A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach
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terça-feira, 24 de novembro de 2015

A MULHER DE SATURNO

Von Tripps, Laura e Phil Hill em Aintree.

A temporada de 1961 estava sendo quase que amplamente dominada pela Ferrari e seu modelo 156 “Sharknose”. As vitórias divididas entre os pilotos da Equipe, Wolfgang von Trips e Phil Hill e o título disputado entre os dois. A fase era positiva, apesar do terrível acidente de von Trips em Monza, quando a disputa enfim terminou. Mas se nas pistas as coisas iam bem, em casa, havia uma crise se pronunciando. E a responsável foi a senhora de lenço na cabeça, comemorando a vitória de von Trips no pódio em Aintree. Mas quem era ela? Laura Dominica Ferrari, esposa de Enzo e mãe de Dino. Ocorre que esta matrona gostava de envolver-se na empresa do marido e sua interferência começou a irritar muita gente, como o gerente de vendas, Girolamo Gardini. Gardini disse a Enzo em carta que se a situação permanecesse, ele iria embora. Como resultado, caíram além de Gardini, o engenheiro de motores Carlo Chiti; o projetista Giotto Bizarrini; o chefe do departamento de competições Amadeo Dragoni; o chefe da fundição Fausto Galassi e o diretor de pessoal Enzo Selmi, além do diretor esportivo Romolo Tavoni e os pilotos Phil Hill e Giancarlo Baghetti, todos vítimas da chamada Revolução Palaciana. O expurgo durou de novembro de 1961 até setembro do ano seguinte, quando Hill e Baghetti saíram do time. Os rebeldes uniram-se e fundaram a ATS- Automobili Turismo e Sport, que estruturalmente, deveria funcionar como a Ferrari: comercializar veículos fora de série e reverter os lucros para a equipe de corridas. A nova equipe porém, não vingou e logo seus proponentes se dispersaram. Quanto à Scuderia, muitos poderiam pensar que Enzo Ferrari foi ousado e um homem de família. Por respeito à companheira de uma vida inteira, a mãe de seu querido filho Alfredino, ele não titubeou em descartar importantes colaboradores, homens com grande papel em sua equipe. Não se apressem. Embora tenha permanecido casado com Laura até a morte dela em 1978, o Comendador tinha uma relação com Lina Lardi, que lhe dera o filho Piero e ainda arranjava tempo para manter um outro caso, com Fiamma Breschi, antiga namorada do um ex-piloto da Ferrari, Luigi Musso. Como se vê, o contraditório Enzo de sempre, ou como uma vez o chamou o jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, um moderno Saturno, pronto a devorar seus filhos e seguir seu destino.

CARANGUEJO

Monza 1961 as Shark Nose dominavam com Von Tripps, Phil Hill, Richie Ginther e Ricardo Rodriguez...
Phil Hill o vencedor na única Ferrari à terminar, uma amarga vitória...
  ...o acidente de von Tripps na entrada da Parabólica...
Von Tripps
O HOMEM DE KERPEN
O marido de Laura entre Didier e Gilles.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

TAZIO


 Agosto de 1953, morreu o Mantovano Volante. Não mais teríamos o espetáculo, o fogo, a arte do genial Tazio Giorgio Nuvolari, o primeiro Gigante das Pistas. Ao saber da notícia, Enzo Ferrari parte para Mantua, mas se perde no labirinto de estradas do lugar. Resolve parar para pedir informações e avista a casa de um latoeiro. Desce do carro e pergunta ao velho profissional, o caminho para a casa de Nuvolari. O artesão deixa o que está fazendo e ao invés de responder, circunda o carro de Ferrari. Ao avistar a placa de Modena, ele parece compreender, aperta a mão de Enzo com vigor e sussurra: “Obrigado por terem vindo. Um homem assim não vai nascer de novo”.

Tazio numa Alfa Romeo da equipe comandada por Enzo.

CARANGUEJO


Com Vincenzo Flório 

Certas vezes o Caranguejo me surpreende como hoje. Sem combinarmos meu amigo me envia este pequeno e sublime texto sobre nosso grande herói. Sobre o Tazio sempre conversamos muito e ele sabe que quem me apresentou a épica carreira do Mantovano Volante foi Adolfo Cilento outro grande amigo e piloto de primeira. Na época apesar de ler muito sobre automobilismo Tazio era uma lenda distante...agora graças ao Caranguejo a lenda continua presente em nossas páginas.

