A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach
Mostrando postagens com marcador Expedito Marazzi. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Expedito Marazzi. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

HOMENAGEM - III






Quando o Marazzi escreveu para revista MOTOR 3 a reportagem "Pinicos atômicos", eu não pude acompanhar os testes, só cheguei mais tarde para tirar aquela foto com meu bigode lusitano, meus mecânicos não queriam que ninguém andasse no carro, e por isso o levaram sem motor e com as rodas de transporte. Acho que o " Velho " ficou chateado comigo, quando cheguei ele já tinha ido embora. Depois das fotos o Duran, que era um festeiro de primeira, combinou uma homenagem ao Marazzi em sua casa noturna o TALBOT, na Av. Henrique Schaumann para dali alguns dias.
Na noite marcada resolvi ir com a CARRETERA, para homenagear meu amigo que havia corrido com ela as MIL MILHAS de 1966 e dela me contava mil histórias. Quando estava de saída chegou o Homero e fomos juntos. Desci a Av. Bandeirantes, Marginal Pinheiros,Av. Cidade Jardim, Faria Lima, Rebouças, e entrei na Henrique Schaumann, por onde passávamos todo mundo olhava, aquele ronco do V 8 , aqueles dois loucos guiando aquela máquina, pouca gente deve ter se dado conta que não era um calhambeque e sim, a História. Ao chegarmos ao TALBOT aglomeração encima dela, lá todo mundo sabia o que ela já havia feito. Entrei e o Marazzi estava no meio de uma roda de amigos conversando, cumprimentei-o e disse " trouxe um presente para você, vamos lá fora ". Hoje 25 anos depois ainda me lembro de seus olhos, atrás dos óculos brilharam, me olhou e disse " vou dar uma volta com ela ". A volta durou mais de uma hora, quando voltou sentou-se a meu lado e disse só " obrigado ", não falamos do assunto CARRETERA, mais eu via que ele estava emocionado, imaginei o que se passava em sua mente, e imaginei também como havia sido sua voltinha.
Dois anos depois estava andando uma manhã pelo Ibirapuera, e encontro o Homero que dispara, " leu a QUATRO RODAS o Marazzi te fez uma baita homenagem" fui comprar a revista e ao ler a matéria pude entender sua emoção e o só " obrigado ". É " Velho " cheguei naquela noite com ela para te homenagear e você acaba escrevendo um texto maravilhoso destes.

Obrigado Velho!

Dedico este texto aos amigos Victório Azzalin e Gabriel Marazzi, agradeço ao Careca - Julião Domingos da Silva - pelo exemplar da revista , e ao Fabio  Paperslotcar.

Rui







Victório Azzalin







quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

MARAZZI - III









Só alguém que sabia acelerar um carro de corrida poderia escrever uma matéria como esta, e nisto meu amigo Expedito era único. Piloto, motociclista, jornalista de primeira grandeza, escrita fina, texto claro, escrevia sobre o que conhecia .
Em 1982 ele nos brindou com esta matéria na excelente revista MOTOR3, não conheço quem a poderia ter escrito com maior propriedade .
Revendo, lembro dos amigos, Duran, Ferraz, Espanhol (J.M.RAMOS), Carlos Aparecido Gonçalves o Sueco, Bruninho e o João Lindau , que nos deixou antes da bandeirada final. Na primeira foto quem está em meu carro é o Pankowski, outro amigo.
Dias depois demos uma festa em homenagem ao Expedito, na choperia do Duran a Talbot na Av. Henrique Schaumann, só que esta é outra história.
Obrigado Velho.

Julho 2010

----------------------------------------------------------------------------------------------------
Escrevi este post logo no começo do Histórias, agora pela segunda vez volto a postar.
Além da lembrança do Expedito, dedico a todos que a nós vieram se juntar...

Rui




quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Conta Cuca!




“Em 1972, a Estrela lançou o Campeonato Nacional de Autorama Emerson Fittipaldi: o vencedor passaria um dia inteiro com Emerson Fittipaldi, um sonho para qualquer garoto da época. Gabriel e eu logicamente nos escrevemos, iríamos correr com os nossos Brabham BT34 que havíamos acabado de comprar e, segundo especialistas, “voavam baixo”.
As corridas eram sempre aos domingos pela manhã na pista do Ibirapuera, em um total de quatro corridas. Passávamos as noites de sábado desmontando, regulando e pintando os carros que eram sempre destaques nas corridas pela beleza, conservação e desempenho, pena que os dois pilotos ficavam nervosos e não iam bem nas provas. Os melhores resultados foram um terceiro do Gabriel e um quarto meu. Por idéia do Expedito, sempre corríamos em baterias separadas para não fazermos concorrência um ao outro, já que somente o primeiro lugar se classificava para as semifinais.
Expedito sempre nos levava para a pista nos dias de competição no seu lindo Dodge Dart preto. No caminho mostrávamos os carros a ele, que sempre participava com enorme entusiasmo. Num desses domingos, porém, ele nos levou num lindo Maverick LDO que ele estava testando para Revista Quatro Rodas. Era um belo carro de cor champanhe, novinho. Chovia muito aquele dia e, quando chegamos ao Ibirapuera, Expedito, não querendo pegar chuva, resolveu “estacionar” o carro o mais próximo possível da pista. Só que a manobra incluía descer um escada de uns quinze degraus.
– Será que eu consigo? Pergunta Expedito.
– Vai raspar o fundo. Diz Gabriel.
– Ops, ops, ooo...
Dum, dum, dum, dum...
– Foi, viu, viu, viu? Não raspou nada.
Comemora Marazzi.
– Mas como vamos sair daqui?
Questiona Expedito coçando a cabeça e rindo como um garoto que fez uma travessura.
– Bom, depois eu penso nisso.
E fomos para a pista levar outro “esfrega” da garotada.
Na hora de sair, ele colocou o carro meio de lado em frente da escada e acelerou fundo, o carro cantou os pneus de um pulo e subiu fácil, sob olhares incrédulos de diversos pais que deviam esta se perguntando “Quem era aquele louco que fazia aquilo com um carrão daqueles?”.
Coisas de Marazzi”

Mario Marcio Souto Maior - Cuca 


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O FUSQUINHA BOY .


