A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach
Mostrando postagens com marcador Chico Landi. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Chico Landi. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 8 de abril de 2014

YES, NÓS TEMOS CORRIDAS


Atualmente, o mundo é uma aldeia global, é fácil ao torcedor brasileiro assistir à apresentação de um esportista de renome, um top liner, seja de que modalidade for, sem contar os recursos audiovisuais. Mas antigamente, seria tão mole assim? Tudo era longe, o Brasil era longe e no caso do automobilismo, tínhamos por aqui locais ainda acanhados e alguns outros se desenvolvendo ainda e que com certeza não atrairiam os grandes nomes de destaque. Certo? Errado. O lado de baixo do Equador sempre contou com eventos importantes e com a presença dos maiores. Achille Varzi, piloto italiano, rival único de Tazio Nuvolari aqui esteve em 1947, no GP da Gávea no Rio. Abandonou a prova e ainda assistiu outro notável “ás” do volante, Luigi “Gigi” Villoresi, de Maserati 4CL, perder a corrida para Chico Landi e seu Alfa 308. E o que dizer do badaladíssimo GP de São Paulo de março de 1949, realizado uma semana antes do GP da Gávea? Nessa ocasião, não esteve no Brasil apenas Gigi Villoresi, como também Giuseppe Farina e o fantástico Alberto Ascari. Cabe ressaltar que dentro de um ano, Nino Farina seria o campeão mundial de automobilismo, pilotando a histórica Alfetta 158 sem contar a trajetória de Ciccio Ascari, vice-campeão para Fangio em 1951 e bicampeão da F1 entre 52-53. Em São Paulo, os dois campeões enfrentariam Chico Landi e sua Maserati 1500, orgulho da torcida. Ascari dispunha de um Maserati 1500 também, assim como Villoresi. Farina teria uma Ferrari 2000. Landi contava com o Alfa 3000 que comprara de Achille Varzi, mas que vendera ao carioca Henrique Casini. Por ocasião do IV GP de São Paulo, os pilotos fizeram um acordo. Casini emprestaria ao Landi o carro que já lhe pertencera. Os carros dos pilotos brasileiros estavam em atividade há mais de dois anos e não podiam competir em condições de igualdade com os carros que os italianos estavam trazendo, todos novos. Enquanto esperava, Landi treinou com o Maserati 1500. Junto ao pole Farina (3’53”20) e Ascari (3’57”40), Landi (4’06”00) dividiu a primeira fila com Jaime Neves em sua Alfa 3000. 


Luigi "Gigi" Villoresi pilota uma Maserati 4CLT  em Silverstone - 1948.
 Alberto "Ciccio" Ascari pilota uma Alfa Romeo Alfetta 1948. Carro que daria em 1950 no primeiro mundial de Formula Um o titulo à Nino Faraina.

 No centro Chico Landi na largada do GP de Bari 1951 com uma Maserati 8CLT . "Seu" Chico havia vencido a prova no ano de 1948 pilotando uma Ferrari 166SC.  
Ciccio na Maserati 4 CLT
Giusepe "Nino" Farina vence o primeiro mundial de F.Um 1950.
Nino com a Alfetta vence a primeira corrida da moderna F.Um em Silverstone 1950.

No dia da prova porém, Chico Landi foi surpreendido pela recusa de Henrique Casini em cumprir o acordo que haviam feito. Casini resolveu poupar o Alfa para a prova da Gávea e não só não enviou o carro como nem apareceu com qualquer justificativa. Mas o espetáculo teria de prosseguir. Na largada, Farina tomou a ponta, acompanhado de Landi, Villoresi e Ascari. Ainda na primeira volta no Retão, Landi passou Farina, mas seu maior conhecimento da pista não lhe serviria muito. Na 2ª volta, Gigi Villoresi era o ponteiro e a ele juntar-se-ia Nino Farina. A briga italiana deixou Landi para trás porém na quinta volta, Farina assume a ponta e distancia-se de Gigi Nazionale. Mais atrás, problemas para o piloto brasileiro. Uma biela fez Chico Landi abandonar na 8ª volta. Chico todavia consegue retornar com a Maserati 3000 de Francisco Credentino. Com problemas mecânicos, quem faz uma corrida apagada é Ciccio Ascari, cada vez mais atrasado. Problemas tirarão da prova o favoritíssimo Farina, que perdeu uma roda na Curva do Lago e tudo beneficiou Luigi Villoresi. Gigi vence com Chico Marques em segundo. Ascari é apenas o quarto uma volta atrás e Landi, com o carro emprestado em quinto. Tudo no dia em que dois campeões do mundo, andaram por esta terra. Bem como o pai de Alberto, Antonio Ascari, que contam, também aqui esteve não como piloto e sim como trabalhador.

Caranguejo

------------------------------------------------------------------------------------------

Gigi e Ciccio
Gigi um grande piloto que sobreviveu à loucura que eram os carros de corridas de sua época!


"Caranguejo, você sabia que Ciccio correu no Brasil?", assim começou este post, horas incontáveis de conversas ao telefone e muitas pesquisas depois e sem encontrar sequer uma foto da corrida em Interlagos meu amigo escreve este interessante texto de uma época que parece apagada da memoria de nós que gostamos de automobilismo!  

Aos grandes pilotos aqui citados e à todos outros que nunca se apagarão de nossas lembranças!

Rui Amaral Jr

Uma de nossas fontes de pesquisa o jornal "O Estado de São Paulo"  
acervo digital




quinta-feira, 14 de março de 2013

Porsche 550 RS

Certamente o Porsche 550 RS Spyder foi o carro que levou a fabrica alemã ao topo do automobilismo. Sua estréia nas pistas foi no ano de 1954, várias de suas peças foram aproveitadas dos 356 de competição. O carro que mostro, pelo que sei, foi pilotado no Brasil por quatro pilotos, Chico Landi, Crhistian "Bino" Heins, Luciano Mioso e Paulo Amaral.     


