A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach
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terça-feira, 6 de agosto de 2024

FANGIO NO BRASIL -

Fangio recebe a bandeirada do Rio de Janeiro
A Cupecita hoje no museu de Balcarce.

  Ano de 1941. O Brasil quer desenvolver o seu automobilismo e aposta em eventos tão impactantes quanto os melhores da Europa. Já havia o Circuito da Gávea no Rio, disputado desde 1933. Pensava-se agora em criar uma corrida de longa duração aos moldes da conceituada Mille Miglia italiana. Surge então O Grande Prêmio Automobilístico Getúlio Vargas, competição de 3.371 quilômetros disputada em estradas e passando pelos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Goiás. Como convidado especial, vem da argentina um campeão local cuja carreira começara seis anos antes, um homem de Balcarce, um certo Juan Manuel Fangio, a quem todos chamavam El Chueco. 


Aos trinta anos Fangio ainda com cabelos abraçado  a um dos irmãos Galvez, o uruguaio Jorge Mantero encostado no carro e de óculos o embaixador argentino Labougle.
Os irmãqos Galvez, Oscar e Juan.





Para a prova no Brasil, Fangio traz sua fiel cupecita Chevrolet 1940 e como acompanhante o amigo Antonio Elizalde, que se não era um grande conhecedor de mecânica, tinha uma memória excelente para decorar caminhos. Da Argentina, também viriam para a prova, os irmãos Oscar e Juan Galvez, que pilotariam um Ford V8. Outro estrangeiro presente era o uruguaio Jorge Mantero, também de Ford. Os demais participantes eram brasileiros, distribuídos entre os mais diferentes carros, como Fords, Mercurys e um Fiat...A prova, com a primeira etapa disputada entre Rio de Janeiro e Belo Horizonte (541 km), apontou vantagem dos Galvez, com Fangio em segundo. A etapa seguinte, de Belo Horizonte a Uberaba, de 606 km não apresentaria novidades, como os Galvez ainda liderando com Fangio logo depois e Mantero em terceiro lugar. O panorama começou a mudar na terceira etapa, 547 km de Uberaba a Goiânia, no dia em que Fangio completou 30 anos, correndo com o carro numeral...#30. Os irmãos Galvez, com Oscar ao volante, tiveram uma capotagem que os atrasou um pouco, embora já ocupassem a segunda posição quando chegaram a Goiânia. O dia seguinte, 25 de junho seria de descanso, pois a próxima etapa, os traria até Barretos em 592 km de percurso. O uruguaio Mantero, tentando imprimir um ritmo mais forte, teve um pneu estourado em alta velocidade e capotou espetacularmente, praticamente saindo da disputa pois perdeu muito tempo em reparos. Melhor para o brasileiro Julio Vieira e seu Ford V8, que passou a defender a “honra da casa”. Próxima etapa, ainda no estado de São Paulo, de Barretos a Poços de Caldas (512 km), consolidou a liderança de Fangio, perseguido pelos Galvez e com Julio Vieira cinco horas e meia atrás do ponteiro. A penúltima etapa, de 490 km entre Poços de Caldas e São Paulo-capital, seria no mínimo movimentada, pois os dois carros argentinos líderes da competição, foram...desclassificados. O motivo: não haviam passado pelo posto de controle de Itapecerica, o que provocou o protesto dos pilotos brazucas. Fangio e os Galvez justificaram-se falando de seu total desconhecimento da rota, além da falta de sinalização. Dessa forma, o brasileiro Julio Vieira pode comemorar sua isolada vitória numa etapa, no dia em que Fangio ficou numa singela décima-primeira posição. 

O brasileiro Julio Vieira ao lado de Juan Galvez.
Passando pela bela Bananal.
A Cupecita e Fangio largando para vitória.