Abraços

Rui Amaral jr 





sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O GAROTO

O Mantuano na época da Auto Union.

Na Alfa Romeo P3 




A grandeza de um homem pode muitas vezes ser mensurada pela riqueza das histórias que ele deixa atrás de si. Na Targa Florio de 1932, TAZIO NUVOLARI, aquele que segundo um monumento em sua honra na cidade de Roma é o último dos grandes pilotos antigos e o primeiro dos grandes pilotos modernos, foi informado que deveria levar um mecânico como acompanhante durante o percurso da prova. Franzino e magro, Nuvolari foi falar com Enzo Ferrari, então seu chefe de equipe na Alfa-Romeo e pediu que lhe fosse designado um auxiliar que pesasse tanto ou menos do que ele. Enzo encontrou um jovem mecânico, tão magricela quanto o mantuano. Preocupado que sua condução pudesse assustar o garoto, Nivola combinou com o parceiro que o avisaria quando estivessem se aproximando de algum ponto de maior perigo durante a competição. Ele então deveria se abaixar atrás do painel e só sair de lá quando a dificuldade tivesse passado. No fim da prova, mais uma vitória de Tazio, Enzo foi perguntar ao mecânico como tinha sido a experiência. “Nuvolari começou a gritar na primeira curva e só parou na última. Estive deitado no fundo do carro o tempo todo”, contou o garoto.



Na Vanderbild Cup 1938.



CARANGUEJO


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NT: 35, 40, talvez mais, tantos são os posts que o Caranguejo e eu escrevemos sobre o Mantuano e certamente vamos continuar...abaixo um link que leva à vários posts escritos pelo meu parceiro ou por mim...Tazio vive!


Rui Amaral Jr

sábado, 8 de agosto de 2015

SORTE E AZAR

  1964 - Big John vence o mundial pilotando a Ferrari 158 no GP do México, nesta corrida sua Ferrari foi inscrita com as cores da NART - Nort American Racing Tean - de Luigi Chinetti. 
1966 - Spa sua derradeira vitória com a Ferrari 312/66.
1966 - Big John vence no México com a Cooper T81/Maserati.  

Displicentemente, coloco um comentário em uma boa série de fotos da Fórmula 1 nos anos sessenta, mostrada pelo Rui no “Histórias...” e cito que Chris Amon quase foi para a Cooper em 1966. É o bastante para o Rui sugerir que eu conte algo a respeito. Pois bem. Em 1966, a Itália estava convulsionada por greves, que atingiram a Ferrari S.E.F.A.C. em cheio. A equipe, que normalmente inscrevia três carros nas 24 Horas de Le Mans, naquele ano viu-se forçada a competir apenas com dois. Os belos modelos 330 P/3 foram confiados a Mike Parkes/Ludovico Scarfiotti e Jean Guichet/Lorenzo Bandini. Para Enzo Ferrari estava ótimo, principalmente depois que seu assecla, digo, associado norte-americano, Luigi Chinetti, inscreveu uma 330 P/3 Spyder da NART para Richie Ginther/Pedro Rodriguez. Todo o mundo tá feliz? Não, John Surtees, primeiro piloto da Ferrari e campeão mundial F1 em 1964 não estava. 

1966 - Le Mans a bela 330P 
 1966 - A vitória arrasadora da Ford em Le Mans com Bruce e Chris no 1º lugar.

Il capo da Ford cumprimenta os vencedores...

Surpreso pela ausência de seu nome entre os inscritos, foi tomar satisfações com o chefe da equipe, Eugenio Dragoni. A resposta que recebeu o deixou perplexo – e furioso. Dragoni disse-lhe que não tinha certeza das condições físicas do Big John pilotar em uma prova de longa duração, após o gravíssimo acidente que sofrera em Mosport Park, com uma Lola T70 (diz a lenda que Surtees ficou com um lado do corpo quatro polegadas mais curto que o outro). Como precaução não era exagero, não fosse pela tal batida ter acontecido nove meses atrás. Surtees sempre fora um sujeito mirrado e ele tivera um bom começo de temporada em 66, concluindo o International Trophy em segundo lugar e liderando o GP de Mônaco até ter problemas. 

