segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A TRINCA

Jr e Arturo recentemente na casa do Ferraz.
Amadeo Campos.
Jr e Arturo uma bela briga.

A Divisão 3 (Classe A), teve no final dos anos setenta e início dos oitenta uma rara oportunidade de reunir em disputa pelo seu principal laurel, três pilotos singulares. Competitivos, porém grandes amigos entre si. Um deles era Luis Lara Campos Jr. Acostumado à mecânica VW, possuía um carro que no período que analisaremos, teve um significativo acréscimo de performance. Outro nome a destacar seria Amadeo Machado Campos. Trabalhador, ele parecia esforçar-se mais para atingir os resultados dos rivais, mas não ficava longe e finalmente, o mais focado dos três: Arturo Fernandes. E todos eles tinham o Sedan VW1600. Em 1975, o grande campeão brasileiro da D3 foi Amadeo Campos, mas apesar da conquista,  ele e os que competiam com os valentes Fuscas, tinham um adversário extra: a grande mídia gostava de abrir seus espaços aos  carros que disputavam a Classe C, Mavericks e Opalas e até Dodges, eram mais vistosos com suas belas carrocerias e eram mais mostrados. O público dos autódromos é que já tinha seus preferidos. Já nessa época, Lara Campos e Arturo Fernandes estavam na ativa. E observavam. Em 1976, Amadeo estava momentaneamente dividido entre categorias de mecânica diferente: a Fórmula Ford e a Divisão 3 e acabou sendo surpreendido por Vital Machado, mas não deixou de levantar o campeonato paulista. No ano seguinte, Amadeo e Arturo dividem a preparação de Fabio Reynolds, o Magrão. E também o monopólio da Divisão 3. Os Fuquinhas agora são os donos do espetáculo. A crise energética baniu os carros maiores da categoria e a restringiu à Classe A. Amadeo e Arturo é quem dão as cartas: dividem as vitórias e poles. Correndo por fora como um Quixote, Júnior Lara Campos não quer saber disso. Ele pinta o número #1 no carro pois é o que quer ser. Mesmo sem ter grandes esquemas, Amadeo Campos recupera a coroa da D3, mas a categoria vive um momento nervoso, com grids esvaziados e completados com veículos de outras categorias, notadamente os Passat.  Para 78, perderá o seu status de campeonato brasileiro. Mais do que nunca, precisará dos abnegados pilotos, preparadores e patrocinadores para sobreviver. “É preciso tirar da cuca o que no bolso não tem”, diz um ditado. Apesar das cada vez mais minguadas cotas de combustível do governo, a Divisão 3 cresce outra vez: provas noturnas, mais pilotos e Passats preparados para a categoria. Amadeo Campos vence a primeira do ano, mas ele é alcançado pelo dedicado Arturo Fernandes e pelo raçudo Lara Campos. Na final desse movimentado Torneio-Rio-São Paulo, Lara chega com uma pequena vantagem, mas numa incrível virada da sorte, deixa escapar o título após quebrar duas caixas de câmbio. Arturo Fernandes é quem levanta a taça e pensa como será 1979. No começo do ano, surgem rumores de que em 1980 as provas serão disputadas por carros usando álcool combustível. Amadeo Campos até rabisca uma frase com esse teor em seu carro. João Franco também.  Mas a categoria continua regional e à gasolina até a metade do ano, quando uma nova proibição governamental às corridas automobilísticas (como já ocorrera em 1976) precipita tudo e no Festival do Álcool em 7 de setembro, a Divisão 3 apresenta seu novo campeonato brasileiro. Para iniciá-lo, que melhor do que uma prova noturna?  Será um certame curto, com apenas quatro corridas. O carro de Arturo, que como os demais Pinicos tinha a forte concorrência dos Passats, torna-se  o bicho papão graças ao novo carburante, após setembro. Ele vence a prova noturna do Rio e a etapa de Interlagos. Lara Campos, momentaneamente fica para trás, mas retornará com mais fôlego no ano seguinte e Amadeo, campeão regional de 79, também reestrutura a Equipe para o novo ano. 1980 foi a último grande temporada dos Pinicos na categoria. Os Passats já os ameaçavam dentro da “sua” própria categoria. O tempo estava acabando, mas ainda havia grandes carros para uma empolgante disputa. É outra vez, Arturo x Lara. Amadeo está dividindo o time com Ricardo Mogames. E é este quem  surpreenderá,  liderando a disputa por algum tempo. Aturdidos, os outros terão de acompanhá-lo. O primeiro a recuperar-se é Lara Campos, cujo carro é um verdadeiro foguete (no caso do Fusca, um “foguete de bolso”). Arturo também vence, mas principalmente, será o melhor na estratégia. A soma de resultados permitem que chegue a Interlagos com 9 pts de desvantagem para Mogames e 4 a frente de Lara Campos. O que poderia decidir essa parada? Resposta, além da chuva, uma malograda encomenda de comando de válvulas. O competitivo VW #5 de Lara Campos não rendia o mesmo com piso molhado e Mogames ficou sem as peças encomendadas, que foram por engano, parar em Assuncion. Com pista molhada, na bateria decisiva, valeu o arrojo de Arturo Fernandes, que depois admitiria ter vencido o mais difícil de seus títulos. Adequado que após a prova, Arturo tenha sido o comandante  de uma bateria  de ritmistas improvisados. Descreveu-o uma publicação: “Encharcado, tendo nas mãos uma vassoura com um pedaço de plástico amarrado na ponta e um sorriso contagiante e sincero”. Principalmente por ser aquela a definitiva conquista do Sedan VW1600. O incansável Amadeo Campos, que nessa temporada foi mais uma vez o campeão paulista, venceria a primeira corrida de 1981. Mas então, a categoria tinha outra nomenclatura; chamava-se Hot Car.   
C.H.Mércio




