Mentor do projeto: Hans Villiez von Stuck
“Há alguns anos venho planejando a realização do sonho de minha vida - o recorde mundial de velocidade em terra. Conversei algumas vezes com Doktor Porsche e ele expressou sua vontade de realizar o projeto do carro, se ele viesse a ser construído por você”.
Esse é o trecho da carta de Hans Von Stuck, então piloto da Auto Union, a Wilhelm Kissel, à época presidente do Conselho da Daimler-Benz (entre 1930-1942) e seu adversário nas pistas, portanto.
A carta foi escrita em agosto de 1936, mas levaria mais de um ano até que todas as partes envolvidas chegassem a um acordo satisfatório para todos. Além de sua decantada amizade com Adolf Hitler, Stuck contava com o apoio do Doktor Ferdinand Porsche (ex-Daimler e ex-Auto Union) que seria o engenheiro-chefe. O fabricante de aviões Henkel construiria a carenagem e Ernst Udet, então diretor de pesquisa e desenvolvimento da Força Aérea alemã, forneceria dois motores Daimler DB 601, utilizados na aviação de caça. Por fim, outros dois amigos de Hans von Stuck, o suíço Barão de Blonay e Max Klinger, iriam custear os custos do projeto. À medida que o desenvolvimento do carro ia surgindo, o próprio Hitler se envolveu nele. Assim, embora o veículo fosse nomeado como Mercedes-Benz T80, o austríaco o apelidou de “Schwarzer Vogel” (Black Bird), com direito a adesivos da Adler alemã (Eagle) e Hakenkreuz (cruz suástica) na carenagem. A tentativa de recorde, segundo Hitler, teria que obrigatoriamente ocorrer em solo alemão. Naturalmente, via o T80 como mais uma oportunidade de propagandear ao mundo o poderio tecnológico e superioridade alemãs. Com o preço estimado em mais de 600 mil marcos, as especificações técnicas do “Schwarzer Vogel” eram no mínimo incomuns, para não dizer muito. O motor era derivado do DB 601 V12 invertido, utilizado no caça Masserschmitt BF109. Com um deslocamento maciço de 44,5 litros, a sobrealimentação e o motor de injeção direta (em sua terceira fase de desenvolvimento) debitava 3.000 cavalos de potência. O monstruoso V12 utilizava uma mistura de álcool metílico (63%), benzeno (16%), etanol (12%), acetona (4,4%), nitrobenzeno (2,2%), gasolina de aviação (2%) e éter (0,4%), com injeção de metanol-água para resfriamento de carga e pressão do turbo. Concluído em 1939, a velocidade máxima buscada era atingir os 750 km/h ou 466 milhas por hora. A tentativa seria relizada em janeiro de 1940, mas Stuck esqueceu de combinar com Hitler para só invadir a Polônia* mais tarde. O mundo não pode conhecer o potencial do Mercedes T80, porém ele sobreviveu à guerra. Preservado, pode ser visto no Museu da Mercedes em Stuttgart.
*Hans von Stuck nascera em Varsóvia. Possuir mais de uma cidadania o ajudou a voltar às pistas logo após o final da guerra, quando os pilotos alemães foram banidos das corridas. Stuck inscrevia-se como austríaco.
SAIBA MAIS:
Inicialmente, Doktor Porsche esperava atingir a velocidade de 550 km/h, mas com os triunfos dos rivais britânicos George Eyston e John Cobb, a marca foi elevada para 600 km/h. Quando o carro ficou pronto, já se almejava os 750 km/h, pois esta seria uma marca para desestimular a concorrência a melhorá-la.
A NSKK era uma organização paramilitar nazista, voltada para o automobilismo e os automóveis. Durante a II Guerra, cuidava dos transportes e abastecimentos. A maioria dos pilotos alemães da época era filiada à NSKK, tais como Rudolf Caracciola ou Hans Villiez von Stuck. Caracciola por exemplo, é mencionado em relatórios como o NSKK- Staffelführer Caracciola (líder de esquadrão).
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