloco do motor da mesma marca - fornecia uma potência de 74CV-Din, número esse idêntico a qualquer motor de série dos atuais 1000cc de produção nacional. Nunca, entretanto, esquecendo que disputávamos a prova contra as decantadas carreteiras do Rio Grande do Sul, equipadas com motores de 5000/6000cc!
4) Ao carro em pauta não foram introduzidas modificações básicas importantíssimas em competições, tais como: rodas - aro, pneu e medidas, sendo os aros utilizados em 15x4.5" e pneus 5.60x15" de construção diagonal ¬Spalla di Sicurezza. Enfim, pior que isso não seria possível!
5) Deve ser dada uma nota muito especial ao sistema de refrigeração do óleo lubricicanate do motor, que por sinal sempre constituira-se
na maior dificuldade dos motores refrigerados a ar em competições. Foi adotado no caso o sistema de carter seco, incorporando um radiador dianteiro. Para tal, foi elaborado um capô especial em fiberglass com bocal apropriado, de autoria do engenheiro João Amaral Gurgel, sendo essa a primeira peça produzida por ele na área automotriz!
6) Durante boa parte da prova o VW-18 ocupou a primeira posição, infelizmente perdeu-se a ponta pela simples quebra de um cabo de acelerador; porém ainda. chegou-se em segundo lugar na final!"
CHICOLANDI
Mais adiante, em sua resposta, Lettry comenta: "Fato curioso: alguns dias antes da prova, um bom amigo e eu achavamo-nos no apartamento da família Fittipaldi, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, para um daqueles "papos intermináveis" com o velho Barão, ainda com cabelos negros, quando repentinamente aparece por lá para o mesmo fim, o mais destacável piloto nacional até aqueles idos dias. Chico Landi! Naqueles tempos as palavras do famosíssimo "Chico Miséria" em matéria de mecânica esportiva faziam realmente tremer as paredes. Referindo-se a nós e ao pequeno veículo em baila, com aquela voz surda e bem característica sua, ele declara assintosamente: "no meio da corrida já vou começar a cortar a barba, pois já estará comprida prá burro!"
Pois bem: no meio da prova, quando já ocupávamos a liderança, o famoso personagem aparece em nosso box para dar uma daquelas típicas "abelhadas,,'na casa dos outros. Diante dessa extrema curiosidade, perguntamos então a ele: "como é seu Chico, já começou a cortar a barba?" Meio aos murmúrios e palavrões, •Iá se foi ele que era o grande piloto brasileiro de todos os tempos anteriores, como uma fera ferida em seu pleno orgulho! Simplesmente mais um fato cômico de nosso conturbado automobilismo. Só isso!".

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NT: Em 10 de Agosto de 2009 publiquei este post com matérias do jornal "CHEIRO DE CANO DE ESCAPE" de meu amigo Ari. Dele recebi os jornais a autorização e o privilégio de divulgar todo seu material. 
Ao Ari meu forte abraço, assim como à Graziela Rocha e seu pai Nelson, que a ele me apresentaram.


quinta-feira, 29 de março de 2012

Moco na Temporada 1972

Moco e Big John

Desde que comecei a escrever este blog, tenho a sorte de contar com a participação de muitos amigos. Pilotos, preparadores, mecânicos e muito mais. Três deles nunca pilotaram, mas tem um grande conhecimento sobre o esporte, a Graziela, que com a ajuda de seu pai Nelson Rocha e do Ari Moro, escreve mais sobre carreteras, o Caranguejo um enciclopédico e o Carlos, um historiador. Aliás foi o Carlos quem me incentivou a começar o blog, numa época que eu sequer sabia teclar.
Aos três e a todos um forte abraço, aqui vai um texto do Carlos sobre a temporada 1972 de Carlos Pace, ou Moco.

