Ninguém diria que o destino de JAMES CLARK JR., era o de tornar-se um dos maiores pilotos de todos os tempos. Caçula da família, cercado por suas quatro irmãs mais velhas, caberia ao jovem varão tocar os negócios de seu pai, ou seja, cuidar das suas duas fazendas de criação de ovelhas, nos frios campos da Escócia. Mas o “highlander” logo estava as voltas com seu primeiro carro, um Sunbeam Talbot Mark III. Só que corridas, nem pensar. Os pais eram contra. Um dia porém, ele e seu amigo Ian Scott-Watson foram a uma prova que Clark calculou que seria longe o bastante de sua família; e além disso era só uma experiência sem continuidade. Scott-Watson sim, já era piloto há algum tempo. Pois na tal competição, o jovem escocês conseguia ser de dois a três segundos mais rápido que ele. Era como um presságio.
No Lotus Ford Cortina, grandes corridas no Turismo.
Lotus 30 S2 Ford.
Na Alemanha de Lotus 25 a seu estilo, tomando a ponta logo na largada.
Depois de uma campanha dos amigos, finalmente Jim Clark começou a competir. Suas primeiras participações foram em corridas de Fórmula Júnior, categoria de promoção da época. É na Fórmula Júnior que ele conhecerá o homem que irá dar-lhe a glória e a tragédia: Anthony Colin Bruce Chapman. A Lotus de Chapman começara nas pistas em 1958, e precisava de um piloto ”matador”: Stirling Moss estava em final de carreira; Graham Hill não era raçudo o suficiente e Innes Ireland, obscuro demais. Clark seria o homem e aquela longa relação começaria no Mundial de 1960, com a estréia em Zandvoort. No ano seguinte, a Fórmula 1 está numa fase de transição, dos motores de 2,5 para os de 1,5 litros. Quem dá as cartas é a Ferrari. Seus pilotos Phil Hill e Wolfgang von Trips postulam o título. O novato Clark, terá um papel importante na decisão entre os dois. Em Monza, Clark disputa posição com von Trips. Na curva Viallone, é ultrapassado pelo alemão, mas pega o seu vácuo e na Parabólica tenta dar o troco. O piloto da Ferrari não o vê e eles batem rodas. Pior para von Trips, que segue de encontro a multidão, matando 14 assistentes e morrendo também, no pior acidente da história da categoria. Um fato mais ameno na carreira de Clark em 1961, foi sua participação junto a Roy Salvadori nas 24 Horas de Le Mans, com um Aston Martin. Carro pouco competitivo, chegam em terceiro lugar. No ano seguinte, experimenta o sabor da primeira vitória em um GP. Com o Lotus 25 ganha em Spa, Aintree e Watkins Glen. G.Hill e a BRM são um páreo duro. Ano equilibrado, a decisão fica para Magdalena Mixuca, no México. Clark larga bem e dispara na ponta, seguido de Hill. Perto do final, a distância entre eles é tanta que o escocês voador já parece campeão, mas seu carro começa a soltar fumaça e ele entra no Box. Motivo: um mecânico esquecera de atarrachar um parafuso, que fizera vazar todo o óleo do motor, dando o título a Hill. Em 1963, além do Mundial de F1, Clark e a Lotus competem pela primeira vez na Indy 500. Na Europa, humilha a concorrência vencendo em Spa, Zandvoort, Silverstone, Monza, Reims, México e East London. Na Indy lidera a corrida, mas é batido pelo “local” Parnelli Jones, terminando em segundo. Descontente, pede a Chapman para correr na Milwaukee 200 e aí sim, chega a colocar 31 segundos em cima de A.J. Foyt, vencendo fácilmente. Campeão Mundial de 63 é pouco para Jimmy, mas a temporada seguinte não é das melhores. Na Fórmula 1, é primeiro em Zandvoort, Spa e Brands Hatch, mas os novos motores V-6 da Ferrari dão o título a John Surtees, mesmo que na prova do México, este corra com uma esquisita pintura azul e branca (?!) no carro de Maranello. Em Indianápolis, Chapman opta por utilizar pneus Dunlop enquanto a concorrência continua de Firestone. Prejudicado por uma greve