Chico Landi
Crhistian "Bino" Heins vencendo em Interlagos
Luciano Mioso e Paulo Amaral, na foto, correram os 500 KM de Interlagos 1961 com ele. 
A letra "A" ao lado no numero se refere à categoria até 2 litros. 
Este carro foi comprado por Paulo e Luciano de José Gimenez Lopez



terça-feira, 16 de outubro de 2012

Chico e Celso


Ontem mostrei a foto de seu Chico e Celso nos 500 KM de Porto Alegre, hoje mostro algumas fotos desses dois monstros de nosso automobilismo!
Seu Chico com um futuro Alicatão!
Celso na Maserati #27
Será que o Caranguejo estava aí?
"A foto é o registro da participação do Chico Landi no I Circuito Zona Sul, percurso Guaíba-Bagé-Camaquã. Landi foi o segundo colocado com um Nash na etapa até Bagé e teve problemas na etapa de Camaquã. Acho meio difícil que eu estivesse por lá, já que a prova foi no dia 13 de maio de 1950, doze anos antes de eu nascer. Curiosidade é que nessa mesma data, em um velho aeródromo inglês, Silverstone, era disputada a etapa inicial de uma categoria que iria perdurar e chegar até nossos dias: a Fórmula 1.
Caranguejo"

Chico #12 com a Maserati 8CLT largando em Bari, 1951 
Chico em Interlagos


Celso e a Maserati na capa da Quatro Rodas de Julho de 1961
Nesta foto Lulu e Chico, uns vinte e poucos anos após aquela primeira.





1968 - CHICO LANDI EM INTERLAGOS

Celso vence os 500 KM de Interlagos 1960





segunda-feira, 16 de julho de 2012

ANTOLÓGICAS

Chico Landi
GP da Holanda, Zandvoort 1952, #28Duncan Hamilton, HWM-Alta 7º colocado e Chico Landi, Maserati A6GCM 9º lugar.

GP da Holanda Zanvoort, Wolfgang von Trips vence com a Ferrari 156 - Shark Nose

FOTOS: Getty Images



segunda-feira, 2 de abril de 2012

Seu Chico

Seu Chico, largando em Bari 1948, com a Maserati  8CLT.
Aqui ele no Touring Club ao lado de outras feras de nosso automobilismo. É o menor de jaqueta e gravata.


Outra historinha.
Chico Landi, um dos pioneiros do automobilismo brasileiro, tem a seu crédito, três vitórias na Gávea em 1941-47-48, além de ser o primeiro piloto brasileiro que marcou pontos no Mundial de F1.
Em sua maior vitória na Gávea em 1947, derrotou Luigi Villoresi e Achille Varzi, que guiavam Maseratis iguais ao seu.
Gigi Villoresi saiu na frente,mas Landi o ultrapassou. Chovia torrencialmente e Chico passou a ter problemas com uma vela encharcada. Quando passava pelo box, fazia sinais que iria parar. A equipe de Villoresi viu e o mandou esperar que o brasileiro desistisse para reassumir a ponta. Landi resolveu arriscar e na descida da Serrinha, desligava o motor, torcendo que o compressor secasse a vela. Como a chuva tinha passado, em algumas voltas ela secou. Chico retomou seu ritmo e venceu. Depois da bandeirada ao cumprimentá-lo, Gigi disse que somente Ele poderia ter secado a vela. E apontou para a estátua do Cristo Redentor.
Diretamente do projeto "Dados", by Henrique Mercio.
Caranguejo

Chico na foto segura Junior Lara Campos, ao lado outros grandes nomes de noso automobilismo Elóy e Celso e Luiz Carlos Lara Campos.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

SPEED III

Mostro novamente este post em que meu irmão conta do amigo Agnaldo de Goes, e sua loja de automóveis, a SPEED. Pois bem, recentemente encontrei na Quatro Rodas edição de Março de 1963 um relato de meu amigo Expedito Marazzi, de uma visita a ela e dos grandes carros que lá estavam. Na matéria algumas fotos, que mostram alguns amigos e carros, como a Ferrari descrita por meu irmão e alguma outras jóias. Acredito que aquele Porsche 356 seja de nosso amigo Kiki. 
-----------------------------------------------------------------------


Agnaldo Araújo de Góes Filho.
Agnaldo foi piloto , dirigente , dono de equipe , um baita cara , foi sua a Equipe CEBEM , única representante da alemã BMW no Brasil , onde trabalhava também nosso amigo Kiki - Karl H . Kraus - antes disso possuía uma loja de autos na Av. Sto. Amaro . A seguir um relato de meu irmão Paulo Amaral sobre seu amigo.



Não vejo o Agnaldo nesta foto, mas sentado no Porsche, atrás nosso amigo Kiki, que tempos depois trabalhou com Agnaldo na CEBEM, revendedora BMW.

" Sua loja no inicio da Av. Sto. Amaro chamava-se SPEED AUTOMÓVEIS , tinha duas entradas grandes , e era bem profunda , basicamente os carros com que ele trabalhava , eram automóveis de corrida , como FERRARI , MASERATI , MECÂNICA CONTINENTAL e autos de luxo , como ROLLS ROYCE , LINCON CONTINENTAL e outros , ao todo caberiam em sua loja mais de vinte autos , e por lá sempre achávamos preciosidades . Certa vez ele me ofereceu uma FERRARI BERLINETA 12 cilindros uma maravilha , fiquei com este carro por algum tempo , pelo que me lembro era do Chico Landi . Era uma maravilha seu motor não roncava , "URRAVA" , um dia na Av. Paulista dei uma esticada em 1º que foi até os 90 KM/H , andar nela era muito bom ,apesar de difícil condução . Vendo atualmente os valores destes carros , vejo a fortuna que ele teria hoje guardada , só que na época eram caros mais não valiam tanto . Lembro também da alegria com que ele nos recebia , amigos e clientes , sempre encontrávamos com Celso Lara Barberis , Chico Landi , Camilo Cristofaro , Ciro Cayres , Gilberto Demargos e outros .Certa vez ele me ofereceu a FERRARI TESTAROSSA 3000 em que o "Veludo" se acidentou na curva 2 , depois de algumas voltas com ela resolvi não comprá-la , era muito rápida . Este era meu amigo Agnaldo , sinto saudades das reuniões que fazíamos todas as tardes em sua loja , de onde nós saiamos para ir até o Totem , uma lanchonete muito bem acabada , montada em lona como uma tenda árabe de luxo , seu terreno era de esquina bem amplo e sua comida muito boa e foi o precursor de drive in no Brasil seu nome vinha do enorme totem indígena na sua entrada , que também era na Av. Sto. Amaro , próximo de sua loja e ponto de encontro de automobilistas e kartistas , onde estavam sempre o Cláudio Daniel Rodrigues , Luiz Pereira Bueno, Maneco Combacou , e meus amigos Victor Simonsen , Acácio Canário Mancio o "Geléia" , Gilberto Demargos , "Kiki" , Ricardo Amaral , Niltinho "Gun" Guinter , Luciano Mioso , Fernando Simonsen . Tudo isso vale como lembrança dos bonitos anos 60 "

Quatro Rodas acervo digital, Março de 1963.

