O ano começava magico,
Luiz, Anísio e Walter montavam uma grande equipe que logo estaria nas pistas.
Em março eu finalmente iria estrear. Cascavel, hoje autódromo Zilmar Beux,
Tarumã e outras pistas entravam no circuito, finalmente os pilotos brasileiros
teriam onde acumular experiencia e nosso automobilismo poderia sair do eixo São
Paulo, Rio de Janeiro, evoluindo para o profissionalismo.
No final do ano anterior
Emerson havia vencido nossa primeira corrida na Formula Um, e agora era titular
e primeiro piloto de uma equipe de ponta. Fora as grandes vitórias dele com a
Lola T210 em Interlagos e Tarumã. Carlos Pace e Wilson Fittipaldi brilhavam na
Formula Dois e muitos de nossos pilotos rumavam ao Velho Continente.
Nas pistas brasileiros
e argentinos disputavam desde há muito, talvez desde a década de 1930, no começo
dos anos de 1960 foram trazidos muitos carros antigos da Formula Um, que
adaptados com motores “de rua”, altamente preparados, geralmente V8, era
Formula Continental. Eles tinham dois pilotos vitoriosos na Formula Um,
Gonzalez e Fangio o Quintuple, que com seus cinco títulos mundiais muito fez
pelo automobilismo local.
Agora a disputa era com
os carros que disputavam o Mundial de Marcas, e o Torneio Sudam começou no
templo gaúcho...
Do lado brasileiro
alguns dos melhores carros que corriam por aqui.
A equipe Brahma do Rio
de Janeiro com a Lola T70 para Norman Casari, o Casari A1 para Jan Balder e o
REPE para Renato Peixoto.
A fera Antonio Carlos
Avallone com sua Lola T70.
P.V de Lamare com o
Bianco com motor Chevrolet.
Zé Pedro Chateaubriand
com Puma.
O paranaense Luis Moura
Brito com um protótipo motor VW.
Dino de Leone com o
protótipo Aragano.
O grande Breno Fornari
com um Regente (!)
E Tite Catapani com a
Lola T210.
Na corrida pela Copa
Brasil no ano anterior Emerson fez a pole com a T210 com o tempo de 1`7”, Tite,
nesta época começando no automobilismo virou 1`11” fazendo a pole e tendo ao
seu lado Jorge Ternengo.
Muitos carros quebraram
e nesta primeira bateria P.V de Lamare chegou em segundo.
Na segunda bateria,
mesmo tendo Tite largado em quarta marcha por problemas na embreagem, logo
assumiu a ponta, vencendo com Norman Casari em segundo duas voltas atrás.
Bem...escrevi tendo
como base a revista Quatro Rodas, que era excelente nos testes de carros, mas
precária no automobilismo nacional, nas matérias importadas com grandes nomes
assinando era passável, de minha parte ficava com a Auto Esporte e Auto Sprint.
Algo que desejo
comentar há muito é sobre a bela Lola T70, um grande carro que nunca deu certo,
nem aqui e muito menos lá fora, mesmo nas mãos de grandes pilotos. Aqui Norman
e Avallone e lá fora com Jo Bonnier, David Piper e outros. Talvez as maiores
vitórias dela tenham acontecido em Interlagos nas mãos de Wilsinho Fittipaldi e
também na CanAm, com o modelo aberto, nas mãos de Big John Surtees.
PS: As duas T70 ao
final deste ano estavam acabadas, a da Brahma pegou fogo na tomada da curva
Três em Interlagos nos treinos para os 500 Quilômetros de Interlagos, Norman
nada sofreu. A do Avallone também nos treinos, acredito que na Copa Brasil,
Marinho Antunes bateu logo após a linha de chegada em Interlagos, Expedito Marazzi
e eu estávamos do outro lado embaixo das arquibancadas conversando e vendo o
treino. Ainda falai para ele uma ou duas voltas antes da panca “velho a Lola
está chimando, alguma coisa errada na suspensão dianteira...”. Não deu tempo de
falar com ninguém pois logo a seguir ela bateu no guard rail e capotada começou
a pegar fogo.
Lembro de minha angustia, certamente do Expedito também com a demora do Marinho Antunes em sair...quando finalmente saiu lembro de seu cabelo na parte de trás do capacete chamuscando, estava sem a touca. A Lola queimou muito tempo...
A Quatro Rodas fala em Torneio Sudam, acredito que o correto é Sulam, masss...
...a credencial de minha participação no Torneio Sulamericano, talvez tenha me confundido por este motivo. Corri as duas etapas de Interlagos, ainda Novato pela equipe De Lamare como notase pelo número do carro.
Esse 'post' atenua um pouco os efeitos de uma tragédia informacional: a falta absoluta de informações sobre o automobilismo brasileiro desse período tão rico. COnstruímos protótipos, construímos monopostos, desenvolvemos uma indústria automobilística de competição e não há informação disponível, salvo esses resgates deliciosos do Histórias.
ResponderExcluirSão muitos temas no 'post', mas, por enquanto só indico que achei algumas referências a 'Sudam" como nome desse torneio incrível.
Carlos de Paula também designa "Sudam": http://prototiposnobrasil.blogspot.com/2013/.
O lema do Torneio poderia ser: "Improviso? Às vezes. Tédio, jamais!" Era inovação na veia, em aerodinâmica, motorização, chassis e tudo o mais.