Hoje vou contar uma historia, de tantas que aconteceram, do Expedito Marazzi, com quem tive a honra, o prazer e o privilegio de conviver na minha infância e adolescência. Faço isso com a permissão e as gargalhadas do seu filho Gabriel Marazzi, a quem mandei há anos este texto.
Para quem não conheceu o Expedito, ele tinha uma alma e um coração de criança. Era calmo, mas com um gênio que explodia de uma hora para outra e ele ficava extremamente nervoso, principalmente no trânsito. 
O que mais me impressionava nele, era a extrema facilidade com que ele controlava os carros nas situações mais adversas.
Uma história engraçada, mas nem um pouco recomendada, aconteceu numa noite em que ele e eu fomos até o posto de gasolina que ele possuía na Av. Heitor Penteado. O posto já estava fechado, fechava cedo na época, apenas o gerente estava lá para conferir o caixa com Expedito. Devia ser um domingo ou sábado, pois as ruas estavam vazias. Nós estávamos no Dodge Dart preto que ele tinha e paramos no sinal da Av. Cerro Corá com a Av. Heitor Penteado,  atrás do nosso carro, um "fusquinha de boy" parou e segundos depois disparou uma buzina daquelas de repartir cabelo na nuca. Expedito olhou pelo retrovisor somente levantando o canto do olho e permaneceu quieto, aparentemente sem se alterar. Mais alguns segundos, e nova buzina, desta vez um pouco mais longa. Expedito nem olhou, o sinal ficou amarelo e ele engatou a primeira. Quando o sinal ficou verde, e o fusquinha buzinou pela terceira vez, eu só senti o Dodge rodar sobre o eixo dianteiro num cavalo de pau de 180 graus e ir de encontro ao fusquinha, que nesse momento já tinha um motorista de olhos arregalados e um coração pendurado na boca. A frente do Dodge parou a uns 10 centímetros do pára-choques do fusca, com o giro muito alto e as rodas traseiras girando em falso e fazendo uma fumaça muito grande, porém, o carro não mexia um milímetro para frente, Marazzi enfiou a mão na buzina, colocou a cabeça para fora e começou a gritar "Buzina eu também tenho, buzina eu também tenho, palhaço...", o rapaz do fusca estava estático.
De repente o Dodge saiu em marcha a ré, e, com outro cavalo de pau desta vez jogando a frente, virou e entrou na Av. Heitor Penteado em alta velocidade, entramos pelo posto e novamente outro magnífico cavalo de pau de 360 graus e duas voltas, parando quase que estacionado, Expedito somente engatou a ré e ajeitou melhor o carro. Eu quieto estava, quieto fiquei, ele saiu batendo a porta e foi ter com o gerente do posto que também estava paralisado com as rodadas do Dodge.
Cinco minutos depois ele volta, sorrindo e comentando:
- Viu que sujeito mais idiota ?
 Eu apenas balancei a cabeça concordando e tentando colocar o coração nos batimentos normais. 


Mario Souto-Maior - Cuca

-----------------------------------------------------------------------------------------------

Nesta história pouco construtiva do Cuca(rs) o amigo que nunca esquecemos. 
Nesta época eu já corria e convivia com o Expedito e por mais inverossímil  que pareça ele era assim mesmo, aprontavámos muito, de moto, carro etc. Saudades do amigo...Valeu Cuca!

Rui Amaral Jr


quarta-feira, 4 de maio de 2011

Fala Expedito!

Um texto de meu amigo Expedito Marazzi para revista Motor3 de Setembro de 1982.

sábado, 21 de agosto de 2010

AUSTIN HEALEY - II

QUATRO RODAS - Outubro de 1963


Em 1963 a revista QUATRO RODAS pediu através de seu diretor Mino Carta o AUSTIN HEALEY de minha irmã emprestado para uma reportagem , apresentando seu redator Expedito Marazzi , notem que no pedido a revista se responsabiliza por qualquer dano ao veiculo , no texto e na foto 3 podemos perceber o por que , um pneu furado a mais de 155km/h e na foto o Expedito vem num nítido sobresterço em uma das curvas de Interlagos , ou seja de pé embaixo , que era sua forma favorita de dirigir.
Nesta época eu tinha 10 anos e minhas memórias deste carro são poucas , uma em que fui com o namorado de minha irmã Armando Salem até o Guarujá . Na época tínhamos que passar por Santos e lembro perfeitamente de uma ultrapassagem feita pelo Salem em que o comprido capo do Austin passou por baixo da carroceria de um caminhão , credito esta manobra dele a uma vontade absurda de me assustar , já que eu era um moleque terrível .A outra ia para Campos do Jordão com minha mãe D.Arinda , no Impala 61 dela , quando nos passa o AUSTIN dirigido pelo meu primo Pedro com minha irmã ao lado , bem rápido , diria eu rapidíssimo .

Quando comecei a correr e conheci o Expedito nos tornamos amigos, ele me contou que se impressionou com a forma de minha irmã dirigir , segundo ele " quase tão rápida quanto eu " . O interessante é que não lembro do Expedito em casa nesta época buscando o carro , graças a Deus , pois se ele me leva dar uma volta teria trauma de velocidade até hoje .

