sexta-feira, 2 de novembro de 2012

SEU “CARECA”

STIRLING CRAWFORD MOSS é filho de Alfred E. Moss, piloto dos mais ativos em seu tempo e um dos primeiros britânicos a participar das 500 Milhas de Indianápolis. Stirling iniciou sua carreira aos 19 anos em 1948, com um BMW de seu pai. Em 1950, ele passa a competir para a HWM (Hersham & Walton Motors) e participa principalmente em eventos da F2 e Turismos, conseguindo algum destaque, tanto que é chamado pela Ferrari em 1951. Mas sua relação com os italianos não foi boa. Na estréia, que deveria ocorrer em uma prova de Turismo em Bari, Moss foi surpreendido com sua substituição sem qualquer aviso e na última hora, por Piero Taruffi. Ultrajado, disse que jamais pilotaria para a Equipe. No mesmo ano acontece sua chegada na F1, participando de seu primeiro GP, o da Suiça em Bremgarten. Conseguiu levar o HWM à oitava posição, duas voltas atrás do vencedor Fangio. No ano seguinte, reveza-se entre as marcas Connaught, HWM e ERA sem grandes resultados. Em 53, fixa-se na Cooper, mas os bons resultados continuam raros. 
Alfred Moss, Indy 1924

Por fim em 1954, seu pai lhe compra um Maserati e apesar de uma certa resistência de Stirling quanto aos carros italianos, sua carreira finalmente deslancha: terceiro lugar em Spa e volta mais rápida em Silverstone...Alfred Neubauer o contrata para a equipe Mercedes-Benz, estendendo sua participação também à provas como a Mille Miglia, Targa Florio e as 24 Horas de Le Mans. Sua primeira vitória com os carros da estrela de três pontas foi nas Mille Miglia de 1955, da qual participou com um Mercedes 300SL e o jornalista Dennis Jenkinson como seu navegador. Jenkinson usou para orientar-se um rolo de papel com 4 metros e 60, cheio de anotações que fizera sobre o percurso. Era o princípio rudimentar dos livros de bordo dos Rallyes modernos. 

 Com Jenkinson na MB 300 SLR.
Jenkinson e Moss 
 Nesta caixa Jenkinson mapeou o traçado da Targa Florio.
À direita os botões que movimentavam o rolo de papel.
 Mônaco 1955 com a Mercedes Bens W196.
 Aintree 1955, vitória com Fangio em 2º.
Targa Florio vitória com Peter Collins, Mercedes Benz 300SLR.
Para não perder a concentração, Moss confessou anos depois que recorrera à anfetaminas. Vencedor do GP da Grã-Bretanha em 55, teve uma passagem pela Maserati na temporada seguinte o que lhe rendeu mais duas vitórias e um segundo vice-título mundial. Decide então aceitar o convite de Tony Vandervell e juntou-se ao projeto para construção do primeiro carro britânico campeão da F1; o Vanwall. 

Argentina 1957 Moss e Fangio ambos de Maserati 250F.
( notem o sobresterço dos dois carros, dois Gigantes!)
1956, vitória em Mônaco com a Maserati 250F.

Na primeira etapa na Argentina, o Vanwall não estava pronto e como Stirling participa com um Maserati, a ocasião propicia o encontro dos grandes rivais, Moss e Fangio, de novo em uma mesma equipe. Depois, cada um para um lado: Moss às voltas com o desenvolvimento do Vanwall e Fangio com a Maserati, correndo para tornar-se o Quíntuple. Prioridades...Em 1958, Stirling começa a temporada fazendo história. Vence o GP da Argentina com o pequeno Cooper Climax da Equipe de Rob Walker. Seu Cooper tinha 100 cavalos a menos que as Ferraris, mas o Careca aposta em uma estratégia sem paradas para reabastecer ou trocar pneus. Larga em sétimo e poupa pneus no começo. Depois, foi superando Behra e Hawthorn e quando Fangio fez uma parada para abastecer, passou à frente. A sorte, que tantas vezes o desprezara, parecia sua amiga. A embreagem havia quebrado na 2ª volta, mas uma caprichosa pedra entrou no mecanismo e o manteve aberto e funcionando. Assim, Stirling pode continuar trocando as marchas sem o uso da embreagem. De volta à Europa e já com o Vanwall, Moss venceu em Zandvoort e foi o segundo em Reims, mas nas duas provas seguintes o carro falha e só se recupera vencendo o GP de Portugal, na cidade do Porto. É no GP lusitano que a sorte volta a sorrir-lhe, mas é desprezada pelo próprio piloto. Numa prova bem disputada, Moss vence com Hawthorn, com quem disputava o título,  em segundo. Todavia o Ruivo será desclassificado, pois próximo do final ele rodou e saiu da pista e só retornou porque foi empurrado de volta. Os comissários iam puni-lo, Mike perderia pontos preciosos, mas isso não ocorreu devido ao testemunho de ...Stirling Moss. Ele defendeu seu compatriota dizendo que o auxílio não acontecera na pista e sim fora dela: “Mike não fez nada de errado. Ficou preso numa área de escape e foi empurrado de volta em um local que não era propriamente a pista. Não via como justificativa para a exclusão...”. O segundo lugar de Mike Hawthorn foi mantido. Na prova final daquele ano no Marrocos, Moss teria de vencer e Mike chegar em terceiro para o título ficar com o piloto da Vanwall. Stirling tomou a ponta. Em segundo vinha Phil Hill e atrás Hawthorn, ambos de Ferrari. Se essas posições fossem mantidas, Moss seria o campeão. Mas a Ferrari logo mandou que Hawthorn trocasse de posição com Hill. Não creio que Mike tenha sido tão nobre e pensado – por um segundo que fosse – “Não vou aceitar. Hill está me presenteando com a posição. Tenho de ser tão honrado quanto Stirling. Não posso vencê-lo dessa maneira...”. Resultado, John Michael Hawthorn, campeão mundial de 1958, com um ponto de vantagem. Moss não sabia, mas a sua “hora do carvoeiro” já tinha passado. 

