Sabe quem é "o
cara" da foto? Não?
Então vou contar:
Danilo Julio Afornali
nasceu em 28 de setembro de 1935, em Curitiba, Paraná.
Começou a trabalhar com
mecânica de motocicletas em 1950 e nunca mais parou. Exerce essa função ainda
hoje e mesmo aposentado, continua trabalhando na área.
Sua carreira como
piloto começou no fim dos anos 50, precisamente em Abril de 1959 quando então,
preparou um CZ 150 para correr na pista de terra (saibrada) de Joinville,
famosa naquela época por sediar corridas de alto nível, nacionais e
internacionais.
Na sua primeira
participação em corridas oficiais, conseguiu um honroso 3º lugar !
Dentro de sua carreira
como piloto, disputou títulos com vários nomes da época como Ubiratan Rios,(que
foi seu funcionário na antiga oficina na rua Presidente Farias - Curitiba),
Lucílio Baumer (Joinville), enfim, pilotos que hoje tem seu nome escrito na
própria história do motociclismo brasileiro.
As máquinas eram
diferentes e as pistas também, eram máquinas muito potentes para a época mas
que tinham um conjunto que nada facilitava sua tocada, dentre elas pilotou HRD
Vincent 500 e 1000, BSA Goldstar 500, BMW 500, Rumi 125, AJS 500, Indian e
CZ's, sempre trabalhadas para competição.
A falta de importação
obrigava até a fabricação de peças para reposição, o que tornava este esporte
ainda mais artesanal !
De todas as máquinas
que pilotou, a que mais deixou saudades foi a velha HRD 1000, que com a palavra
deste senhor hoje beirando os 82 anos subscrevo-me:
Sr. Danilo: " ---
Nada aguentava ... todas derretiam ...Triumph, AJS, Matchless, Indian... foi aí
que resolvi comprar uma HRD, adquirida no Edgard Soares... essas não enguiçavam
... depois disso, comecei a ganhar corridas e nunca mais parei ... nem quebrou
a motocicleta !"
Foi esta máquina que o
consagrou como "o pequeno grande piloto", dado os seus 1,64 m de
altura e seus 54 quilos !
A consagração
definitiva veio quando venceu em Joinville com a HRD Vincent 1000 ... até então
os catarinenses eram insuperáveis em sua pista ... corridas eram realizadas e
sempre vencidas por pilotos locais ... Danilo, com sua HRD 1000 conseguiu
derrotar essas máquinas na categoria Fórmula 2 (Força Livre) , sendo o único
piloto até então que conseguiu pilotar uma máquina deste porte em pista de
terra e quebrar a série de vitórias ininterruptas dos catarinenses em sua
própria pista !
Sr. Danilo: "---
Era uma máquina muito pesada ...eu conseguia fazer as curvas somente no
motor... usava 3 das 4 marchas quase na pista toda ... no velocímetro via o
ponteiro a quase 160 km/h, quando era a hora de colocar a 4ª marcha, reduzir
novamente e preparar para a freada ... a reta ainda era curta ... mesmo no fim
da reta, tinha às vezes que controlar a mão, pois mesmo naquela velocidade ela
ainda patinava e queria levantar a frente ... os pneus daquela época ?? Eram
Avon, ingleses ... eram lisos e para asfalto !"
Depois desta vitória,
propostas para integrar a seleção nacional surgiram mas como o esporte era
amador, era mais importante trabalhar, manter sua família e deixar as corridas
somente para os domingos quando aí sim, tudo se encaixara perfeitamente.
Sua carreira oficial
acabou no fim dos anos 60 , tendo como resultado 7 títulos Paranaenses
praticamente consecutivos, um Campeonato Sul-Brasileiro (1965) incontáveis
vitórias extra-campeonato e a participação em algumas corridas a nível nacional
e internacional ...
Participou de uma 500
Milhas Internacional em Interlagos (1971), fazendo dupla com seu antigo rival
Ubiratan Rios, conseguindo a dupla nesta competição um 5º lugar !
