A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Jochen Rindt- O último verão - por Marco Zanicotti


   Mônaco - Jochen com a 49C a frente de seu amigo Piers Courage com a De Tomaso. 

A temporada de 1970 está para começar. Entre os favoritos estão o campeão de 69 Jackie Stewart, agora sem o apoio da Matra que queria ser totalmente francesa e ele começa o ano com o novo March, a incógnita da temporada.
   Do outro lado, a sempre poderosa Ferrari com seu potente motor flat 12 e o jovem austríaco Jochen Rindt, que vencera nos E.U.A. no ano anterior e aguardava a estréia do seu novo carro, o incrivelmente revolucionário Lotus 72. Também não podia ser descartado o velho Jack Brabham, que acabou vencendo a primeira corrida do ano em Kyalami na África do Sul. Jochen correu com o antiquado mas brilhante Lotus 49, mas abandonou com problemas mecânicos.
   Na segunda corrida em Jarama na Espanha, todos os olhares se viravam para o Lotus 72. Eles queriam ver como se sairia o novo carro nas mãos de Jochen. Deu tudo errado! Jochen não se adaptou ao novo sistema de suspensão que mantinha o carro em uma altura constante, mas que fugia a sensibilidade do piloto. Stewart foi mais feliz e conseguiu vencer com seu novo March.
   Jochen voltou em Mônaco com o velho 49, agora sob a insígnia "C" por causa do seu desenvolvimento. Fez uma classificação burocrática, conseguindo o sétimo posto para a largada. Sem incidentes no início e depois dos problemas com o March de Stewart que liderava com folga, parecia que o velho Jack Brabham partia soberano para a vitória. Só que ninguém contava que no ultimo terço da longa corrida, o incansável Rindt descontaria 27 segundos em apenas 23 voltas, colando em Brabham na ultima passagem antes da chegada. O que se via era uma perseguição implacável por parte do jovem austríaco, culminando com um erro de Brabham na última curva, indo se chocar com os fardos de feno. Jochen passou por dentro e nem recebeu a bandeirada, pois confundiu o fiscal que esperava por Brabham. Três corridas e três vencedores, o campeonato estava aberto.


Spa - com a 49C abre de Ickx, Beltoise e Brabham.

   Em Spa na Bélgica Jochen saiu na frente, mas problemas no Lotus 49 não deixaram que ele figurasse na classificação final, que teve o quarto vencedor em quatro corridas. Os louros couberam ao mexicano Pedro Rodríguez em seu BRM V12.
   Para Zandvoort na Holanda, Colin Chapman trouxe novamente o Lotus 72, agora com uma suspensão mais convencional e permitindo a Jochen conquistar a pole position. Na corrida o que se viu foi um verdadeiro passeio de Jochen pela sinuosa pista holandesa, ladeada por barrancos por toda a sua extensão. E foi bem um desses barrancos que vitimaram seu melhor amigo Piers Courage, que fazia bela corrida com o limitado De Tomaso da equipe de Frank Williams. Quando desceu do carro Jochen não tinha porque comemorar, tendo visto que recebeu a triste notícia  da morte de Piers.
   Durante o verão europeu Jochen estava amargurado, pensando seriamente em parar de correr. Mas ele tinha que continuar pois estava em sua melhor forma e com um grande carro nas mãos. O titulo mundial que era um sonho, passava a ser uma realidade ainda mais depois da vitória na França, que o alçou a liderança do campeonato com 27 pontos.


Largada em Brands - Jochen, Brabham e Ickx.

   Em Brands Hatch na Inglaterra, largou na pole mas foi superado por Jacky Ickx na sempre perigosa mas pouco confiável Ferrari e por Jack Brabham, ainda competitivo aos 44 anos. O que se viu depois da saída da Ferrari que liderava, foi uma intensa batalha entre Jochen e o velho Brabham. No final Brabham tinha uma certa vantagem e parecia ter a corrida ganha, mas ficou sem combustível a poucos metros da chegada, possibilitando a Jochen sua quarta vitória e deixando a torcida em êxtase! Nessa corrida estreava um jovem brasileiro de rosto espinhento e enormes costeletas que em pouco tempo se tornaria um dos maiores nomes da F1. Seu nome: Emerson Fittipaldi. Emerson contou depois que procurou Chapman para falar da estréia, mas não encontrou ninguém, pois estavam todos em plena comemoração com Jochen madrugada adentro.


Hockenhein - Jochen lidera Ickx.


