domingo, 21 de junho de 2020

300 SRL- A Mercedes Benz que venceu todas corridas em que participou!

Drundod - Tourist Trophy - 1º Moss/Fitch, 2º Fangio/Kling e 3º von Trips/Simon/Kling 

Ela ficou pronta apenas na terceira corrida do mundial, mas quando chegou venceu tudo! 
Das seis corridas do mundial de 1955 venceu três, a equipe se retirou de Mans após o fatídico acidente, quando vinha na liderança com Fangio & Moss.
Todas com primeiro e segundo lugares, apenas que em Drudot fizeram primeiro, segundo e terceiro!
Rudolf Uhlenhaut, o chefe do projeto, usou o conceito da fabulosa W196, e muitos de seus componentes, para desenvolver esta bi-place.

Moss & Jenkinson na Mille Miglia

Chassi tubular de estrutura espacial, motor dianteiro entre eixos, suspensão dianteira e traseira independentes, freios a tambores internos com servo freio, cambio de cinco marchas sincronizadas junto ao diferencial, os semi eixos saiam de uma posição baixa no diferencial para abaixar o centro de gravidade. Sua suspensão era por barras de torção com amortecedores, e ajustáveis em sua altura pelo piloto. Seu motor colocado bem baixo, e deitado à 33º,  dava ao carro uma silhueta baixa e aerodinâmica bem diferente dos modelos da época. Seu peso sem óleo, água, e outros fluídos era de 840 kg.   
  
Derivado do fabuloso motor de oito cilindros em linha W196 da Formula Um, teve sua capacidade cúbica aumentada dos 2,496cc para 2,981cc.
A tomada de força ficava no meio, entre os cilindros quatro e cinco, possibilitando assim dois girabrequins acoplados, livrando o conjunto da grande vibração de um longo girabrequim, e facilitando o balanceamento do conjunto.
Duas válvulas por cilindro, acionadas por comando de válvulas no cabeçote, pelo sistema desmodrômico¹. A injeção direta foi o enorme "pulo do gato" neste motor, que contava também com vários tamanhos dos coletores de admissão, que eram usados conforme as características da pista². 

Fangio em Mans.

   Um sistema hidráulico acionava este "freio aerodinâmico" que vi apenas em Mans. Em minha juventude, quando olhava em foto este aparato, ficava pensando se o capô traseiro de Fangio havia se soltado. Parece que ajudava muito nas freadas e tração nos contornos das curvas.

 Moss/Kling na Targa Florio.
Moss em Drundot, notem que nesta curva de baixa, não é acionado o aparato aerodinâmico, mesmo o carro vindo de uma reta e freando forte. 

CHASSI
O tanque de óleo com 35 litros, os grandes freios in board. Os altos coletores de admissão.
A leveza da estrutura espacial, a beleza dos escapamentos, o tanque de combustível acima do conjunto diferencial/cambio. Notem uma alavanca ao lado do banco, não consegui descobrir se era para o freio aerodinâmico ou para regulagem da suspensão traseira, o mais provável. 
   
Os enormes tambores dos freios traseiros, amortecedores reguláveis e as barras de torção polidas. Com o cambio bem baixo atrás do diferencial.



Como sempre, comentei com o Caranguejo sobre este post, e ele com seu incrível  conhecimento e memória, lembrou que este motor foi testado em uma prova da Formula Libre. 

"A prova, (de Fórmula Livre), foi duas semanas depois do GP da Argentina. A Mercedes aproveitou para testar seu motor 300SLR nas W196. Naquele dia, correram Fangio, Moss e Kling com as Mercedes com um ressalto no capo (daí os jornais argentinos terem-nas apelidado de "Dromedários") e Herrmann com um 2.5 "aprimorado". Corrida disputada no sistema de baterias, Nino Farina venceu a primeira e Moss a segunda. Fangio, macaco velho,fez dois segundos lugares e papou na geral. Fangio e Moss foram primeiro-segundo e depois, Gonzalez/Trintignant. Kling ficou em quarto e Herrmann não terminou. 
Dia da prova......30 de janeiro de 1955.
No ADAC Eiffel Rennen em 29 de maio de 1955, tínhamos as três Trezentonas. A prova foi em Nurburg, Fangio venceu, com Moss em segundo. Kling foi só o quarto. Masten Gregory meteu a Ferrari 750 Monza em terceiro...