 O acidente com a Lola T70 em Mosport Park


Em Spa, prova debaixo de um aguaceiro torrencial, enfim, vitória. E eram resultados importantes, uma vez que o regulamento mudara outra vez e todos estavam desenvolvendo seus motores de 3 litros. Sentindo-se desprestigiado pela Ferrari e perseguido pelo “Perfumista” Dragoni (antes de seu envolvimento com o automobilismo, Eugenio Dragoni tocava uma fábrica de cosméticos no norte da Itália), Surtees refugiou-se na Cooper. Em sete provas, venceu uma (México), fez um segundo (Nurburgring), um terceiro (Watkins Glen) e teve quatro abandonos (Reims, Brands, Zandvoort e Monza), terminando a temporada como vice-campeão mundial. De certa forma, John Surtees riu por último: a Ferrari amargara a primeira de suas derrotas para a Ford em Le Mans e na Fórmula 1, com seu Cooper-Maserati, ainda ficara à frente da antiga equipe. Mas esse troca-troca pode ter prejudicado a alguém. 

A foto! Chris ou Bruce na McLaren/Sereníssima, o capacete é de Chris.
1966 - Big John em Spa
1965 - Rodando com a Ferrari 158 em Zandvoort.
1964 - Mauro Forghieri, Big John e Dragoni. 

É neste momento que Chris Amon entra em nossa história. Christopher Arthur era então um jovem promissor da Nova Zelândia, protegido de Reg Parnell. Chris, depois de três anos conduzindo os Lotus privados de Parnell, acertara com a Equipe Cooper. Porém, depois de um oitavo lugar em Reims, o time optou por Surtees, o refugiado da Ferrari e com um prontuário mais interessante. O abandonado Amon ainda tentou classificar um Brabham BRM em Monza, mas não teve...bem, vocês sabem o quê. Então quer dizer que Chris Amon só teve frustrações em 1966? Eu não diria isso. A partir desse ano, seu capacete branco com detalhes em azul e vermelho, tornou-se icônico para o automobilismo em todo o mundo, graças ao filme “Grand Prix” e a ligação com o protagonista Pete Aron (James Garner). Amon, em parceria com o conterrâneo Bruce McLaren venceu as 24 Horas de Le Mans/66 com o mitológico Ford GT-40 MKII e foi essa vitória que o fez conhecer Enzo Ferrari, que o contratou para a Scuderia no ano seguinte. Claro, que quando estava a caminho para a Corrida dos Campeões/67, ano de estréia na Ferrari, ele bateu seu carro particular quando se dirigia a Brands Hatch, mas devemos dar um desconto...

1967 - Chris Amon e a Ferrari 312/67 no GP da França no circuito Bugatti em Le Mans.



CARANGUEJO

Bruce
Pace e Big Jonh.
1966 - Um ilustre "velhinho" se prepara para assumir seu lugar no cockpit de seu F.Um, quem seria? 

terça-feira, 14 de julho de 2015

1973...


Costumo dizer que a temporada de 1973 foi traumatizante para mim, enquanto torcedor. Emmo perdendo o campeonato mundial para o Jackie Smart, a morte do Williamson e no final do ano, as tragédias do Cevert, do Pedro Carneiro Pereira e do Iglesias no espaço de 15 dias. E depois, eu levando pau na 5ª série!!
Hoje, dando uma pesquisada, achei flagrantes de dois momentos cruciais daqueles tempos. 
Emmo, depois daquele toque no Scheckter em Paul Ricard, quando começou a perder o título da temporada e uma sequência do acidente de Cevert no Glen. Repare que na terceira delas, Jody acena desesperado por auxílio.

Coisas que marcam.

Caranguejo

link





São longos nossos papos, o Caranguejo e eu comungamos das mesmas paixões, este é apenas um e-mail que hoje recebi dele, à mim a morte nas pistas também traz um gosto amargo desde o longínquo 1963 quando com onze anos assistia os 500 KM de Interlagos e das arquibancadas soube da morte de Celso Lara Barberis, depois infelizmente presenciei algumas que nem gosto de lembrar.

Aos que se foram fazendo o que gostavam e sabiam.

