Jimmy
Andava com vontade de escrever sobre as mortes que tem ocorrido nas pistas, no Brasil e no mundo.
Estou a horas em frente a essa máquina, o assunto matutava em minha cuca, e derrepente ao dar uma passeada pelos blogues dos amigos vejo que o Tohmé em seu MINIS NO MUNDO colocou uma miniatura da moto de Simoncelli e faz a pergunta “Vale a pena?”.
Sei que ele conhece tão bem quanto eu, toda paixão que envolve tanto o automobilismo quanto o motociclismo.
Ontem, eu pensava em todas as tragédias que presenciei nas pistas, em 1961, então com 8 anos, estava eu com meu irmão em um dos treinos dos 500 KM de Interlagos quando ouvi alguém gritando “bateu no Bacião”, os boxes eram no Café e Bacião como era chamada a curva Três. Todos correram para lá e fui atrás. Me lembro perfeitamente... os mais velhos descendo e já quase chegando a Três e eu sozinho, atravessando a junção. O mato alto, a pista larga e o medo de que algum carro viesse rápido por ali. Cheguei em tempo de ver a maca subindo o barranco atrás da curva com o piloto parecendo desfalecido. Não me lembro se ele pilotava uma Ferrari ou Maserati e os comentários eram de que era um mecânico. Não fiquei sabendo ou esqueci se ele sobreviveu ao acidente.
Dois anos depois... Assistia os 500 KM de 1963, quando o Celso Lara Barberis sofreu o acidente que lhe custou a vida. Estava nas arquibancadas em frente aos boxes e logo todos começaram a comentar, lembro da tristeza imediata e do “gosto amargo” em minha boca.
Depois disso, vi vários de meus ídolos perderem a vida nas pistas e certamente a morte que me foi mais dolorida foi a do eterno Jim Clark.
Vi no ano passado o acidente absurdo do filho de Big John, quando uma roda desprendida de outro carro bateu em sua cabeça. Triste sina de um pai, campeão em duas e quatro rodas ver o filho morrer em uma pista, onde ele mesmo passou por todos os perigos e viveu todas as glórias.
Em Interlagos, neste ano foram três tragédias e aquela do Sondermann na Copa Montana talvez a que mais abalou a todos que assistiram.
Acontece que carros e motos de corridas são perigosos, todos nós sabemos, e é quase impossível aumentar a segurança quando se anda a velocidades altíssimas e sobretudo no limite, seja numa curva contornada a 80km/h ou a 250.
Ficamos tristes? Sim.
Tenho aqui comigo recortes de jornais e fotos de uma tragédia que alcançou um grande e querido amigo em Interlagos há muitos anos atrás, ele sobrevivente carrega até hoje as marcas consigo. Sofri com ele, bem como a esposa e demais familiares e até hoje é um assunto que muito de vez em quando aparece em nossas conversas, sempre com o mesmo gosto amargo. Me perdoem se não mostro a vocês, caso um dia ele queira escrever contarei e mostrarei tudo, por mais dolorida que seja essa lembrança.
Jamais sentei em um carro de corridas pensando na morte e tenho certeza que meus amigos também, apesar de ela estar sempre próxima. Nenhum de nós é suicida apenas apaixonados pelo esporte.
O que nos resta fazer? É lutar por mais segurança, mesmo sabendo ser isso quase impossível. E chorar num canto, deixar as lágrimas caírem como fiz nestas duas semanas seguidas por Dan e Simoncelli. E depois voltar ás pistas, eu, agora observando, alguns acelerando e sempre trazendo na memória aqueles que lá deixaram suas histórias.
RiP Marco...
FOTO:Getty Images
Não é fácil escrever um assunto assim,sem fazer sensacionalismo.
ResponderExcluirMuito bom Rui.
ABS