 A equipe Vanwall em Monza #22 Tony Brooks, #18 Moss e #20 Stuart Lewis_Evans, Moss venceu.
Mônaco 1958, com o Vanwall.
 Moss e Fangio, GP da França 1958 Reims, com a Maserati 250F foi a última corrida de Fangio na FI.
 GP da Italia, Monza 1957, Moss de Vanwall lidera Jean Behra com a Maserati 250F mais atrás Stuart Lewis_Evans e Tony Brooks. 
1958 Zandvoort na Holanda, Moss lidera e parte para vitória.
GP da Argentina 1958.
#20 Mike Hawthorn com a Ferrari Dino 246 é perseguido por Moss.

Ele seria então, duramente golpeado em suas convicções. Primeiro foi Vandervell, que decidiu retirar-se das pistas, chocado pela morte do piloto da equipe, Stuart Lewis-Evans, no GP do Marrocos. Stirling socorreu-se com seu amigo Rob Walker, que possuía um Cooper. A temporada foi mesmo do T51, mas os da dupla Brabham-Mclaren. Moss corria por uma equipe privada e até mudou de carro após a etapa de Zandvoort, participando com um BRM nas provas na França e Grã-Bretanha. Como seus resultados não diferiram muito, ele retornou ao Cooper. Seu BRM era da equipe BRP (British Racing Partnership), montada por seu pai, Alfred e por seu manager, Ken Gregory. Com o Cooper ganhou em Monsanto (Portugal) e em Monza. Em 1960, Moss permaneceu com Rob Walker, mas passou a usar uma Lotus Climax 18. Contudo, na primeira prova do ano na Argentina, ainda estava com o carro antigo. Chegou em terceiro, correndo em dupla com o “Petoulet” Trintignant. 

 1961 Mônaco perseguido por Richie Ghinter #36 e Phill Hill #38, ambos com Ferrari 156 - Shark Nose.  

A vitória em Nurburgring.

Em Mônaco estréia a Lotus com uma vitória, aliás, a primeira de um carro fabricado por Colin Chapman. Quarto colocado na Holanda, sofreu um sério acidente em Spa, durante o warm-up. Moss perdeu o controle em Bruneville, a mais de 225 Km/h. “Senti algo estranho no carro e de repente, fui ultrapassado por uma de minhas rodas traseiras e pensei: ‘Agora é que vou morrer”. Stirling saiu da pista e chocou-se contra um muro. Foi ejetado do carro e sofreu ferimentos nas pernas, nariz e teve três vértebras esmagadas, além de outras contusões. Foi um final de semana negro: Mike Taylor também acidentou-se e durante a corrida, morreram Chris Bristow e Alan Stacey. Dois meses de molho depois, Stirling regressou às pistas no GP de Portugal, onde ele teve mais uma prova de que a Dama da Fortuna voltara a zombar dele. Sua atuação foi complicada, com um motor falhando constantemente, o que o fez ir várias vezes ao boxe. Na volta 51 rodou e foi parar nos fardos de alfafa, tendo de voltar empurrado. Reparem que não foi em outro lugar senão no mesmo ponto onde Hawthorn rodara dois anos antes. O castigo de Moss, foi que desta vez nenhum santarrão apresentou-se para falar por ele. Resultado, bandeira preta. Após a desclassificação em Portugal, recupera-se vencendo a prova final do ano em Riverside (EUA), com o Lotus 18. “Lotus para mim é sinônimo de carro que perde a roda”, diria ele mais tarde. A temporada de 1961 foi a última  da carreira de Moss, que continuava com o Lotus do ano anterior. Era um bom carro, mas não chegava perto do 156 Sharknose da Ferrari. Entretanto, ainda era possível fazer mágicas. Em Mônaco, pista onde a potência não dá as cartas mas sim um chassi bem acertado, Stirling surpreende os favoritos Hill-von Trips-Ginther e vence. Em Nurburgring, é feliz na escolha dos pneus e ganha pela última vez na Fórmula 1. Em Monza, Moss come poeira dos Ferraris e recebe a ajuda de seu amigo Innes Ireland, que lhe cede seu carro, um Lotus da equipe oficial, para que tenha alguma chance. Mas não adianta. Como resultado, Ireland é punido pelo chefe Colin Chapman, que o despedirá no final da temporada, apesar da vitória de Innes em Watkins Glen. 

