A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach
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segunda-feira, 17 de maio de 2010

O ÁS DE ESPADAS - Henrique Mércio

Arranjos e combinações não são fato recente na história da F1. Pesquisando, podemos encontrá-los até na chamada época mais “pura” das competições, os dourados anos cinqüenta. Mesmo nesses tempos mais inocentes, deparamo-nos com traições e artimanhas e a sombra da suspeita a rondar acontecimentos que deveriam ser vistos como tristes fatalidades, não mais. Aquele a que nos referimos é o desdobramento de outro. Começa com o acidente fatal do bicampeão Alberto Ascari, em 1955. Não entraremos no mérito da morte de Ascari, ao volante de uma Ferrari, num dia em que nem deveria estar no autódromo de Monza e sem uma testemunha sequer para contar como tudo aconteceu. Com o vazio deixado pela morte do grande campeão, iniciou-se uma busca por seu substituto. Enzo Ferrari contratara para a temporada de 1956 o argentino Juan Manuel Fangio, ainda competitivo apesar de seus quarenta e cinco verões. Ao mesmo tempo, começa a procura de um novo nome. A Ferrari aposta suas fichas em seis novos pilotos, grupo a quem batiza Squadra Primavera: o alemão Wolfgang von Trips (28), os ingleses Mike Hawthorn (27) e Peter Collins (25) e os italianos Eugenio Castellotti (27), Cesare Perdisa (24) e Luigi Musso (32). Perdisa foi o primeiro deles a desistir.
Luigi Musso , Ferrari .
Achando-se mal aproveitado pela Ferrari, foi-se embora para a Maserati. Os demais, exceto Hawthorn, tiveram de sujeitar-se em dividir a equipe com o Velho Maestro. Como o regulamento previa a inscrição de um piloto em vários carros, quando tinha problemas com a sua Ferrari, Fangio pegava a de algum companheiro e continuava na corrida. Foi assim que ele venceu o GP da Argentina em dupla com Musso; foi o segundo e o quarto colocado em uma mesma corrida, o GP de Mônaco (fato inédito), correndo com Collins e Castellotti e segundo colocado no GP da Itália, de novo com Collins. Essa corrida aliás,pode ser taxada como um melodrama italiano ao som de um tango argentino: Fangio, cujo carro mais uma vez tivera problemas, foi ao Box. Estava disputando o título da temporada na última corrida do ano com Stirling Moss, que estava na liderança. A Ferrari sinalizou para que Musso cedesse seu carro, mas...ele não parou. Depois justificaria sua recusa, dizendo que como vinha fazendo uma boa prova (estava em segundo), não viu motivo para “sacrificar-se”. Enquanto a equipe tentava consertar o carro de Fangio, Collins fez o seu pitstop. Ao ver o argentino parado e depois de informado sobre o que estava acontecendo, ele graciosamente cede sua Ferrari ao companheiro. O time não o havia solicitado porque Collins também disputava o título, o que deu ao seu gesto uma grandeza maior. Por outro lado, Musso pode ter começado a tornar-se antipático dentro da equipe nesse dia, embora tenha enfrentado problemas com os pneus, e sequer completado a corrida. A verdade é que ao não ajudar o Fangio, ele colaborava para o título de Moss e da velha rival da Ferrari, a Maserati. Imperdoável. Com o carro emprestado, Fangio terminou na segunda posição, mais do que suficiente para o quarto título. E por pouco não venceu, pois Moss ficou sem combustível no final e só conseguiu reabastecer porque um outro piloto de sua equipe, Luigi Piotti, empurrou sua Maserati até os boxes com seu próprio carro. Hawthorn, prudentemente, ficou fora do caminho do El Chueco só retornando à equipe depois que Fangio saiu da Ferrari, ao final do campeonato.
Quando retornou ao time, o Ruivo deu um jeito de consolidar-se no time, formando uma “sociedade inglesa” dentro da Ferrari, com o amigo Peter Collins. Em contrapartida, algo bem típico do temperamento italiano, Musso e Castellotti desgastavam-se numa estéril rivalidade enquanto von Trips parecia preferir ficar à distância.
 Em 1957, Castellotti morre treinando em Modena, o que fez Musso ficar mais isolado. Ele também tomou atitudes temerárias para um piloto da Ferrari: criticou a equipe, dizendo achar que Castellotti morrera em virtude de uma falha nos freios (oficialmente, Enzo dissera que o piloto andava muito cansado, pois passava viajando para ficar ao lado da namorada, a atriz Delia Scala). Em razão disso, fez exigências quanto à preparação de seu carro e resolveu pedir o seu prêmio em dólares quando a corrida fosse fora da Itália, como o faziam seus companheiros ingleses; uma série de atitudes que afetaram ainda mais sua pouca popularidade junto a membros da própria Scuderia. A essa altura, Enzo Ferrari já estava percebendo que o automobilismo era inflacionário. A verba do Grupo Fiat que lhe era destinada (300 milhões de liras) mostrava-se insuficiente. A solução? O Comendador descobriu que a esposa de Peter Collins era filha de um colaborador do secretário sueco que servia à ONU e tinha contatos fortes junto à Chrysler. Ansioso por atrair o “sogrão” de Collins, Don Enzo começou a fazer vista grossa a algumas ações da dupla inglesa. Hawthorn e Collins, que corriam pela Ferrari também no campeonato de Sport-protótipos fizeram um acordo: não correriam mais juntos. Suas chances de uma premiação dobrada aumentava, estando cada qual num carro. Assim, cada um formaria uma dupla diferente e depois juntariam os prêmios ganhos e dividiriam. Quando soube disso, Musso não gostou. Devido ao seu tipo físico a equipe determinara que Hawthorn e Musso (que eram os mais altos) formassem uma dupla fixa. Seria menos problemático ajustar um cockpit para ambos. Mas o romano achou que seria prejudicado, pois se numa corrida ele estivesse em segundo e Collins fosse o primeiro, seu companheiro não o ajudaria a tentar superá-lo, pois a combinação dos resultados o favoreceria. Musso ficou quieto algum tempo, mas no começo da temporada de 58, depois do esvaziado GP da Argentina, ele não agüentou mais. A corrida portenha teve apenas dez carros: seis Maseratis, três Ferraris e um Cooper. O carrinho inglês, o único com motor traseiro no grid e com Stirling Moss ao volante foi o vencedor, deixando as tradicionalíssimas Ferrari e Maserati para trás. Musso e Hawthorn chegaram em segundo e terceiro, respectivamente, mas as críticas choveram em cima do italiano. Este reagiu como sabia: atacando. À televisão argentina, contou sobre o “acordo britânico” e conclamou von Trips a correr com ele nos 1.000 Km de Buenos Aires, prova de Sport-protótipos dali à uma semana.



