Chegada ao Circuito de Jerez
Na Espanha pouco se falava de fórmula 1 naquela época. Pesquisei como faria para chegar em Jerez e alguém me contou que um brasileiro, dono de uma agência de viagens em Madrid, vendia entradas para o GP da Espanha. Como eu, outros foram até ele e assim formou-se aquele heterogêneo grupo de brazucas. O eficiente agente de viagens preparou um ótimo pacote para irmos até Jerez de la Frontera. De Madrid a Sevilha fomos de trem e lá alugamos um Citroen BX, versão esportiva. Dividi a direção com a Mércia, uma publicitária que conhecia fórmula 1 a fundo, fã incondicional do Senna. Eu preferia o Piquet, de quem era fã desde os tempos de Super Vê nos anos 70.
O Citroen, muito rápido e silencioso, era novidade para quem estava acostumado com as carroças brasileiras e com um ultrapassado, ainda que muito confortável, Peugeot 505.
A turma era tão versada em automobilismo que, terminada a preliminar de F3, o arquiteto baiano perguntou um tanto surpreso e decepcionado:
“Só isso? Já acabou?…”
O vencedor desta prova foi um brasileiro que, para o bem e para o mau, viria a ser muito conhecido e até hoje detem uma vaga na Fórmula 1. Terceiro colocado nesta prova, outro brasileiro foi posteriormente parar em terras norte americanas. Rubens Barrichedlo e Gil de Ferran representam bastante bem o automobilismo brasileiro. Há controvérsias, é bem verdade.
Com Senna na pole position a corrida começou bem do nosso jeito. Com a famosa McLaren ele saltou na ponta e liderou as Ferraris de Prost e Mansel nas primeiras voltas. Um problema no radiador o fez perder posições e abandonar mais tarde.
Na hora dos pit stops, ainda vimos uma liderança efêmera do Piquet.
No final tive que aturar o Alan Prost vencendo novamente assim como fizera na última vez que estive em um autódromo vendo a fórmula 1 no Rio em 87. Depois dele, Mansel e Nannini, de Beneton, completaram o pódio.
Ao contrário das tantas idas a Interlagos e ao autódromo do Rio para ver a fórmula 1 de perto, esta foi uma viagem muito tranquila. Nada do tumulto e dos problemas tradicionais em solo brasileiro. O trânsito insuportável, o achaque dos flanelinhas para estacionar, a briga para arranjar um bom lugar na arquibancada e outras mazelas conhecidas.
A Espanha ainda não tinha um ídolo como o asturiano da Ferrari que leva multidões de espanhóis aos autódromos. Aliás, a Espanha passou de mero coadjuvante a um país de ponta em vários esportes. Até futebol, quem diria?
A Espanha ainda não tinha um ídolo como o asturiano da Ferrari que leva multidões de espanhóis aos autódromos. Aliás, a Espanha passou de mero coadjuvante a um país de ponta em vários esportes. Até futebol, quem diria?
Em 1990 a Espanha se preparava para ser uma nação européia de verdade. As obras de infra-estrutura culminaram com a Olimpíada de Barcelona em 92 e a exposição de Sevilha. As gerações seguintes são fruto de um trabalho incansável por todos os esportes, uma paixão espanhola.
Se o Brasil e o Rio de Janeiro conseguirem tirar da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 50% do proveito que teve Espanha em seu desenvolvimento teremos progredido enormemente após estes eventos.
O passeio a Jerez de La Frontera e Sevilla, cidade formidável com uma história riquíssima, foi muito divertido.