AOS AMIGOS; de ontem e de hoje.

 

sábado, 25 de junho de 2011

O raid dos grandes pilotos



Publicado primeiramente no Jornal Zero Hora - Porto Alegre-RS

24 de junho de 2011





sexta-feira, 1 de abril de 2011

SPEED - II


Agnaldo Araújo de Góes Filho.
Agnaldo foi piloto , dirigente , dono de equipe , um baita cara , foi sua a Equipe CEBEM , única representante da alemã BMW no Brasil , onde trabalhava também nosso amigo Kiki - Karl H . Kraus - antes disso possuía uma loja de autos na Av. Sto. Amaro . A seguir um relato de meu irmão Paulo Amaral sobre seu amigo.
















Agnaldo e a Testarossa nos 500 KM de Interlagos 1961, foto enviada por seu filho Ricardo.


" Sua loja no inicio da Av. Sto. Amaro chamava-se SPEED AUTOMÓVEIS , tinha duas entradas grandes , e era bem profunda , basicamente os carros com que ele trabalhava , eram automóveis de corrida , como FERRARI , MASERATI , MECÂNICA CONTINENTAL e autos de luxo , como ROLLS ROYCE , LINCON CONTINENTAL e outros , ao todo caberiam em sua loja mais de vinte autos , e por lá sempre achávamos preciosidades . Certa vez ele me ofereceu uma FERRARI BERLINETA 12 cilindros uma maravilha , fiquei com este carro por algum tempo , pelo que me lembro era do Chico Landi . Era uma maravilha seu motor não roncava , "URRAVA" , um dia na Av. Paulista dei uma esticada em 1º que foi até os 90 KM/H , andar nela era muito bom ,apesar de difícil condução . Vendo atualmente os valores destes carros , vejo a fortuna que ele teria hoje guardada , só que na época eram caros mais não valiam tanto . Lembro também da alegria com que ele nos recebia , amigos e clientes , sempre encontrávamos com Celso Lara Barberis , Chico Landi , Camilo Cristofaro , Ciro Cayres , Gilberto Demargos e outros .Certa vez ele me ofereceu a FERRARI TESTAROSSA 3000 em que o "Veludo" se acidentou na curva 2 , depois de algumas voltas com ela resolvi não comprá-la , era muito rápida . Este era meu amigo Agnaldo , sinto saudades das reuniões que fazíamos todas as tardes em sua loja , de onde nós saiamos para ir até o Totem , uma lanchonete muito bem acabada , montada em lona como uma tenda árabe de luxo , seu terreno era de esquina bem amplo e sua comida muito boa e foi o precursor de drive in no Brasil seu nome vinha do enorme totem indígena na sua entrada , que também era na Av. Sto. Amaro , próximo de sua loja e ponto de encontro de automobilistas e kartistas , onde estavam sempre o Cláudio Daniel Rodrigues , Maneco Combacou , e meus amigos Victor Simonsen , Acácio Canário Mancio o "Geléia" , Gilberto Demargos , "Kiki" , Ricardo Amaral , Niltinho "Gun" Guinter , Luciano Mioso , Fernando Simonsen . Tudo isso vale como lembrança dos bonitos anos 60 "


sábado, 29 de janeiro de 2011

Hernando da Silva Ramos

Hernando com o Gordini T32 em Monza.

Esta semana escrevendo sobre Moss ao assistir o vídeo do GP de Mônaco de 1956, estranhei e achei que lá estava uma Bugatti 251. Estranho pois ela fez apenas uma corrida nas mãos de Trintingnant que foi o GP da França em Reins e depois foi abandonada.
Pois bem o enciclopédico Caranguejo, veio em minha ajuda esclarecendo que se tratava do brasileiro Hernando da Silva Ramos e que havia chegado em 5º lugar no GP de Mônaco de 56 pilotando um Gordini T16.
Outro dia escrevendo sobre a chegada de Emerson à Formula Um recebi um comentário dizendo que ele não era o primeiro brasileiro na categoria. Seu Chico correu esporadicamente na Formula Um, Gino Bianco, Fritz D`Orey também.
Hernando fez na década de 50 perto sessenta corridas em várias categorias de ponta do automobilismo mundial, inclusive a F I, e no GP de Mônaco de 1956 alcançou o quinto lugar pilotando um Gordini T16.
A titulo de curiosidade uma publicação nacional "matou" o piloto que ainda é vivo.
Mais sobre ele no meu amigo Carlos de Paula.




Por Henrique Mércio e Rui Amaral Jr.     



sábado, 8 de janeiro de 2011

Uma Mulher na Largada - Parte final



A prova "Washington Luis" foi dividida em quatro etapas nos seus mais de 2.000 quilometros de estradas. Dada a largada oficial, no quilometro 12 da Via Anhanguera, as atenções voltaram-se a dois pilotos favoritos: o paulista Chico Landi e o gaúcho Catharino Andreatta.

Pela ordem de largada, Landi, que venceu a primeira etapa, saiu na frente, mas, Catharino não o perdeu de vista até próximo à localidade de São Manoel, quando o motor da carretera Ford número 10 do gaúcho teve problema na distribuição elétrica, obrigando-o a parar.

No entanto, o pior ainda estava pela frente. Devido à falha na sinalização do trajeto da corrida, tanto Catharino quanto os demais pilotos concorrentes tomaram uma estrada errada.

Quando o erro foi percebido, todos trataram de voltar imediatamente a fim de pegar o caminho certo. Só que, nessa manobra, uns carros estavam indo e outros voltando a 150km/h, na mesma estrada de chão!

O inevitável ocorreu: Catharino trombou sua carreteira com a de Julio Vieira. Por sorte, os danos gerais não impediram que todos continuassem na disputa. O gaúcho acelerou mais ainda e já na cidade de Sorocaba estava em primeiro lugar.

Dali para frente só deu Catharino até receber bandeirada final no mesmo ponto de partida da prova na Via Anhanguera, sagrando-se vencedor da disputa. Tanto ele, quanto os demais pilotos, não pouparam críticas ao Automóvel Clube do Brasil, pelas gritantes falhas na organização da corrida.

Tanto é que o major Vila Forte, da Força Aérea Brasileira, que acompanhou de avião todo o desenrolar da contenda, disse que não acreditava que uma prova dessas pudesse ser realizada com tantos obstáculos aos pilotos.