Musso e Gendebien
Musso e a Maserati Sport.
 A repercussão foi enorme na Europa, embora tenham sido providenciados alguns panos-quentes. Para os 1.000 Km, Musso ganhou a companhia do belga Olivier Gendebien. Nos treinos, a dupla obteve o terceiro melhor tempo e tudo parecia bem. Na noite que antecedeu a prova porém, o jornalista Marcello Sabbatini recebeu um telefonema anônimo no Hotel Colon, que pedia que avisasse Musso para ter muito cuidado nas primeiras voltas da corrida, pois seu carro havia sido sabotado. O jornalista, sem saber o que fazer, comentou o fato com Guglielmo “Mimmo” Dei, dirigente da Scuderia Centro Sud, através da qual Luigi Musso iniciara sua carreira em 1953. Mimmo Dei primeiramente ficou preocupado, mas depois achou que tudo não passava de um trote, uma brincadeira inofensiva. No domingo, responsável pelo primeiro turno de pilotagem, o romano larga na ponta, mas na segunda volta sai da pista e só não se acidenta com gravidade porque algumas telas de arame o detém (parte da prova era disputada na rua). Ao verificar o problema, percebe que está com a barra de direção rompida. Ileso, o piloto irá continuar na prova, ao lado de Gendebien/von Trips, terminando em segundo, atrás de Collins/P.Hill. A temporada que estava recém começando, prometia bastante para Musso. No ano anterior ele fora o terceiro no campeonato, perdendo para Fangio e Moss. Fiel à Ferrari, recusara um contrato com a BRM e os resultados do modelo 246 até lhe davam razão.