Caranguejo

A prova do mundial de 1955 na Alemanha foi cancelada, então como explica o Caranguejo elas estrearam nesta prova não válida pelo campeonato.   
Em Buenos Aires as W196 com o motor três litros e o ressalvo no capô, Fangio e Moss.
 Nino Farina e a Ferrari 625.


MOTOR


Oito cilindros em linha.
Duas válvulas por cilindro.
Comando de válvulas no cabeçote, acionamento desmodrômico.
Diâmetro x Curso 78,0 x 78,0 mm = 2,981cc (76,0 x 68,8 mm no motor 2,500cc da F.Um) 
Injeção direta, com vários tamanhos dos coletores de admissão.
Trinta e cinco litros de óleo.
290 cv à 7,500 rpm ou 310 cv à 8,500 rpm - conforme configuração dos coletores de admissão.  

CHASSI

 Tubular em estrutura espacial (supeleggera).
Comprimento 4,580mm
Largura 1,750mm
Entre eixos 2,370mm
Peso, 1280kg com o tanque de 100 litros e 1,320kg com o tanque de 130 litros usado em Mans.  
Cambio de cinco marchas mais ré.
Pneus 185/80/16 na dianteira e 210/80/16 na traseira.


Rui Amaral Jr
   

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NT; Confesso à vocês que me frustei ao escrever sobre a 300 SRL, busquei detalhes técnicos que não consegui encontrar, gostaria de ter esmiuçado este carro detalhe por detalhe. De seu magnifico motor pouco encontrei, do chassi fiquei esmiuçando nas fotos os detalhes para escrever.
Ao contrário de muitos, aqui no Histórias não somos adeptos do "ctlc + ctlv" , e pela internet encontrei um montão de mesmices sobre ele.
Não descobri qual o sistema desmodrômico que usavam, e muitos outros detalhes, 
Poderia ter discutido detalhes dele com o Bock, Achcar e Chico, mas nesta quarentena e por telefone fica complicado.

1- Desmodrômico - Muitos desses sistemas foram desenvolvidos, ao contrário do comando normal que abre as válvulas e elas são fechadas por molas, eles as abrem e fecham com um mecanismo que as empurram e puxam, alguns com auxilio das molas . Tentei escrever sobre com um amigo engenheiro, mas depois de umas quatro horas de conversa, acreditamos que não conseguiríamos transmitir à vocês a conversa.
A Ducati usa há muito, a F.Um acredito que use hoje. Vou postar alguns links sobre.
O pioneiro sistema da Peugeot, do início do século passado.


2 - Coletores, no caso apenas de ar, pois a injeção direta envia o combustível direto dentro das câmeras. São alterados em seu comprimento, de acordo com as características que precisamos do motor no circuito,  mais altos para pistas em que o motor trabalha mais tempo em alta rotação, ou mais baixos quando o torque é fundamental.

Outra coisa que gostaria de declinar; após a Segunda Guerra os EUA através do Plano
Marshall, financiou amplamente a industria do países derrotados, principalmente Alemanha e Japão, e acredito que este carro é fruto desta soma, a competência da indústria alemã e as verbas do plano!

Desculpem as divagações e o pouco conteúdo técnico, assim que souber mais volto ao tema, muito obrigado pelo prestigio que cada um nos confere, ao ler nosso blog. 


Por fim, peço que me desculpem sobre as poucas informações aqui contidas, meu desejo foi apenas escrever um pouco sobre este carro.  

Abraços,

Rui Amaral Jr




             





quarta-feira, 17 de junho de 2020

1955 – O World Sports Car Championship – FIA - Moss e a incrível Mercedes Bens 300 SRL


Jenkinson e Moss-Mille Miglia 1955 


No ano de 1954 a Ferrari havia reinado absoluta, vencendo quatro das seis corridas, tendo Jaguar vencido uma e a Osca outra.

A Ferrari 375 Plus de Enrique Saenz Valiente/José-Maria Ibanez.  

Em 1955 o campeonato começa na Argentina, sem a participação oficial das grandes marcas, vence a Ferrari 375 Plus da dupla local, Enrique Saenz Valiente/José-Maria Ibanez.  

Mike Hawthorn em Sebring.
Phil Walters.

Na segunda corrida, 12 Horas de Sebring, a Jaguar entra na briga e vence com seu D-Type XKD pilotado por Mike Hawthorn e Phil Walters.


Jenkinson passou mal a corrida toda, mas foi firme e forte, uma vitória inesquecível!
Fangio no box...