Do alto, ele viu trombadas, capotamento de carros, "mata-burros", pontes sem guardas e trechos urbanos sem policiamento. Ou seja, era um "Deus nos acuda"! Felizmente, entre vivos e mortos, todos se salvaram e Catharino Andreatta mais uma vez mostrou a competência dos gaúchos no automobilismo de competição brasileiro.

Ah, e a Kitty Fabri? Ela atrasou-se bastante com seu Ford 1942 e não acompanhou o ritmo da corrida, pois, já na cidade de Campinas teve pane na parte elétrica do seu carro.

Mas, a sua presença, a única mulher, numa corrida de carros dessa envergadura nos idos de 1949, foi um fato extraordinário, exemplo para outras que a seguiram. Numa foto de hoje, a largada oficial da prova na Via Anhanguera. Na outra, Catharino, seu mecânico (D) e sua carreteira "Galgos Brancos".


Por Ari Moro

Publicado primeiramente no Jornal do automóvel/Tribuna e Paraná Online
06/01/2011 às 00:00:00 - Atualizado em 05/01/2011 às 22:54:31

Nossos agradecimentos ao amigo e grande jornalista Ari Moro a cedência deste.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Antigomobilistas relembram a Extraordinária Corrida, em 1940 - I


O dia 14 do corrente mês de novembro será data muito especial tanto para os antigomobilistas quanto para todas aquelas pessoas que possuem "gasolina na veia" e são apaixonadas por corridas de carro.

Nesse dia, serão comemorados os 70 anos da largada, sob chuva intensa, dos até heróicos pilotos e carros participantes do "Grande Prêmio Bi-Centenário de Porto Alegre".

A prova levou um punhado de entusiastas do automobilismo de competição brasileiro e uruguaio a se lançarem numa verdadeira aventura sobre um trajeto de chão, saibro, pedras, buracos, lama, poeira, pontes precárias, planícies, serras, falta de recursos, totalizando 2.076 quilômetros , entre o Rio de Janeiro e a capital gaúcha, passando por Curitiba, numa das corridas de estrada mais eletrizantes e saudosas do Brasil..

A maratona foi concluída em 27 horas, 59 minutos, 1 segundo e 4 décimos, sendo o grande vencedor o piloto Clemente Rovere, de Florianópolis/SC, a bordo da carreteira Ford número 16, com média horária de 73,971 km , considerada excelente face ao estado de conservação das estradas. Imagine o leitor o que existia no Brasil em termos de estradas em 1940. Pavimentação asfáltica?

Praticamente nada. Somente o trecho entre Curitiba e São Paulo/SP exigia um dia inteiro de viagem por parte de um caminhão Ford F-8 carregado com pouco mais de 10 mil quilos e se chovesse muito no denominado "Banhado Grande", a refrega poderia durar até uma semana!

Daí classificarmos de extraordinário o feito, tanto por parte dos responsáveis pela organização da prova quanto dos intrépidos pilotos. A vontade de participar do evento era tanta que teve piloto, como Ernesto Ranzolin, que comprou na revenda Ribeiro Jung, de Porto Alegre/RS, um Ford 1940 cupê zero quilometro, para correr com o veículo!

A partir desta edição começaremos a publicar resumo da página gloriosa que retrata o que foi essa fantástica corrida de carros, com ênfase sobre o desempenho do piloto Ernesto Ranzolin, gaúcho da cidade de Antonio Prado radicado em Lages S /C por ocasião do evento. Isto, graças à fundamental colaboração da jornalista Graziela Rocha, de Passo Fundo/RS, que coletou precioso material histórico.

A prova foi dividida em quatro etapas, sendo Rio de Janeiro/ São Paulo, São Paulo/Curitiba, Curitiba/Florianópolis e Florianópolis/Porto Alegre, as quais abordaremos separadamente.

Numa das fotos de hoje, flagrante do "café com biscoito" oferecido pelo presidente do Automóvel Clube do Brasil - Herbert Moses (centro) - a pilotos e convidados, antes da largada, no Rio, vendo-se o vencedor Clemente Rovere (esquerda, de gravata borboleta) e Chico Landi (todo de branco, à direita); na outra, dia 14/11/1940, às 7,00 horas, sob chuva, 23 carros alinham em frente ao Automóvel Clube/Rio, para a largada da prova. Não perca a sequência da história!


Por Ari Moro

Artigo publicado primeiramente no Jornal do Automóvel de Curitiba-PR e Paraná Online
11/11/2010 às 00:00:00 - Atualizado em 11/11/2010 às 04:57:25

domingo, 14 de novembro de 2010

70 ANOS

Raid Rio de Janeiro-Porto Alegre dezembro de 1940 - revista Touring.

- Momento após a chegada do Vice-Campeão da Corrida Automobilística Rio/Porto Alegre, o Sr. Ernesto Ranzolin, com o carro #26 Ford V8 1940, em frente a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, na tarde do domingo, dia 17 de novembro de 1940, sendo muito aplaudido pela multidão ali presente. Recebeu a bandeirada às 15h e 24 minutos.
Ernesto está satisfeito com o seu desempenho. Por sua brilhante corrida, foi muito festejado pelos seus parentes e amigos.
Tempo total do Rio de Janeiro à Porto Alegre:
29 horas 57 minutos e 17 segundos com velocidade média de 69 Km e 113 metros por hora, considerada excelente, devido ao mau estado das estradas com as grandes chuvas. Após a bandeirada final, o piloto Ernesto Ranzolin é escoltado pelo oficial da corrida.

 - Aspecto do café oferecido pelo Sr. Herbert Moses – Presidente do Automóvel Clube do Brasil aos pilotos e convidados. Vê-se de gravata borboleta o piloto Clemente Rovere e a direita, de branco, o grande volante brasileiro Chico Landi.