Sabe Walter, certo dia no começo do Histórias liguei para CBA pedindo meu prontuário desportivo, não existe nada, nem lá muito menos na FASP! Alguns dizem que pegou fogo, outros que foi tudo jogado fora, resultados de corridas e tudo mais, acredite se quiser.
ExcluirNão havia encontrado este post do Carlos, meu amigo e guru, vou ler com atenção para os próximos capítulos do Torneio Sudam.
Gostaria também de perguntar ao Jan mais sobre a equipe Brahma, afinal não lembro qual a motorização do belo REPE, e muito menos qual a procedência do chassi do Casari A1 que usava motor Ford V8, dois belos carros.
Cerca de trinta anos atrás doei minhas coleções de Auto Esporte, Auto Sprint e muito mais, hoje pesquiso nas QR, na memória e nas conversas com os amigos, fora alguns sites confiáveis, é muito pouco.
Muito a falar e escrever, as vezes desanimo.
Chegando aos setenta anos e apesar de não ter nenhum cabelo branco minha memória as vezes falha.
Muito que escrevo tiro dois longos papos com dois amigos queridos, o Chico e o Ricardo. Ricardo o grande mestre da FEI teve uma isquemia e tem alguma dificuldade ao falar, mas o raciocínio continua a mil, brilhante como lembro desde os nossos vinte anos. Outro dia em Interlagos eu respondia a uma pergunta técnica a um amigo, e quando fui me referir aos coxins, de motor e câmbio, que usávamos nos VW D3 a palavra não vinha de forma alguma. Ricardo sabia o que eu queria dizer, mas também não conseguia falar, mas virando-se apontou para uma vitrine de um dos vendedores onde havia coxinhas para vender. Acredite se quiser.
Gostaria muito de monetizar o Histórias, até para remunerar os amigos que aqui escrevem, mas não quero perder essa autenticidade, essa maneira de escrever.
Vc exagera nos elogios, sou, ou somos apenas contadores de histórias que com a graça de Deus temos seguidores, hoje amigos como vc.
Um abração.
"coxinhas"! Essa é demais...
ExcluirGosto do ditado 'do que tem, nada falta'.
O Histórias existe, porque tem alguma coisa e disso se tem contado a história completa: genial!
Imagine gravar os depoimentos dessa gente, não uma entrevista de uma hora, uma gravação de depoimento, duas horas, três horas (pode ter de fazer em mais de uma 'etapa'). Lameirão, Jan Balder, Crispim, Achcar, DeLamare.. Isso sem falar nos filhos, como Nino e Ferava (do Avallone), que também podem ajudar. O áudio da entrevista, pode virar texto, com o reconhecimento de caracteres, barateia, fica fácil. Com Google Translate, dá para verter para inglês e espanhol...
No caso do Ricardo, que tem dificuldades de fala, ele não escreveria? Lameirão escreve muito e escreve divertido, é uma delícia.
Um 'vêio' interessante são os negativos: é uma coisa que todo mundo tem algum, jogado no alto de um armário. Digitalizar custa, mas os filhos e netos desses pilotos, preparadores, construtores, devem ter algum negativo interessante. Digitalizar custa dinheiro, mas eu achei umas fotos minhas no 'grid' da Divisão 4, em 1973: DeLamare, Lameirão, Avalone bem na foto.
A monetização vem com o conteúdo. Se der uma 'enriquecida', com videos e periodicidade...
Muito obrigado pela dedicação, amigo Rui!
S E N S A C I O N A L, Alicatão-Mestre!!!!
ResponderExcluirComo bem disse o Walter, um "período tão rico" do nosso automobilismo!
Abraçalhão empoeirado
Valeu Alica, abraçalhão fraterno, saudades.
ExcluirImaginem só: duas corridas de uma hora, no mesmo dia! que delícia. Mas era natural que quebrassem tanto: era a mecânica daqueles tempos.
ResponderExcluirNa minha memória, a Lola T70 é o carro mais lindo que vi na vida: tenho a memória da Lola amarela do Wilson, subindo da Junção e fazenda a reta dos boxes, roncando alto, balançando muito, um show. Mas são carros de figuração. Aliás, só isso pode explicar sua posição nesse 'grid' desta foto no post: seus gentlemen drivers' não eram pilotos à altura do carro e ficavam para trás de carros menos velozes.
Vejam que não havia 'Balance of Power' (o tal BOP dos protótipos de hoje em dia): era tudo misturado e os carros ficam voltas atrás uns dos outros. Mas era lindo, atrativo.
E por que acabou? Porque era muito caro...
Sobre os argentinos: tenho muito respeito por eles e gostaria de ver mais corridas de confronto direto. Foram muito poucas (seis? sete?). Os protótipos acabaram, lá como cá.
Que lindo post, rico de fatos e de fotos, obrigado ao Histórias!
Caro Walter, eu tenho scanner pra negativos e posso fazer (gratuitamente e com o maior prazer) os de automobilismo, basta fazer chegar até meu endereço.
ResponderExcluirAbração
Valeu Alica, tanto para fazer e nós com essa vontade imensa de contribuir, obrigado meu amigo.
ExcluirObrigado, Francis! Agradeço a generosidade.
ExcluirEu digitalizei meus negativos há anos atrás, pretendo encaminhar as duas fotos que tenho ao Ruy.
Abração!
É o mínimo, Alica-Mestre! #tamojunto
ResponderExcluirSempre à disposição!!!
Super abraçalhão
Sudam é como os argentinos falam e Sulam é como falamos, Sulamericano.
ResponderExcluirObrigado meu amigo, um abração!
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