Pedro e o VW D3...
Caro amigo Rui
Como não poderia deixar
de ser um pedido do Rui, para mim, torna-se uma ordem.Olhem só o que ele me pediu: uma volta pela pista de Tarumã-RS, o circuito mais rápido do Brasil.
Vou tentar relatar uma
volta com a experiência que tive com os Speeds, pois na época em que corri lá
foi exatamente com o meu Speed 1600, ainda com motor a ar.
Fazer uma viagem saindo
de São Paulo, para o Rio Grande do Sul, para correr,pode até parecer para
alguns pura loucura, ainda mais puxando uma carreta com um carro de corrida, um
monte de tralhas como: motor, cambio, rodas com pneus e mais um monte de peças
de reserva, percorrer mais de 1.300 kms, só de ida, pois tem também a volta a
mesma distancia, e lembrando somente com recursos próprios, quero dizer sem
patrocínio nenhum, realmente é só para quem é louco e muito apaixonado pelo que
faz e pelas corridas. Não deixa de ser uma emocionante e cara aventura, mas eu
fazia isso com o maior prazer (pois tudo o que vi e participei jamais
conseguirei esquecer), e também por profissão. Quero dizer, eu conseguia unir o
útil ao agradável, pois não só das corridas eu vivia, e sim da venda dos
produtos que fabricava e negociava, e também dos carros que montava, isto é, eu
fazia de um hobby a minha profissão, e foi assim por um bom e inesquecível
tempo, que me levou a conhecer e andar em todos os autódromos do Pais, que
existiam naquela época.
Para uma viagem dessas
saímos de São Paulo já na madrugada da 3º feira, pois tínhamos uma longa
distancia a percorrer, contando também com possíveis imprevistos na estrada,
onde praticamente passávamos durante dois dias viajando, com chegada na pista
prevista para a 5º feira. Primeiros passos e contatos feitos com a administração
da pista e Federação local, partíamos para reconhecimento da pista, alojamento
para todo o material e veículos e também hospedagem para mim e equipe.
Para nossa alegria e
sorte, o pessoal do Sul em geral, é altamente hospitaleiro e amigável, por isso
que lá se pratica um automobilismo INCOMPARAVEL, a qualquer outro estado no
Brasil, (não querendo desmerecer nenhum dos outros estados que tive a
oportunidade de estar e participar de provas). É que eles tem muita tradição,
eles tem o automobilismo no sangue e no coração, igual a eles não existe
outros. Digo isso porque, quando da ocasião dessa corrida fomos muitíssimo bem
recebidos por todos de lá ( evitarei citar nomes, pois foram tantos e corro o
risco de esquecer de alguém), mas tem um que não posso deixar de citar o
inesquecível e querido amigo, o preparador Hamiltom, que nos acolheu como
verdadeiros irmãos, e também porque eu era o único louco que vinha de São Paulo
para participar com eles de uma prova em Tarumã-RS.
Convém lembrar que na
época meu Speed, obedecia ao regulamento paranaense, que era bem diferente do
regulamento gaúcho, portanto para me enquadrar e ter condições de participar
juntamente com os demais, tive que efetuar algumas modificações em meu carro,
portanto tive que também tomar emprestado um jogo de rodas e pneus aro 13, pois
originalmente eu corria com aro 14.Não precisa nem dizer que o comportamento do carro tornava-se bem
diferente, inclusive até mais rápido, porem não podia fazer muita coisa pois
alterava-se também a relação de cambio, que não pude mexer, então tive que me
adaptar com o que tinha no momento.
Vamos então para uma
volta na pista mais rápida do Brasil:
-Saindo dos boxes, já
adentramos na reta de chegada bem próximos a temida e assassina curva 1
(lembrem-se do Giovanni Salvatti e alguns outros), ainda não temos uma noção de
giro nem velocidade, pois estamos começando a acelerar.
-A curva 1 além de ser
longa e de altíssima velocidade, é também desafiante e temida pela maioria dos
pilotos, pois no nosso caso (obedecendo as características técnicas do carro
utilizado) tem que ser feita em 4º marcha e com o pé embaixo, pois já estamos
vindo na reta em descida e no embalo, é só dar uma pequena aliviada, apontar o
carro, sentir se está seguro, e cravar novamente o pé embaixo, trabalhando o
volante para dentro, pois ela te joga para fora, fazemos ela a aproximadamente
186/188 kms p/hora a um giro de quase 6.100 rpms.
-Breve alivio na reta
pequena que antecede a curva 2, só dá para dar uma rápida olhadinha nos
instrumentos, e continuamos acelerando sempre em 4º marcha, seguindo para a
curva 3, também suave e rápida, e nessa altura com o motor cheio, giro alto a
aproximadamente 5.500 rpms.
-Estamos a frente na
entrada da Curva do Laço, freiada forte e redução brusca, alias a única, pois
seguindo adiante é só pé embaixo, praticamente sem mudança de marcha,
logicamente dependendo do carro e de como o piloto poderá mantê-lo dessa forma.
-Saindo da Curva do
Laço, um trecho de duas curvas bem suáveis, a curva 5 e a curva 6, praticamente
retas e rápidas, que antecede a temida Curva Tala Larga.
-A Tala Larga, é um
cotovelo em descida, onde exige-se grande perícia e sangue frio dos pilotos. O
giro é bem instável, e não se dá tempo nem de ler os instrumentos, a concentração
tem que ser total, pois um instante de desatenção, coloca todo o trabalho da
volta em risco e consequentemente na corrida também.
-Feita a Curva Tala
Larga , entramos num pequeno trecho também rápido, que antecede a curva 8, giro
alto aproximadamente 5.800/5.900 rpms.
-Estamos na entrada da
curva 9. Curva bastante desafiante, pois também tem redução brusca, não se pode
deixar o motor cair de giro, e será preciso entrar e contornar bem ela, para se
poder sair também em velocidade boa, pois a mesma antecede a reta de chegada
que tem um trecho em subida, depois muda para descida, giro constante na
entrada da reta em torno de 5.900 rpms, e pé embaixo ,aproximando-se da
descida, ponto de altíssima velocidade, e tendo pela frente mais uma vez a
temida curva 1.
-A volta é tão rápida,
que parece que o circuito é pequeno, porem super desafiante e agradável de se
pilotar, e também impossível de se esquecer.......
Claro que hoje a época
é outra, os carros são ainda muito mais rápidos, eficazes e seguros, mas tentem
imaginar a quase 20 anos ou mais atrás, como era empolgante e maravilhoso
pilotar numa pista dessa, sem muita tecnologia e sem muito recurso, apenas no
braço , apenas na raça e na vontade de se fazer o melhor a cada volta.
É impossível de se
esquecer, e quem teve a sorte de viver isso jamais esquecerá.........
PEDRO GARRAFA
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Abril de 2011, pedi ao meu grande amigo Pedrão, pequeno por fora mas um gigante de alma e coração, que nos contasse como pilotava no Taramã, eis a resposta...
Fraterno abraço Pedrão
Rui Amaral Jr