Rui Amaral Jr

A TEMPORADA DE 1972 DE JOSE CARLOS PACE: MUITA LUTA E DIVERSIDADE

Não precisa ser muito conhecedor do automobilismo para saber que 1972 foi o ano daconsagração de Emerson Fittipaldi, quando ganhou cinco grande prêmios, outras quatro corridas de Fórmula 1 e o título mundial, o primeiro dos oito ganhos por brasileiros. No mesmo ano, um outro brasileiro que muitos consideram tão talentoso do que Emerson, lutava para se firmar na Europa: era José Carlos “Moco” Pace. O sucesso de Emerson Fittipaldi dependeu do seu talento, mas também de uma boa dose de “estar no lugar certo, na hora certa”. Pace, por outro lado, fez diversas escolhas na sua carreira internacional, que não foram das melhores, daí a grande diferença entre os currículos internacionais dos dois pilotos. Pace e Fittipaldi faziam parte da mesma geração de pilotos que apareceu em São Paulo no início da década de 60, iniciando carreiras com humildes DKWs e Renaults, logo passando para a poderosa equipe Willys, com passagens na Dacon, Fórmula Vê, etc., até chegar na Europa. Emerson seguiu primeiro, em 1969, enquanto Pace ganhava tudo no Brasil, na Alfa P-33 da Jolly. Moco foi no ano seguinte, obtendo bastante sucesso na F-3. Em 1972, Pace ainda procurava se firmar no automobilismo internacional. Emerson já estava com o passaporte carimbado: piloto da Lotus pelo terceiro ano, desde o início da temporada demonstrou muita velocidade, que resultou no seu primeiro título mundial. Pace, por outro lado, teve uma temporada de muita luta e incrível diversidade.

KG-Porsche da equipe Dacon- Foto de meu amigo Fernando Fagundes
1968 - 2º lugar nas 12 Horas de Porto Alegre, com Bird Clemente. 
Para aqueles que não conhecem muito a história do automobilismo, cabe um parenteses. Na década de 70, os pilotos de Fórmula 1 tinham carreiras bem diferentes dos pilotos da atualidade. Hoje, pilotos de Fórmula 1 só correm na categoria maior: têm exclusividade com suas equipes, e no máximo, participam de corridas de kart beneficentes, fora da temporada. Nos anos 70, os pilotos profissionais ganhavam dinheiro correndo em diversas categorias, o vulgo “starting money”. Muitas vezes nem ganhavam tanto dinheiro assim; mas precisavam correr em diversas categorias para se manter em evidência com o público e os team managers, demonstrando que tinham capacidade de mudar para melhores equipes. Era a fase pré-televisão, lembrem-se. E outra coisa: o sistema era mais impiedoso com as “promessas”. Geralmente um piloto tinha que realmente mostrar serviço nas primeiras duas ou três temporadas, se não era sumariamente excluído da categoria. Carreiras como as de Jarno Trulli e até mesmo de Rubens Barrichelo nunca teriam prosperado nos anos 70. Assim que a temporada de Pace, em 1972, foi o direto oposto da temporada de Emerson. Este correu exclusivamente com carros de uma empresa, a Lotus, na Fórmula 1 e Fórmula 2, e obteve treze vitórias no ano. Pace literalmente ralou, com o saldo de uma única vitória no ano, na penúltima corrida. Mas fez boa impressão na crítica, managers e nos fãs.
1970 F3 - No circuito  inglês de Snertetton de  Lotus 59 Ford/Holbay
 O trabalhoso ano de Pace se iniciou nos 1000 km de Buenos Aires, quando foi contratado para correr com um protótipo AMS. O carro tinha o menor motor entre os carros inscritos, e infelizmente não passou das primeiras voltas. Pace e seu companheiro, o argentino Angel Monguzzi, foram os primeiros a abandonar a corrida. Com o mesmo carro, foi segundo numa prova secundaria em Balcarce.
Em Balacarce, Argentina, com o AMS.
F I, na Willians com o March