Há 70 anos a 1ª prova automobilística no Brasil

Sexta-Feira, 12/11/2010 por Meirelles Duarte | categorias Memórias do Esporte


Graças à internet, que abre e supera as fronteiras do Mundo, o programa Esportes no 20, do Canal 20 da NET, foi e continua sendo acompanhado nos Estado Unidos por um médico gaúcho que há 20 anos lá trabalha mas não se desvincula do seu Brasil e, principalmente, do seu Rio Grande do Sul: Antonio Ranzolin. Amante do automobilismo, por razões familiares, eis que filho de Ernesto Ranzolin, mantém com a jovem passo-fundense, hoje residente em Itapema, Graziela Menegaz Rocha, troca de informações o que levou a jovem jornalista e pesquisadora a tomar conhecimento da 1ª prova automobilística brasileira de longo percurso. A grande competição que movimentou todo o país foi em homenagem ao bi-centenário de Porto Alegre. Grandes nomes tomaram parte, pilotos que com o passar dos anos, em provas futuras, tornaram-se conhecidos no mundo do automobilismo. Organizada pelo Automóvel Clube do Brasil e com o prestígio do Touring Club do Brasil, a prova tinha como percurso Rio de Janeiro até Porto Alegre. Como as estradas eram de péssima qualidade, foi a competição dividida quatro etapas. Exatamente no dia 14 de novembro de l940 era dada a largada no Rio de Janeiro, presentes as mais altas autoridades do mundo político, esportivo, empresarial. Num total de 500 quilômetros, esta etapa concluía em São Paulo. Para a segunda etapa seriam cumpridos 496 quilômetros, entre São Paulo e Curitiba. Da capital paranaense até Florianópolis seriam mais 444 quilômetros. Finalmente a etapa final entre Florianópolis e Porto Alegre num total de 636 quilômetros. É bom registrar que ao final de cada etapa os corredores tinham tempo de recuperar suas máquinas e eles próprios, pois eram muito exigidos física e mentalmente. Toda a atenção dos gaúchos se voltava para a figura de Ernesto Ranzolin, pai do médico já referido e que forneceu detalhes, recortes de jornais e fotos à jovem Graziela, filha de Nelson Rocha, outro apaixonado do automobilismo, chegando às nossas mãos para juntarmos ao farto material desta modalidade esportiva. O vencedor foi o catarinense Clemente Rovere Dos 23 que deram a largada, somente 9 conseguiram completar a corrida.O grande favorito, o campeão uruguaio Suplici Sedes, teve fundido seu motor a poucos quilômetros da chegada. O 2º colocado foi o gaúcho Ernesto Ranzolin que recebeu a bandeirada às 15 horas e 27 minutos pilotando seu Ford V8 l940, nº 26. Foi delirantemente recebido, já que o vencedor era catarinense e torcida praticamente inexistia. Os 9 que conseguiram chegar, além do vencedor Clemente Rovero, e vice, o gaúcho Ernesto Ranzolin, os outros 7 foram, 3º Adalberto Moraes, 4º Oscar Bins, 5º Antonio Perez, 6º Raulino Miranda, 7º Iberê Correa, 8º  Ari Cortese e 9º Salvador Pereira. A média de toda a prova foi de 69 quilômetros 113 metros, o que atesta a péssima qualidade das estradas em todos os percursos tendo, a prova consumido 29 horas e 57 minutos da largada a chegada em Porto Alegre. Apesar de pequenas provas que se realizava no interior da Capital ou entre uma e outra cidade, esta que nos referimos é tida como a primeira na história do automobilismo brasileira e que neste domingo, dia 14, completa 70 anos de sua largada no Rio de Janeiro. Fica o devido registro para os amantes deste esporte que nos deu tantas alegrias e nos tornamos orgulhosos de nossos competidores nos anos seguintes, somando-se conquistas que ficaram imortalizadas no histórico do automobilismo brasileiro.

Ao Dr Antonio Ranzolin, Nelson Marques da Rocha e sua filha Graziela e ao jornalista Meirelles Duarte meus sinceros agradecimentos. Rui Amaral Jr

domingo, 7 de novembro de 2010

ACIDENTES AUTOMOBILÍSTICOS DE PILOTOS GAÚCHOS, CONVIDADOS (PILOTOS) E CIRCUITOS GAÚCHOS, LAMENTAVELMENTE AS MORTES FORAM MUITAS - capítulo I

1˚) GP Cidade de Porto Alegre, 15 de novembro de 1935, no Circuito do Cristal (1˚ de ruas da capital gaúcha) acontecia também a exposição do Centenário da Revolução Farroupilha.

O resultado foi homologado junto a F.I.A:

1˚ lugar: Norberto Jung com Ford V/8, #16

2˚ lugar: Olyntho Pereira com Ford V/8, # 12

3˚ lugar: Oscar Bins com Ford V/8, # 4

4˚ lugar: Joaquim Fonseca com Ford Modelo A, #8

O piloto uruguaio Ramon Sierra, capotou seu Ford V/8, # 2 nos treinos, felizmente ele e seu co-piloto não se machucaram.

2˚) G.P Folha da Tarde (vespertino gaúcho), em 14 de fevereiro de 1937, no Circuito do Cristal

Resultado da prova:

1˚ lugar: Nascimento Junior com Ford V/8, #6

2˚ lugar: Olyntho Pereira com Dodge, #2

3˚ lugar: Quirino Landi com Bugatti, #10

Oscar Bins, ótimo piloto gaúcho, capotou seu Ford V/8, #8, fraturando a clavícula

3˚ ) Prova Rádio Gaúcha/Folha da Tarde, em 17 abril de 1938, no Circuito do Cristal

Resultado:

1˚ lugar: Júlio Carvalho com Ford V/8, #4

2˚ lugar: Clemente Rovere com Ford V/8, #14 de Santa Catarina

3˚ lugar: Norberto Jung com Ford V/8, #10

4˚ lugar: Oscar Bins com Ford V/8, #16

5˚ lugar: Diogo Ellwanger com Ford V/8, #22

Diogo inicia nesta prova, aos 22 anos de idade carreira esplendorosa, foi tetra campeão gaúcho, sempre na Força Livre.

Morreu num acidente durante os treinos, o repórter da Folha da Tarde, Plauto Azambuja Soares e feriu-se gravemente, o repórter do Correio do Povo, Saady R. Saady quando davam uma volta no circuito, no carro Ford V/8 do piloto Carlos de Martini, que emprestara o carro para a dupla sentir a sensação.

Ainda na 1ª volta, aconteceu outro acidente, gravíssimo, o piloto Antônio Costa Fonseca, chocou-se com um poste, ferindo-se gravemente, seu mecânico, Oswaldo Mancini morreu.

4˚) Copa Rio Grande do Sul, 26 de setembro de 1948, promoção do jornal Diário de Notícias/Banco Agrícola Mercantil

Prova esta disputada por 824 km, que teve como resultado:

1˚ lugar: Alcídio Schröeder com Ford 1939, #14, de Passo Fundo-RS

2˚ lugar: Ernesto Ranzolin com Ford 1947, #14, de Lages-SC

3˚ lugar: Oscar Antônio Silva com Mercury 1940, # 40

4˚ lugar: José C. F. Bastos com Ford

5˚ lugar: Nicolau Corvina com Mercury

Nesta prova aconteceu gravíssimo acidente quando quatro espectadores morreram e quarenta ficaram feridos, quando um dos últimos pilotos largou, sobrou na curva fechada, quase no fim da Avenida Farrapos, o protagonista, Antônio Fonini de Guaporé-RS, dirigia carretera Ford V/8.