Quem assiste alguma corrida de fora não imagina a dureza que é para um piloto colocar o carro na pista, ainda mais se manter disputando uma categoria competitiva como a Divisão 3 na classe A sempre na ponta.
Esses três pilotos conseguiram, são três grandes pilotos e acredito que andariam na ponta em qualquer categoria onde  tivessem um carro competitivo.
Com Amadeo pouco convivi.O Arturo um sorriso largo e franco e sempre agradável, um bota e o Jr um amigo querido de longo tempo, sempre rápido e competitivo, como os dois um bota!
O texto de meu amigo Caranguejo mostra na visão de um fã, que acompanha o automobilismo com atenção e carinho e sabe muito sobre ele, a trajetória deles ao longo dos anos. 
Aos quatro meu forte abraço. Rui










Arturo.
Jr, 1972.

Jr e Arturo no Rio de Janeiro trocando posições.
Jr
Podium no Rio, Jr abre a champagne, Arturo recebe o troféu e Amadeo olha, ao lado Bruno.
Festival do Alcool.

Jr e Arturo com o mesmo patrocínio, Rio de Janeiro.


Amadeo e Arturo, Rio.
Arturo toma a ponta de Amadeo.

A bandeirada, Arturo e Amadeo.

Arturo

INTERLAGOS

Amadeo, Jr, Vicente Correa e Arturo.
José Carlos Romano, Amadeu Rodrigues, Amadeu Campos, Arturo Fernandes e Ricardo Mogames.



Luiz André Ferreira, Jr, Marcos Levorim e Luiz Carlos Lara Campos. Lulu e Marcos, presença constante.
Jr.
Arturo e Jr, entrada do "Esse".

Largando à noite no Templo.



Edson Yoshikuma e Arturo.

No miolo de Interlagos.


Ferradura.


Vital machado, Jr, Edgard de Mello e Alvaro Guimarães.
Arturo e Amadeo.


Arturo, Mogames, Amadeo e rodando no "Sargento" Amadeu Rodrigues.
Jr
Bico de Pato, Arturo e Amadeo.
Arturo, Jr e o Passat de João Franco.