Dentre sua
participações a nível nacional, lembra em Interlagos em 1962, com a famosa
Lambretta 111, recordista deste circuito e que fora dos irmãos Tognochi. A
mesma havia sido comprada recentemente após uma corrida em Curitiba e ele como
piloto oficial daquela equipe, a Cicles Bittecourt, pilotaria nesta prova:
--- "Fui para
Interlagos e nem sabia o traçado da pista ... dei 2 voltas e olhamos a vela ...
mais 2 para acertar a carburação sob os olhos de Gualtiero Tognochi ... nas 2
voltas seguintes, igualei o recorde da pista, que era de Paulo Tognochi ... durante
as 2 horas da prova, liderei 1:45 minutos ... no final da reta oposta, com a
mão no fundo, furou o pneu ... ainda consegui fazer a curva, mas não deu pra
segurar ... e caí !
Chorei !!! Perdi a
chance de ganhar a corrida que valia a Taça Centauro !!!"
A época das Lambrettas
tem histórias engraçadas... Giovanni Sgrô, proprietário da Italmotoneta
participava das corridas como preparador (Equipe Italmotoneta) que disputava
diretamente com a Lambretta de Carlo Papagna (Casa das Motonetas)... a
rivalidade entre estas duas equipes era imensa... as Lambrettas de Carlo e
Giovanni eram máquinas muito bem feitas e equivaliam-se, sendo a de Carlo
Papagna preparada pelos seus amigos Tognochi de São Paulo e a de Giovanni Sgrô
por ele próprio... numa destas corridas, na pista mista de São José dos Pinhais
(parte saibro/parte asfalto), Danilo estava sentado no barranco ao lado da
reta, desolado, pois sua Rumi 125 havia quebrado na bateria anterior, quando de
repente, ouviu chamarem, ... era Carlo Papagna, que havia largado na bateria
anterior e obtido um segundo lugar (a Lambretta de Giovanni havia ganho a
primeira bateria) e que acabara de avistar Danilo sentado, assistindo a
continuação das provas... Chamou-o para a pista e não dando-lhe tempo para
indagar, colocou-lhe o capacete meio que às pressas e disse-lhe olhando nos
seus olhos:
Sr: Papagna: ---
"Chegue na frente daquela lá, só dela!!! Não importa a posição, mas chegue
na frente!!!"
Esta foi a sua primeira
corrida com Lambrettas... nem ao menos tinha treinado ou dado uma volta com tal
máquina... conseguiu ainda, sob a autorização da direção de prova, dar uma
volta na pista e conhecer a máquina...
Danilo largou e assumiu
a ponta trazendo no seu encalço a Lambretta de Giovanni Sgrô... na disputa pelo
primeiro lugar, as máquinas e os pilotos eram de níveis próximos e a briga pela
primeira colocação intensa... a pista acabou ficando estreita para os pilotos
que no calor da batalha, acabaram se enroscando...
Sr. Danilo: ---
"As máquinas andavam iguais de reta e não existia diferença... na parte
mista do circuito, fomos dividir uma curva e ele ficou por fora... Na ânsia de
tentar voltar para dentro da curva, ele acabou perdendo o equilíbrio e caiu por
cima de mim... Minha sorte foi que estava acelerando e o motor tinha um torque
violento de baixa... na retomada, consegui sair dele, meio avariado, mas
saí..."
Danilo que teve mais
sorte, levou a Lambretta Iso de Carlo Papagna para a Vitória... ela estava
inscrita na categoria Força Livre e arrebatou o prêmio do dia... desta forma,
Danilo assumiu a pilotagem desta máquina naquele ano e trouxe muitas glórias
ainda para a Equipe Casa das Motonetas...
Também ganhou a corrida
de inauguração do atual Autódromo Internacional de Curitiba (1967) pilotando
uma BMW 500 de 1951 modificada para a prova.