A prova não foi suspensa.

*Ernesto Ranzolin, radicado em Lages-SC era gaúcho de Antônio Prado, na serra gaúcha.

5˚) Prova Washington Luiz, em 08 e 09 de outubro de 1949, na capital e interior de São Paulo

Resultado da prova:

1˚ lugar: Catharino Andreatta com Ford V/8

2˚ lugar: Oscar Bay com Ford V/8, de Caxias do Sul

3˚ lugar: Luiz Ambrósio com Ford V/8

4˚ lugar: Godofredo Viana Filho

Acidentes: Aristides Bertuol, caiu num rio com sua Sedanete Chevrolet 1948, ele e o acompanhante não se feriram;

Argemiro A. Pretto foi atropelado por um trem em sua carretera Chevrolet;

Ambos acidentes aconteceram por falta de sinalização.

O acidente fatal envolveu Chico Landi que ficou sem freio em sua Nash 1948, atropelando um espectador ao jogar carretera numa parede.

Agradeço ao amigo Nelson Marques da Rocha, de Passo Fundo-RS, a parceria neste.

Continua na próxima semana!


terça-feira, 27 de outubro de 2009

PEQUENA HISTÓRIA DO AUTOMOBILISMO BRASILEIRO



Circuito da Gávea no Rio de Janeiro: as primeiras corridas no Brasil
por Renato Castro Barranco, Luis Fernando Ramos e Bob Sharp - revisão de Paulo Scali e Antonio Carlos Buarque de Lima
Tudo começou em 1906, com uma corrida de carros oficialmente organizada pelo Automóvil Club Argentino, a Buenos Aires - El Tigre - Buenos Aires. Antes, ocorreram corridas de carros extra-oficiais, no Brasil e na Argentina, organizadas pelos próprios participantes. Em 1902 aconteceu uma corrida de carros no Hipódromo Paulistano da Moóca entre 3 cavaleiros, sendo vencedor o Sr. José Paulino. Na Argentina houve em 1899 uma corrida entre 2 triciclos a motor.

A primeira corrida de automóveis oficialmente organizada no Brasil por um clube automobilístico - no caso o Automóvel Club de São Paulo - aconteceu em 26 de julho de 1908, em Itapecerica da Serra - São Paulo. O vencedor foi Sylvio Álvares Penteado, pilotando um Fiat de 40 cavalos e aclamado como herói por uma multidão de dez mil pessoas. Somente oito anos depois é que os carros voltariam a circular em São Paulo disputando uma corrida, quando um grupo de pilotos resolveu disputar uma prova num percurso entre São Paulo e Ribeirão Preto.


O primeiro carro de corridas brasileiro foi construído de 1933 a 1939 por João Geraldo Woerdenbag, da
" Woerdenbag Motors", na Rua do Senado n°. 341 - bairro Riachuelo, Centro do Rio de Janeiro.
Foi vencedor do III Gávea Nacional de 1940, pilotado por Rubens Abrunhosa, com motor Studebaker
e chassis próprio. Para quem não sabe, João Geraldo é pai do Tomás, que continuou na mesma oficina na
Rua do Senado, até falecer em agosto 2004 e do João Luís, que foi da Motorfix, uma excelente oficina nos
anos 1980 na Rua Assunção, em Botafogo. Atualmente, João Luis, já falecido -- pai do cantor
Lobão -- cuidava dos carros da família Marinho, no Rio de Janeiro.
No Rio de Janeiro, o nome Gávea é originário da maravilhosa pedra de 842 metros que se levanta quase à beira-praia entre a desembocadura do Rio Cachoeira e a Ponta do Marisco, integrante do Maciço da Tijuca. Este nome foi dado pelos portugueses por acharem a mesma parecida com a gávea de um veleiro, vista do mar.

Manuel de Teffé e seu Alfa Romeo, vencedor do "1º Prêmio Cidade do Rio de Janeiro" no Circuito da Gávea -1933
Neste famoso bairro, no final da década de 1920 e inicio da década de 1930 foram realizadas as primeiras corridas de automóveis regulares. A década de 30 marcou o florescimento do automobilismo no Brasil. Alguns anos após a entrada no País de montadoras como a Ford e a General Motors, as competições começavam a se multiplicar. Algumas delas, como a Prova de Subida de Montanha de Petrópolis, já atraíam alguns competidores estrangeiros.
Manuel de Teffé, piloto que regressava da Europa, onde teve alguns êxitos neste esporte, teve a idéia de trazer para o Brasil o circuito de corridas de automóvel, para que o evento tivesse repercussão internacional.
A idéia foi aceita e levada ao então presidente Getúlio Vargas, que prometeu todo o apoio. Na temporada oficial de turismo de 1933, o Automóvel Club do Brasil promoveu o circuito Niemeyer--Gávea, com o título "1º Prêmio Cidade do Rio de Janeiro", no domingo 1º de outubro, que contou com a participação do piloto Chico Landi.
Então o Automóvel Club do Brasil resolveu pleitear o direito de sediar uma prova que integrasse o calendário oficial da Federação Internacional do Automóvel. O pedido foi aceito e surgiu aí o Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro. O local escolhido foi o Circuito da Gávea, um traçado de rua com mais de 11 quilômetros que contornava o Morro Dois Irmãos.

A largada era na Rua Marquês de São Vicente, quase em frente a então sede antiga do A.C.B.. Aliás, passei por lá no começo deste ano e me cortou o coração ao ver o velho casarão ser demolido. É uma vergonha como falta o respeito à memória do Brasil!! Mas, voltando ao assunto, o trajeto seguia pelas Avenidas Bartolomeu Mitre, Visconde de Albuquerque, Niemeyer e Estrada da Gávea, onde hoje é o bairro da Rocinha.

Um Alfa Romeo 8C 2300 Monza, passando pela linha de chegada na Rua Marquês de São Vicente, Gávea

Com mais de 100 curvas e diferentes tipos de piso (asfalto, cimento, paralelepípedo e areia), o traçado era um verdadeiro desafio à perícia e ao arrojo dos pilotos.

O local de largada, em que os carros cruzavam os escorregadios trilhos de bonde, aumentavam o nível de periculosidade.