No final do ano passado encontrei seu filho Gabriel Marazzi , que não via desde garotinho , 35 anos atrás , e comentando com ele da reportagem , disse-lhe que não tinha a revista e agora ele me enviou esta cópia . O interessante é que o Gabriel é parecido com o "Velho" , gosta de motos , escreve tão bem quanto seu pai , correu de automóvel etc. etc. etc. . Em meus sites e blogs favoritos estão o site e o blog dele.
O texto acima é do post de 26 de Janeiro de 2009, agora com a grande iniciativa da Editora Abril de disponibilizar todas edições da revista de forma digital, resolvi postar novamente usando copias de cada página já que no post original as fotos eram copias de fotos tiradas da revista pelo Gabriel. Apenas o oficio da revista é de meu arquivo pessoal. 
Dedico este post a minha irmã Cida, ao Gabriel e ao amigão Expedito, que lá de cima certamente está nos abservando. Valeu Velho!!!
 







Parabens à Editora Abril por sua bela iniciativa.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

DIVAGAÇÕES

Desde o começo desse blog minha idéia sempre foi contar historias de automobilismo, de meus amigos, minhas e a própria história do automobilismo, mesmo que fosse na minha visão. A mim foram se juntando pessoas muito especiais que me ajudam nessa tarefa, hoje são tantas que não vou citar uma a uma, e delas vieram posts que muito contribuíram e continuam a contribuir para que possamos ler belas passagens do automobilismo.
Cada vez que abro o blog fico feliz em ver novos seguidores, eles que nos honram com sua presença e são o grande incentivo para continuarmos. Amigos e pessoas que não conheço o que certamente mostra que o caminho é o correto. Vou citar apenas os últimos o Pedro, Roberto, Paulo Valiengo que como eu correu e também tem um blog, Renato, Gustavo... E agradecer a eles e a todos outros pelo carinho.
Ontem foi um dia de grandes papos com amigos que como eu são loucos por automobilismo, o Carlos - de Paula -, o Caranguejo - Henrique Mércio - com eles sempre troco muitas idéias e sempre vem alguma coisa interessante para postar, grandes pessoas esses dois amigões. Mais tarde conversei com o Cezar - Fittipaldi - também blogueiro, escritor e corredor, outro grande cara o Cezar. Fora mais umas duas horas com o Ferraz e o Orlando ao telefone.
Mas comecei a escrever hoje por que recebi da Sueli e de seu filho Edgar algumas fotos do João Lindau e fiquei pensando nos motivos que me levaram a escrever esse blog, e os motivos estão aí, mostrar com carinho fotos e histórias dos amigos.
E hoje saber que muitas pessoas compartilham tudo isso comigo me deixa muito feliz.
Quero aproveitar e mandar para meu filho Francisco um abraço super apertado e um beijo carinhoso, para você que é a melhor coisa de minha vida e minha razão de existir.



Forte abraço a todos, Rui
      
 
                                                               João Lindau
                                                      
                                                                                                                                                                                                                                      
 
 

Para minha surpresa nessa foto alem do João está um outro amigão o Expedito Marazzi. Só sei como se vê que ela é de 1981, pode ser Hot Cars ou Turismo 5.000, o Expedito está em quarto lugar e o João em quinto. Os três primeiros colocados não consegui identificar e caso alguém tenha a informação ou saiba que corrida foi e quem são os outros três pilotos peço por favor que me informem. 

PS: 1º lugar Ney Faustini.


Obrigado Sueli e Edgar um abração.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Expedito Marazzi na Divisão 3

Uma bela briga em Interlagos, Luiz Henrique Pankowski, Alvaro Guimarães no carro que o Expedito correu no Rio de Janeiro e Elcio Pelegrini.
A batalha dos VW e Passats na D3. Interlagos "Subida do Lago" aqui os Passats despejavam toda potencia para a subida da "Reta Oposta".

Expedito Marazzi



Eu sempre gostei de correr de automóvel. Faço isso já há alguns anos. Participei de talvez mais de cem corridas, pegando o fim diz era das carreteras, passando pela tempo das Equipes de Fabrica e chegando hoje, na mono marca.

Mas existe uma categoria que é toda especial: A Divisão 3 a bem da verdade é preciso que se diga que eu comecei nela apenas no ano passado, quando fiz. somente uma corrida noturna. Mas neste ano acabo de participar da terceira prova do Torneio Rio/S. Paulo, no Autódromo de Jacarepaguá.

É estranho que, mesmo sem conseguir um bom resultado, eu tenha me apaixonado pela categoria. É que se trata de algo muito especial não somente os carros são diferentes na maioria bezouros - e uns poucos Passats, completamente modificados. Com as latarias "engordadas" a fim de cobrir os pneus largos do tipo "slick". E com os motores muito envenenados, muito velozes e, por isso mesmo, muito fáceis de quebrar. . . O Lara Campos, por exemplo, leva consigo nada menos do que quatro motores de reserva. Seu carro tem conseguido bons resultados, mas as vezes ele é obrigado a usar todos os motores. Mas quase todos os demais participantes tem sempre, no mínimo, dois motores de reserva...

A verdade é que o pessoal é todo muito unido: na pista cada qual quer ganhar de qualquer jeito, desde que não prejudique os demais. Mas se qualquer um dos participantes sofrer uma injustiça por, parte dos organizadores imediatamente todos se unem a fim de defendê-lo. 

Nesta corrida do Rio, por exemplo, aconteceu algo assim comigo.

Meu carro não estava bem acertado, pois o Toninho, o dono da Equipe Motor Girus, não teve tempo de fazer nenhum treino. Assim, a muito custo, depois de terem faltados os freios, de ter sido trocado o motor, de ter sido improvisado um jogo de amortecedores e demais providências que custaram o sábado inteiro, prejudicando inclusive uma melhor classificado (ficamos em 13º. no grid), conseguimos largar.

Largar é uma palavra mágica, uma espécie de vitória antecipada ... quando se consegue realmente por o carro na pista. A largada falsa que se usa no Rio, inclusive, é muito ruim para os pilotos, mas, vai lá. Fui andando no meio do bolo, até as posições mais ou menos se definirem. De repente, o grande inimigo da Divisão 3 apareceu: o óleo na pista. Logo surgiu também uma bandeira preta tirando o carro que estava sujando a pista e eu fiquei contente pela presteza com que isso aconteceu. Continuei andando, ao fim da bateria, sem lutar com ninguém, pois havia um bolo à minha frente, que eu não podia alcançar e um bolo à minha retaguarda, que não podia  por sua vez  me alcançar. Salvo um piloto, egresso da Divisão 1 onde se costuma dar "totós" (e ele ainda tinha esse mau cos­tume) que me empurrou por trás tudo foi normal.