Apesar do insucesso inicial, Pace tinha razões para celebrar: pelo menos estaria na Fórmula 1, pois fora contratado como segundo piloto da equipe Williams. Antes de ficar abismado com o feito, notem que a equipe Williams de 1972 estava longe de ser o portento da atualidade. De fato, era uma das três piores equipes da época, às vezes a pior, correndo com carros March. O carro de Pace não seria nem daquele ano: correria com um March 711, modelo que fizera boa temporada em 1971. 
A estréia de Pace se deu no GP da África do Sul em 4 de março. De cara ficou óbvio que as coisas não seriam fáceis: Pace só conseguira ser mais rápido do que Rolf Stommelen, com o péssimo Eifelland-March, e do rodesiano John Love, que quase ganhara o GP da África do Sul de 1967, mas que faria a sua última aparição na prova africana. Na corrida Pace procurou não se exaltar, aprender mais sobre o carro e chegou em 17°, e último, lugar. Não foi um início muito auspicioso, mas cabe lembrar que na sua estréia na F-1, Emerson largara na última fila, com a Lotus de fábrica e ao lado de Graham Hill!

Largada do  GP do Brasil em Interlagos, Moco na segunda fila.

26 dias depois, um sonho se realizava para os brasileiros: a primeira corrida de Fórmula 1 no país, prova na qual os organizadores brasileiros pretendiam demonstrar estar preparados para inclusão no calendário oficial de 1973. Só doze carros vieram, com 4 BRM e 4 brasileiros na pista. Além de Emerson e Pace, Luis Pereira Bueno e Wilson Fittipaldi Júnior também participaram. Apesar de ter largado na frente do seu companheiro Pescarolo, com carro mais novo, Pace não teve uma grande performance: largou em 7° e abandonou na segunda volta.
Moco no Pigmée F2
Além de correr na F-1 com a Williams, Pace fechara negócio para correr na F-2 na equipe francesa Pygmée. Com patrocínio do Banco Português do Brasil (que também o patrocinava na F-1) Pace faria parte de uma equipe que incluía o filho do dono, Patrick dal Bo, e o também brasileiro Lian Duarte. Infelizmente, a aventura Pygmée foi mal sucedida. Já há alguns anos tentando obter sucesso nas Fórmulas 3 e 2, a bem intencionada Pygmée só conseguiu colocações intermediárias na sua história. Embora inscrita, a equipe já começou faltando à primeira prova do ano, que não era válida para o Campeonato Europeu, mas sim para o John Player (Campeonato Inglês). Entretanto, a écurie compareceu à primeira etapa do Europeu, em Thruxton, e pode até ser que Pace e Lian tenham achado que fizeram excelente negócio: Dal Bo chegou em 4°, e visto que havia dois pilotos graduados na sua frente, levou os pontos do 2° lugar: de longe a melhor performance da história da Pygmée na F-2! Entretanto, ambos os brasileiros se envolveram em acidentes antes de completar a primeira volta na final na pista inglesa, embora Pace tenha liderado na sua bateria, um feito de grande magnitude, considerando o fabricante do bólido.
A próxima etapa do Europeu foi em Hockenheim, Alemanha, e a sorte de Pace não mudou: outro abandono, embora tenha conseguido completar 12 voltas desta feita. 
Em Jarama no GP da Europa