Tudo isso junto rendeu o apelido de ?Trampolim do Diabo? ao Circuito da Gávea, que completou 71 anos da primeira corrida de 1933.

O automobilismo no Brasil ainda estava engatinhando. Em 1933, com esta inauguração do "Trampolim do Diabo" foi que realmente o Brasil passou a fazer parte do calendário do automobilismo internacional.
As três primeiras corridas contaram com praticamente apenas corredores sul-americanos. O fato mais marcante foi na corrida de 1935 quando Irineu Corrêa, que vencera no ano anterior, morreu ainda na primeira volta após se chocar com uma árvore e cair no canal do Leblon. Um dos pilotos mais talentosos que este País já teve, Irineu se destacava também em provas na Argentina e chegou a vencer uma corrida nos Estados Unidos, provavelmente a primeira vitória de um brasileiro no Exterior. Sua morte chocou o público da então Capital Federal.
A bandeirada de vitória a Irineu Correa, vencedor do II Circuito da Gávea - 1934
Notem a imensa platéia sobre a ponte do canal da Av. Visconde de Albuquerque, no Leblon.
Vários carros de passeio adaptados para corridas em oficinas de fundo de quintal participaram da prova -- vencida pelo Barão de Teffé -- junto com as "baratinhas", como eram conhecidos os carros de corrida monopostos da época.

Manuel de Teffé e seu Maserati no "Circuito de Petrópolis" - 1935
O vencedor do Circuito da Gávea de 1935 foi o mecânico e corredor ítalo-argentino Ricardo Carú, com um Fiat 519 adaptado. Carú nasceu na Itália e migrou para a Argentina, onde não conseguia vencer corridas de carros, mas obtinha uma quantidade notável de segundos lugares, motivo pelo qual era chamado nesse país de "El Eterno Segundo". Sua vitória no Brasil foi a primeira de sua carreira.
A corrida de 1936 marcou a chegada de competidores de peso. A Scuderia Ferrari, que na época ainda era o departamento de competições da Alfa Romeo, trouxe ao Rio dois de seus pilotos do segundo escalão, Carlo Pintacuda e Attilio Marinoni. A prova contou também com a participação da francesa Hellé-Nice, que causou um escândalo ao posar para fotos com um biquíni de duas peças e fumando na praia de Copacabana. A piloto não terminou a corrida e sofreu um grave acidente no mês seguinte, correndo em São Paulo, o que encerrou prematuramente sua carreira.
Os italianos da Ferrari também não tiveram sorte e abandonaram com o diferencial quebrado, com a vitória caindo no colo do argentino Vittorio Coppoli. Carlo Pintacuda não se deu por vencido e voltou para ganhar as duas edições seguintes.


Do trajeto do circuito, existe até hoje a Gruta da Imprensa, que é um platô destinado aos jornalistas da época que faziam a cobertura desse evento. No desenrolar de 21 anos de disputas do circuito da Gávea, houve sete interrupções motivadas por dificuldades diversas.

A corrida do Circuito da Gávea, tirada do Mirante do Leblon na década de 40, que mostra a Av. Visconde de Albuquerque e o Canal, quase sem nenhuma casa na região - foto acervo familiar André Decourt.
Tal era o progresso do esporte automobilístico mundial, que chegou a constituir manchete de sensação da imprensa internacional, fazendo famoso em todo mundo o bairro da Gávea e seu Circuito...

Foi nessa época que os brasileiros, apaixonados pelo novo esporte, descobriam num italiano seu primeiro ídolo ao vencer a corrida de 1937.

Seu nome: Carlo Pintacuda.

Adorado onde quer que estivesse, venceu também em 1938 e a partir daí passou a ser conhecido como o "Herói da Gávea"...
Sua mais espetacular corrida foi a de 1937, quando derrotou o potente Auto Union pilotado pelo alemão-austríaco Hans Stuck von Vielliez. A combinação de uma leve chuva com o travado circuito fez com que a óbvia vantagem do carro germânico fosse neutralizada.
Hans Stuck von Vielliez competiu no Brasil pela primeira vez em 1932, vencendo a corrida de Subida de Montanha da Rio-Petrópolis com um Mercedes-Benz SSKL. Na ocasião fez elogios à engenharia civil brasileira, pelos viadutos de concreto armado dessa estrada, espetados em cima de abismos, afirmando que nunca vira coisa igual em estradas de montanha européias.
No braço, Pintacuda derrotou Stuck por uma margem mínima e assinalou uma das poucas vitórias de um carro italiano sobre um alemão nos anos dourados do automobilismo, a década de 1930, antes da eclosão da II Guerra Mundial. Durante muitos anos, a palavra ?Pintacuda? foi incorporada ao linguajar carioca como sinônimo de motorista audacioso e o italiano chegou a virar tema de uma marchinha de carnaval, a "Marcha do Gago".
Esta singela marchinha foi do Carnaval de 1950, autoria de Armando Cavalcanti e Klécius Caldas, com intepretação de Oscarito, lançada no filme da Atlântida "Carnaval no Fogo", de 1949. O nome completo de Oscarito, nascido em Málaga, Espanha, em 16/8/1906 e vindo ainda bebê para o Brasil, era Oscar Lorenzo Jacinto de La Imaculada Concepción Teresa Dias. No filme, a mocinha era Adelaide Chiozzo, a acordeonista; o mocinho; Anselmo Duarte e o vilão; José Lewgoy. Oscarito faleceu em 4 de agosto de 1970, aos 64 anos. Bob Sharp diz que tinha oito anos na época e assistiu a esse filme não sabe nem quantas vezes.
É interessante salientar que haviam se passado onze anos desde a última vitória de Pintacuda na Gávea --1938 -- quando surgiu a "Marcha do Gago", o que evidencia quão profundamente ele deixou seu nome gravado na mente dos cariocas pela sua atuação nas curvas do Trampolim do Diabo, onde a letra dizia, imitando a voz de um gago, que só corria rápido para beijar:
Pintacuda e Hellé Nice .

Ta-ta-ta tá na hora
Va-va-va vale tudo agora
Sou mo-mole pra fa-falar
Mas sou um Pintacuda pra beijar.
(bis)
Eu fico ga-ga-ga-ga gago dentro do salão
Até pa-pa-pa-pago pra não ver canhão
Mas se a do-do-do-do-dona é boa
A minha língua se destrava à toa!


Carro passando pelos guardas postados na Avenida Visconde de Albuquerque, antes
de entrar na Avenida Niemeyer - foto acervo familiar André Decourt.


