1971 começou com grandes promessas para nosso
automobilismo, Interlagos estava em reformas, Tarumã, Guaporé e Cascavel
inaugurados ao final de 1970. Os autódromos gaúcho e paranaenses com traçados
de cerca de três quilômetros, tres pistas desafiadoras que trouxeram ainda mais
os pilotos e equipes daqueles estados ao topo de nosso automobilismo. Grandes
iniciativas de abnegados visionários que viram no esporte motor o caminho para
o desenvolvimento. Deixo aqui minha homenagem ao grande Zilmar Beux, que
capitaneando um grupo de esportistas colocou Cascavel em lugar de destaque no
nosso automobilismo.
Brasileiros e
Argentinos já combatiam há muito nas pistas, com carreteras, na Mecânica
Continental que eram carros da Formula Um já em desuso na Europa e que na
América do Sul eram retirados seus motores originais e equipados com motores
V8.
No Brasil grandes nomes
se destacavam na organização de torneios, entre eles Mario Patti, Antonio
Carlos Scavone e Antonio Carlos Avallone.
Neste ano duas forças
do automobilismo Sulamericano se encontraram, a Berta e a Equipe Z, depois
Hollywood.
Berta Tornado
Chassi semi monocoque
em aço e alumínio. Motor traseiro entre eixos.
Motor seis cilindros em
linha derivado do Tornado 380, Berta elevou sua cilindrada á 4.000cc mudando
sua configuração de curso x diâmetro, diminuindo o curso e aumentando o
diâmetros fazendo com que o motor girasse a 6.800 rpm, ajudado por um novo
cabeçote de dois comando na cabeça alimentados por três Weber 48. Esta joia
desenvolvia aproximadamente 360/370 hps. Bloco de ferro e cabeçote de alumínio.
Cambio Saenz 750 de
cinco marchas.
Freios Girling.
Comprimento: 4.050 mm.
Largura: 1.880 mm.
Bitola dianteira: 1.550
mm.
Bitola traseira: 1.528
mm.
Distância entre eixos:
2.320 mm.
Rodas;
Dianteiras 15x10.
Traseiras 15x15.
Peso 750/800 kg.
Porsche 908/2
Motor
Configuração flat 8 cilindros contrapostos.
Localização traseira,
montado longitudinalmente
Construção bloco e
cabeçote em liga.
Cilindrada 2,996 litros
Diâmetro x curso 85,0
milímetros x 66,0 milímetros
Taxa de compressão
10.5:1
2 válvulas por
cilindro, duplo comando
Alimentação de combustível
injeção Bosch.
Potencia 350 CV a 8500 rpm
117 cv/litro
Chassis em alumínio
tubular.
Suspensão dianteira
triângulos duplos, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos
Suspensão traseira
braços superiores e inferiores, braço tensor, molas helicoidais, amortecedores
hidráulicos
Direção cremalheira e
pinhão
Freios Dunlop-ATE,
discos nas quatro rodas
Caixa de cambio Porsche
5 marchas
Tração traseira
Dimensões
Peso 600 kg.
Comprimento 4.320
milímetros.
Largura 1830 mm.
Altura 1020 mm.
Distância entre eixos
2300 milímetros.
Bitola dianteira 1.486
milímetros.
Bitola traseira 1453 mm
Rodas;
Dianteiras 15x10 pol.
Traseiras 15x15 pol.
Algumas considerações.
Dois carros de duas
épocas, o 908/2 projetado cerca de 4/5 anos antes quando os pneus slick ainda
estavam longe das pistas, para o uso deles foi projetado e construído seu
substituto o 908/3 muito diferente em todas configurações e com o motor cerca
de 20 hps mais forte. Já o Berta Tornado deriva do Berta Cosworth concebido no
final de 1969 para temporada de 1970, além disso ao contrário do 908/2 corria na
equipe que o projetou e construiu, podendo o gênio argentino inserir nele
diversas modificações no decorrer do ano, coisa que a Z não fazia no 908/2,
apenas mais para frente alguma coisa na aerodinâmica.
No primeiro duelo entre
eles Luiz Pereira Bueno se queixou muito dos pneus, o que mais tarde com testes
e muitas corridas foi resolvido, culminando com sua espetacular participação
nos 500 Quilômetros de Interlagos de 1972.
A primeira prova da
temporada em Tarumã foi vencida por Tite Catapani com a Lola T210 ex Emerson Fittipaldi,
massss as duas feras, Luis & Luiz não estavam presentes, logo conto sobre.