Mas a lógica retornou no último dia, de São Paulo ao Rio de Janeiro, 443 km, com vitória de Oscar e Juan Galvez e Fangio, “administrando”, em segundo, fazendo o suficiente para vencer o GP Presidente Getúlio Vargas. Possivelmente, os dirigentes da GM do Brasil devem ter se arrependido de quando aquele argentino de pernas tortas e voz suave os procurou para pedir-lhes apoio em sua participação na prova e foi dispensado com a justificativa de que tinham certeza que um Ford venceria a competição...Essa foi a primeira das seis vezes que Fangio correu (e venceu) no Brasil. Ele retornaria três vezes em 1952 e já no final de sua vitoriosa carreira em 1957, quando venceu o GP Cidade de São Paulo e a prova na Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro. Seis provas; cinco vitórias, um abandono...

A meus netos, Yasmin, Yzabelli, Emanuell e Pietro.

 

Carlos Henrique Mércio - Caranguejo 


Fonte de pesquisa e fotos: Uberaba em Fotos

                                                                   link 

 





 

sábado, 8 de janeiro de 2011

Uma Mulher na Largada - Parte final



A prova "Washington Luis" foi dividida em quatro etapas nos seus mais de 2.000 quilometros de estradas. Dada a largada oficial, no quilometro 12 da Via Anhanguera, as atenções voltaram-se a dois pilotos favoritos: o paulista Chico Landi e o gaúcho Catharino Andreatta.

Pela ordem de largada, Landi, que venceu a primeira etapa, saiu na frente, mas, Catharino não o perdeu de vista até próximo à localidade de São Manoel, quando o motor da carretera Ford número 10 do gaúcho teve problema na distribuição elétrica, obrigando-o a parar.

No entanto, o pior ainda estava pela frente. Devido à falha na sinalização do trajeto da corrida, tanto Catharino quanto os demais pilotos concorrentes tomaram uma estrada errada.

Quando o erro foi percebido, todos trataram de voltar imediatamente a fim de pegar o caminho certo. Só que, nessa manobra, uns carros estavam indo e outros voltando a 150km/h, na mesma estrada de chão!

O inevitável ocorreu: Catharino trombou sua carreteira com a de Julio Vieira. Por sorte, os danos gerais não impediram que todos continuassem na disputa. O gaúcho acelerou mais ainda e já na cidade de Sorocaba estava em primeiro lugar.

Dali para frente só deu Catharino até receber bandeirada final no mesmo ponto de partida da prova na Via Anhanguera, sagrando-se vencedor da disputa. Tanto ele, quanto os demais pilotos, não pouparam críticas ao Automóvel Clube do Brasil, pelas gritantes falhas na organização da corrida.

Tanto é que o major Vila Forte, da Força Aérea Brasileira, que acompanhou de avião todo o desenrolar da contenda, disse que não acreditava que uma prova dessas pudesse ser realizada com tantos obstáculos aos pilotos.

Do alto, ele viu trombadas, capotamento de carros, "mata-burros", pontes sem guardas e trechos urbanos sem policiamento. Ou seja, era um "Deus nos acuda"! Felizmente, entre vivos e mortos, todos se salvaram e Catharino Andreatta mais uma vez mostrou a competência dos gaúchos no automobilismo de competição brasileiro.

Ah, e a Kitty Fabri? Ela atrasou-se bastante com seu Ford 1942 e não acompanhou o ritmo da corrida, pois, já na cidade de Campinas teve pane na parte elétrica do seu carro.

Mas, a sua presença, a única mulher, numa corrida de carros dessa envergadura nos idos de 1949, foi um fato extraordinário, exemplo para outras que a seguiram. Numa foto de hoje, a largada oficial da prova na Via Anhanguera. Na outra, Catharino, seu mecânico (D) e sua carreteira "Galgos Brancos".