Na terceira corrida, a icônica Mille Miglia, estréia a 300 SRL e num verdadeiro show Stirling Moss levando como navegador o jornalista Denis Jenkison, vence com mais de trinta minutos seu companheiro de equipe Juan Manuel Fangio, que por sua vez coloca mais de quinze minutos na Ferrari do terceiro colocado.

24 Horas de Le Mans -Hawthon pilotando.
Mans, tocada de Fangio com o incrível freio aerodinâmico inventado pela MB.


A quarta corrida foi na fatídica 24 Horas de Le Mans, quando depois do acidente em que pereceram mais de oitenta pessoas, algumas horas depois o chefe da MB Alfred Neubauer chamou seus carros aos boxes e se retiraram da corrida, quando a dupla Juan Manuel Fangio e Stirling Moss vinham na ponta. Venceu o Jaguar de Mike Hawthorn e Ivor Bueb.

Drundot  a vitória.
A briga com Hawthorn.
A largada...
No vídeo, a forma perfeita com que Moss contorna essa curva de baixa, é indescritível!
Jean Berha na Ferrari
Ferrari 750 Monza da Equipe Nationale Belge -Jaques Swaters-Johnny Claes.

A quinta corrida foi no circuito de estrada de Drundot, na Inglaterra, o Tourist Trophi. Assisti ao vídeo desta corrida dias atrás. Fiquei muito impressionado pela briga de Moss com Hawthorn. A tocada de Moss com os braços esticados, levando aquele carro de entre eixo longo, com grande maestria. Moss, que dividiu a tocada com o americano John Fitch  bate e volta à corrida, briga outra vez com Hawthorn até que este quebra. Vence novamente com a dupla Fangio e Kalr Kling  em segundo, e em terceiro outra 300 SRL de Von Trips e André  Simon.
Outra coisa que me impressionou muito e Drundot foram as três mortes de pilotos, os carros continuaram a corrida e passavam pelos acidentes, mais tarde conversando com um grande amigo, mais velho, ele lembrou de uma morte em Interlagos, ele não chegou à correr, mas o piloto morto ficou na pista coberto até o final da corrida...outros tempos!  

Targa Florio, Moss em sua tocada...

E por fim vem o que para mim era a mais incrível de todas as corridas, nas terras da Sicilia a Targa Flório. Moss novamente fazendo dupla com Kling vence seu companheiro de equipe Fangio que fez dupla com Kling. A vitória por longos quatro minutos sobre Fangio- Kling, colocando mais de dez minutos na Ferrari 857 de Casttelloti-Manzon os terceiros colocados! 

Alfred Neubauer, o chefe da MB, o grande nome por trás de todas as vitórias.

A 300 SRL era um biposto feito à partir da W196.



Ao final de 1955, depois de vencer o mundial de Formula Um e o de carros esporte a Mercedes Benz abandonou as competições, ao menos oficialmente.



Rui Amaral Jr

Pesquisas e algumas fotos Racing Sports Cars 


  

sábado, 13 de junho de 2020

O SONHO DO CARRO DE CORRIDAS:

Escolhi, para ilustrar este post, uma foto de Tazio nas Mille Miglia de 1948...
No post do Caranguejo, todos vão saber o motivo...
Mille Miglia 1948 - link


Ter um carro de corrida é um sonho pessoal.

Um dia quando estiver muito velho e quando não puder andar mais, estará na minha garagem, ou nas minhas fotos do escritório, ou casa, assim como todos os troféus que serão as minhas memórias.
Conheci pessoas que me ensinaram alguma coisa e têm o mesmo espírito e conheci outros que fico feliz por ter esquecido.
Me molhei,
Senti frio,
E senti calor,
Senti medo,
Eu caí,
E ME LEVANTEI,
Até me machuquei,
Mas também, ri a rir dentro do capacete, um sentimento único, ninguém mais o sentiu!
Falei mil vezes comigo mesmo.
Cantei e gritei de alegria como um louco,
E sim... Às vezes, também chorei e ainda às vezes choro na minha solidão.
Já vi lugares maravilhosos e vivi experiências inesquecíveis.
Parei mil vezes para ver uma paisagem.
Falei com perfeitos desconhecidos, e esqueci-me de pessoas que vejo todos os dias.
Eu saí com os meus demônios dentro e voltei para casa com uma paz absoluta no coração.
Eu sempre pensei o quão perigoso é, sabendo que o significado da coragem é avançar mesmo sentindo medo, mas sempre o controlei.
Toda vez que eu subo para um carro de corrida eu penso no quão maravilhoso ele é.
Parei de falar com quem não entende, (simplesmente não entendem) e aprendi através de gestos a me comunicar com outros apaixonados como eu.
Gastei dinheiro que não tinha, renunciando a muitas coisas, mas todas essas coisas não valem nem um momento sobre um carro.
Não é um meio de transporte nem um pedaço de ferro com rodas, é a parte perdida da minha alma e do meu espírito.
E quando alguém me diz: "você tem que vender o carro e tem que ser uma pessoa mais séria",... Eu não respondo. Simplesmente balançando a cabeça e sorrio.
Andar em um carro de corrida....... só entende quem os ama...
Que Deus abençoe os meus amigos e os seus brinquedos de gente grande!

