Fangio recebe a bandeirada do Rio de Janeiro
A Cupecita hoje no museu de Balcarce.
Ano de 1941. O Brasil quer
desenvolver o seu automobilismo e aposta em eventos tão impactantes quanto os
melhores da Europa. Já havia o Circuito da Gávea no Rio, disputado desde 1933.
Pensava-se agora em criar uma corrida de longa duração aos moldes da conceituada
Mille Miglia italiana. Surge então O Grande
Prêmio Automobilístico Getúlio Vargas, competição de 3.371 quilômetros
disputada em estradas e passando pelos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais,
São Paulo e Goiás. Como convidado especial, vem da argentina um campeão local
cuja carreira começara seis anos antes, um homem de Balcarce, um certo Juan Manuel Fangio, a quem
todos chamavam El Chueco.
Aos trinta anos Fangio ainda com cabelos abraçado a um dos irmãos Galvez, o uruguaio Jorge Mantero encostado no carro e de óculos o embaixador argentino Labougle.
Os irmãqos Galvez, Oscar e Juan.
Para a prova no Brasil, Fangio
traz sua fiel cupecita Chevrolet 1940 e como acompanhante o amigo Antonio
Elizalde, que se não era um grande conhecedor de mecânica, tinha uma memória
excelente para decorar caminhos. Da Argentina, também viriam para a prova, os
irmãos Oscar e Juan Galvez, que pilotariam um Ford V8. Outro estrangeiro
presente era o uruguaio Jorge Mantero, também de Ford. Os demais participantes
eram brasileiros, distribuídos entre os mais diferentes carros, como Fords,
Mercurys e um Fiat...A prova, com a primeira etapa disputada entre Rio de Janeiro
e Belo Horizonte (541 km), apontou vantagem dos Galvez, com Fangio em segundo.
A etapa seguinte, de Belo Horizonte a Uberaba, de 606 km não apresentaria
novidades, como os Galvez ainda liderando com Fangio logo depois e Mantero em
terceiro lugar. O panorama começou a mudar na terceira etapa, 547 km de Uberaba
a Goiânia, no dia em que Fangio completou 30 anos, correndo com o carro
numeral...#30. Os irmãos Galvez, com Oscar ao volante, tiveram uma capotagem
que os atrasou um pouco, embora já ocupassem a segunda posição quando chegaram
a Goiânia. O dia seguinte, 25 de junho seria de descanso, pois a próxima etapa,
os traria até Barretos em 592 km de percurso. O uruguaio Mantero, tentando
imprimir um ritmo mais forte, teve um pneu estourado em alta velocidade e
capotou espetacularmente, praticamente saindo da disputa pois perdeu muito
tempo em reparos. Melhor para o brasileiro Julio Vieira e seu Ford V8, que
passou a defender a “honra da casa”.
Próxima etapa, ainda no estado de São Paulo, de Barretos a Poços de Caldas (512
km), consolidou a liderança de Fangio, perseguido pelos Galvez e com Julio
Vieira cinco horas e meia atrás do ponteiro. A penúltima etapa, de 490 km entre
Poços de Caldas e São Paulo-capital, seria no mínimo movimentada, pois os dois
carros argentinos líderes da competição, foram...desclassificados. O motivo:
não haviam passado pelo posto de controle de Itapecerica, o que provocou o
protesto dos pilotos brazucas. Fangio e os Galvez justificaram-se falando de
seu total desconhecimento da rota, além da falta de sinalização. Dessa forma, o
brasileiro Julio Vieira pode comemorar sua isolada vitória numa etapa, no dia
em que Fangio ficou numa singela décima-primeira posição.
O brasileiro Julio Vieira ao lado de Juan Galvez.
Passando pela bela Bananal.
A Cupecita e Fangio largando para vitória.
Mas a lógica retornou
no último dia, de São Paulo ao Rio de Janeiro, 443 km, com vitória de Oscar e
Juan Galvez e Fangio, “administrando”, em segundo, fazendo o suficiente para
vencer o GP Presidente Getúlio Vargas. Possivelmente, os dirigentes da GM do
Brasil devem ter se arrependido de quando aquele argentino de pernas tortas e
voz suave os procurou para pedir-lhes apoio em sua participação na prova e foi
dispensado com a justificativa de que tinham certeza que um Ford venceria a
competição...Essa foi a primeira das seis vezes que Fangio correu (e venceu) no
Brasil. Ele retornaria três vezes em 1952 e já no final de sua vitoriosa
carreira em 1957, quando venceu o GP Cidade de São Paulo e a prova na Quinta da
Boa Vista no Rio de Janeiro. Seis provas; cinco vitórias, um abandono...
A meus netos, Yasmin, Yzabelli,
Emanuell e Pietro.
Carlos Henrique Mércio - Caranguejo
Fonte de pesquisa e fotos: Uberaba em Fotos