--- "A BMW resolvi
modificar um pouquinho ...mandei fundir 2 pistões maiores e cabeçudos,
trabalhei válvulas e cabeçotes ... foi para quase 650 cc... para complementar,
coloquei 2 carburadores maiores e o resultado foi assombroso ! Além dela ficar
rápida, as marchas eram elásticas e rapidamente o ponteiro do velocímetro
engolia os 190 km/h !"
Trabalhou também como
mecânico-preparador, pois um piloto aposentado, não consegue viver fora das
pistas ... angariou diversos títulos em cada categoria que passou...
Vice-Campeão Paulista nas TZ 350 com Adilon Mendes, em 1980 e Vice-Campeão
Brasileiro na mesma categoria assessorando Ubiratan Rios, em 1981 e 1982 ...
entre outros !
Participou também como
preparador nas corridas de velocidade na terra e em diversas cilindradas .
Nos anos 70, o
motociclismo no Paraná ficou jogado ao ostracismo e o autódromo de Pinhais
(Internacional de Curitiba) abandonado ... os campeonatos praticamente inexistiam
e o que se fazia para que o motociclismo não desaparecesse eram provas
esporádicas...
Dentre essas provas,
destacam-se as seguintes participações como preparador:
Prova de aniversário de
Curitiba (1969) sob a pilotagem de Ubiratan Rios com uma Ducati Diana 250 de
rua ... esta Ducati, no dia anterior, teve problemas no comando de válvulas que
desgastou pelo entupimento num caninho de óleo... o comando foi refeito durante
a madrugada com solda oxigênio e uma mola de amortecedor (acredite se quiser !),
limado até casar nos graus certos , polido e retemperado com maçarico, óleo e
prusciato ... no domingo, Ubiratan liderou a corrida deixando para trás a
Aermacchi Alla D´oro pilotada por José Ferreira de Carvalho, sendo essa
especial de fábrica ! Liderou mais de 2/3 de prova e abandonaram por fatídicos
problemas elétricos !
Preparou uma Yamaha RD
250 para uma prova extra-campeonato em 1976, que pilotada por Mauro Bernoldi
venceu a categoria Força Livre, sendo que nessa participavam motocicletas de
concessionárias de Curitiba, como a exemplo de uma Honda 750 Four com Kit
especial de fábrica 900 cc, que ficou em 2º lugar !
Nunca deixou de
coexistir com este esporte nem com o ronco dos motores ... nunca desistiu da
velocidade ...
Dos velhos tempos
sobraram apenas as lembranças e as marcas de acidentes ocorridos nas
competições ... sobraram também alguns troféus, medalhas, pistões, enfim, uma
série de lembranças que jamais se perderão enquanto houver alguém que se
interesse pelo passado das motocicletas e por esses homens que fizeram a
história do motociclismo !
Será que temos
história?
Marcelo Afornali...
Lembre-se:
Somente quem guiou um
carro de corridas e sentiu a sensação da velocidade, sabe porque tantas pessoas
deram a sua vida pelo esporte!!!!
"Sono i dettagli
che fanno la differenza!!!"
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Sim...sei muito bem quem é Danilo Julio Afornali pois através de minha amiga e colaboradora do Histórias Graziela Rocha conheci o grande jornalista Ari Moro e através dele as histórias do grande Danilo. Mais tarde minha querida amiga Regina Calderoni me apresentou seu filho Marcelo Afornali, piloto de kart e Maestro Restaurador dessas pequenas grandes máquinas, que entre tantas outras atribuições é amigo e parceiro de meu grande amigo Claudio Zarantonello.
Quero deixar aqui meu fraterno abraço ao senhor Danilo, minha admiração, respeito e carinho.
Tomo a liberdade de lembrar aqui, entre tantos amigos motociclistas como eu, três que lá do alto certamente olham por nós... Edgard Soares, Expedito Marazzi e Nivaldo Correa.
Rui Amaral Jr