Por Ari Moro

Publicado primeiramente no Jornal do automóvel/Tribuna e Paraná Online
06/01/2011 às 00:00:00 - Atualizado em 05/01/2011 às 22:54:31

Nossos agradecimentos ao amigo e grande jornalista Ari Moro a cedência deste.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A Extraordinária Corrida, em 1940 - Capítulo IV

Escassos e importantes segundos separaram o primeiro do segundo lugar na chegada, a Florianópolis/SC, dos carros e pilotos participantes do Grande Prêmio Bi-centenário de Porto Alegre, os quais disputaram a terceira etapa dessa fantástica corrida de 2.076 quilômetros no dia 16 de novembro de 1940, trecho de 444 quilometros entre Curitiba e a capital catarinense, passando por São José dos Pinhais, Campo Largo da Roseira, Rio de Una, Tijucas do Sul, Campestre, Bateias de Cima, São Miguel, Pedreira, Joinville, Bananal, Jaraguá do Sul, Aurora, Blumenau, Gaspar, Ilhota, Itajaí, Camboriú, Tijucas e Biguassu.

Certo, entre os pilotos, era que tratava-se de etapa quase decisiva, pois, sendo a penúltima da maratona, quem a vencesse estaria em boas condições para a final. Pela ordem de chegada da etapa São Paulo/Curitiba, daqui largaram: Catharino Andreatta/RS - carro 42 - Mercury; Eitel Cantoni (Uruguai) - carro 44 - Ford; Clemente Rovere/SC - carro 16 - Ford; Julio Vieira/SP - 12 - Lincoln Zephyr; Iberê Correia/SC - 6 - Ford; Oscar Bins/RS - 2 - Ford; Luis Tavares de Morais/ RJ - 34 - Ford; Adalberto Morais/RS - 36 - Chevrolet; Ernesto Ranzolin/RS - 26 - Ford; Belmiro Terra/RS - 46 - Chevrolet; Ari Corteze/RJ - 20 - Ford; Raulino Miranda/SC - 37 - Chevrolet; Hector Supicci/Uruguai - carro 10 - Ford; e Antonio Peres - 4 - Mercury.

Desta feita, além do seu compatriota Eitel Cantoni, que fez o segundo lugar no trecho São Paulo/ Curitiba, o piloto campeão uruguaio Hector Supicci Seedes mostrou que era "bom de braço" mesmo e favorito ao triunfo final, recebendo a bandeirada de primeiro lugar em Florianópolis, com o tempo de 5 horas, 22 minutos, 1 segundo e 2 décimos.

Mas, o catarinense Clemente Rovere mostrou que era bom de volante também, chegando na cola de Hector, com o tempo de 5 horas, 22 minutos e 35 segundos! Numa corrida dessas, de longa duração, em condições adversas, alguns segundos de diferença pouco significavam.

Em terceiro lugar classificou-se o gaúcho Antonio Peres, carro 4 - Mercury, com 5 horas, 42 minutos e 2 segundos. Daqui para a frente era tudo ou nada para os pilotos e carros que restaram dos 23 que largaram no Rio de Janeiro dia 14 de novembro de 1940, pois, tratava-se da última e decisiva etapa.

Clemente Rovere - primeira, Catharino Andreatta - segunda e Hector Supicci - terceira etapa, já eram vencedores. Restavam ainda mais de 600 imprevisíveis quilômetros. Quem receberia a bandeirada final em Porto alegre, no dia 17? As carreteras aguentariam o esforço?

Seria um Ford ou um Chevrolet? Brasileiro ou uruguaio? Não Perca a grande final! Na foto de hoje, a carretera do piloto gaúcho Ernesto Ranzolin levantando poeira no centro da cidade de Lages/SC, rumo a Porto Alegre.

Por Ari Moro

Fotos do acervo pessoal amigo Antônio Ranzolin, filho do saudoso exímio piloto gáucho de carretera, Ernesto Ranzolin.