Quando parei, porém, qual não foi a minha surpresa ao ser informa­do de que estava desclassificado, porque desrespeitara a bandeira preta. De nada adiantou argumentar que meu carro não estava jogando óleo (era apenas uma mangueira mais baixa) e que eu não vira a bandeirada para mim. A decisão das autoridades da prova era irreversível.

Muito chateado voltei ao Box e e meu Chefe de Equipe estava macambúzio. Ai chegou o repórter Sidney, deste jornal, e quis saber do que se tratava. Inteirado de tudo sugeriu: é um caso para o Edson Yoshikuma. Este, que acabara de vencer a bateria após uma árdua luta com Affonso Giaffone Jr., ainda enxugava o suor, quando imediatamente tomou as dores da Injustiça sofrida por mim. Foi parlamentar com os responsáveis pela corrida, que se mostraram irredutíveis na decisão tomada. Então a confusão foi crescendo e todos os pilotos inscritos se reuniram com o Yoshikuma e resolveram: ou o Marazzi larga na posição que lhe coube, ou ninguém larga. Até os dois gaúchos, que estavam participando "hors concours'' pela primeira vez acrescentaram: "Oi tché, se alguém largar nós quebramos os para brisas deles”.

Nessas alturas a decisão foi reconsiderada e eu fui procurado com um pedido de desculpas, onde me informavam que deveria me aprontar para a largada, no lugar correto.

Sinceramente, fiquei comovido, a ponto de meus olhos quererem me trair, deixando escapar algumas lagrimas. Jamais, em corridas, eu havia sido tratado com tamanha consideração. Todos os pilotos, in­clusive os ponteiros habituais como Amadeu Campos, Arturo Femandes - todos, enfim - não somente haviam apoiado a "blitz " como foram me defender pessoalmente. Quando fui agradecer ao Yoshikuma, ele simplesmente me disse: "Não há o que agradecer, faríamos isso por qualquer um de nós "

Na segunda bateria, embora o, meu carro fosse o mesmo, fiquei tão animado que consegui terminar umas três posições à frente ( 15º na primeira e 12º na segunda ). Mas eu corria com um sorriso de orelha a orelha. Pouco me importava que a minha posição fosse aquela ou até mesmo o último lugar: eu estava muito feliz porque me sentia integrado numa sociedade de gente boa, que falava a minha linguagem, acelerava um bocado na pista, mas continuava a ser gente fora dela. Edson Yoshikuma desta vez, penso conseguiu chegar na frente de Giaffone: inverteram-se as posições. Mas para todos os pilotos da Divisão 3 ele é o grande vencedor, o líder que defende os direitos de cada um. Por isso gosto de correr de Divisão 3 ... e não pretendo parar tão já!



OS ACIDENTES



Houve alguns acidentes na prova do Rio, que eu pude ver: um deles aconteceu no inicio da segunda bateria, quando o carro de Jefferson Elias tentou passar o carro de Dimas de Melo Pimenta, na curva que antecede aos boxes. Acabou se en­roscando e ambos rodaram, saindo da pista!. Mais tarde o mesmo Jefferson saiu da pista na curva veloz que existe após o box, aquela, que se faz em quarta de pé em baixo. Curioso que , algumas voltas depois, um Passat marrom que eu não pude ver de quem era capotou e foi ficar parado pertinho do carro de Jeffeson. Outro Passat, vermelho, capotou na curva Sul, após o retão.

Felizmente ninguém se machucou, nem mesmo os motociclistas, que correram entre as baterias da Divisão 3 e caíram pra valer. Aliás, ninguém gostou da idéia de unir motos e carros no mesmo dia, nem pilotos nem motoqueiros. Parece que isso não vai mais acontecer.

Eu não pude ver a corrida no seu enfoque geral, pois estava participando dela. Mas o meu mecânico preparador, o Ney, que fica torcendo - elétrico - nos boxes, no final me contou tudo o que aconteceu. Além dos destaques de Yoshikuma e Giaffone, que ficaram com os dois primeiros lugares, os carros do Sul andaram muito bem, passando todos os outros nas retas. Havia até quem achasse que seus motores estavam fora do regulamento. Amadeu Campos ficou em terceiro lugar, na soma dos pontos, usando já os pneus com novo composto. Lara Campos ficou em quinto, Amadeu Rodrigues em sétimo, José Antonio Bruno, em oitavo, Alvaro Guimarães em nono e a Passat de João Franco em décimo, Nós tivemos de nos contentar com o 13º. Mas valeu a penal. Expedito Marazzi


Box do Jr no Rio, Manduca - Armando Andreoni - conversa com Carlos Alberto Levorin, de bermuda o Saraiva, e trabalhando para fazer de quatro motores um para corrida o saudoso Arno Levorin e agachado seu irmão Marcos Levorin.

Anatomia de um post.



É a segunda vez que mostro este texto de meu amigo Expedito, da primeira o Jr. -Lara Campos- digitalizou como foto e ficou ilegível, agora ele digitalizou como documento então pude copiar e postar corretamente.



Ao telefone



Jr: Ruizão agora digitalizei certo.
Rui: Obrigado Portuga.
Jr: Pô o Expedito escreveu que eu estourei quatro motores.
Rui: Mas não é verdade? Voce mesmo contou que em Tarumã foram outros quatro!
Jr: É verdade.



Obrigado Jr. Quantos amigos e quantas lembranças! Um abração.



terça-feira, 20 de julho de 2010

PORQUE GOSTO DE CORRER NA DIVISÃO III

Toninho da MOTOGIRUS.