 1950 Silverstone os pilotos recebem os cumprimentos do Rei George VI. Na primeira corrida da moderna Formula Um.

 1957 Cooper-Climax 
 Monza 1954, Moss, Maserati 250F 3 Cicio Ascari, Ferrari 625. 

 Com a bela Maserati Mod 61 Birdcage
 1961, Venezuela 

 Empurrando a BRM P25 
  
1956, vitória em Monza com a Maserati 250F, perseguindo Eugenio Castellotti com a Ferrari D50.  


Para 1962, havia promessas de novos tempos. Sua relação com a Ferrari melhorara e iria competir com um Sharknose naquela temporada, que começaria em maio. Antes, no Domingo de Páscoa, inscreve-se no Glover Trophy  em Goodwood. Está com seu Lotus 18/21 pois a Ferrari não ficara pronta a tempo. Moss vai correr pela BRP (também conhecida como a “Equipe de Papai”). Após marcar a pole, anda na frente até ter problemas com a caixa e ter de parar nos boxes. Depois de três voltas perdidas, retorna andando forte, mas na volta 30 na Curva St.Mary, sai reto e bate em um barranco. Nunca foi esclarecida a causa do acidente, pois nada quebrara no Lotus  e a memória de Moss foi apagada: “Lembro de ter saído do hotel onde estava em Chichester em meu Lotus Elite e lembro-me de ter conhecido uma bela sul-africana na noite anterior. Fora isso...nada”. Stirling Moss recuperou os movimentos e fez testes com um Lotus 19 de Turismo. Concluiu que já não tinha os mesmos reflexos. “Antes haviam movimentos que eu fazia automaticamente quando pilotava e agora precisava pensar em fazê-los”.  Moss ensaiou um retorno às pistas na década de oitenta, através do Campeonato Britânico de Carros de Turismo e da marca Audi e também sempre envolveu-se em provas de carros históricos até que em junho de 2011, pouco antes de seu octogésimo segundo aniversário, anunciou finalmente a aposentadoria. Sir Stirling ainda está lúcido e é respeitado. Teve 16 vitórias, 24 pódios, 16 pole positions e 19 voltas rápidas.



CARANGUEJO







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Abaixo alguns links e vídeos

http://ruiamaraljr.blogspot.com.br/2011/01/stirling-moss-e-denis-jenkinson-vencem.html

http://ruiamaraljr.blogspot.com.br/2011/11/mille-miglia-1955-denis-jenkinson-i.html

http://ruiamaraljr.blogspot.com.br/2011/06/1954-e-55-fangio-e-mercedes-benz-w196.html

http://ruiamaraljr.blogspot.com.br/2010/01/stirling-moss-gp-da-argentina-1958.html

http://ruiamaraljr.blogspot.com.br/2011/01/stirling-moss.html 

A CARREIRA


Vencendo em Mônaco 1956


1961 Nurburgring







7 comentários:

  1. Rui e Caranguejo,

    outro excelente post...

    mais um grande piloto e sua trajetória fantástica...

    aprendi mais...

    abs...

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  2. Beleeeza de post R&C !

    Esse Vanwall era fein hein?

    Linda pintura de Monaco/61.Quem e' esse Michael Turner?

    E a aposentadoria do Moss foi depois do beijo da loira? kkkkk

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  3. Amigos Caranguejo y Rui, excelente nota, mucha información, muchas fotos y además videos.
    Caranguejo, cada día lo haces mejor.
    Un grande Sir Stirling, el verdadero "campeón sin corona" de la historia de la F1.
    Gracias por compartir.
    Abrazos amigos!

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  4. Obrigado André, Juanh e Belair!
    Realmente o Turner é ótimo, tá parecendo que a loira quase matou ele!rsrsr
    Juanh, tenho três amigos que ficaram muito amigos de Moss, dois que correram em sua equipe e outro que o recebia sempre aqui no Brasil.
    Sou fã dele.

    Abraços.

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  5. Excelente matéria e justa homenagem a Sir Stirling, em que pese a irreverência em relação à sua alopécia (rsrs).Também eu sou fã dele, seja como piloto, seja como embaixador do esporte.

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  6. Quando eu tiver alguma dúvida sobre os tempos áureos da F1, não vou mais ao Google. Caranguejo e Rui são bem melhores....
    Parabéns e abração aos dois.

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Rui Amaral Jr