A próxima corrida de Pace foi o seu primeiro GP europeu, na Espanha, e aqui começou a mostrar que tinha futuro. Apesar do carro velho e fraca equipe, Pace largou em 16° lugar e chegou em 6°, obtendo o seu primeiro ponto na categoria maior do automobilismo. A corrida também marcou a primeira vitória de Emerson em 1972.
Em Pau, outra decepção com o Pygmée. Embora tivesse se classificado para a corrida, não largou. Curiosamente, Pace conseguira marcar pontos na F-1 antes de marcar na F-2, pois mesmo no ano anterior também não conseguira marcar pontos no Campeonato Europeu!
No dia 14 de maio, Pace participou do seu primeiro GP de Monaco. Essa corrida ficou conhecida pelo imenso temporal que se debateu sobre o principado, pela única vitória de Jean Pierre Beltoise e última vitória oficial da BRM na F-1. A corrida também foi transmitida pela Rede Globo, que já começava a se animar com a F-1. Para Pace as coisas não foram bem. Largou em penúltimo, só na frente de Stommelem, e chegou em 17°, a 8 voltas de distância de Beltoise.
A Pygmée fez forfait novamente na próxima corrida da F-2: nenhum Pygmée MDB17 foi para a última corrida a ser realizada no circuito londrino de Crystal Palace. Fecha-se um cicuito, abre-se outro. Assim, o próximo GP se realizou no novo circuito belga de Nivelles, em 4 de junho de 1972, e de novo a estrela de Pace brilhou. Nos treinos, marcou o 11° lugar, ficando na frente de 3 BRM, dos dois March de fábrica (Peterson e Lauda) e de Chris Amon, com a Matra, além de outros carros. Na corrida Moco manteve-se sempre entre os primeiros colocados, e na prova chegou em 5° lugar, ganhando mais dois pontos, e tornando-se piloto graduado após 4 corridas. (Naquela época, os pilotos que obtivessem dois resultados entre os seis primeiros em duas corridas de F-1 no mesmo ano, se tornavam “graduados”). Apesar do sucesso na F-1, na F-2 ficava óbvio que a escolha de equipe fora errada. Em uma segunda etapa realizada em Hockeinheim, a Pygmée de novo não levou carro para Pace (mas Dal Bo lá estava) e a paciência dos brasileiros começava a se esgotar.
Pace na Ferrari 312P - Foto de meu amigo Joel, de 1973 em Nurburgring.
No dia 25 haveria outra prova de F2, em Rouen, mas Pace tinha coisas melhores para fazer: fora contratado pela Ferrari para correr nos 1000 km de Oesterreichring, na Áustria. Nessa corrida, a Ferrari que já ganhara todas as corridas das quais participara, inscreveu 4 carros. Pace foi escalado para correr com o austríaco Helmut Marko. A dupla marcou o 5° tempo nos treinos, e fez excelente corrida, chegando em 2° lugar, só atrás de Ickx/Redman, e na frente de dois outros carros da Scuderia. O Porsche 908/2 da equipe Hollywood também disputou esta corrida.