Hawthorn, Musso e Schel.
No GP da França em Reims, Musso já tinha dois segundos lugares (12 pts) e disputava com Hawthorn, que tinha a mesma pontuação (um segundo, um terceiro e um quinto lugares) para ver quem receberia a atenção do time na luta pelo título. Na veloz pista francesa (quase um trioval), o Ruivo fez o melhor tempo, mas Musso estava logo atrás e acreditava ter um trunfo. Fangio, demonstrando que não restara mágoa de sua parte pelo episódio de Monza dois anos atrás, ensinara-lhe um truque para vencer em Reims: fazer a Curve Muizon de “pé embaixo”. Hawthorn pula na frente, mas Musso o segue e usando o método do Fangio, está cada vez mais próximo, contudo na nona volta perde o controle e capota justamente na Muizon. Deste vez, nada pode salvá-lo. Naquele tempo não havia transmissão pela TV nem tampouco havia testemunhas no local, exceto um gendarme, que contou o seguinte: “Os dois carros se aproximaram da Muizon(...) não se tocaram, mas me pareceu que o da frente (Hawthorn) freou demasiado forte, obrigando o de trás (Musso) a frear também e em seguida perder o controle”. O sempre sorridente Mike Hawthorn, era famoso por sua “freadas francesas”. Três anos antes ele fizera o mesmo com o piloto Lance Macklin durante as 24 Horas de Le Mans, desencadeando uma verdadeira hecatombe com mais de oitenta mortos. Tentando desviar, Macklin tocou no Mercedes de Pierre Levegh, e o resto é história. Na época muitos, inclusive a bairrista imprensa inglesa saíram em defesa de Hawthorn. Ele por sua vez, manteve um silêncio, para seus acusadores “ensurdecedor”, sobre o assunto. Tanto é que os dirigentes alemães o tornaram “indesejável” em suas pistas por um ano. Agora, passado algum tempo, será que o acontecimento do passado transformara o Ruivo num piloto frio e perigoso? Quem sabe a Ferrari também não estivesse contente com o romano?

Musso e a Ferrari em Monza.
Ele era um rebelde e a equipe era dirigida por alguém centralizador e que não gostava de pilotos com “cabelos nas ventas”: Enzo Ferrari. Uma outra tese diz respeito ao fraco de Musso: o carteado. Sem sorte no jogo, recentemente ele teria perdido a soma de dez milhões de liras e seu credor seria um “homem de honra’, um homem da Máfia. Musso teria recebido ameaças para que resgatasse suas dívidas, ou algo ruim iria acontecer. Isso poderia gerar nele uma motivação extra para a corrida, pois à época, o GP francês era o de melhor dotação no campeonato e o prêmio ao vencedor era justamente de dez milhões de liras. O Grande Prêmio prosseguiu após a tragédia e foi vencido por Hawthorn, sendo essa sua única vitória em 1958 na Fórmula 1. Vinte e oito dias depois, seu amigo Collins morreu durante o GP da Alemanha em Nurburgring, enquanto perseguia Tony Brooks. O acidente teve uma dinâmica parecida com o de Luigi Musso. Hawthorn venceu aquele campeonato, com um ponto de vantagem sobre Stirling Moss. Ele anunciou sua retirada das pistas, mas em janeiro de 1959 morreu após colidir seu Jaguar MK1 contra uma valeta, num acidente de estrada. Se as vidas destes homens era como um jogo de cartas, nenhum tinha uma “boa mão”, uma mão vencedora. Talvez todos tivessem um Ás de Espadas.












Muitos consideram o Ás de Espadas a “carta da morte”.  Caranguejo



terça-feira, 4 de maio de 2010

SÁBADO EM INTERLAGOS por Maria da Glória e Caranguejo

quarta-feira, 21 de abril de 2010

DIRETO DOS AMIGOS

Nosso amigo "Caranguejo" toma conta do bloguesinho no post de hoje, desenterrando mais uma história automobilística, desta vez envolvendo nosso querido "Bocão" Pegoraro. Não deixem de ler. Leandro Sanco



Acima meus amigos Leandro e Caranguejo mostrando mil peripécias de nosso automobilismo, com a costumeira competência.
E o “banner” abaixo é do novo blog do Carlos de Paula onde vai mostrar resultados de corridas no Brasil. O banner, feito por mim, pode não ter ficado muito bonito e isso se deve a minha falta de habilidade para lidar com essa maquina.

Aos três amigos meu muito obrigado por tudo.