"Ruizão mandei o texto do Expedito para seu e-mail, agora ficou bom!" Era o Jr me avisando e contando que tambem postou no seu blog este texto do Expedito contando como gostava da categoria. E ainda reclamou que o Expedito escreveu que ele levava quatro motores para a corrida. Conversando concordamos que era verdade. Dois amigões Expedito deve estar rindo lá de cima e o Jr  Graças a Deus está conosco, pertubando como sempre. Obrigado Jr e um abração!     


segunda-feira, 12 de julho de 2010

MARAZZI - II

Sexta-feira, 19 de dezembro de 2008


MARAZZI




Revista MOTOR3 - Agosto de 1982



Só alguém que sabia acelerar um carro de corrida , poderia escrever uma matéria como esta, e nisto meu amigo Expedito era único . Piloto , motociclista , jornalista de primeira grandeza , escrita fina ,texto claro , escrevia sobre o que conhecia .
Em 1982 ele nos brindou com esta matéria na excelente revista MOTOR3 , não conheço quem a poderia ter escrito com maior propriedade .
Revendo , lembro dos amigos, Duran, Ferraz, Espanhol (J.M.RAMOS) , Aparecido-Sueco-, Bruninho , e o João Lindau , que nos deixou antes da bandeirada final . Na primeira foto quem está em meu carro é o Pankowski outro amigo.
Dias depois demos uma festa em homenagem ao Expedito, na choperia do Duran a Talbot na Av Henrique Schaumann , só que esta é outra história.

Obrigado Velho.



sábado, 10 de abril de 2010

A CARRETERA

Estava uma noite em casa, na Av Bandeirantes , morava no 17º andar e ouvi um ronco conhecido, era de um V8,alguns instantes depois o porteiro me chama "seu Adolfo pede para o senhor descer".Lá em baixo encontro o Adolfo ( Cilento) e o Homero ( Rocha Ferreira ) e a carreteira, fiquei maluco, pois sabia que era com ela que os grandes Justino de Maio e Vitório Azalin haviam ganho as Mil Milhas de 1965 , vitória memorável, pois em 1956/57 os gaúchos com o Catarino Andreata/Breno Fornari haviam tirado as vitórias de nós os paulistas com as suas Galgos Brancos, depois Menegaz. Grandes pilotos estes gaúchos , mais logo depois levaram o troco , primeiro com o "Seu Chico" e em 65 com esta dupla.Meu amigo Expedito Marazzi me contava muitas historias dela ,pois em 1966 ele havia corrido com ela as Mil Milhas .Em 1984 com ela fez uma matéria na Quatro Rodas e que oportunamente mostrarei .O Adolfo falou "compramos", ao que retruquei "quem?' foi ai que fiquei sabendo que agora ela era de nós três .Ficamos com ela por uns tres anos ,que foram bem divertidos .

Às vezes chegava em casa de madrugada , pegava ela e ia dar umas voltas, era emocionante saber que naquelas horas estava dirigindo a História, passeava por duas, três horas .Seu motor não era o mesmo das MM , era um Ford V8 , com um carburador Quadrijet deveria ter no máximo 200HP , seu cambio de três marchas , freios a tambor , direcção super pesada e imprecisa , os pneus eram Pirelli Cinturato , guia-lo era uma aventura ,ficava imaginando como aqueles heróis a pilotavam numa pista . Eu descia a Av Bandeirantes com ela de pé em baixo ,acho que chegava na Marginal a uns 180KM/H , para fazer aquela curva que liga a Bandeirantes a Marginal era um sufoco ,freada no meio da pista , pois você não sabia para que lado ela ia sair , volante pesadissimo , quando entrava na Marginal era um alivio , mais uma curva que tinha conseguido fazer , só que eu estava pilotando a Glória ,não um carro qualquer , mais a carreteira que o Marazzi havia corrido as MM em 66 e que tinha sido vitoriosa com o Justino/Azalin nas de 1965.

Nas duas fotos acima ela recebendo a bandeirada de vitoria nas Mil Milhas , das maõs de Eloi Gogliano.

PS: Logo após essa postagem de 14 de Janeiro de 2009 conheci o Fabio Poppi que me apresentou Victório Azzalin. Muitos amigos em comum não nos conheciamos e minha admiração por ele se transformou em amizade. Grande Victório! 