Vejam a situação de
nosso automobilismo, depois da era de ouro quando as montadoras dominaram o espetáculo,
tivemos alguns anos de corridas minguadas. Agora a Formula Ford chegava com
força, algumas grandes equipes eram montadas, logo teríamos a Divisão Um forte,
assim como a Divisão Três. Ainda em 71/72 correram os carros do Grupo Cinco e
Seis, no final de 1972 os importados foram banidos e chegou a bela Divisão
Quatro, quando um certo Baixinho visionário começou à montar aqui carros da
Lola e a equipe Hollywood encomendou a Berta o super Hollywood-Berta, com o motor
Ford 302 V8 que aqui equipava o Maverick.
Rui Amaral Jr
Como sempre peço perdão
por algum erro ou informação desencontrada, escrevo principalmente de memória,
e também com o coração.
Lembrando Cascavel
deixo aqui meu forte abraço ao Milton Serralheiro e ao grande amigo Miguel Beux
que herdou de seu pai Zilmar, o talento a competência e a força.
Essa 'trilogia' do começo dos anos 1970 (Berta Tornado x Porsche 908/2; HERMANOS...; Equipe Z), vista pelo lado dos protótipos, ficou maravilhosa. É uma história pouco contada, mas tão importante e tão incrível.
ResponderExcluirO Brasil tinha um piloto na Lotus, na F1, mas o mundo dos protótipos efervescia, com Ford x Ferrari, depois Ferrari x Porsche.
Tivemos a Copa do Brasil de 1970, carros importados que ficaram por aqui (lembrem: o Brasil era um país fechados às importações), 'top' da categoria. Seria como se houvesse um campeonato brasileiro de protótipos em que corressem Rebellion, Ligier, Porsche, nos dias de hoje.
Mas os 'hermanos' pareciam muito à nossa frente, em engenharia de pista. E tinham o mago Oreste Berta.
Os videos de entrevistas dele são maravilhosos, pela simplicidade, como pessoa, e pela sofisticação, como engenheiro.
É incrível que ninguém entreviste ao Berta no Brasil (como, de resto, entrevistamos tão pouco ao Ricardo Divilla, só para falar de alguém que já faleceu). Não é só automobilismo, é "R&D" (research & development) sem o qual não se faz um país.
Mas peço licença ao Rui para sugerir esta entrevista em que Berta conta sobre o Berta Hollywood: https://youtu.be/6ZLBb5Kx3C0?t=1443 . Ele fala com muito orgulho do carro e do motor Maverick, inclusive contando que colocou tapa cilindros que havia ganho do Dan Gurney.
Quando vi com atenção a foto do grid dos 500 Km de Interlagos, aqui no Histórias, 'caiu a ficha': Luiz Pereira Bueno, de Porsche 908, em 4o lugar, atrás de um Porsche 908 (Joest), uma Ferrari 512 (Muller) e... um Berta! Esse argentino genial fez um carro que poderia competir na Europa, com sucesso.
Resposta em várias etapas, vou lembrando e comentando! A seriedade de Berta me lembra muito a de Crispim, outro dia conversamos longamente sobre, souu fã de meu amigo!
ExcluirMuito obrigado Walter, sorvi cada segundo da entrevista, magnifica, tanto a comentar que fico aqui sem saber o que dizer. A relação de Berta e Di Palma me lembra muito a do Chico e Crispim, os mesmos "abusos" por parte dos condutores, a mesma cumplicidade, a mesma admiração mutua, resultados parecidos. Triste ver o Hollyood Berta nas mãos de um argentino, nada a fazer. Gurney era um tremendo ser, muito amigo de Fritz D`Orey, essas tampas de cabeçote contam uma maravilhosa história. Berta se queixa da politica com razão, lá tal como cá algo inimaginável para povos civilizadois. Gostaria demais de fazer uma entrevista igual com meu amigo Crispim, sempre conversamos muito e ouvir seus relatos é sempre enxergar um automobilismo que foi bem maior do que pensamos.
ResponderExcluirDepois deste vídeo que sorvi neste dia chuvoso, outro em que ele conta sobre as 84 Horas https://youtu.be/aRRi0IJmUZ4 imperdivél.
Obrigado novamente meu amigo.
Um abraço.
Pois é, essas entrevistas precisam ser feitas.
ResponderExcluirEssa semana, no Classic Courses (de automobilismo da França) o Michele Tétu, chefe da Renault, dá uma entrevista e depois ele mesmo responde aos comentários, é genial.
Como eu só conheço essa galera olhando a partir da arquibancada, não é fácil. Mas que seria bacana fazer um projeto gratuito, pelo simples gosto cidadão de registrar a história, isso seria.