Abraços, Rui






terça-feira, 20 de abril de 2010

ENCONTRO DE GIGANTES

Keith Duckworth, Chapman, Clark e Hill olham o Ford Cosworth DFV.

Zandvoort/67

Corrida divisor de águas, foi nela que o mundo das corridas viu estrear o mais vitorioso propulsor da Fórmula 1 de todos os tempos, o motor Ford Cosworth V8, que sob muitos aspectos, foi o componente que garantiu a sobrevivência da categoria e permitiu o surgimento de muitas novas equipes. Zandvoort era uma pista próxima do litoral holandês, com uma estranha característica: proporcionava um novo desafio aos pilotos devido a areia que invadia o asfalto, formando uma perigosa mistura com o óleo dos carros. Nunca se conseguia determinar a quantidade desse “produto” na pista, apenas seu perigo real. Teria sido o fator determinante no acidente fatal de Piers Courage em 1970. Na corrida de 1967 estrearam alguns carros novos como o Brabham BT 20, BRM P83 e Eagle-Weslake T1G, além do Lotus 49-Cosworth. Enquanto Hill já o conhecia e testara, Clark só viu o novo carro na pista holandesa.
Chapman e Clark

 Nos treinos, Graham foi o melhor na sexta-feira (1:25,6). Gurney, o segundo, apenas dois décimos atrás. E Clark, só problemas. G.Hill e “The Great Daniel” continuavam debatendo a pole e Dan, após estabelecer 1:25,1 parou achando que não seria alcançado. Hill continuou e em sua última tentativa marcou 1:25,0 (mas os cronômetros oficiais acusaram 1:24,6). Para Clark, só a terceira fila, ao lado de Hulme e Surtees. No dia do GP, já na largada, Jimmy ganhou duas posições, pois a direção de prova holandesa (sempre inepta) esqueceu que um dos fiscais ainda estava no meio do grid e largou assim mesmo. Hulme e Surtees tiveram que desviar do bandeirinha e perderam tempo.
As primeiras voltas foram num ritmo tranquilo e na volta 7, Gurney parou nos boxes . Ele voltaria só para abandonar na volta seguinte, com problemas na injeção de combustível. Uma volta depois, Hill abandonava na liderança: um dente de uma engrenagem de seu motor quebrou. A Brabham de Old Jack assumiu a ponta, mas após 15 voltas, Clark já estava pegando gosto pela nova barata. Ele havia ultrapassado Rindt e na volta seguinte deixa Black Jack para trás. Rodriguez quebra, Rindt e Stewart também.

Hulme é quem consegue sobreviver. Ele se impõe no terceiro lugar e resiste aos ataques de seu compatriota, Chris Amon. O “Rei do Azar” será o quarto colocado, à frente de Mike Parkes e Ludovico Scarfiotti, todos de Ferrari. Clark vence fácil, 23 segundos à frente de Brabham. Para Clark, Lotus e Cosworth era o começo de uma relação curta, porém marcante e vitoriosa. O grande campeão morreria numa prova de F2 na Alemanha em 68. Já o Cosworth só encerraria sua jornada em 1983.



C.Henrique Mércio
 
 
Clark já no grid.

Durante a corrida notem suas mãos a volante e a tocada suave.
Clark e a Lotus em Monaco.

Seu lugar de direito, o alto do podium.
 

quinta-feira, 18 de março de 2010

BRITISH GP BRANDS HACTH 1966. - por Henrique Mércio

UM DIA EM JULHO...