Largada em Interlagos, #69 ?, Arturo e Bruninho de Brasília forçando.


FOTOS:  Arquivo pessoal de Arturo Fernandes e Valdir Procopio, Jr Lara Campos.
Arquivo Digital Revista Quatro Rodas. 

17 comentários:

  1. Rui, com certeza uma das melhores postagens do seu blog.
    História magnífica e as fotos são de babar!
    Parabéns!!!

    PS: Tua ligação fez meu reveillon ser ainda melhor. Obrigado pelo carinho!

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  2. RUI COMEÇAMOS BEM O DIA COM ESSA POSTAGEM MARAVILHOSA
    BELAS FOTOS

    ABS

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  3. Obrigado aos Alicatões Francis e Orlando.
    O meu tambem Francis!!!

    Um abração

    Rui

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  4. Olha um capítulo do livro aí...não falei que se espremesse saia alguma coisa.
    Realmente o melhor post de sempre, como diriam os patrícios da velha terra.

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  5. Fabiani C Gargioni #263 de janeiro de 2011 às 11:29

    Grande Rui, foi de "babar" mesmo,tanto o texto qto as imagens,demaaaiiiiisssss!!!

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  6. Essas fotos (um colírio pros olhos)e o texto belíssimo fazem desta postagem uma das melhores e mais empolgantes sobre a apaixonante Divisão 3.
    Ótimo início de ano...
    Senta púa pessoal!

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  7. Bem desde já vamos localizar o Amadeu Campos para o proximo encomtro, vái ter mais umas conversas, quem era quem em pelo menos a três, Amadeu Campos,Arturo Fernandes, e Lara Campos, vái sair fumaça....abas.

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  8. Essa pintura do fusca do arturo a vermelha,pr mim ,o carro mais bonito de todas,muito show!!

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  9. Rui, ficou show, realmente era mt disputa nos conheciamos muito.....

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  10. Parabéns Rui, matéria sensacional.
    Na última foto, o nº 69 é do paranaense João Naumes, e o nº 100 atrás do Bruninho é o paulista Ilo Oliveira.
    Abraço,

    Fabiano.

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  11. Fantastico Rui.
    Realmente maravilhoso esse post, fico muito feliz em poder ter modestamente contribuido com algumas fotos, e vamos reproduzir os adesivos da D3!!!!!!!!!!!!!!que tal.
    Excelente ano a todos.

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  12. Grandes pilotos, heróis de uma categoria, que não seria exagero dizer, uma das mais populares que existiu. A eles, nosso respeito.
    Caranguejo
    Caranguejo

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  13. Rui !!!
    Assim voce nos mata do coração,eu não tinha visto ainda essa matéria inteira, porem algumas fotos já tinha conhecimento, mas a composição que voce fez ficou magnifica.Parabens aos protagonistas e a voce que está se tornando um excelente roteirista.
    Maravilhosas historias e sensacionais fotos, que ficarão agora guardadas para a eternidade.

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  14. Realmente era mt disputada essa Divisào 3, eu particularmente gostava mais da preparação dos motores e carros..., nunca fui um exelente piloto era rapido mas fazia mt besteira mas tinha equipamento de 1 linha.... uma vez fui visitar o F1 Copersucar e o Wilsinho mostrou tudo babaei no copersucar e acabei saindo de la com a lamina para tornar minha barra estabilizadora regulavel.... adorei e funcionava, pintou oleo na pista (geralmente do Rui Amaral) conseguia mudar o comportamento de meu carro.....
    Grande Rui vc é D++++++++

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  15. Rui, perfeito o post,as fotos faz gente lembrar de como era bonita a D3.

    Parabéns!

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  16. Eu sempre fico sem palavras quando acabo de ler seus textos e, mais ainda quando vejo as fotos daquela época ....... Adorei cara ...... Parabéns.

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Rui Amaral Jr