   Em Hockenheim desde os treinos dava para ver que a briga seria entre Jochen e a Ferrari de Jacky Ickx, os únicos a baixarem de dois minutos o tempo da volta. Ickx na pole e Jochen em segundo. Na largada Jochen patina as rodas em demasia e quase é engolido pelo pelotão. Contorna a primeira curva em quarto rumo a floresta. Ao final da primeira volta já é segundo começando então uma das maiores batalhas de todos os tempos, trocando freneticamente de posição com Jacky Ickx durante toda a corrida. Na ultima volta Jochen consegue uma vantagem segura, adentrando o estádio com a vitória garantida e levando ao delírio as duzentas mil pessoas que ali estavam para saudar o filho ilustre! Em uma entrevista depois da corrida, Jochen brincava sobre a facilidade de se conduzir o Lotus 72, dizendo que com ele qualquer macaco venceria!
   Foram para a Áustria sabendo da dificuldade de superar as Ferrari que estavam cada vez melhor, mas mesmo assim Jochen conquistou a pole position  para deleite dos seus fãs. Na corrida não conseguiu conter o avanço das Ferrari, que fizeram 1-2 com Ickx e Regazzoni. Jochen abandonou na volta 22 com o motor estourado quando era o quarto colocado.


 Em Monza sem as asas traseira e dianteiras...

Com Chapman...
Monza - Hill com a Lotus 72C da equipe Rob Walker sem as asas dianteiras e uma pequena na traseira.

   Começa setembro e junto com o fim do verão, os preparativos para o GP da Itália no velocíssimo circuito de Monza. No primeiro treino na quinta feira, a equipe Lotus se depara com um problema seriíssimo. Os carros simplesmente não rendiam com os aerofólios no lugar e como era de praxe em Monza, foram retirados para ganhar velocidade em linha reta. O problema é que o Lotus 72 nunca havia sido testado em tal configuração, não se sabendo qual seria a reação do carro sem os aerofólios. O que era para ser uma festa estava se tornando um pesadelo, pois continuavam bem mais lentos que as Ferrari e Jochen não estava feliz com o comportamento do carro. Ele chegou a cogitar que Chapman mandasse buscar um Lotus 49, que se comportava muito bem sem o aerofólio, mas Chapman vetou a idéia. A tensão aumentava e as coisas só pioravam quando no primeiro treino de sábado Jochen saiu para "matar ou morrer" e segundo Hulme que fora ultrapassado por ele momentos antes, Jochen estava extremamente veloz quando apertou o pedal do freio na aproximação da parabólica, curva veloz e perigosa que leva para a reta de chegada em Monza. Acontece que ele nem chegou a fazer a curva, que com a quebra do disco de freio do lado direito o Lotus deu uma violenta guinada para o lado oposto da curva, se chocando com o guard rail que ficava a poucos metros da pista. Com a sucessão de corrupeios que o carro deu antes de parar na areia, Jochen que não gostava de usar o quinto ponto do cinto de segurança (parte que sustenta a virilha), escorregou para dentro do cockpit sendo imediatamente enforcado pelo cinto. Segundo Bernie Ecclestone, manager de Jochen na época, ele não teria chance alguma porque bateu a quase 320 km/he teve o torax esmagado pela pancada no volante. Ainda fizeram o socorro mas todos os esforços foram em vão, com ele chegando morto ao hospital em Milão. A Lotus recolheu tudo e foram imediatamente embora de Monza, com Chapman visivelmente com medo das autoridades italianas, que investigariam o caso.


 Monza - Stewart conta a Nina...
 Na premiação entrega a Nina a taça de Campeão do Mundo.
O jovem Frank e a homenagem ao amigo e ídolo.

   Depois de ficarem de fora no Canadá, a Lotus voltou em Watkins Glen nos E.U.A com a equipe renovada. Emerson como primeiro piloto e Reine Wisell no lugar de John Miles, que ficou muito chocado com o episódio em Monza e resolveu abandonar a F1, com medo de pilotar o Lotus 72.
   Se Jacky Ickx vencesse as três que faltavam depois de Monza levaria a coroa, pois faria 46×45 superando Jochen por um ponto. A primeira parte ele havia feito com a vitória no Canadá, mas nos E.U.A ele apesar de ter feito a pole position, teve problemas em sua Ferrari, chegando em quarto lugar e dando adeus as esperanças de ser campeão. Jochen foi até hoje, o único campeão que ao final da temporada, não estava vivo para receber os louros que merecia.

Descanse em paz grande acrobata das pistas!

