Fangio - El Chueco - e a BRM V16, comentava-se à época que seu motor tinha mais de 600 hp.
A temporada de 1952 estava começando para o Chueco da mesma forma que terminara a anterior: com vitórias. Campeão Mundial em 1951 com a célebre Alfetta 159, Fangio agora pensava para qual equipe correria. Enquanto isso, provando estar em grande forma, venceu corridas em três países em três meses - sem muito esforço.
Sua série de vitórias começara no Brasil, em Interlagos, onde venceu o V Prêmio Cidade de São Paulo. Uma semana depois na Gávea,no Rio de Janeiro, tem problemas mecânicos quando ocupava a liderança e abandona,mas vence o Grande Prêmio da Quinta da Boa Vista/RJ, no começo de fevereiro. Em março, vence duas provas em Buenos Aires e depois vai a Piriápolis, no Uruguai e ganha o Gran Premio del Uruguay e o Gran Premio Ciudad de Montevideo, sempre com sua Ferrari 166 FL. Em três meses, seis vitórias. Como preparação para o Mundial que estava por começar, estava perfeito.
Sem contrato com qualquer time, Fangio segue para a Europa em abril e experimenta o Cooper Bristol T20 em Goodwood no Ritchmond Trophy. É o sexto colocado na prova e depois, participa das lendárias "Mille Miglia de Brescia",onde sofre com os freios da sua Alfa Romeo 1.9 e não obtém uma boa colocação (22°). Em junho, volta a pilotar um F1 em Albi, e o carro não é outro que não o complicado BRM T15. O início porém é promissor, pois Fangio faz a pole position. Claro que ele não era nenhum bobo e não petendia correr pela equipe inglesa no Mundial, já estando acertado com a Maserati. Mas essas apresentações eram rentáveis e naquela época, para ganhar algum dinheiro, um piloto aceitava a maioria dos convites que apareciam.
O Príncipe Bira é o menorzinho na fila de cumprimentos em Silverstone 1950.
Príncipe Bira e sua Maserati.
Na prova de Albi apesar do empenho, Fangio não completa a prova devido a um vazamento de combustível. Seu parceiro de equipe, Froilan Gonzalez tem sorte parecida e abandona com superaquecimento. Quem faz as honras da América do Sul é o brasileiro Chico Landi, que leva sua Ferrari a um belo segundo lugar. Ainda comprometido com a BRM, Fangio seguiu para o Ulster Thophy, em Belfast na Irlanda. Essa prova seria num sábado e no domingo, o Chueco teria de estar presente numa prova de F2 em Monza, na apresentação da equipe Maserati para o Mundial de F1(que por força do regulamento, agora seria disputado com os F2). Fangio acreditava que seria possível estar nas duas competições, contanto que ele tivesse uma conexão rápida para a Itália, logo após a corrida de Belfast. E tudo indicava que ele tinha razão. Da prova do Ulster participaria o Príncipe Bira, ou sua alteza real, Birabongse Bhanudej Bhanubandh, membro da família real tailandesa. Autêntico príncipe, o franzino Bira era naqueles dias, o único piloto com dinheiro o bastante para ser o dono de seu próprio avião e do seu Maserati 4CLT OSCA...
Antes da corrida, o Fangio negociou uma carona para Milão com o Príncipe e tudo ficou combinado. A corrida foi desgastante para o Quíntuple. Obrigado a dividir seu carro nos treinos com um jovem britânico, um certo Stirling...Moss, ou qualquer coisa assim, ficou atrás no grid. E na prova, penou muito por causa dos freios e depois, com problemas de alimentação de combustível. Abandonou na 25ª volta. Quando foi em busca da carona, uma surpresa: o Príncipe Bira, frustrado por uma péssima corrida, abandonara mais cedo que o Fangio e simplesmente fora embora e esquecera do amigo. O que fazer?
Fangio e a Maserati 250F.
Deixado a pé pelo esquecido Birabongse Bhanubandh, restou ao Fangio viajar num avião de carreira até Londres, de onde outro avião o levou à Paris. O mau tempo não permitiu que o Chueco continuasse sua viagem pelo ar e na companhia do também piloto Louis Rosier, seguiu num Renault em uma madrugada especialmente chuvosa, em direção a Lion, onde chegaram às 6 da manhã. Em Lion, o argentino alugou outro Renault e preparou-se para a etapa mais dura da sua "maratona": percorrer 480 km atravessando os Alpes, chegando à Itália. Dizem as lendas que a recepcionista da autolocadora que o atendeu, perguntou para onde ele estava indo. Ao saber a resposta, ficou surpresa: "Quer estar na Itália de tarde e vai dirigir sozinho até lá?! Quem você pensa que é, o Fangio?"
Como era o próprio, às 2 da tarde, chegava o Chueco à Monza. Os pneus do carro estavam praticamente na lona, tal o ritmo imprimido. Outra façanha do campeão: a exemplo de Anibal Barca, o grande general cartaginês, ele também atravessara os Alpes para chegar à Itália...
Mas é claro que ele ainda era humano e seu corpo estava cobrando a conta da proeza. Como não treinou, largaria na última posição com o Maserati A6GCM. O pole, Alberto Ascari chegou a conversar com Fangio.
"Você parece cansado"
"Não é nada...", respondeu aquele incrível autoconfiante de 41 anos.
Na segunda volta, ele se perde totalmente em uma curva, bate e é ejetado do carro. Com uma comoção cerebral e as vertebras cervicais lesionadas, passaria os próximos seis meses imobilizado, refletindo que "(...) era muy fácil pasar de la vida a la muerte sin darse cuenta siquiera (...)".
Henrique Mércio - Caranguejo
Muito boa essa história. Grande Fangio. Abraços
ResponderExcluirGrande Rui e Caranguejo,vcs dois já pensaram em escrever um livro...Poderia chamar-se de hummm...Vejamos:HISTÓRIAS que VIVEMOS ou que APENAS OUVIMOS e ADORAMOS,que tal,hahahaha!!!
ResponderExcluirAmigos Rui e Caranguejo: adorável narrativa de um tempo memorável...
ResponderExcluirpermitam-me uma observação: na foto de Silverstone, com os pilotos alinhados recebendo cumprimentos do Rei Gerges VI, a seta vermelha pode induzir os menos avisados, de que trata-se do Príncipe Bira, quando, na reallidade, ela aponta para o então jovem Stirling Moss (nao tão baixinho quanto o príncipe, mas...).
Abração aos dois,
Luiz Guimarães
Oi Guima, tudo bom com vocês?
ResponderExcluirEu é que sou relapso, vou corrigir.
Um abração
Rui
Muito boa essa também. Obrigado
ResponderExcluirNós é que agradecemos.
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