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A Quadriculada II



Já estava com 18 anos e não conseguia começar a correr , meus pais não davam a autorização nessessaria por nada neste mundo ,um dia na casa de amigos conheci o Carlos Mauro Fagundes ,contei a ele ." Corre com este Dart " me disse , meu carro era zero , havia ganho de meu pai uns 5 meses antes , a esta altura tinha uns 5.000 KM .No dia seguinte mesmo estava em sua oficina , me filiei ao Automovel Club e a Federação Paulista de Automobilismo , a autorização? , não conto a ninguém como consegui . Fizemos Sto Antonio , abaixamos a suspensão , costuramos apoios para o banco já que era inteiriço e começamos a nos preparar para a corrida . Fui me inscrever no Clube organizador das provas e lá conheci o Expedito Marazzi , ele já tinha testado para QUATRO RODAS um Austin Healey de minha irmã , isto no ano de 1963 , e era ele o diretor do Clube e organizador do "FESTIVAL de MARCAS" que seria minha primeira corrida . Ficamos amigos logo de cara , e minha primeira bandeira quadriculada foi dada por ele . Nos treinos o Carlos Mauro me ensinou muita coisa , a não telegrafar nas curvas , e me mostrou o caminho das pedras andando comigo na pista , eu já guiava desde os 14 anos , muitos rachas na Rua Itapolis , mais havia andado no autrodomo só a bordo do PORSCHE 550 de meu irmão Paulo , com uns 10 anos e como passageiro . No primeiro treino , a primeira vez que andava forte , já uma rodada na entrada da junção , modéstia a parte já vinha forte . Dois dias de treinos depois fomos para a corrida . Larguei com o segundo tempo , e logo na largada assumi a dianteira , lembro de olhar no retrovisor e ver aquele OPALA grudado em minha traseira e não conseguir abrir uma folga ,lá pela quinta ou sexta volta os freios a tambor começaram a dar sinais de fadiga , para segurar o carro na curva Três era um sufoco , no Sargento , onde engatava segunda marcha era um DEUS nos acuda , mais já mais experiente comecei abrir um pouco do OPALA do Wanderlei . As duas ultimas voltas foi um sufoco , será que o motor não está quente ? será que os pneus vão aguentar ? usávamos 50 libras , será que não vou rodar ? e o OPALA no retrovisor , um pouco mais longe , mais no retrovisor . Ao ver a placa de ultima volta comecei a guiar com a ponta dos dedos , um olho na pista outro nos relógios no retrovisor etc . Ao chegar no Café na ultima volta meus olhos já lacrimejavam , as lágrimas desciam , pé embaixo , foi só ver o Velho com a quadriculada na mão , levantar o braço e a hora em que abaixou , tinha acabado de ganhar . Chorei toda aquela volta , os bandeirinhas fora de seus postos nos saudando , os outros pilotos trocavam acenos comigo , o Wanderlei encostou e nos cumprimentamos , tinha sido uma bela disputa e ele até o final havia me perseguido de perto .Ao chegar aos boxes muitos abraços e cumprimentos , e o Marazzi me convidando para participar da prova extra que reuniria todos competidores . Só que minha namorada Maria Helena no afã da largada havia levado um tombo , e tivemos de ir a um pronto socorro , para ela levar alguns pontos no queixo .



 
Desta primeira corrida ficaram muitas amizades , um monte de pilotos que depois comigo participaram de outras corridas , o Jacob , o Edo , o Guaraná , o João Borges ,o José Sampaio ,o Duda e outros , deles espero contar neste blog muita coisa .

Postado em 21 de Janeiro de 2009.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

ALICATÃO


Era o termo usado por meu amigo João Lindau ao se referir a certos pilotos mais afoitos no uso do pedal de freio de um carro de corridas. O que vou contar a seguir aconteceu no ano de 1978 ou 79 e à ninguém digo o nome do protagonista.

 
 
 
Lendo no blog de meu amigo Jr Lara Campos um chega para lá que deu em um dos DIMEP lembrei do que aconteceu comigo. 
Um aviso, o Jr ao fazer seu blog postou tudo de uma só vez, então para ler é preciso procurar as deliciosas histórias que ele conta. 
E ainda se faz de desentendido quando o chamo de Portuga!!!
Já havia escrito sobre esta corrida, mas numa conversa com meus amigos foi citado o tal “alicatão” e resolvi contar o resto como foi.

Bonita foto de meu amigo Alex Silva, que nada tem com a história a seguir. D3 1977


Na primeira bateria larguei super bem, com a Caixa 2 o carro pulava que era uma maravilha, e na saída da “Três” estava grudado no João Franco com ninguém menos que o Bambino -Adolfo Cilento Neto - em minha cola, na entrada da “Ferradura” passei o João e ele com seu Passat com no mínimo uns trinta HP a mais retomou a posição na “Reta oposta” grudei novamente no “Sol” e fui tentando ultrapassá-lo, atrás o Adolfo sinalizava freneticamente, achava que queria me distrair, mas era o Álcool do tanque do carro do João que lavava a pista à minha frente, como estava grudado nele não percebi. Na “Junção” aproveitando a freada dele quando fui tirar o carro para a esquerda veio a surpresa, uma rodada que me levou até aquela parte do “Anel externo” e me deixou tonto. Ao sair já era ultimo. Comecei tudo de novo, é cruel, e umas duas voltas depois quando já vinha de novo no meio do pelotão meu pneu furou ao frear para o “Sargento”. Fiquei parado quase na tangencia da curva com aqueles malucos passando pertinho e minha primeira bateria acabava por ai.


O saudoso amigo Expedito Marazzi.

Larguei a segunda bateria em ultimo, “espumando” giro lá no alto e o tempo todo trocando no limite. Aqui uns parênteses, usava um contagiros mecânico Jones com espia, e a chave sempre ficou com o Chapa. Na entrada do “Sargento” já vinha no meio do pelotão e encontrei meu amigo Expedito Marazzi que também tinha largado de traz e seguimos juntos, entramos no “Sol” colados, para no meio encontrarmos o citado senhor andando a uns vinte kilometros mais lento, e devia achar que estava rápido! O Expedito tentou ultrapassar por fora, quando vi a manobra coloquei meu carro por dentro do dele, ai o “alicatão” resolveu abrir, o Expedito tira o pé já de lado e eu perto dele vejo o “alicatão” voltando a sua trajetória, tiro também o pé. Fomos o Expedito e eu até a grama e o causador da confusão foi embora, do Expedito não lembro, fui ultrapassado por vários carros e retomei a corrida com muita raiva.
Queria me vingar dele o “alicatão”, daí em diante corri só para quando o encontrasse dar-lhe um totó de preferência numa curva de alta para que ficasse experto. Encontrei-o na reta dos boxes uns cento e cinqüenta metros a minha frente e pensei vai ser na “Três”, na tomada da “Um” para minha surpresa ele pisa no freio e eu em frente aos boxes imaginei dar-lhe o totó na “Dois” mandá-lo para caixa d água. Mas DEUS com sua infinita sabedoria e misericórdia foi mais uma vez bom comigo e antes mesmo da “Um” meu motor estourou fazendo encher minha cabine com a fumaça do retorno de óleo do motor. Fui parando devagar até encostar meu carro no “Retão” numa pista auxiliar que havia por lá, depois do muro de saída dos boxes que na época ia até o fim da “Dois”. Parado com o bombeiro e o bandeirinha a meu lado, vendo os carros passarem, agradeci a ELE, a meu Anjo da Guarda e a minha Nossa Senhora Aparecida, poderia ter feito algo de que me arrependesse até hoje.