Foi a conselho de Stuck que a famosa corredora francesa de carros, ex-dançarina de "strip-tease" de cassino e ex-acrobata Mariette Hélène Delangle, a "Hellé-Nice" , veio competir no Brasil em 1936, nos Circuitos da Gávea (GP do Rio de Janeiro) e do Jardim América (GP de São Paulo), com seu Alfa Romeo 8C 2300 Monza.
O pseudônimo da francesa, grafado de outra forma, virou prenome de mulher no Brasil. Além disso, tal com Pintacuda mas em menor escala, ela ficou associada no Brasil à velocidade. Durante anos na cidade de São. Paulo, quando uma mulher motorista imprimia velocidade excessiva ao seu carro era admoestada com a indagação: "Quem você pensa que é? "Hellé-Nice...???".

Por causa da Segunda Guerra, o Circuito da Gávea foi interrompido de 1942 a 1946, retornando em 1947, , encerrando o reinado de Pintacuda. O piloto brasileiro Chico Landi, depois de sete anos de tentativas frustradas, teve a primeira das três vitórias na Gávea, sendo a de 1947 a mais espetacular. Sob um dilúvio bíblico, Landi bateu os ótimos italianos Achille Varzi e Luigi Villoresi.
Após ter seu motor encharcado logo na segunda volta, quando pegou uma enxurrada na Avenida Niemeyer, Landi conseguiu economizar uma parada nos boxes fazendo a vela secar com ventilação forçada, fazendo boa parte do percurso em descida com o motor desligado! Um golpe de gênio que não passou despercebido pelos Italianos e lhe rendeu convites para correr (e brilhar) na Europa nos anos seguintes.
Vale destacar ainda a primeira das duas edições de 1952, disputada em janeiro. O recém-coroado campeão mundial Juan Manuel Fangio - argentino - fez sua única participação na Gávea. Era o favorito, abriu uma avenida de vantagem na primeira volta mas teve seu diferencial quebrado na passagem seguinte. A vitória ficou com o ?Touro dos Pampas? José Froilán Gonzalez. Chico Landi teve um incidente e fez uma corrida de recuperação, chegando em segundo lugar e registrando a volta mais rápida da história do circuito com 7 min 03 s.
O piloto, mecânico e corredor brasileiro Odilon Barcellos com seu Bugatti modificado com motor
Chevrolet em uma das voltas do Circuito da Gávea na corrida de 1935, vencida pelo ítalo-argentino
Ricardo Carú, subindo a Avenida Niemeyer. Notem o "Hotel Leblon", ao fim da Av. Delfim Moreira,
esquina da Av. Visconde de Albuquerque...
A última corrida na Gávea, em janeiro de 1954, foi a única regulamentada para carros esporte, sendo que todas as outras ocorreram na especificação ?Força Livre?. Chico Landi era o franco favorito, mas um pneu furado no seu Ferrari 166 o obrigou a mais uma corrida de recuperação, o que o relegou ao segundo lugar.
Venceu o suíço Emmanuel de Graffenried, com Maserati 2-litros, que anos mais tarde foi presidente da FIA e ainda hoje lidera uma associação dos antigos pilotos de Grand Prix.
Vários ídolos passaram pelo circuito, entre eles o já famoso Juan Manuel Fangio e seu compatriota José Froilán Gonzalez, mas com Interlagos funcionando a pleno vapor e com um traçado que se tornara obsoleto para os carros dos anos 1950, as corridas na Gávea nunca mais ocorreram.
Ficou o papel histórico de ter colocado o Brasil na rota das competições internacionais e de ter plantado nesta nação uma paixão absoluta pelas corridas de automóveis, ainda hoje impregnada em gente como eu e você. E também em um certo ?Barão? Wilson Fittipaldi que, ainda adolescente, fugiu dos pais e viajou escondido ao Rio de Janeiro para, trepado numa árvore, assistir ao sensacional pega entre Pintacuda e Stuck.

Há ainda alguma dúvida que as corridas na Gávea foram a ignição para o sucesso brasileiro nas pistas de todo o mundo?
O Circuito da Gávea completo, com 11,6 quilômetros
Em seus 21 anos de existência, o Circuito da Gávea abrigou dezesseis corridas -- treze delas, vencidas por carros Maserati, Alfa Romeo e Fiat, atualmente todas as três pertencentes ao Grupo Fiat -- nomes, marcas e lendas que entraram definitivamente para a história do automobilismo brasileiro.

Lista de vencedores e velocidades-médias do GP Cidade do Rio de Janeiro
1933 ? Manuel de Teffé (BRA/Alfa Romeo) ? 67,162 km/h de média
1934 ? Irineu Corrêa (BRA/Ford V8) ? 70,817 km/h
1935 ? Ricardo Carú (ARG/Fiat) ? 68,792 km/h
1936 ? Vittorio Coppoli (ARG/Bugatti) ? 70,776 km/h
1937 ? Carlo Pintacuda (ITA/Alfa Romeo) ? 82,827 km/h
1938 ? Carlo Pintacuda (ITA/Alfa Romeo) ? 78,372 km/h
1941 ? Chico Landi (BRA/Alfa Romeo) ? 80,889 km/h
1947 ? Chico Landi (BRA/Alfa Romeo) ? 78,696 km/h
1948 ? Chico Landi (BRA/Alfa Romeo) ? 85,710 km/h
1949 ? Luigi Villoresi (ITA/Maserati) ? 82,806 km/h
1952 ? José Froilán Gonzalez (ARG/Ferrari) ? 90,321 km/h
1952 ? Henrique Casini (Ferrari) ? 72,906 km/h
1954 ? Emmanuel de Graffenried (SUI/Maserati) ? 76,275 km/h

Lista de vencedores do Circuito da Gávea Nacional
1938 ? Arthur Nascimento Jr. (Alfa Romeo) ? 81,608 km/h
1939 ? Manuel de Teffé (Maserati) ? 81,602 km/h
1940 ? Rubem Abrunhosa (Studebaker) ? 78,861 km/h

NT: Recebemos , a Graziela Rocha e eu esta maravilhosa história do Circuito da Gávea de Luiz Henrique Withers do Club do MP Lafer de Curitiba /PR , a quem agradecemos . Agradecemos as
fotos da corredora Helle Nice ao amigo Paulo Peralta e o filme postado por Nelson Pasini .





href="http://www.bandeiraquadriculada.com.br/">http://www.bandeiraquadriculada.com.br/