Brands Hatch, perto de Kent, 1966. Na bela pista cujo desenho acompanha a topografia do local reunem-se vinte pilotos prontos para encarar o desafio de 80 voltas. Ocupando a pole position está o líder do campeonato, o australiano Jack Brabham. Antigamente a expressão austera, os cabelos pretos e a tendência ao isolamento e silêncio levaram os colegas a apelidá-lo “Black Jack”, mas os tempos eram outros. Agora próximo de completar 40 anos, Brabham luta contra seus próprios fantasmas: quer vencer um campeonato pilotando um carro que leva seu nome e provar aos críticos que consegue ser tão veloz quanto seus companheiros de equipe. A Fórmula 1 já demonstrava nessa época uma característica de nossos dias: o imediatismo. Não importa o seu histórico de vitórias e conquistas; você será avaliado pela corrida de ontem. E se as coisas não andam boas, terá uma nota baixa. Mas contudo, o velho bicampeão parece estar tão bem como nunca. A temporada de 1966 é uma temporada de transição. As regras foram mudadas e todos tiveram de passar para motores de até 3 litros, fazendo surgir as combinações mais estapafurdias como Lotus-BRM, Cooper Maserati, Brabham-BRM e até Cooper Ferrari. Só que a Equipe do Cavalinho Rampante, principal avalizadora de tais mudanças, como soe acontecer, não estava obtendo os resultados esperados. Tudo o que conseguiu foi que seu temperamental campeão, John Surtees fosse embora da equipe. Outros favoritos potenciais também tem seus problemas: Graham Hill chegou ao limite com a BRM. Dentro de um ano estará ao lado de Clark na Lotus. O escocês por seu lado, está às voltas com a defasada Lotus Climax 33. A opção é a Lotus BRM 43, o típico carro complicado. Gurney está envolvido com o desenvolvimento do belo (e igualmente complicado) Eagle Climax. Stewart ainda está cercado de pilotos de maior envergadura e capacidade do que ele. Terá melhor sorte no futuro, quando lutará contra jovens lobos, ao lado dos quais será o mais experiente e por fim, Jochen Rindt, sempre veloz mas penalizado pelo seu próprio destempero. Resta Brabham, com seu motor Repco, derivado de um bloco de alumínio Buick-Oldsmobile V8. Embora visto com desdém pela concorrência, o Brabham Repco BT19 mostrou seu valor no GP da França, dando a Jack sua primeira vitória desde 1960. Evitando comparações desfavoráveis, o companheiro de equipe de Brabham é o neozelandês Denny Hulme. Discreto como o patrão, Hulme vai ajudá-lo na conquista do tri. Depois, pensará em si próprio. Há um vácuo de poder do qual o australiano quer tirar partido.

Jack Brabham seguido de Dan Gurney, Denis Hulme, Jim Clark e John Surtees.  

 Largada: “Old Jack” dispara na ponta querendo provar que Reims não foi um acaso e que ele tem nas mãos um “cavalo vencedor”. Gurney vem logo a seguir, mas não passará da 9ª volta. Denny Hulme o acompanha obedientemente enquanto os demais se engalfinham. Como demonstração inequívoca de superioridade, os Brabhams são os únicos que completam as 80 voltas e Black Jack mete 9.6 em cima de Hulme, na maior sem-cerimônia, além de cravar a volta mais rápida com 1`37 “duro”. Na briga pelas migalhas, Hill e o BRM P-261 levam vantagem ante Clark e a Lotus Climax. Depois vem Rindt e Bruce McLaren e o McLaren-Serenissima. Após a bandeirada, não há mais dúvidas. Black Jack está de volta, embora os cabelos já não sejam tão pretos. Venceria mais dois GPs e terminaria o ano tricampeão. O motor Repco enfrentaria o mitológico Ford Cosworth nas pistas no ano seguinte e sairia vencedor devido a sua regularidade. Seria sua última façanha, mas o nome de Brabham já estava consagrado como piloto-construtor.


Bruce MacLaren, MacLaren/Serenissima e Denis Hulme, Brabhan/Repco.  

Jack Brabhan e Jochen Rindt Cooper/Maserati.  

Graham Hill, BRM. 

Graham Hill seguido de Jackie Stewart BRM, JimClark Lotus/Climax e Peter Arrndel de Lotus/BRM.  

John Surtees e Jochen Rindt ambos de Cooper/Maserati. 
Dan Gurney de Eagle/Climax e John Surtees Cooper/Maserati.

Hill, Hulme e Clark.

Rumo ao Tri Campeonato Jack Brabham recebe a bandeirada da vitória.