A memória dos saudosos João, Adolfo e Expedito.


Todos citados são amigos queridos com quem tenho ou tive muito prazer em conviver, menos o “alicatão” com quem nunca tive convivência. Ele foi piloto por muito tempo e correu em varias categorias, em uma delas na classificação em Interlagos era com freqüência 12s ( doze segundos) mais lento que o pole.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

AO MESTRE COM CARINHO

http://gabrielmarazzi.blogspot.com/2009/10/ao-mestre-com-carinho.html

Hoje postei no blog do Gabriel um belo texto do Expedito , escrevendo sobre esportes motorizados com sua conhecida paixão .

terça-feira, 13 de outubro de 2009

AUDI QUATTRO por Expedito Marazzi

Expedito "tocando " o AUDI QUATTRO em Interlagos .
Colocando o cinto , imagino o que se passava em sua mente .
A bela Michele Mouton , uma fera no Rallye .
Gumpert pilota vejam o Expedito ao lado !!!
O AUDI QUATTRO batido .

Muita gente pode até achar que o trabalho de um "testador" de automóveis é diversão.. Muitos amigos meus, ao me verem pilotando um automóvel sofisticado, ainda não conhecido do público, batem nas minhas costas e dizem sorrindo: "Marazzi, eu tenho uma inveja de você... que vida, hein?"
Na verdade, a coisa não é bem assim. Para se possuir a condição de julgar corretamente o comportamento de um automóvel ou de uma moto são necessárias diversas características pessoais, obtidas com muito sacrifício e abnegação. Coisas que nenhuma escola ensina, somente a prática de muitos anos. Como, por exemplo, técnica mecânica, política de vendas, direção defensiva, andar no limite de aderência, operar instrumentos especiais, teoria dos erros, Física, Química, Matemática, Relações Públicas, tudo isso misturado de um certo jeito, muito especial. E, principalmente, redáção: capacidade de, expor de modo claro, para um público heterogêneo, assuntos complexos.
Com isso tudo, o "testador" de veículos vai ficando meio frio, meio impessoal, com o correr dos anos. Ele precisa gostar muito, mas muito mesmo, daquilo que faz, para continuar transmitindo calor humano nos textos de seus testes, sem o que o leitor,vái-se aborrecendo daquela xaropada, sempre igual, mês após mês ...
Estou me confessando com o amigo leitor, para tentar explicar o meu estado de espírito, quando o pessoal de MOTOR 3 me avisou que eu deveria testar o Audi Quattro, o carro de Turismo mais impressionante do mundo. Eu francamente me esqueci do meu profissionalismo, dos meus anos de aprendizado, de tudo aquilo que eu deveria saber ou fazer. Quando olhei para o carrão parado junto às mesas do Salão de Refeições do São Paulo Hilton, no quinto andar, fiquei logo apaixonado por ele. Foi um caso de amor à primeira vista. Especialmerite porque ele pertencia às duas mulheres mais velozes do mundo automobilístico, Michele Mouton e Fabrizia Pons ...
Peguei na porta esquerda do carro, para abri-Ia, e ela quase saiu nas minhas mãos, de tão leve. Sentei no banco do piloto, e me encaixei nele como se tivesse sido feito para mim.
Olhei para o completo painel de instrumentos e fui adivinhando para que serviam aqueles mostradores: velocímetros, contagiros com a agulha limitadora indicando 8.000 rpm, manômetro do turbo compressor com o limite em 0,6 Atm, manômetro de óleo, termômetro de óleo, termômetro de água, indicador de combustível, amperímetro, chave geral etc.
Os pneus KIeber, especiais. A caixa de cinco marchas. Os pequenos pedais de freio e acelerador, colocados numa posição especiaI para facilitar o punta-tacco, por parte da linda "pilota" que o dirigia ...
Naquela noite, sonhei com o carro.
E aguardava ansioso o momento em que o Mathias Petrich, da Volkswagen, deveria me chamar para o teste. Mas o Rali largou, na sua etapa brasileira, e nada do teste. Mathias prometia: "Vamos ver quando eles voltarem." Eu acompanhava as etapas, pelos jornais, e via, com o coração pequeno, que a maior parte dos concorrentes havia se acidentado. Até mesmo o outro Audi Quattro, da dupla masculina Mikkola-Hertz. E se o carro de Michele não voltasse? Mas, no sábado, quando o Rali terminou, Mathias me tranqüilizou: "Não se preocupe, Marazzi, amanhã em Interlagos você pega o carro."
Dia segumte, desde as 10 horas da manhã, eu e o fotógrafo Alex Soletto estávamos a postos. Mas alguma coisa não estava bem. Mathias, fugindo da gente, na reunião do Novotel. Espreme daqui, aperta dali, o Mathias acabou abrindo o jogo: "Olha, Marazzi, a coisa está difícil, porque o Roland Gumpert, da Audi, não quer entregar o carro na mão de ninguém. Ele acha que os latinos se entusiasmam muito, ao volante dos automóveis de corrida, e acabam batendo o carro. Ele diz que já teve algumas experiências negativas a esse respeito."
E agora, pensei com meus botões.
Como vou escrever o teste do carro sem andar com ele? Como jornalista profissional eu já teria mandado tudo as favas. Mas como fanático aficionado resolvi continuar tentando!
Nessas alturas, Roland Gumpert, o chefe do Desenvolvimento das Suspensões e, cumulativamente, chefe do Desenvolvimento de Carros Especiais de Competição, já havia sentado ao volante do Audi, na pista de Autocross recém-inaugurada de InterIagos. E, embora não fosse piloto, estava demonstrando como o carro andava bem.
