No cartaz Ronnie!
Caranguejo - Hoje em
dia, com a web, distância é um conceito flexível. Mesmo pessoas que estejam
longe uma da outra, graças aos recursos atuais, conseguem manter uma
conversação. É o que eu e o Rui Amaral Jr. fazemos nesses telefonemas que a
gente faz um para o outro, já há um bom tempo. Resolvemos reproduzir aqui um
deles, falando sobre a marcante temporada da F1 de 1973, marcante tanto para
mim quanto para ele.
Quando as equipes
reuniram-se em Silverstone no mês de
julho, para a disputa da nona etapa do campeonato, nada estava decidido. Jackie
Stewart, bicampeão de 1969-71 era o líder do certame com 42 pontos e três
vitórias; Emerson Fittipaldi vinha em sua cola, com 41 pontos e três vitórias.
A temporada já passara da metade e agora, chegava ao seu mais tradicional
palco, onde tudo começara, vinte e três anos antes. Havia então uma boa
perspectiva para a prova no velho aeródromo, mas após a largada, no fechamento
da primeira volta, na veloz Curva Woodcote, Jody Scheckter o sexto no grid e
quarto na classificação, colocou as rodas na grama, perdeu o controle e
estatelou-se no muro do outro lado.
Grid - Ronnie na pole, Hulme e Revson.
Rui - Sabe Caranguejo,
conforme conversamos vejo muita gente colocando a culpa em Jody, daquele
acidente.
Era apenas a sua quarta
corrida na categoria, tinha dois botas como companheiros de equipe, o Velho
Urso e Peter Revson e estava largando em sexto, atrás apenas de seus parceiros,
de Stewart, Emerson e do pole Ronnie Peterson.
Como se vê, apenas três
campeões mundiais e dois grandes botas. Scheckter vinha daquele inacreditável
acidente em Le Castellet, quando Emerson visivelmente bateu em seu carro quando Jody
vinha ponteando.
Jody domina a McLaren num belo sobresterço!
Caranguejo - Sim, algum
tempo atrás, fizemos um post a respeito e até trouxemos o grande Ronaldo Nazar,
o arquivo vivo do automobilismo para a conversa.
Rui - Exato. Ao
largarem, Ronnie tomou a ponta, mas na metade da primeira volta foi
ultrapassado por Stewart. Reutemann, numa ótima largada, sobe de oitavo para
terceiro, seguido das McLarens de Hulme e Jody, que vem pressionando o
companheiro de equipe.
Jody embutido em Hulme...
Caranguejo - Em Kyalami
no começo do ano, Scheckter havia sido prejudicado ficando atrás de Hulme e
perdendo a posição para Stewart. Acho que dessa vez, ele não quis correr riscos
e chegou à Woodcote já na frente do Velho Urso.
Rui - Woodcote, curva
de alta velocidade...Stewart, Ronnie e Reutemann a fazem rápido. Jody deve ter
perdido a sustentação aerodinâmica. Sai pela grama e acelerado atravessa a
pista e bate na mureta dos boxes.
Ronnie, Reutmann e Jody já na grama...
Caranguejo - Aí meu
caro, foi um "roda pra que te quero". Muitos envolvidos e a equipe
Surtees teve seus três carros destruídos de uma vez. Os demais, alguns sortudos
como Mike Beuttler ou os irmãos Fittipaldi escaparam incólumes. O restante
bateu em Scheckter ou no muro ou ainda uns nos outros tentando evitar a pilha
de destroços. Pior para o italiano Andrea de Adamich, estreando seu Brabham
BT-42. Ele teve uma fratura no tornozelo e ficou preso nas ferragens. Só foi
retirado depois bombearam todo o combustível do carro e foi possível serrar o
cockpit e resgatá-lo.
Hulme, Revson, Cevert...atrás Jody no meio da pista.
Adamich jamais voltaria
à F1, exceto na condição de jornalista e dizem, culpa até hoje Scheckter pelo
ocorrido. Aliás, essa
é a questão, não é? Jody é culpado ou foi vítima
de uma "caça às bruxas"?
Andrea na Brabham destroçada...
Rui - Acredito que
acima de tudo, Jody queria ir para cima dos ponteiros, escapou e talvez na
ânsia de voltar, cruzou a pista.
Ora, bolas! Caso ele viesse em 29º seria apenas
uma rodada de um piloto inexperiente mas ele vinha batalhando com as feras, só
isto!