Brabham carro e piloto uma dupla vencedora.

segunda-feira, 1 de março de 2010

O "Jeitinho" Argentino - PEDRALBES 1951 - por Henrique Mércio




O "Jeitinho" Argentino- corria o ano de 1951 e Juan Manuel Fangio disputava o título da temporada com aquele que, talvez fosse o único corredor que conseguia peitá-lo: o italiano Alberto Ascari. Fangio era piloto da Alfa Romeo e guiava a Alfetta 159, o melhor carro de corridas do período pré-guerra. Estes modelos haviam sobrevivido ao conflito, passando os anos quarenta escondidos em uma fazenda na região de Piemonte e quando a paz retornou, impuseram seu domínio.Já o carro de Ascari era a Ferrari 375 F1, a legítima sucessora da Alfa nas corridas e notadamente, um carro mais moderno. A Alfa Romeo promovia seu canto dos cisnes nas competições participando de sua última temporada e claro, queria despedir-se com uma vitória. A Ferrari, nascera do sonho de Enzo Ferrari, antigo diretor esportivo da Alfa, e para o engenheiro Ferrari, a vitória sobre a Equipe do Trevo tinha um significado todo especial. Para isso ele depositava sua fé no modelo 375 F1, mais leve, veloz e mais econômico que as Alfettas. Aquela temporada iniciara com Fangio, "mordido" por ter deixado o título do ano anterior escapar, vencendo o GP da Suiça.

 El Chueco depois vencera o GP da França, ainda que tivesse problemas com seu carro e precisasse pegar "emprestado" o monoposto de Luigi Fagioli, seu companheiro de equipe. A Ferrari começou a reagir no GP da Inglaterra, com a vitória de Froilan Gonzalez, a 1ª de uma longa série de vitórias da Ferrari na categoria. Nas provas seguintes, só deu Ferrari, com Ascari ganhando em Nurburgring e Monza. Restava a etapa da Espanha, no circuito de rua de Pedralbes, periferia de Barcelona. Apesar da pequena vantagem de Fangio (3 pontos), o favorito era o homem do casco azul, Alberto Ascari. Principalmente depois que Ascari cravou a pole position. Uma disputa roda a roda com a Ferrari seria suicídio e Fangio percebeu que teria de usar algo diferente: a astúcia. Juntamente com o engenheiro Gioacchino Colombo, o argentino concebeu um plano e na hora de formar o grid, seu carro apareceu com tanques extras de combustível.
Fangio e a Alfetta.

Uma das vantagens da Ferrari ante a Alfa era sua autonomia: consumiam menos gasolina e aguentavam mais tempo na pista até precisar de um pit stop. Com aqueles tanques extras, a Alfa virava o jogo e quem sabe, pudesse fazer a corrida inteira sem parar (naquele tempo, as provas eram longas maratonas de quase três horas, tão demoradas quanto os pit stops, que estavam longe da precisão cirúrgica e rapidez atuais). O pessoal da Ferrari "surtou". Em busca de uma melhor performance , resolveram tornar o carro mais rápido trocando as rodas de aro 18 pelas de aro 16. Largada, Ascari mantém a ponta e Fangio o acompanha. Na sexta volta , Piero Taruffi, piloto da Ferrari recorre aos boxes com problemas de pneus; na volta seguinte, outro ferrarista, Gigi Villoresi tem o mesmo problema e logo depois é a vez do líder Ascari, que deixa a liderança no colo do Fangio. O restante da prova pode ser resumido numa via crucis dos pilotos do Cavalinho Rampante, cujos pneus apresentavam um desgaste rápido causado pelas novas rodas.
 Nem o Cabezon Gonzalez escapou. E enquanto esse drama acontecia, o tranquilo líder Fangio também foi ao boxe para fazer...um pit stop. É verdade que sua Alfa tinha tanques extras, mas não havia uma gota sequer de gasolina neles. Estavam vazios. Tudo o que queria era induzir a Ferrari a um erro, ao tentar algo desesperado. De volta à pista, Fangio "passeou" até o fim das 70 voltas. Ganhou a corrida, o título e ainda fez uma "dobradinha" portenha com Froilan Gonzalez, segundo colocado e o melhor entre os Ferrari.

Fangio chega vitorioso em Pedralbes.

Giusepe Farina e a Alfetta Campeão do Mundo de 1950. 

