Dá um jeito Beaky...
Mike Gregory e Dave Sims...a equipe Lotus.
Um dos primeiros pontos
que nos chama a atenção nos acontecimentos que cercaram a primeira etapa do
europeu de Fórmula 2 em 1968, na pista de Hockenheim (a prova em Montjuich Park
fora extracampeonato) é o número de
integrantes da equipe Gold Leaf Team Lotus
envolvidos.
Já no grid Jimmy e Beaky.
Jim Clark contava com
Dave "Beaky" Sims para preparar seu carro e Graham Hill tinha Mike
"Carnoustie" Gregory para cuidar do seu e era tudo. Dois pilotos,
dois mecânicos.
E algum desavisado
diria que eram muitos, para um evento onde nada parecia dar certo para a Lotus.
Um fim de semana a ser esquecido, mas não mais do que isso, até a quinta volta
da primeira bateria. " Quando não o
vimos passar, não percebemos de imediato", conta Sims. "Teria havido
uma quebra com Jimmy?"
Então um dos carros de serviço apareceu e um fiscal
de pista perguntou: "Você é o mecânico de Jim Clark?" Sims quis saber
o que ocorrera e foi informado do acidente. Quando foi ao local da batida, viu
uma ambulância e questionou: "Ele está bem?" "Não posso
dizer", foi a resposta. Então viu o carro. Não havia sobrado muita coisa.
Onde estavam a caixa de velocidades, o motor? A resposta: "Ah, pela
floresta. Ele atravessou a mata ao sair da pista". Perplexo, Beaky
perguntou se poderia ver Clark. A resposta foi não.
Sem certeza do que causara tudo aquilo, Sims teve a idéia de pedir ao fiscal que o levara até o local do acidente, que voltasse aos boxes e dissesse a Michael Gregory que chamasse G.Hill de volta aos boxes.
Quando Graham chegou disse:"OK, Beaky. O que temos de fazer é pegar o caminhão e carregá-lo com tudo isso. Venha e sente-se por alguns minutos. Acalme-se. É isso o que vamos fazer, está bem?" E assim foi. Eles encheram o caminhão da equipe com os destroços do Lotus 48 e voltaram ao paddock. Restava a Hill identificar o corpo de Jimmy. Antes de realizar a triste tarefa, ele determinou que o caminhão não deveria ser aberto para ninguém. Beaky e Carnoustie retornaram ao Hotel Luxhof onde estavam, com o pesado veículo.
Mas logo a Polícia chegou e lhes deu uma contra-ordem. Ninguém poderia sair do hotel ou deixar a Alemanha. O pesadelo particular de Sims continuou com a chegada de Colin Chapman. Era uma da manhã e todos continuavam de pé. "Que diabos você fez?", vociferou Colin a Dave, que retrucou: "Por Cristo. Foi um acidente". Chapman pareceu conter-se. "Certo. Está bem". Fiel da balança, Graham pediu calma. Chapman então disse: "Quero o caminhão fora daqui. Agora". Sims alertou que não poderiam e que o carro da polícia estava bloqueando a saída. Colin não queria saber: "Não importa. Temos que tirá-lo da Alemanha". Meia hora depois, o pequeno Volkswagen da Polícia tinha desaparecido. Dave e Gregory assumiram o volante e Chapman lhes disse: "Vão para o oeste, para a costa; até Zeebrugge na Bélgica". Ao chegarem à costa belga, o passo seguinte seria fretar um barco que transportaria o caminhão até a Inglaterra. Sims recorda:"Então fomos. Subimos uma colina, outra, depois outra. Até chegarmos a uma barreira vermelha e branca. Era a alfândega, mas não havia ninguém lá. Nós prosseguimos, encontramos Zeebrugge no mapa e chegamos. O cara do barco já estava sabendo da tragédia e parecia interessado. Perguntou se conhecíamos Jim Clark. Disse que éramos seus colegas de equipe. Foi quando o sujeito falou que queria olhar o caminhão, tirar fotos". Dave protestou e respondeu que não era possível. O barqueiro foi irredutível: "Sem fotografias, sem barco". Sims e Gregory decidiram rapidamente. Dave abriu a porta do caminhão."Era só uma bagunça, mais nada. Havia uma lona cobrindo o que restara do carro, mas o homem não desistiu e fez algumas fotos". Satisfeito, a última etapa da viagem enfim começou. Em seu destino encontraram a polícia britânica esperando-os no porto.
Mas estavam ali para escoltá-los, pois havia a imprensa por todo o lado e muitos curiosos. De volta à sede da equipe, Sims ficou sem aparecer por algum tempo. Quanto ao que restara do Lotus 48, Colin enviou o motor à Cosworth, o câmbio para a Hewland, os pneus à Firestone e qualquer outro fragmento para a Farnborough Aircraft. Tudo foi examinado e nada encontrado, embora a Firestone apontasse para a deflação do pneu traseiro direito como uma possível causa. Mas os tablóides escolheram Beaky para apontarem seus dedos acusatórios. Quem tocara por último no carro? Sims, aos vinte e sete anos era pouco experiente e deixou-se levar por essa onda, até o dia em que falou com Colin Chapman outra vez e perguntou-lhe o que faria. "O que quer dizer com o que vai fazer?" Beaky retrucou: "Eu era o mecânico do Jimmy e ele morreu. O que faço?" A resposta de Chapman foi direta: "Você vai à Jarama amanhã, levando o novo chassi para o Graham, que o usará no Grande Prêmio".
E assim Dave Sims começou a tentar superar o trauma da morte do terceiro Gigante...