- Autor desconhecido –

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Este texto estava na página do Facebook de meu amigo Evandro Lontra, pedi-lhe autorização para postar. Como ele não sabia o autor, pois parece que apareceu em um grupo de pilotos, vou posta-lo. Caso o autor queira, dou os devidos créditos, ou se quiser retiro a postagem.

Ah... Esta paixão!

Quando comecei o Histórias, em umas de minhas primeiras postagens, conto das voltas que dei em Interlagos, ao lado de meu irmão Paulo, em seu Porsche 550 RS com o qual ele correu os 500 Quilômetros de Interlagos de 1961. Tinha 9 anos, e lá conto da sensação de estar nos boxes, e das voltas que dei.
Escrevo sobre aquele cheiro de óleo, gasolina, pneus... do vento em meus cabelos quando estava na pista.
Hoje, quase sessenta anos depois, quando muitos daqueles heróis que lá estavam se tornaram meus amigos, e até dividi a pista com alguns, aquelas sensações, cheiros ainda estão entranhadas em meu ser, e os cabelos ainda sentem aquele vento.  

Anos depois era eu que lá estava.

A todos que tiveram as mesmas sensações.
A todos que caminharam comigo.
A todos que dividiram as pistas comigo.
A todos os amigos que fiz.
Ao autor deste grande texto.

Rui Amaral Jr     


terça-feira, 2 de junho de 2020

1971-Montjuic, os slicks chegaram para ficar

Nesta foto, provavelmente de 1970, vemos os Firestone da Lotus 72 de Rindt com os desenhos suaves em sua banda de rodagem.
 1969 - Hill vence pela quinta vez em Monaco. Notem as ranhuras nos pneus.
Siffert na mesma corrida, também numa Lotus 49B
1970- Monza- No trágico final de semana, Hill vem  com sua Lotus 72B.
1971 Kyalami - Andretti com a Ferrari 312B vence aquela que foi a derradeira corrida sem os slicks. Aqui cabe uma nota, no final da década de noventa do século passado, mais de vinte e cinco anos após esta foto, os cartolas da FIA-Fisa resolveram banir os slicks da F.Um. Foram algumas temporadas até que a cartolagem voltasse à razão!
1971 Kyalami - Hulme e a McLaren M19A
1971 Kyalami - Amon e a Matra MS120B

1971 Montjuic...Até então os pneus da Formula Um apresentavam em sua banda de rodagem algum desenho, ranhuras, algo que de longe os assemelherava com os carros de rua. Rodas e pneus vinham aumentando consideravelmente sua largura, apesar da maioria usar o aro de 13 polegadas.

1971 Montjuic - Stewart e a Tyrrel 001 vencem usando os slics.
1971 Montjuic - Cevert 
1971 Monaco - Ronnie é segundo com a March 711...os slics tinham vindo para ficar! 
1971 Monaco, a Ferrari 312B2 de Ickx.

Na temporada apenas Firestone e GoodYear iriam fornecer pneus para categoria, e talvez baseadas em suas experiências nos EUA com os carros de arrancada, os dragsters, foi neste segundo GP da temporada que elas apresentaram o pneu que mudou todo conceito das corridas, na Formula Um e no resto do automobilismo mundial, os slicks.
Já contei aqui da experiência que tive ao usar eles pela primeira vez. Tudo mudou, a aproximação das curvas, o contorno e a saída. A primeira vez que os usei foi em Interlagos, e ao chegar na curva Três ao final do Retão e frear, notei que poderia fazê-lo muitos metros depois, tal era a pegada, ou o grip, deles.
Mudou a Formula Um e mudou o mundo do automobilismo.

Lotus 72D
1972 Interlagos - A equipe Autozoom de meu amigo Italo Adami usou os Slicks nos carros de meus saudosos amigos Guaraná e Teleco.

Rui Amaral Jr