 O terceiro foi o campeão anterior, Nino Farina com outra Alfa e por fim Ascari, um piloto infalível quando largava na frente, mas que tinha a tendência a desesperar-se quando andava no meio do pelotão. Estava reservado a eles, destinos diferentes. Fangio, sem equipe, procuraria refugio na Maserati. Em maio/52, sofreu um grave acidente em Monza, depois de passar uma noite inteira dirigindo para chegar a Milão. O cansaço o induziu ao erro e Fangio ficou quase um ano de fora das carreras, dando chance para Ascari brilhar. E o grande Alberto aproveitou: venceu o mundial de 1952 com um número absurdo de seis vitórias em 7 GPs. Em 1953, ainda com a Ferrari, foram cinco vitórias e de novo, campeão. Mas Fangio já estava recuperado e no campeonato de 53, tivera uma boa participação conseguindo três segundos lugares e uma vitória. Todavia o destino caprichoso mais uma vez intercedeu, promovendo nova ascensão do argentino e a queda fatal de Ascari. Mas esta é história para outro dia. Henrique Mercio
 
Juan Manoel Fangio e Tazio Nuvolari.
 
 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O HOMEM DO "CASCO" AZUL

Nos anos 1950/51 as Alfa Romeo haviam dominado o Mundial de F I, em 50 com Nino Farina e 51 com o incrivel Juan Manuel Fangio. Os motores desses dois primeiros anos da F I eram ou 1.500 cc com compressores ou 4.500 cc aspirados e no final de 51 as Alfas 1.500 cc chegavam a absurdos 410 hp. As Ferraris com um jovem Italiano vinham chegando perto, até andando na frente em alguns circuitos mas uma mudança na categoria se fazia nessessária para que outras marcas pudessem brigar por vitórias. Uns dizem que por medo das Mercedes Bens outros que por força do Comendador o certo é que a FIA através da CSI mudou o regulamento para os campeonatos de 52/53 e como não havia tempo suficiente para novos carros e motores resolveu adotar o regulamento da Formula II para aquelas duas temporadas. Ou seja motores até 2.000 cc aspirados.


Alberto "Ciccio" Ascari cujo pai Antonio havia pilotado junto com Enzo e para Enzo na Alfa Romeo nasceu em Milão no ano de 1918 aos sete anos perde seu pai. Antonio vinha liderando o GP da França em Montlehly com uma Alfa Romeo da equipe comandada por Enzo quando sofreu o acidente fatal.
Começa sua carreira correndo de motos mas logo vai para os carros. A nefasta II Guerra Mundial atrapalhou as carreiras de grandes pilotos entre eles Ciccio que à época começava despontar como um grande piloto.
Logo após o fim da guerra retoma sua carreira incentivado pelo grande Luigi "Gigi" Vilorezi correndo de Maserati. Antes da atual Formula Um venceu correndo com a Maseti A6GCS da Officine Alfieri Maserati alguns GPs. Em 1949 já correndo pela Ferrari,com uma 166C vence o GP de Bari que no ano anterior havia sido vencido por nosso grande Chico Landi.

1950 começa a Formula Um e Enzo tendo perdido Farina e Fangio para Alfa Romeo contrata a jovem promessa junto com Gigi Viloresi e Raimond Sommer para defender as cores da Ferrari. Aquele ano e o seguinte foram da Alfa Romeo com dois grandes pilotos Farina e Fangio embora Farina se condoesse dos anos perdidos para a guerra.



Em 1951 Ciccio vence para Ferrari duas corridas, Nurburgring e enfrentando valentemente as Alfa Romeo consegue uma vitória espetacular no Templo Italiano do automobilismo Monza. Agora já era o idolo que os Italianos procuravam para dar continuidade a seus grandes nomes.





Em 1952 Ciccio Ascari foi arrasador venceu seis corridas do mundial com sua Ferrari 500 e foi finalmente campeão do mundo inconteste. Ainda encontrou tempo para corer as 500 Milhas de Indianapolis que de 1950 à 1960 faziam parte do calendario da Formula Um, classificou bem mas sua corrida com a Ferrari de 4.500 cc durou apenas quarenta voltas.


1953 começou o campeonato de forma arrasadora com três vitóriasa consecutivas ele e sua Ferrari pareciam imbatíveis. Em Bremgarten no GP da Suiça ele parte na pole e logo abre uma distancia enorme sobre Fangio com a Maserati A6SSG que ao final do campeonato começava a ter seu desempenho parecido com as Ferrari. Na metade da corrida um problema em um dos injetores de seus carburadores faz com que entre nos boxes, perdeu 1m30s mas voltou ainda em sexto lugar. Logo depois já está em terceiro atrás somente das duas Ferraris de sua equipe, Giuseppe Farina agora na Ferrari liderava seguido de Mike Hawthorn, pilotando à sua maneira tirava três segundos por volta de Hawthorn e em poucas voltas já encostava e o ultrapassava para ir em busca de Farina. Apesar de Farina saber que os boxes ordenariam a Ciccio manter posição ele vindo em um ritmo alucinante passou seu companheiro de equipe sem que Farina nada pudesse fazer. Dizem que esse foi o principio dos desentendimentos com Enzo Ferrari. Mas ele era novamente campeão do mundo, bi-campeão em duas temporadas em que pode mostrar ao mundo toda sua velocidade, garra e determinação.