De volta na F-1, no GP da França, Pace teve boa performance nos treinos em Clermont-Ferrand, longo circuito montanhoso que seria usado pela última vez na F-1: marcara o 11° lugar. Na corrida o motor falhou, e Pace abandonou. Esta corrida foi curiosa por duas razões: o azarado Chris Amon, com a Matra, marcou o melhor tempo nos treinos, e estava milhas na frente do segundo colocado quando uma pedra furou um dos seus pneus. Trocou o pneu e voltou com tudo, marcando a volta mais rápida e chegando em terceiro. Seria a última grande oportunidade de Amon ganhar um GP. As mesmas pedras que acabaram com a corrida de Chrissy, cegaram Helmut Marko, austríaco que estava crescendo bastante no automobilismo. Além de ter ganho Le Mans em 1971, Marko tivera excelente desempenho na Targa Florio de 72, além do segundo lugar na Áustria com Pace. Nesse GP, largou na sua melhor posição, 5°. Foi o fim da sua carreira como piloto, mas continuou no esporte como dono de equipe e empresário de pilotos.
A próxima etapa do Europeu de F-2 foi na mesma pista de Osterreichring onde Pace teve excelente desempenho no Mundial de Marcas. Infelizmente, o fraco Pygmee não lhe possibilitou classificar-se para a largada e assim terminou a associação de Pace com a fraca equipe gálica. Em contrapartida, Emerson largou na pole, fez a melhor volta e ganhou a corrida em grande estilo.
O próximo GP foi o da Inglaterra, e Pace de novo teve boa posição na largada, 13°. Na corrida chegou a estar em 9° lugar, mas a transmissão falhou, e Pace abandonou.
Pace no Gulf Mirage
Pace foi convidado pela equipe Mirage para fazer dupla com Derek Bell na última corrida do Mundial de Marcas daquele ano, em Watkins Glen, estado de Nova York. Pace mostrou adaptar-se rapidamente a bons carros, e nos treinos e na corrida a dupla obteve um excelente 3° lugar. Isso foi suficiente para que a Ferrari o contratasse para a sua equipe de protótipos do ano seguinte. Bell viria a ser um dos principais pilotos de carros esporte da história.
A próxima etapa da F-1 seria no difícil circuito de Nurburgring. Apesar de nunca ter corrido no dificílimo autódromo, Pace não fez feio nos treinos: 11° lugar. Na corrida, as coisas foram diferentes. Com problemas, o velho March fez 3 voltas a menos do que o vencedor Ickx, e Pace não obteve classificação, apesar de estar na pista no final da prova.
Após diversas semanas correndo direto, Pace teve algumas semanas de descanso, só voltando a correr no GP da Áustria, sua terceira prova em Osterreichring no mesmo ano. Dessa feita largou em 18° e de novo terminou com voltas insuficientes para se classificar: 8 voltas atrás. Entre outros problemas, Frank Williams teve em Henri Pescarolo um desastrado piloto n° 1. Pescarolo destruiu diversos chassis no curso do ano, em inúmeros acidentes, algo terrível para uma equipe sem recursos como a Williams. Isso sem dúvida fez com que o próprio desempenho de Pace piorasse com o passar do ano, pois a equipe tinha de concentrar em consertar os carros de Pesca.
Pace na Surtees TS14, atrás François Cevert de Tyrrel
Em Enna, Pace já estava de equipe nova na F-2: a Surtees. Sem dúvida, 1972 foi o melhor ano da Surtees. Além de ser campeã na F-2, foi nesse ano que a equipe obteria sua melhor colocação em uma prova oficial de F-1 (2° no GP da Itália, com Hailwood), além de ganhar também o Campeonato Europeu de Fórmula 5000 com o holandês Gijs Van Lennep. A escolha de Pace foi boa, exceto que 1972 foi o absoluto auge da Surtees, que daí por diante só viria piorar, em todas as categorias. Sua estréia na equipe na F-2 resultou em outro abandono, por problemas de motor.


