Já escrevi tanto aqui sobre nosso automobilismo, escrevendo as minhas verdades a respeito de cartolas e o pessoal da imprensa que “cobre” ou devia dizer "cobra" este esporte, que por aqui é tão rico de pilotos e gente que realmente gosta dele.
Ontem ao ajudar o Ferraz a postar seu texto VERGONHA, li e reli diversas vezes o que meu amigo escreveu e ao final acabei me perguntando “e não é assim desde que comecei?” e olha que este ano vai fazer quarenta anos que pisei pela primeira vez em um autódromo como piloto.
Já naquele 1971 um dia estava com um grande amigo que tinha uma escola de pilotagem e um clube de automobilismo, pois bem chega um cartola e ex piloto com um recado para ele e o deu na cara dura na minha frente. Caso não votasse no candidato tal nas eleições que viriam para a Federação a licença de sua escola seria revista e a preferência naquele momento é que houvesse apenas uma escola por autódromo e a sua ficaria de fora.
Ora eu tinha 18 anos e eles já beiravam os 35/40 mesmo assim falei para meu amigo “dá umas porradas nesse fdp” e todos inclusive o fdp ouviram, pois é o tal fulano foi embora e esse cara fantástico que era meu amigo apenas me disse “ você está apenas começando a ver como é que se faz nos bastidores nosso automobilismo”.
Vamos ver então como funciona a coisa, o piloto se filia a um clube, a partir desse momento ele está apto a votar na eleição de sua diretoria, acontece que nenhum, repito nenhum de nós aparece nesta hora, e aí os “donos” desses clubes vão se elegendo e reelegendo perpetuamente ou colocando outros da mesma laia em seus lugares.
Os clubes elegem o presidente da federação que elege o presidente da confederação, ora em um pais como o nosso em que o automobilismo é praticado em poucos estados como pode o presidente da confederação por exemplo do Maranhão ajudar a eleger nosso mandatário maior.
Nessa “democracia” toda os clubes ficam com as datas no calendário para organizar as corridas. Do jeito que está na verdade eles são os donos dessas datas.
Esse pessoal todo apenas se interessa pelas categorias que lhes tragam alguma vantagem econômica, como a Stock e F. Truck que são muito bem organizadas por seus administradores e outras como a F. 3 cujos organizadores sempre tem uma data no calendário mesmo que a corrida largue com apenas nove carros.
As outras categorias que se danem, afinal para esses outros pilotos eles estão lá apenas para venderem a carteira de piloto e receberem as inscrições para corridas mal organizadas.
Seria obrigação dos clubes fazer todo trabalho de divulgação e busca de patrocínio para cada corrida. Divulgar para trazer para o autódromo publico e depois no dia seguinte tentar a divulgação em jornais e outros órgãos da imprensa. Mas não eles apenas pensam na grana das cateirinhas e inscrições e os verdadeiros astros que se danem. É apenas isso que acontece.
No ano passado em Interlagos meu amigo Fernando me chamou atenção quando estávamos no grid para ver o pessoal da Força Livre sobre um rapaz que corria com um Gol. Ele havia sido Campeão Paulista em sua categoria no ano anterior e corria apenas com a ajuda de sua mulher. Pois é a Fernanda e o Irineu Cury apesar de prepararem o carro que foi campeão no ano anterior não tinham sequer um patrocínio, culpa desse esquema até mafioso que toma conta de nosso automobilismo.
Duas semanas atrás quando o Ferraz me ligou para dizer que havia recebido o calendário para as provas de Endurance de 2011 nós acabamos rindo da piada, piada sim e os 1.000 KM previstos para hoje mostraram isso. R$ 5.000 a inscrição e mais R$ 1.000 para cada piloto a mais, corrida sem divulgação, sem premio de largada e talvez com um mixuruco troféu aos vencedores. Vocês vão dizer “premio de largada?” é sim prêmio de largada, pois os organizadores teriam a obrigação de conseguir patrocínio para a corrida e divulgá-la trazendo publico ao autódromo, com isso gerando receita para que os verdadeiros donos do espetáculo pudessem exercer sua atividade. Ora bolas para eles só interessava a inscrição e a venda das carteirinha, já que com isso o deles já estava garantido. É apenas um bando mal intencionado de incompetentes. E o prejuízo de quem se preparou, se inscreveu as vezes vendendo um espaço em seu carro para algum patrocinador ou pegando dinheiro de seu próprio bolso e correndo com a ajuda de amigos?
Acredito que os organizadores dos 1.000 KM aproveitaram a data que correria a F3 e quiseram fazer junto, aproveitando todo esquema já montado.
Da F 3 não pretendo falar nada, acho apenas que é uma categoria caça níqueis e que dificilmente vai levar alguém a algum lugar.
Já as Mil Milhas Brasileiras é uma vergonha o que fizeram com ela. Criada por Eloi Gogliano e Wilson Fittipaldi era promovida pelo Centauro Motor Club, que fez o Centauro vendeu seus direitos a um particular que viu na corrida a oportunidade de trazer uns foguetes para acorrida e ganhar uma boa grana, esqueceu de nossos pilotos, aqueles que se preparavam o ano todo pensando nela, que tinham orgulho de apenas estar no grid e carregavam sua participação como um troféu não importa qual a colocação.
Pois bem Eloi e Wilson para organizar as primeiras MMB, convidaram grandes pilotos trazidos para correr por belos prêmios de largada e chegada e todo prestigio que ela trazia a seus participantes.
Falta a nosso esporte gente competente que o dirija, que não tenha rabo preso com os esquemas que predominam, que trabalhe com boas intenções, só assim ele vai ser forte aqui dentro e quem sabe muita gente possa ganhar seu sustento fazendo o que gosta e sabe.
Rui Amaral Jr
Dedico este post a dois amigos, Expedito Marazzi e Antonio Carlos Avallone.
Expedito jornalista sério que entendia sobre o que escrevia, piloto, diretor de clube e dono de escola de pilotagem, amigo leal e sincero.
O Baixinho também jornalista combativo, diretor de clube, piloto, organizador, construtor. Muito batalhou, abriu caminho na Europa para pilotos brasileiros, organizou a Copa Brasil de Automobilismo, foi perseguido e difamado. Até mesmo a FIA ameaçou os participantes da Copa com a cassação de suas licenças.
Corri em provas organizadas por eles e tive o privilégio de com eles conviver e trocar muitas idéias de tudo que envolve automobilismo de competição.
E a Antonio Carlos Scavonne.