A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Conta Cuca...


Mil Milhas 1973


O autorama, era o brinquedo de todas as noites na casa do meu amigo Wlimar Foschi Filho, o Bilu. Eu fazia os carrinhos, com o patrocínio dele. Tínhamos uma equipe com os quatro carros da Autozoom, o #29, #90, #61 e o horroroso Manta roxo do Cabeção, além dos formulas 1. Era, e é uma casa na rua Pio Xi de três andares, sendo um porão, onde ficava montada a nossa pista.
Alfredo Guaraná namorava a Ligia, irmã do Bilu, e todas as noites queria ver os carrinhos e brincava com a gente em altos pegas, posso dizer que já dei uns paus no Guaraná, ao menos no autorama ele não me ganhava.
Estávamos Bilú e eu brincando com os nossos carrinhos, quando ouvimos um ronco forte de motor acelerando na frente da sua casa, segundos depois, um silêncio. Bilú olhou para mim, e balançou a cabeça negativamente, como se não fosse nada importante. Na época, ronco de motor de fusca era coisa normal. Foi quando ouvimos a voz da Ligia:
-Bilú, corre aqui...Saímos correndo pela entrada lateral da casa, e lá estava ele, Um fusca conversível branco, com o Robertinho da Autozoom no volante, com um sorriso enorme em baixo do bigodes.
-É o motor do carro do Guaraná, estou amaciando. Ele estáai?
Perguntou Robertinho...
-Não, ainda não chegou...
Respondeu a Ligia...
Ele não desligou o carro. Simpático, desceu, deu um abraço na Ligia, um oi para nós e disse:
-Fala para o Guaraná, que eu vou para a marginal de Pinheiros dar uma acelerada nesse motor, espero ele na frente do portão 3 em Interlagos...
Deu tchau a todos, entrou no fusca e saiu acelerando...
O ronco era forte. Ficamos os três na frente da casa calados só ouvindo o carro se afastar.
Bilú e eu, voltamos ao porão, e dez minutos depois, chega o Guaraná. Ele entrou pela lateral da casa e foi direto ao porão.
-Oi, tudo bem?
Era sempre um susto quando o Guaraná chegava, afinal, ele era e é um ídolo para mim. Indagou Guaraná.
Me apressei e disse:
-O Robertinho passou aqui, disse que esta te esperando na frente do portão 3...
-Como assim?
Indagou Guaraná.
-É, ele passou aqui com um fusca conversível e disse que ia andar na marginal para amaciar motor do seu carro.
Disse o Bilú.
O Guaraná não ficou surpreso, só soltou um “que doido”. Ligia chegou ao porão. Guaraná a abraçou já falando:
-Vamos para Interlagos?
Vamos...
Respondeu ela...
-Vamos lá garotada...
Convidou Guaraná.
Eu, fiquei triste, pois tinha que ir para casa, já se passavada 21 horas, o limite do meu pai era 22 horas.
Disse que não poderia ir, pois tinha que ir embora.
-Calma, eu te levo em casa e falo com o seu pai, pode ser?
Disse ele...
Claro que podia. Mas no caminho, num percurso rápido no Dodge 1800 laranja eu desisti. Eu sabia que mesmo ele falando com meu pai, ele não deixaria eu ir. Então, agradeci, e, quando ele parou na porta da minha casa, me fez uma grata surpresa. Abriu o porta luvas, e me deu uma credencial de box para a corrida.
-Quero você me ajudando na corrida...
Deu thau, e saiu acelerando pela Ibiraçu abaixo.
Fiquei parado com a credencial na mão.
Claro, fui a corrida com o Bilú, e a história dela, todos sabem. Foi uma aula de pilotagem do Guaraná. Sempre o meu ídolo.




Mario Marcio "Cuca" Souto Maior.

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Não custa lembrar novamente: Conheço o Cuca desde 1972, quando eu trabalhava com meu amigo Expedito Marazzi e ele e o Gabriel, filho do Expedito, que eram cerca de cinco ou seis anos mais novos que eu viviam na Escolinha.
Os textos dele para o Histórias já foram copiados por outros blogs e até o Wilsinho Fittipaldi já pediu autorização para divulgar uma de suas deliciosas histórias de Rato de Box.

À vocês Anete e Cuca meu fraterno abraço e obrigado pelo carinho e por esta amizade tão longa.

Rui Amaral Jr 

9 comentários:

  1. -Rui sempre divulgando boas e divertidas histórias !

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  2. Como seu pai o Guaraná foi grande...pena não chegarem à F.Um.

    Um abraço Nino.

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  3. Acompanhava cada corrida, e verdadeiramente, show de pilotagem.
    Era uma época do romantismo, de viver a plenitude das amizades.
    Obrigado pela bela narrativa.

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  4. Parabéns pela história contada Rui. Me emocionei e voltei no tempo. Saudades daquela época em que eu era uma criança de 8/10 anos mas acompanhava quando podia as corridas em Interlagos, sempre torcendo pelo saudoso Guaraná que era meu piloto preferido. Eu brincava tb no autorama me imaginando ele. Ia tb na Vitorino Camilo, na Autozoom de ônibus sozinho e moleque de 8/9 anos de idade só pra acompanhar os trabalhos, pra desespero às vezes do meu tio RS. Infelizmente um dia isso acabou com a morte muito cedo do meu tio, o Robertinho da sua história e da Autozoom. O automobilismo perdeu aquele que era considerado na época o melhor preparador de carros do país, que em 1973 ficou um ano na Inglaterra e preparou os motores do Ronnie Peterson na fórmula 2 e acho que do Emerson tb. E eu perdi meu tio e grande ídolo, mas que pude curti-lo durante os meus 10 anos, já que pra minha sorte eu vivia com ele.