Com o Shadow

Logo após Enna, Pace embarcava em uma nova aventura, exclusiva entre os brasileiros: participação na série Can Am nos Estados Unidos. A Can Am rivalizou em prestígio e performance até mesmo com a F-1. Tratava-se de uma série de carros esportes com regulamento liberal, que resultava, entre outras coisas, em motores de mais de 8 litros, introdução dos aerofólios, aspiradores com efeito aerodinâmico, turbo compressores etc etc. Em 1972 a milionária série já não gozava de tanto prestígio como nos anos 60, mas ainda tinha certa repercussão no automobilismo mundial, principalmente com a chegada das poderosas Porsche 917 Turbo. Pace foi contratado para fazer algumas corridas pela Shadow, equipe que no ano seguinte entraria na F-1. A primeira corrida, em Road America, resultou em abandono.
 Com o Surtees TS Cosworth/Hart da F2

Mas sua segunda prova na Surtees, em Salzburgring, teve um belo resultado: 2°, após marcar a pole position. Em 1° na corrida ficou Hailwood, que assim se aproximava do título. Essa foi a última prova de Pace no Europeu de F-2 daquele ano, portanto, um final feliz de um ano que parecia destinado a atropelos
As performances de Pace nos treinos já não estavam grandes coisas na F-1: largou em 18° em Monza, mas por incrível que pareça foi o March melhor colocado na largada; largou inclusive na frente do vice-campeão Peterson e do futuro campeão Lauda. Na corrida teve acidente na 17a. volta, assim abandonando. Foi nessa corrida que Emerson Fittipaldi se sagrou campeão mundial.
Após a Itália, Pace voltou para as Américas, para outra prova de Can Am, desta feita em Donnybroke, Minnesota. Outra vez seu Shadow Chevrolet abandonou nas primeiras voltas da corrida ganha por outro piloto de Fórmula 1, François Cevert.
As duas últimas provas de F-1 se realizavam na América do Norte: Canadá e depois Estados Unidos. No Canadá, Pace largou em 18° novamente, mas conseguiu se classificar em 9° lugar, apesar de não estar correndo no final da prova.
Entre o GP canadense e americano, ocorreu a prova da Can Am em Edmonton, Canadá. Ali Pace teve um melhor desempenho, chegando em ótimo quarto lugar após os três principais protagonistas do campeonato, Mark Donohue, Denis Hulme e George Follmer. Esta foi a última corrida de Pace na Shadow, que terminou o campeonato com um único carro para Jackie Oliver. Este haveria de ganhar o título em 1974, com a série já em franca decadência.
31 carros foram inscritos no GP dos Estados Unidos. Devido aos altos prêmios pagos na corrida, diversas equipes de ponta inscreviam 3 carros. Além disso estava presente a mal sucedida armada da BRM com 4 carros, e alguns pilotos americanos, com Sam Posey e Skip Barber. Pace conseguiu largar em 15°, de novo o March mais rápido (apesar de ser o mais antigo). Na corrida teve falha do injetor, ocasionando outro abandono.
Ainda se realizou uma outra prova de F-1 no ano, em 22 de outubro, o John Player Trophy em Brands Hatch. Deveria ser uma festa para Emerson, mas terminou mal para ele. Apesar da fácil pole, Emerson acabou abandonando. Mas a prova seria a estréia de Pace na Surtees, sua nova equipe na F-1. Frank Williams queria ficar com Pace, mas obviamente tinha pouco a oferecer. Certamente a escolha de Pace fora acertada, pois os Iso-Marlboro usados por Williams no ano seguinte foram uma das grandes piadas do ano – até o Ensign teve melhor desempenho. Comparativamente o Surtees TS-14 era um bom carro, mas infelizmente, uma corrida extra-campeonato de fim de ano era uma coisa: o campeonato de F-1 outra. Pace chegou em 2° em Brands, logo após Jean Pierre Beltoise, e na frente de outro Surtees, do italiano Andrea de Adamich. O calendário internacional de 1972 terminaria no Brasil, com a segunda temporada internacional de F-2. Esta acabou tendo 3 rodadas (algumas pré planejadas foram canceladas), todas em Interlagos. Alguns dos melhores pilotos da F-2 vieram para a série de corridas no Brasil, inclusive o campeão Hailwood, e o vice-campeão Jassaud; o piloto de F-1 Clay Regazzoni; o futuro campeão de mundo James Hunt, que viria a fazer furor na F-1 em 1973; e a equipe Rondel, com o campeão de F-2 de 1971 Ronnie Peterson, Tim Schenken, Bob Wollek e Henri Pescarolo. Entre os brasileiros, estariam presentes os três da F-1, Emerson, Pace e Wilsinho, além de diversos outros com carros alugados: Pedro Victor de Lamare, Lian Duarte, Chico Lameirão e Silvio Montenegro. O último foi obviamente muito otimista. Piloto de pouco pedigré no próprio Brasil, acostumado a pilotar fuscas, Montenegro obviamente tinha superestimado sua capacidade. Não brilhou, e de fato, desapareceu do automobilismo depois disso.

A primeira etapa se realizou em 29 de outubro, e o resultado não foi bom para Pace. Abandonou com problemas de motor na 2a. volta da primeira bateria, e não voltou para a segunda. Na segunda corrida, em 5 de novembro, Pace teve um desempenho excelente, ganhando as duas baterias e a geral. Acabou sendo a sua única vitória do ano, e segunda na F-2 (ganhara em Imola em 1971, prova extra campeonato). A terceira etapa se realizou em 12 de novembro. Pace fez a pole position, mas teve problemas na primeira bateria e terminou em 16°. Na segunda bateria, comprovou todo o seu potencial da primeira bateria, ganhando com três segundos de vantagem sobre seu companheiro de equipe, Mike Hailwood, que acabou ganhando na geral. Pace também marcou a volta mais rápida. Na soma dos tempos ficou em 8°. Resultados completos do torneio
Assim terminava a árdua temporada de Pace. Não somente estreara na F-1, mas também no Campeonato Mundial de Marcas e na Série Can Am. Dirigiu diversos carros durante o curso do ano, nos dois lados do Atlântico, mas não obteve o sucesso esperado na F-2. Entretanto, o futuro parecia sorrir para Pace, não na forma em que sorriu para Fittipaldi – as coisas pareciam se realizar com mais dificuldades para ele, mas eventualmente aconteciam.
Carlos de Paula

J.C. PACE, PILOTO

Link para post do Caranguejo sobre Pace

Algumas belas fotos de Pace em outras épocas.