                          Marco Zanicotti

13 comentários:

  1. Neste ano de 1970 começou a paixão da maioria dos brasileiros pela Fórmula 1, eu inclusive, com a entrada do Emerson Fittipaldi e o início das transmissões pela TV. Assisti à prova de estreia do Emerson e passei a acompanhar as provas pelas revistas 4Rodas e AutoEsporte... Uma narração empolgante do Marco Zanicotti, que me fez voltar aos 13 anos. Parabéns Rui e Marco, abrações!!!

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    1. Baita abração Danilão, obrigado pelo prestigio de sempre meu amigo!

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    2. Abração Danilo,esse episódio mudou pare sempre a minha vida a partir dos seis anos de idade!

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  2. Excelente texto e justíssima homenagem. Parabéns. Apenas uma pequena correção : Na foto de Spa, quem vem no Matra azul é J.P. Beltoise. Ch. Amon pilotava para a March em 70. Apenas um detalhe irrelevante, perto da qualidade do texto, fotos e da lembrança a um dos mais rápidos pilotos das décadas de 60/70.

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    1. Obrigado José, foi uma bobeira minha, digitalizei esta foto anos atrás e sabia ser meu ídolo Beltoise, na correria para postar...corrigi na hora em que vi seu comentário, bom demais saber que as pessoas que nos acompanham entendam e prestem atenção em nossos posts, novamente obrigado e um abraço.

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  3. 1970 é uma 'virada' na F1: a Lotus revolucionária consolida o patrocínio como forma de financiamento. Nesse ano, a Yardley abraçou a BRM, a Elf abraçou Ken Tyrrell.
    Essa Lotus venceria corridas até 1975!
    Rindt morto, Emerson vencedor, Brabaham aposentado, começava uma década tão letal quanto genial.
    1970 foi o ponto de inflexão.
    Rindt, como um marco na história da F1, é uma fera que pagou com a vida para ser o único campeão 'post morten'.

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    1. Exato Walter, foi uma década letal porem bela, um abraço meu amigo.

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  4. Além do já referido o ano de 70 marca o inicio do fim dos F1 charutos.
    O Lotus 72 foi o primeiro, mas o March 701 já tinha umas linhas que fugia dos ditos. A frente plana e com flancos (depósitos de combustivel) em asa invertida, sem ter a função aerodinamica que mais tarde veio a ter.
    Foi o fim de SPA na extensão de 14 Kms. Antes do GP Belgica, Stewart tentou cancelar a corrida caso chovesse, com o apoio de Courage e Rindt. Do outro lado da facção estava Ickx e Rodriguez que diziam que tinha-se que correr, independentemente da meteorologia, mesmo que isso significá-se perder a vida...
    Foi o fim de Nurburgring sem rails. Neste ano estava a ser remodelado com rails na sua extensão, por isso foi usado Hockenheim. De referir que todos os pilotos acharam Hockenheim completamente desinteressante. Uma pista enfadonha e sem grandes desafios, comparando com Nurburgring. Ou seja, exactamente aquilo que nós hoje dizemos do novo Hockenheim em relação ao antigo... como as coisas mudam com o tempo!!!
    Inicio da March, com uma oferta de chassis a quem quisesse. Muitos foram aqueles que se estrearam num March, Peterson, Cevert, Galli, Lauda, Pace, Hunt, Purley, Williamson, Brambilla... etc.
    Estreia da Surtees. Estreia do Osterreichring. Estreia de Clay Regazzoni com a idade de 31 anos, a mesma idade com que Nico Rosberg se retirou da F1 (???).
    Final de carreira para Jack Brabham e Dan Gurney, dois simbolos dos anos 60.
    É neste ano que começa a parceria Fiat/Ferrari.
    E muito mais haverá para dizer.

    Paulo Alexandre marques

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    1. Para nós mudanças e novidades mil, ao contrário de hoje.

      Um abraço Paulo Alexandre

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  5. A sacada desse 'post', mostrando que 1970 foi o ponto de inflexão do automobilismo, sugere, como nos conta o Paulo Alexandre, pensar também nos autódromos. Mas não caberia comparar com as bobagens de hoje.
    Hockenheim era mesma enfadonha, mas velocíssima. Paralelos daquelas pistas com qualquer das pistas atuais (ângulos fechados, curvas curtas) é um crime de lesa majestade.
    Espero que a burrice de Eclestone, uma vez defenestrado da F1, vá perdendo força e que os traçados voltem a ser redesenhados na direção certa (curvas desafiadoras e/ou velozes).

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    1. Meu amigo Walter, tenho uma péssima noticia...parece que vão fazer um "S" depois da curva da Junção!!!!!! A baderna em Interlagos continua e piora dia a dia!!!!!!

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  6. Que barbaridadde... Vai ficar um 'slalon'...

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Rui Amaral Jr