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  5. Pô Jorge, agora me emocionei!!!!! Conheci bem o Robertinho,, grande cara, quando o Guaraná era vivo sempre falávamos sobre ele, de vez em quando estou com o Ítalo! Meu amigo Cuca era também "rato de box e oficinas".
    Obrigado, vou transmitir ao Cuca e certamente ele vai responder,

    Um abração

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  6. Rui, nessa Mil Milhas de 1973 eu de tanto insistir com minha mãe acabei convencendo ela a me levar pra Interlagos de última hora sem meu tio saber. Chegando lá me lembro que ficamos implorando num portão pra que chamassem ele ou alguém da equipe pra que pudéssemos entrar nos box e conseguimos, não sem antes levar uma bronca do meu tio. Vi a largada de dentro dos box que naquela época se dava à noite, muito legal, tempos românticos do automobilismo. Enquanto aguentei assisti a corrida, apesar que só dava pra ver bem os carros na reta dos boxes. E foi no final dessa reta dentro de uma Kombi que o pessoal da equipe me arrumou pra que eu pudesse dormir, afinal eu tinha 10 anos de idade na época e não conseguia virar a madrugada acordado, por mais que eu quisesse. Me lembro que apesar do sono, não foi fácil dormir pq no final da reta os pilotos usavam as reduzidas de marcha pra poder fazer a curva e era um barulho infernal. Depois me lembro de assistir à parte final da corrida e agora posso até narrar algo impreciso pois faz tem e eu era garoto, mas me lembro de estar sentado num gramado dentro da área dos boxes próximo a torre de controle com visão privilegiada da curva da ferradura, quando o Guarana, pela minha memória estava em segundo lugar e rodou numa mancha de óleo na pista e acabou chegando em quinto lugar, mesmo assim eu lembro que foi o primeiro em sua categoria. Se não me engano todos os 4 primeiros lugares foram opalas. Essa parte acho que vc e outros especialistas podem confirmar, pois não dá pra confiar na memória de criança . Ma s lembro que torci muito pro meu ídolo Guarana. Eu gostava muito dele. E me lembro tb que depois nos boxes pra meu delírio me deixaram ficar sentado no banco do piloto do carro enquanto a equipe empurrava o mesmo pra manobrar. Nada demais, mas pra uma criança aquilo foi demais pra mim hahahahaha. Lembranças afetivas que pude colocá-las aqui. Se alguém se lembrar com precisão da rodada do guaran na curva da ferradura no final do corrida, por favor me corrijam. Um abraço Rui!

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    1. Belo depoimento Jorge, vou pedir ao Cuca para responder, um abraço.

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  7. Ola Jorge. Que legal o seu depoimento. É muito gratificante para mim, fazer as memórias das pessoas, renascerem. Grato pelo seu depoimento... Eu, estava lá nesse dia, e provavelmente, nos esbatamos por lá. Lembro da Kombi, ela estava estacionada, atras dos boxes, perto da grade da curva do laranja. A área que você fala, que ficou sentado no final da corrida, era uma gramado na entrada dos boxes, eu também estava por ali, ou decidimos, e íamos para o gramado da curva do Laranja, mas enfim, ali era o melhor lugar.
    Já a sua lembrança sobre o final da prova,, esta quase perfeita. Vamos aos fatos. O Guaraná/Giobbi, não estavam em segundo, mas sim em quarto, colado no Opala do Argentino/Raul Natividade #58. e quando ele rodou, perdeu uma posição para o Opala do Bob Sharp/Jan Balder #7. Com isso, ele caiu para 5º na geral, e 1º na sua categoria. O grande problema foi que ele perdeu a embreagem quando rodou, e os freios, também já tinham acabados. Dias, depois, le me disse que ia vencer a prova, se não tivesse rodado na Ferradura. Mas a culpa não foi uma poça de óleo, a pista toda estava um sabão. Imagina 64 carros largando, e soltando óleo na pista toda?
    De qualquer forma, fico feliz por você, que teve o privilégio de ver essa verdadeira aula de pilotagem do Alfredo Guaraná. Segue o resultado da corrida; Um forte abraço.

    DÉCIMA PRIMEIRA EDIÇÃO 1973 (8 de dezembro)

    Grid: 64 carros – Duração: 12h53min15s


    1º Ford Maverick Div 3 nº 20 Bird Clemente e Nilson Clemente SP – 201 voltas
    2º Ford Maverick Div 3 nº 18 Camilo Christófaro e Eduardo Celidônio SP – 197 voltas
    3º Chevrolet Opala Div 3 nº 58 José Argentino e Raul Natividade SP – 196 voltas
    4º Opala nº 7 Bob Sharp e Jan Balder RJ/SP – 196 voltas
    5º VW nº 29 Alfredo Guaraná Menezes e Luigi Giobbi SP – 195 voltas
    6º VW nº 47 Bruno D’Almeida e Voltaire Mogg RS – 191 voltas
    7º VW nº 19 Toni Rocha e Peter Schultswenk SP/RJ – 190 voltas
    8º Ford Maverick nº 22 Dante de Camilo e José Augusto Contijo SP – 189 voltas
    9º VW nº 15 Plínio Riva Giosa e Jacinto Tognato SP – 188 voltas
    10º VW nº 54 Amandio Ferreira e Sérgio Alhadeff SP – 188 voltas

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Rui Amaral Jr