Vencendo o GP Brasil 1975 em Interlagos




 Em Nurburgring, pouco antes do acidente de Lauda

 Em Interlagos à frente de Mario e Ronnie

 Vencendo o Torneio Maverick


No podium em Monza, com Stewart e Ronnie




sexta-feira, 2 de março de 2012

VELOCULT



 Emerson com Ervin e Zé.
 Alex Dias, Aniso Campos, Águia, Graziela, Emerson, Emilio Zambello, Geraldo Meirelleres, Bird.

Emerson, Bird, na segunda fila, Anisio, Chico Rosa.


AUTOMOBILISMO, ANTIGOMOBILISMO OU AMIGOMOBILISMO?
Há cerca de um ano escrevi um artigo, atendendo a um convite dos amigos Fátima e Fernando Barenco, administradores do excelente site Maxicar. Se quiserem, poderão acessá-lo neste link:
Na ocasião manifestei a opinião de que o Antigomobilismo ( neologismo criado por Malcolm Forest e tornado oficial pelo Roberto Nasser ) poderia ser também chamado de Amigomobilismo, termo que criei e ganhou muitos adeptos pelo Brasil afora.
Os Antigomobilistas são uma confraria e dividem com seus amigos, a paixão pelo carro antigo e sua história. Assim podem ser chamados de Amigomobilistas.
Ontem, 27/02/2012, fui obrigado a reformular o meu conceito de Antigomobilismo. Peço que me acompanhem no texto abaixo, e verifiquem se tenho razão.
Nesta 2ª feira a noite, tive o privilégio de participar de um evento, organizado pelo amigo e grande artista plástico, o Paulo Soláriz. Ele e sua família, de maneira abnegada, levaram pelo 3º ano consecutivo, a exposição VELOCULT ao Conjunto Nacional, na mais Paulista das Avenidas.
Dedicado ao Automobilismo Brasileiro, a Exposição sempre apresenta temas de alto nível, com personalidades e carros que marcaram época, destacando-se pilotos, dirigentes, mecânicos, jornalistas e fotógrafos que, de uma maneira ou outra, construíram a nossa História Automobilística.
Minha esposa e eu tínhamos a expectativa de um grande evento, pois estivemos presentes no ano passado. No entanto, fomos surpreendidos com uma maravilhosa e inesquecível festa, quando grandes nomes do Automobilismo se encontraram e dividiram conosco, suas experiências e histórias de vida.
No saguão, as primeiras surpresas: a Carretera 18 do Camilo Christófaro, o Interlagos nº 22 do Bird Clemente, um Fórmula Indy do Mario Andretti, vários veículos produzidos pelos alunos da FEI, o indelével Aruanda do Prof. Ari Rocha, dois Allards dos irmãos Marx, diversas esculturas do Paulo Soláriz, capacetes do Sid Mosca, lindas miniaturas da Automodelli e outros diversos itens ligados ao Automobilismo, como um estande da Fundação Ayrton Senna, onde comprei miniaturas dos F1 que ele pilotou.
Bird Clemente, Emerson Fittipaldi, Chiquinho Lameirão, Tony Bianco, Reginaldo Leme, Décio Bittencourt, Alex Dias Ribeiro, Cláudio Carsughi, Chico Rosa, Ricardo Bock, Paulão Gomes, Roberto Nasser, dentre tantos outros, (se eu tentar nominar todos, certamente vou esquecer muitos) nos proporcionaram inesquecíveis momentos, tanto nas conversas informais como nas breves palavras que proferiram durante a bonita apresentação elaborada pelo Ronaldo Nazar. E nem mencionei os inúmeros amigos que tive o prazer de rever....
Meu sentimento foi o de uma grande família se reunindo para recordar os bons momentos, mas também se emocionar quando foram lembrados aqueles que já nos deixaram.
Sendo assim, por meio deste pequeno texto, quero estender o significado da palavra Amigomobilista também para o Automobilista, pois ambos são grandes admiradores dos automóveis em geral, sempre respeitando o gosto e preferências individuais, mas todos com a mesma paixão e objetivo: preservar a memória do automóvel e a sua história, que pode ser contada de diferentes maneiras.
Espero que concordem e peço suas opiniões e comentários, pois o Amigomobilismo é isso: amigos compartilhando suas experiências e emoções com estas máquinas maravilhosas que são os automóveis, seja no contexto e tempo que estiverem presentes.
Convido a todos a prestigiarem o Evento e conferirem toda a beleza do mesmo.
Abraços,
Ervin Moretti
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Ronaldo Nazar, eu e amigos, o Águia aparece de costas.