Sem querer polemizar,
imagine se nós faríamos isso!?
Foto Rob Ryder - Jody...
Creio que a imprensa
brasileira torcendo por mais um campeonato de Emerson, crucificou Scheckter e
Fittipaldi por sua vez, de olho na McLaren para 1974, com o polpudo patrocínio
da Marlboro e não querendo o audacioso Jody como companheiro de equipe, concordou
com tudo que foi dito, escrito e falado. Para mim, caro amigo-sócio-herdeiro
deste modesto Blog em que escrevemos, Jody foi culpado.
Sim, culpado, por em
sua quarta corrida, estar buscando a ponta, andando feito gente grande entre os
grandes, deixando alguns campeões atônitos com aquele jovem talento.
Caranguejo - E claro,
depois ainda tivemos corrida. Peterson, o Marrento, puxou o pelotão, seguido do
surpreendente Niki Lauda.
Ele havia levado uma
batida de Jackie Oliver ainda antes do "incidente Scheckter", mas com
o tempo transcorrido entre as largadas a BRM recuperara seu carro. Na segunda
largada ele aproveitou os espaços vazios à sua frente. Stewart o superou, mas
precipitou-se ao tentar passar Ronnie e foi parar dentro de uma plantação.
Niki, com problemas na caixa de velocidades foi ficando para trás. Emerson
alcançou a segunda posição mas abandonou devido à transmissão e foi a vez dos
McLarens de Hulme e Revson atacarem o sueco. Melhor sorte para Revson, colhendo
sua primeira vitória.
Podium - Revson comemora em bela companhia, Hulme observa e Ronnie sorri.
Rui - E o Revson?
Caranguejo - Perdeu a
mulher. Para o Tom Jones.
Rui - Quem?
Caranguejo - O cantor.
Rui - Mas aqui não é
espaço para fofocas.
Caranguejo - Fica para
a próxima, então.
CARANGUEJO/ Rui Amaral
Jr.
Para o nosso amigo Cmt.
Hélio Canini Jr.
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NT: Começo de 1973, eu
estava no Rodeio, uma churrascaria de São Paulo, e chega um amigo e fica em
nossa mesa. Amigo de família, uns doze anos mais velho, me conhecia desde
menino, jornalista de bastidores e muito articulado.
Conversamos sobre minha
carreira, que aquele ano eu pensava que iria decolar, afinal em maio eu faria
21 anos e poderia finalmente ter minha carteira de piloto sem as artimanhas que
havia usado no ano de minha estréia...
Derrepente ele me vem
com esta!; Sabe Ruizinho, o Emerson assinou com a Marlboro e procura uma
equipe, deve ser a McLaren!
E a Lotus? E Chapman? E
o campeonato deste ano, afinal ele nem começou?
Já havia contado há alguns
amigos este papo, mas ao Caranguejo só contei pouco tempo atrás... daí este
post!
Notem que no pôster da
corrida a John Player coloca Ronnie e não o campeão do mundo na chamada.
Quanto à minha carreira; ela não decolou, à 1º de abril infelizmente morria meu pai aos 59 anos. E a carreira ficou para lá!
Rui Amaral Jr
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Conta Walter
A manchete daquele
momento era o Schecketer; tirou Emerson do GP da França e começou essa confusão
toda, na Inglaterra.
Acho o Schecketer
fraco, campeão por sorte e pela ajuda qualificada do Villeneuve.
Para mim, a coisa mais
marcante desse 'big one' em Silverstone foi o fim da carreira de Andrea de
Adamaich, numa Brabham BT43 da Pagnossin.
Outra coisa chamativa é
a precariedade dos carros, da pista, da organização, do socorro e de tudo que
cercava a F1. Gostosamente precária.
E vejam quantos títulos
disputavam essa corrida: Hulme, Hill, Stewart, Emerson, além de futuros
campeões, como Scheckewter, Lauda e Hunt.
Três brasileiros!
29 inscritos,
humilhando os grids de 20 carros de hoje em dia.
Walter
Alguns dos 29 inscritos
Hill no Shadow DN1
Hunt - March 731
Amon - Tecno E731
Acima Roger Willianson, abaixo David Purley, na corrida seguinte os dois seriam protagonistas de uma tragédia, que infelizmente ceifou a vida de Willianson.
Fotos: Internet e do excelente site Racing Sports Cars com os devidos créditos aos autores nas imagens.