Pode ser que esteja muito enganado, afinal sobre a Formula 3 dos anos 1970 escrevo de memoria e lá se vão cinquenta anos. Em 1973 ou 74 recebi uma carta de meu amigo Teleco – Luiz Antonio Siqueira Veiga -, nela conta que depois de sua temporada de estreia na categoria, correndo com um March, havia recebido uma oferta para correr a temporada seguinte pela equipe oficial da marca, e que deveria levar um patrocínio de US$25.000,00, algo que corrigido para os dias atuais seria em torno de US$185.000,00, para correr os principais campeonatos ingleses e o europeu. No contrato tudo incluso, carro, motor, pneus, inscrições, viagens, menos suas despesas pessoais, seria o segundo patrocínio já que a March corria com as cores da STP.
No final do ano quando ele voltou ao Brasil conversamos
muito, revimos o orçamento, e as possibilidades dele nos campeonatos.
Na época fabricávamos um salgadinho, líder de vendas do
seguimento e em nossa verba publicitária destinada a ele caberia muito bem tal
alternativa e mais os custos de divulgação aqui no Brasil, infelizmente para
meu amigo, e para mim, o projeto não avançou.
Nesta época amigos que corriam na F3, FF e outras categorias
de fórmula com equipes próprias, geralmente tinham o carro, obviamente, no
máximo dois motores e poucas peças de reposição, uma carreta, carro de apoio,
um mecânico, e assim se mandavam num mesmo final de semana para uma ou duas
corridas, nas pistas os fornecedores de equipamentos, motores e outros, sempre estavam presentes para vender seu produtos. Neste ponto não posso deixar de pensar e homenagear o saudoso amigo
Antônio Ferreirinha que nesta época ajudou a muitos.
Havia uns dez fabricantes de chassis, cinco ou seis
montadoras que forneciam motores homologados, e uma ou duas dezenas de preparadores desses
motores. A guerra entre eles era ferrenha.
Pilotos e mecânicos tinham que acertar seus carros em muitos
itens, da calibragem dos pneus até o ângulo das asas, daí saíram os grandes
acertadores como Emerson e Nelson.
E hoje?
Bem, outra vez vou escrever sem pesquisar a fundo, apenas que
mostrar como tudo mudou. Depois de 2007 se não me engano, um campeonato mundial
foi estabelecido, as corridas dez ou doze, em datas do Mundial de F.Um, onde
segundo a FIA os pilotos teriam grande visibilidade, os grandes chefes da F.Um
poderiam observá-los. Fora outros campeonatos disputados mundo afora.
Para este modesto observador o primeiro grande erro foi
tornar a categoria monomarca, coisa que sou totalmente contra. O chassi deve
ser o Dallara, o motor Mecachrome, cambio Hewland, pneus Pirelli, ora, o pacote
já vem pronto, e onde vamos buscar a verdadeira competição, onde a capacidade
de acerto de um equipamento vinha da equipe e do piloto, para mim tudo nivelado
por baixo.
As grandes equipes da F.Um também estão presentes neste
mundial, como na F.2, geralmente patrocinam pilotos desde o kart, como o
caso de Hamilton e tantos outros. Hoje um certo Candango, chegado de longe,
tendo em duas temporadas trabalhado com afinco, acertado carros e motores com
sua esperteza nata nem seria notado, aliás, nem um certo Rato, ou Pace, ou
Wilsinho, ou Ayrton..
O pacote com o chassi Dallara F3-2009 rodando, com cambio
Hewland de seis marchas, o motor Mecachrome V6 de 3,4 litros e 380 hps custa
cerca de duzentos mil euros, e o mundial com as corridas precedendo as de F.Um
cerca de um milhão de euros, vejam que é mais de cinco vezes o valor que cito
acima para o começo da década de 1970.
Minha critica à monomarca desta forma é que nivela por baixo
tudo, vejam que a Super-Vê, V, Fórmula Ford, Fiat e outras usavam motores de
cada uma das marcas, massssss ... com chassis de várias procedências, aqui no Brasil projetados e feitos por entre entre outros por meus amigos Ferreirinha, Minelli, Avallone e Ricardo
Achcar que com seu Polar, totalmente projetado e feito no Brasil dominou a
categoria, inclusive sobre os Austro-Kaimann importados. Além dos grandes
preparadores que nela atuaram, como os amigos Ferreirinha, Manduca, Chapa, Jr Lara, Gigante e tantos outros.
É ... hoje a mesmice tomou conta, tem até um príncipe,
presidente de nossa máxima entidade, que gosta de aparecer mais que os
verdadeiros atores do circo. Comissários que repreendem pilotos que falam
palavrões nos rádios em situações de estresse, e atuam de forma atabalhoada
quando fazem valer regras absurdas.
Escrevendo vou lembrando dos amigos; Ao Manduca, Chapa,
Teleco. Baixinho e Ferreirinha, foi bom demais dividir tantas com vocês, ficou
a lembrança e a saudade.
Abraços a todos.
Rui Amaral Jr