Rui Amaral Jr 
     

sexta-feira, 3 de julho de 2015

RAÇUDO


O olhar de "demônio" descrito por Revson...


Se o nome do belga WILLY MAIRESSE não é encontrado na lista dos pilotos de maior destaque na F1, seguramente iremos encontrá-lo na relação dos pilotos que não se entregavam, dos raçudos e corajosos, dos que lutavam até o fim. Wilhelm Mairesse iniciou sua carreira com 25 anos e no começo, destacou-se nas provas de Turismo e com os resultados obtidos, ganhou espaço na Ecurie Nationale Belge, o que lhe propiciou contato com a Ferrari. Mas Enzo só o chamou para a Scuderia quando reparou na rivalidade entre Mairesse e Olivier Gendebien, o “belga da Ferrari”. 

 Com a Sharknose...

Em Bruxelas 1962 perseguindo a BRM de Tony Marsh...

Em 1960, participou de seus primeiros GPs, após estrear em Spa-Francorchamps. Nessa prova, deixou claro que não estava para brincadeiras, disputando posição com Chris Bristow até o inglês recém-chegado acidentar-se, caindo em um barranco. Bristow não sobreviveu. Mairesse, no GP da Itália daquele ano, conseguiu seu primeiro pódio, chegando em terceiro. Na temporada seguinte, a Ferrari contava com tantos pilotos –Von Trips, P.Hill, Ginther, Ricardo Rodriguez e até Gendebien – que Willy pouco apareceu, mas foi o segundo colocado nas 24 Horas de Le Mans, em dupla com Mike Parkes. Em 62, ao comando da Ferrari 156 Sharknose, dá mais uma demonstração de sua força em Spa, em uma grande disputa com Trevor Taylor e sua Lotus. Após muita troca de posição, eles acabaram batendo. A Ferrari de Mairesse capotou e pegou fogo, mas ele escapou com algumas queimaduras, enquanto a Lotus de Taylor batia em um poste. Nessa temporada, teve mais sorte nos GPs extracampeonato e venceu a prova de Bruxelas e o GP de Nápoles, ambos com a “Sharknose”. Venceu também a Targa Florio, num trio com Ricardo Rodriguez e Olivier Gendebien (Ferrari Dino 246SP). Em 63, venceu os 1.000 km de Nurburgring com John Surtees, pilotando a Ferrari 250P, mas na F1, começou uma rivalidade, algo típico da sua personalidade, com o próprio Surtees. 

 No Principado em 1963 com a Ferrari 156/63

1967 Le Mans com a Ferrari 330P4
O GT40 de Le Mans 1967
Vencendo a Targa Florio 1966 no Porsche 906 Carrera6 com Herbert Muller...O contraste com o sorriso quase infantil de Herbert!

No GP da Alemanha daquele ano, forçou o ritmo para juntar-se ao inglês quando perdeu o controle na Flugplatz e capotou várias vezes. Com uma fratura no braço, ficaria de fora das pistas por algum tempo, fazendo uma tentativa de retorno através do BRM da Scuderia Centro Sud, na Bélgica em 65, em sua última apresentação na Fórmula 1. Mas manteve-se ativo nos Sportcars, sempre se destacando e vencendo a Targa Florio em 1966, correndo com Herbert Muller num Porsche Carrera 6. Destemido, intimidava seus concorrentes, embora não se utilizasse de manobras antidesportivas. Peter Revson o enfrentou nas curvas de Spa e declarou depois: “Durante a prova, olhei para Mairesse: face deformada, sobrancelhas cerradas, olhos fora das orbitas num rosto vermelho. Era como olhar para o demônio”. 

O GT40 após o acidente em Le Mans 1968.

Mas seus dias de competição viril estavam chegando ao fim. Em 1968, estava testando um Ford GT40 em Le Mans, quando uma porta mal-fechada o fez perder o controle e bater em uma casa. Resgatado, permaneceu em coma por algum tempo. Mas despertou e quando percebeu que devido às seqüelas do acidente, não poderia mais competir, tudo o mais perdeu o sentido. Willy vivia para correr, corria para viver. Em setembro de 1969, suicidou-se num hotel em Oostend, no litoral belga, após ingerir uma dose fatal de comprimidos. Tinha 40 anos.

CARANGUEJO