Em 1954 Fangio foi arrasador com sua Mercedes Benz W196 tornando-se assim tambem bi-campeão do mundo de Formula Um. E Ciccio se despedia da Ferrari para tentar na Lancia repetir seus feitos. Em 1954 vence com uma Lancia D24 V6 a tradicional e prestigiosa Mille Miglia, era assim o heroi do povo Italiano, verdadeiro herdeiro do grande Tazio Nuvolari falecido em Agosto do ano anterior. As Mille Miglia neste ano passam por Mântua cidade natal de Tazio em sua homenagem.



Em 1955 com a Mercedes Benz se retirando das competições a Lancia vislumbrava alguma possibilidade de competir de igual para igual com as outras marcas. Ascari com 37 anos estava na plenitude de sua forma, dez anos mais jovem que Fangio ainda tinha muito tempo pela frente.



Em Monaco veio aquele acidente em que caiu no mar e nada sofreu e quatro dias após em Monza onde seu amigo Castelotti treinava com uma Ferrari Sport, antes de ir embora resolveu dar algumas voltas com o carro.

Na curva Di Viallone sua Ferrari escapa e Ciccio num treino que não era seu perde a vida. Hoje a curva de Monza é denominada Variante Ascari.

Aos trinta e sete anos, pai dedicado deixa uma filha e o filho Antonio, nome em homenagem a seu pai. Deixa também a Italia sem seu Grande Campeão, herdeiro legitimo de seu vitorioso pai Antonio Ascari e do Grande Tazio Nuvolari.




Por  Henrique Mércio e Rui Amaral : Nossa modesta homenagem ao Grande Campeão.
 
 

sábado, 20 de fevereiro de 2010

VANWALL

Fim da década de 40, Tony Vandervell decide que irá construir um carro de corridas genuinamente britânico e para isso resolve comprar um carro italiano, que eram então os melhores e desmontá-lo para ver como funcionava. Simples, né? Só que quando faz sua proposta à Alfa-Romeo, ouve dos homens da Equipe do Trevo um rotundo não (como diria um certo político). Determinado, Tony vai à Ferrari e com Enzo tem melhores argumentos. Ocorre que Vandervell era o representante para a Europa do rolamento Clevite, de paredes delgadas. Esse componente fora criado nos Estados Unidos e era muito empregado em aviões e melhorava sensivelmente o desempenho do fracote motor V12 da Ferrari. Falando às claras, Vandervell ameaçou interromper o fornecimento dos rolamentos para Enzo, se eles não fizessem negócio. Mas o Comendador sabia ser desaforado. O primeiro modelo enviado, um 125C era uma sucata remendada e Tony o devolveu. O mesmo destino teve o segundo carro e só o terceiro foi aceito, tornando-se a famosa Ferrari Thin Wall Special, pilotada por Peter Whitehead nas primeiras temporadas.
 Enzo Ferrari e Tony Vandervell tiveram outros desencontros. Ferrari achava que Tony o pressionava porque de alguma forma, ainda trabalhava para a BRM. Certa vez ele o deixou esperando por uma entrevista por três horas, o que fez Vandervell prometer que iria criar um carro para derrotar "os malditos carros vermelhos". Em 1954, nascia o Vanwall, primeiro campeão de construtores da F1. A Equipe só competiu até 1958 quando Vandervell, desgostoso com a morte de Stuart Lewis-Evans, decidiu encerrar suas atividades.
Três Vanwall na primeira fila do GP da Itália em Monza 1958, # 22 Tony Brooks, # 18 Stuart Lewis-Evans e #20 Stirling Moss.

Stirling Moss pela ruas do Principado no GP de Monaco de 1958, ano em que  seu companheiro Mike Hawthorn e o Vanwall venceram o mundial de Formula I.


Por Henrique Mércio