O público, que havia visto os carrinhos nacionais de autocross andando perto de 100 km/h, na pequena pista de terra, de repente começou a apreciar o Audi Quattro a quase 150 km/h. E aplaudia, entusiasmado. Foi então que o fleumático' Roland Gumpert deu uma de latino e também se entusiasmou. Resultado: bateu forte de frente, destruindo o lado direito do Audi. Depois saiu de traseira e deu uma volta inteira arrastando o párachoque de trás. Finalmente, acabou arrancando esse acessório dispensável em outra batida.
Quando ele parou e me convidou para andar ao seu lado, eu aceitei, mas prendi bem firme o cinto de segurança e engoli em seco. Demos duas voltas e isto só me fez ficar com mais vontadé, ainda, de acelerar o carro. Afinal, os pedaços arrancados pelo "piloto" Roland Gumpert não haviam impossibilitado o automóvel de continuar andando. Aí, meio sem jeito, finalmente, o nosso simpático amigo desceu do carro e, com um sorriso meio amarelo, me convidou a tomar assento ao volante.
Amarrei cuidadosamente o cinto de segurança, de quatro pontos de fixação e fivela de soltura rápida. Empunhei o volante, que caía bem ém minhas mãos. Estava sem luvas e, por isso, senti sua pega segura e agradável ao tato. A alavanca de câmbio era um pouco mais longa do que desejaria, mas não tive dificuldade em alcançá-la. Acertei os espelhos retrovisores e ... parti.
Pensei que a arrancada inicial seria muito forte, mas o motor custou um pouco a subir de giros. A lâmpada amarela do painel apagou-se, quando acelerei, sinal de que podia continuar a acelerar.
A pista de terra (curtinha) de Interlagos já oferecia a primeira curva, à esquerda. Somente conhecia a pista por ter dado duas voltas antes, ao lado do Gumpert. Mas isto já serviu para que pudesse saber qual o uso das marchas. Das cinco existentes, todas muito longas, fiquei restrito à primeira e segunda. A primeira, apesar de curta, levava o carro a 90 km/h indicados no pequeno velocímetro, quando o ponteiro do contagiros estava a 7.500 rpm. E a segunda, nas mesmas rotações, fazia o carro chegar quase a 150... De repente o motor limpou, e pude sentir os 42 kgm de torque à disposição. O carro é, realmente, incrível. Não deu jeito para aferir as marcas indicadas pela Volkswagen, mas ficou a sensação que este carro consegue mesmo acelerar de zero a cem em apenas 4,9 segundos. E, numa boa estrada, deve fazer de verdade os 260 km/h propalados.
Mas o carrossel da pequena pista de terra se sucedia e eu ia, aos poucos, me sentindo mais confiante. A tração nas quatro rodas desse automóvel, que funciona constantemente, ao contrário do modelo normal de rua, onde ela pode ou não ser ligada, não nos permite dirigir tanto com o acelerador. Explico melhor: quando você pode mover as rodas dianteiras diretrizes através do volante e pode mover também as traseiras, independentemente das dianteiras, através do acelerador, na verdade você tem condições de consertar eventuais derrapadas com a frente ou com a traseira. Entretanto, quando ao pisar no acelerador você traciona simultaneamente as quatro rodas, não dá para isolar a ação do trem traseiro.
Dessa forma, o único jeito de andar forte com o Audi Quattro de Rali é procurar aproveitar a sua neutralidade quase que absoluta e, quando ele "escapar", coisa que acontece com as quatro rodas simultaneamente, dar motor levemente, a fim de que a aderência se restabeleça. Os pneus especiais, parece que se "encaixam" na terra solta e o carro volta a obedecer. Então é hora de pisar firme no acelerador. Conseguimos, em pouco tempo, dominar o automóvel, da forma descrita.
Ao nosso lado, impassível, ia o corajoso Fernando Calmon, da Auto Esporte. Que somente abriu a boca para dizer: "Marazzi, aí tem um buraco ... "
Os quatro freios a disco param bem o carro, mesmo na terra solta. O freio de mão, somente nas traseiras, poderia ser usado, eventualmente, para iniciar algumas derrapagens controladas, coisa que a tração total não facilita.
O ruído do motor, apesar dos 330 . cavalos de potência a 6.500 rpm, não é elevado. Pelo escapamento, quando se tira o pé do acelerador, sai uma grande chama amarelada, mostrando que parte do combustível está sendo desperdiçada. Afinal, o turbocompressor está interessado em fazer o motorzinho de cinco cilindros e 2,2 litros (semelhante, na sua construção, ao do Passat) desenvolver o máximo de sua potência e não economizar combustível. Mesmo assim, na sua versão de rua, o Audi Quattro pode chegar a fazer - segundo a Volkswagen - 12 km/1itro na estrada e 7 km/1litro na cidade ...
A suspensão do carro testado era dura como pedra, mas baseia-se em elementos conhecidos: é independente nas quatro rodas, do tipo McPherson.
A direção do carro responde bem, usando pinhão e cremalheira. O peso, em condições de marcha, vai a 1.200 . quilos. O sistema de alimentação emprega a injeção direta Pierburg e Turbo KKK. O comando de válvulas, como no Passat, situa-se no cabeçote e é único, acionado por correiá dentada.
CONCLUSÃO
Embora rápido, o prazer de pilotar um dos carros de Turismo mais velozes e sofisticados do mundo valeu a expectativa, as decepções, a espera e até mesmo a terra que ficou entranhada em minhas roupas e (poucos) cabelos. Realmente, é uma sensação bastante agradável poder dominar todos aqueles cavalos. Para o motorista brasileiro comum, com quem me identifico e de quem procuro interpretar as reações, não há nada igual para se experimentar por aqui. Nem mesmo parecido. Expedito Marazzi

O nº 27 da exelente revista MOTOR3 de Setembro de 1982 trouxe meu amigo Expedito Marazzi testando o AUDI QUATTRO , seu texto como sempre é ótimo , emocionado , contagiante . As fotos são de Alex Soletto .