Também  estive no VELOCULT e fiquei tão feliz que nem tive o que escrever! Obrigado a todos os amigos que lá encontrei e um forte abraço!

Rui

sábado, 18 de fevereiro de 2012

IV Copa Festa da Uva 1961

Há 51 anos acontecia a IV COPA FESTA DA UVA em Caixas do Sul-RS


A prova vencida pelos exímios gaúchos, o piloto Ítalo Bertão representante de Passo Fundo e o co-piloto Passo-fundense, Daniel Winik com a carretera Chevrolet 1938, motor Corvette com caixa de 3 marchas + ré Corvette também, diferencial blocante de pick up Chevrolet, a famosa Caninana, N° 9 -montada em Passo Fundo por mecânicos da terra.
Conquistando o segundo lugar os curitibanos Germano Schlögl e Adir Moss.

Curiosidades:- Germano Schlögl, além de exímio piloto foi também grande preparador.
Foi passear com a carretera em um domingo à tarde, e após abasteceu-a e ao sair do posto foi abalroado por ônibus, morrendo tragicamente.

- a N° 9 ganhou também em 1961, as Mil Milhas Brasileiras de Interlagos com a dupla Orlando Menegaz e Ítalo Bertão

Publicado primeiramente no Jornal Zero Hora⁄Almanaque Gaúcho-Ricardo Chaves
17 de fevereiro de 2012
Colaboração: Nelson e Graziela M. da Rocha

sábado, 11 de fevereiro de 2012

500 KM de Porto Alegre 1962 - Resultado

Volto aos 500 KM de Porto Alegre, com um certo orgulho da repercussão que o vídeo causou. Depois do belo trabalho que meu amigo Fernando Fagundes fez, editando e mostrando em seu blog, mostrei aqui, e logo depois dois outros amigos, o Sanco e o Rafa mostraram em seus blogs. 
O vídeo original que recebi da família Marques da Rocha, D. Jô, Nelson e Graziela, tem cerca de 45 minutos de pura emoção. Separei algumas fotos que já havia postado, e agora mostro com o resultado final da corrida. 

Orlando Menegaz.

RESULTADO

1º  Orlando Menegaz #1 Carretera Chevrolet Corvette 
2º José João Galina/Genuíno Scarton #44 Carretera Ford
3º João Galvane/Gastão Werlang #16 Carretera Chevrolet
4º Aldo Costa/Haroldo Dreux #36 VW-Porsche
5º Paulo Feijó/Renato Petrillo #26 VW-Porsche 
6º Claudio Durte/Fernando Villar #29  DKW

Ainda competiram

José Azmuz #32 Carretera Ford
Vitório Andreatta com Renault Dauphine 2º lugar na categoria até 850cc

Catharino











 Orlando Menegaz
O motor de sua carretera, chamada Caninana. 



Cotidiano,carros,corridas e música



Rafael Dias Santos disse...




Amigo, fiquei emocionado vendo. Amanhã vou bolar algo no blog em agradecimento. Hoje eu moro no bairro onde tudo começava e terminava, o Bairro Tristeza. demais


Parabéns Rui! Fiquei emocionado ao
ver o vídeo de uma corrida que assisti ao vivo, quando moleque, no bairro Ipanema. Mais emocionado, ainda, fiquei ao
ver o Catarino Andreatta passar em frente da casa onde eu morava, na Av.Cel.Marcos aos 6:52 do vídeo. Muitos carros reconheci,outros não, e dois eu fiquei em dúvida: Carretera #22 seria do Raul Fernandes que adotou o número do Diogo Elwanger e a carretera #78 de
Angelo Cunha do Paraná?
Um grande abraço e mais uma vez parabéns.

Martim Kim