Publicado primeiramente no Jornal do Automóvel de Curitiba-PR e Paraná On line.

http://www.parana-online.com.br/canal/automoveis/news/496997/?noticia=A+EXTRAORDINARIA+CORRIDA+EM+1940+PARTE+IV

09/12/2010 às 00:00:00 - Atualizado em 08/12/2010 às 21:28:37

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A Extraordinária Corrida, em 1940 - Capítulo III


Cumprida a primeira etapa de 493 quilometros entre Rio/São Paulo/SP do Grande Prêmio Bi-Centenário de Porto Alegre, os 15 pilotos "sobreviventes", após descanso e os reparos nos carros, partiram às 9,00 horas do dia 15 de novembro de 1940 para disputarem curva a curva o trecho de 496 quilometros até Curitiba, passando por Cotia, São Roque, Sorocaba, Campo Largo, Itapetininga, Gramadinho, Capão Bonito, Apiaí, Capela da Ribeira e Bocaiúva do Sul.

Ainda sob chuva largaram, de acordo com a ordem de chegada em São Paulo, os pilotos: Clemente Rovere/SC - carro 16 - Ford; Francisco Landi/SP - carro 18 - Ford; Iberê Correia/SC - 6 - Ford; Catharino Andreatta/RS - 42 - Mercury; Julio Vieira/SP - 12 - Lincoln Zephyr; Ernesto Ranzolin/RS - 26 - Ford; Adalberto Morais/RS - 36 - Chevrolet; Antonio Peres/RS - 4 - Mercury; Raulino Miranda/SC - 37 - Chevrolet; Oscar Bins/RS - 2 - Ford; Hector Supicci/Uruguai - 10 - Ford; Ari Corteze/Rio - 20 - Ford; Belmiro Terra/RS - 46 - Chevrolet; Salvador M. Pereira/SP - 20 - Willys; Etel Cantoni/Uruguai - carro 44 - Ford.

Após muitos trancos e barrancos, o piloto gaúcho Catharino Andreatta, em início de carreira e que já despontava como um "cobra" das corridas de carros em estrada, venceu esta segunda etapa do GP, perfazendo o trecho em 6 horas, 18 minutos, 37 segundos e 6/10.

Em segundo lugar classificou-se o piloto uruguaio Etel Cantoni com 6 horas, 30 minutos, 31 segundos e 4/10 e em terceiro o catarinense Clemente Rovere com 6 horas, 30 minutos e 50 segundos.

Apesar da fantástica prova não contar com nenhum piloto paranaense, a chegada dos carros em Curitiba ocorreu, sob grande expectativa, na rua Comendador Araujo, em cujas calçadas a multidão aglomerou-se para saudar os participantes.

Na sequência chegaram os pilotos Julio Vieira, Iberê Correia, Oscar Bins, Luis Tavares de Morais, Adalberto Morais, Ernesto Ranzolin, Belmiro Terra, Ari Corteze, Raulino Miranda e Hector Supicci, este no tempo de 7h44´.

O carro número 18, de Francisco Landi, sofreu avaria enquanto o piloto Salvador M. Pereira não conseguiu chegar até às 18,00 horas daquela data. Nessa altura dos acontecimentos os pilotos haviam percorrido praticamente a metade dos 2.076 quilometros previstos até Porto Alegre/RS e as coisas começavam a se alinhar, ou seja, os carros melhor preparados para enfrentar tamanha maratona e os pilotos mais arrojados já despontavam.

Nas fotos de hoje, a largada, em São Paulo e a chegada, em Curitiba, em frente ao Restaurante e Hotel Bahia, na rua Comendador Araujo, de uma das carreteiras Ford participantes do GP. Agora, a terceira etapa, Curitiba/ Florianópolis. Não perca!


Por Ari Moro

Fotos do acervo pessoal amigo Antônio Ranzolin, filho do saudoso exímio piloto gáucho de carretera, Ernesto Ranzolin.

Publicado primeiramente no Jornal do Automóvel de Curitiba-PR e Paraná On line
http://www.parana-online.com.br/canal/automoveis/news/495396/?noticia=A+EXTRAORDINARIA+CORRIDA+EM+1940+PARTE+III?reference_id=98e897b03df937c37ff6cebcf4c4f75e687fdd01
02/12/2010 às 00:00:00 - Atualizado em 01/12/2010 às 22:07:30