na fábrica que atrasa a entrega das gomas, é justamente um pneu furado que o tira da corrida. Como consolo, fica com o Campeonato Britânico de Saloon, uma categoria de turismo onde corre com um Lotus Cortina. Em 65, outro “chocolate” nos adversários, com vitórias em East London, Spa, Clermont Ferrand, Zandvoort, Silverstone e Nurburgring. No final da temporada, bi-campeão, sem contar que nesse ano venceu Indianápolis também. Quem poderia detê-lo? Resposta, uma mudança de regulamento. Para 1966, o tamanho dos motores sobe para 3 litros. A Coventry-Climax, fornecedora da Lotus cai fora e Clark tem de correr com o motor BRM. Vitória, só em Watkins Glen, onde seu motor quebra na reta final na última volta e ele chega no embalo. Também se dá mal em Indianápolis, onde corre com as cores da equipe de Andy Granatelli, e é prejudicado por uma carambola de vários carros no começo da prova. A pista demorou a ser limpa e a cronometragem tinha várias dúvidas quanto ao número de voltas percorridas. Jimmy, demonstrara todo o seu fantástico controle do carro ao corrigir uma rodada em plena reta evitando uma batida, mas não evitou que a vitória ficasse com seu “freguês de caderno”, Graham Hill, ainda que muitos digam que houve erro nos mapas e o vencedor tivesse sido Clark. 1967 o encontra morando na França, como forma de fugir do leão do imposto de renda e aguardando ansioso pela estréia do novo propulsor Ford Cosworth DFV. Quando o engenho fica pronto, Jimmy o estréia com vitória em Zandvoort. Repete a dose em Silverstone, Watkins Glen e no México, mas não consegue alcançar Denny Hulme, da Brabham-Repco. Contudo, para 68, com o novo Lotus 49 acertado, ia ser como tirar doce de criança.
Ele começa o ano vencendo em Kyalami. Mas havia um detalhe. Clark corria paralelamente na Fórmula 2. Naquela temporada, já participara de duas etapas. Em Hockenhein, Alemanha, tinha a chance de recuperação. Largou do meio do bolo e passou para sexto, posição que perde na volta seguinte. Está em sétimo, disputando uma prova sem importância, quando o carro roda, sai da pista e segue por entre as árvores da Floresta Negra, até colidir com uma delas. Era 7 de abril de 1968. Jim Clark tinha 32 anos. Se fisicamente não está mais entre nós, restam as lembranças e as imagens fortes. Prefiro recordá-lo no comercial de automóvel que fez certa vez. Close em seu rosto. Está sério, concentrado. De repente, como se lembrasse de algo importante, sobe no carro e vai-se embora, pela pista molhada e nebulosa. Henrique Mércio.
Publicado no Jornal Minuano, Bagé/RS em 25/04/98, por ocasião dos trinta anos do falecimento de Jim Clark.
meu, esse Henrique Mércio até que escreve direitinho.
ResponderExcluirestaria sendo controlado por Jekill ou Hyde?
parabens pelo texto, velho amigo.
um dia todos saberão quem é Henrique, o Mércio
Parabens meu amigo Caranguejo gostei muito, diria eu muitíssimo.
ResponderExcluirAbs
Rui
vi esse comercial também. na verdade era o trecho do filme promocional da Ford "9 days in summer" de 1967 que contava a história do motor Cosworth DFV. a pista onde ele estava era Watkins Glen e foi depois do treino de classificação. o carro que ele entra, em questão, era um Ford Fairlane cupê 1967.
ResponderExcluirObrigado Sávio, caso ache o vídeo envie para nós.
ResponderExcluirAbs
Rui
Clark foi um dos melhores pilotos de todos os tempos. Foi um tempo terrível que ceifou a vida de dezenas de pilotos, uma época escrita com o sangue de muito.
ResponderExcluirO texto do Mercio como sempre é muito bom, de uma simplicidade sofisticada que só alguém com o conhecimento que ele tem do nosso esporte consegue. Parabéns.
Obrigado, comentários assim nos incentivam a escrever.
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