Sem certeza do que causara tudo aquilo, Sims teve a idéia de pedir ao fiscal que o levara até o local do acidente, que voltasse aos boxes e dissesse a Michael Gregory que chamasse G.Hill de volta aos boxes.
Quando Graham chegou disse:"OK, Beaky. O que temos de fazer é pegar o caminhão e carregá-lo com tudo isso. Venha e sente-se por alguns minutos. Acalme-se. É isso o que vamos fazer, está bem?" E assim foi. Eles encheram o caminhão da equipe com os destroços do Lotus 48 e voltaram ao paddock. Restava a Hill identificar o corpo de Jimmy. Antes de realizar a triste tarefa, ele determinou que o caminhão não deveria ser aberto para ninguém. Beaky e Carnoustie retornaram ao Hotel Luxhof onde estavam, com o pesado veículo.
Mas logo a Polícia chegou e lhes deu uma contra-ordem. Ninguém poderia sair do hotel ou deixar a Alemanha. O pesadelo particular de Sims continuou com a chegada de Colin Chapman. Era uma da manhã e todos continuavam de pé. "Que diabos você fez?", vociferou Colin a Dave, que retrucou: "Por Cristo. Foi um acidente". Chapman pareceu conter-se. "Certo. Está bem". Fiel da balança, Graham pediu calma. Chapman então disse: "Quero o caminhão fora daqui. Agora". Sims alertou que não poderiam e que o carro da polícia estava bloqueando a saída. Colin não queria saber: "Não importa. Temos que tirá-lo da Alemanha". Meia hora depois, o pequeno Volkswagen da Polícia tinha desaparecido. Dave e Gregory assumiram o volante e Chapman lhes disse: "Vão para o oeste, para a costa; até Zeebrugge na Bélgica". Ao chegarem à costa belga, o passo seguinte seria fretar um barco que transportaria o caminhão até a Inglaterra. Sims recorda:"Então fomos. Subimos uma colina, outra, depois outra. Até chegarmos a uma barreira vermelha e branca. Era a alfândega, mas não havia ninguém lá. Nós prosseguimos, encontramos Zeebrugge no mapa e chegamos. O cara do barco já estava sabendo da tragédia e parecia interessado. Perguntou se conhecíamos Jim Clark. Disse que éramos seus colegas de equipe. Foi quando o sujeito falou que queria olhar o caminhão, tirar fotos". Dave protestou e respondeu que não era possível. O barqueiro foi irredutível: "Sem fotografias, sem barco". Sims e Gregory decidiram rapidamente. Dave abriu a porta do caminhão."Era só uma bagunça, mais nada. Havia uma lona cobrindo o que restara do carro, mas o homem não desistiu e fez algumas fotos". Satisfeito, a última etapa da viagem enfim começou. Em seu destino encontraram a polícia britânica esperando-os no porto.
Mas estavam ali para escoltá-los, pois havia a imprensa por todo o lado e muitos curiosos. De volta à sede da equipe, Sims ficou sem aparecer por algum tempo. Quanto ao que restara do Lotus 48, Colin enviou o motor à Cosworth, o câmbio para a Hewland, os pneus à Firestone e qualquer outro fragmento para a Farnborough Aircraft. Tudo foi examinado e nada encontrado, embora a Firestone apontasse para a deflação do pneu traseiro direito como uma possível causa. Mas os tablóides escolheram Beaky para apontarem seus dedos acusatórios. Quem tocara por último no carro? Sims, aos vinte e sete anos era pouco experiente e deixou-se levar por essa onda, até o dia em que falou com Colin Chapman outra vez e perguntou-lhe o que faria. "O que quer dizer com o que vai fazer?" Beaky retrucou: "Eu era o mecânico do Jimmy e ele morreu. O que faço?" A resposta de Chapman foi direta: "Você vai à Jarama amanhã, levando o novo chassi para o Graham, que o usará no Grande Prêmio".
E assim Dave Sims começou a tentar superar o trauma da morte do terceiro Gigante...
Dave Sims
CARANGUEJO
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NT: "Terceiro Gigante" = Tazio Nuvolari, Juan Manuel Fangio e Jim Clark.
Fotos internet.
Fotos internet.
Pqp... História de gente grande, contada por gente grande.
ResponderExcluirEu não conhecia nada disso.
Sou muito impressionado com caras que enterravam seus amigos, periodicamente, ao longo do ano. A fatalidade era uma amiga íntima de todos.
Mas não era só enterrar: resgatar dos escombros, visitar no hospital, apoiar a viúva, enterrar, resgatar de novo, vez por outra, reconhecer um cadáver...
E isso tudo entre uma corrida, um treino, outra corrida.
Não era só F1: era F2, protótipos, CanAm: eram todos doentes por essa coisa de dirigir automóveis velocíssimos.
Esses doentes geraram a paixão pelo automobilismo.
Obrigado Walter, vou transmitir ao Caranguejo seu belo depoimento. Um abraço
ExcluirO Walter tem razão...e dessa terrível rotina, quem bem sabia era o bigodudo de olhar triste que foi inserido no Post. Graham Hill. Uma espécie de protetor dos pilotos. Não pode ajudar seu amigo Clark, mas apoiou muita gente em momentos de apuro.
ResponderExcluirCaranguejo
https://rodrigomattar.grandepremio.com.br/wp-content/uploads/2014/09/Crash-Revson.jpg
ResponderExcluirEssa foto mostra Hill tentando salvar mais um.
Mestre Mercio , bela narrativa, cheia de detalhes ! Abração
ResponderExcluirNão entendo nada disso. Mais tô junto. O q eu faço pra entrae. Verdade Rui. Abraço 👏👏👏🏁🏁🏁
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