A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach
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terça-feira, 12 de julho de 2011

COPA RIO GRANDE DO SUL 1948


Por Nelson Marques da Rocha
Publicado primeiramente no jornal Zero Hora, coluna Túnel do Tempo
08 de julho de 2011

quarta-feira, 6 de julho de 2011

PASSO FUNDO SOBRE RODAS, DAS BARATAS ÀS CARRETERAS

No dia 26 de setembro de 1948 acontecia a Copa Rio Grande do Sul, promovida pelo Diário de Notícias e patrocinada pelo Banco Agrícola Mercantil S.A., esta grande prova, a maior acontecida no Estado, em 824 km e com gride de largada de 28 carros.
Largada e chegada em Porto Alegre, passando pelas cidades: São Leopoldo, Nova Petrópolis, Caxias do Sul, Vacaria, Lagoa Vermelha e Passo Fundo; fim da primeira etapa, onde os carros e pilotos foram abastecidos.
Esta etapa foi vencida por Ernesto Ranzolin, bom de braço e pé pesado, gaúcho de Antônio Prado-RS, mas radicado em Lages-SC, assediado por Alcídio Schröeder, o Leão da Serra, representando Passo Fundo, e bota assédio nisso.
Para o trecho final, com chegada na capital, inverteram-se as posições, em 1º lugar, chegou Alcídio e em 2º lugar Ranzolin.
Na soma dos tempos, Alcídio levou os lucros da vitória.
Alcídio teria dito na parada, em Passo Fundo, que a corrida seria dele, pois conhecia o trajeto como a palma da mão. Eis que era motorista de ônibus, da linha Passo Fundo/Porto Alegre.
As bandeiradas de largada e chegada foram dadas pelo governador do Estado, Valter Jobim.


Resultado:
1º lugar: Alcídio Schröeder com Ford V/8, 1939, Nº 14
2º lugar: Ernesto Ranzolin com Ford V/8, 1947, Nº 10
3º lugar: Oscar Antônio Silva com Mercury, 1941, Nº 20
4º lugar: José C. F, Bastos com Ford V/8 Nº 40
5º lugar: Nicola Corvina com Mercury, Nº 54
Da grande festa automobilística, a lamentar o gravíssimo acidente em que participou o piloto Antônio Fonini Filho com a carretera Ford V/8, Nº 30, de Guaporé, um dos últimos pilotos a partir, quando sobrou na fechada curva, já no fim da Av. Farrapos, atropelando muitos assistentes: quatro morreram no local e quarenta ficaram feridos, a prova não foi suspensa.


Curiosidades:Germano João Rigotto, correu com Cadilac Sedanete, Nº 28 (pai do ex-governador Rigotto, do RS.)
Com caminhonete Ford V/8, Nº 12, participou Ulisses Bottaro
Com Stubacker, Nº 22, disputou Felipe Mollé
Com Jaguar Mk-V, Nº 50 disputou Erwino Franke
A rádio Farroupilha que transmitiu toda a prova, deslocou posto para Passo Fundo.
O Ministro da Defesa, Nelson Jobim é neto do Governador Valter Jobim.


Relação dos Acompanhantes:Alcídio: Carlos E. Rochester;
Ranzolin: Hélio Malta;
Oscar: Guilherme G. Haas;
Bastos: Ivo Dienstmann;
Nicola provavelmente correu só. A mídia não cita acompanhante.

Assim fica mais um registro da 1ª Copa do Rio Grande do Sul


Fontes:


Antônio Ranzolin, filho do exímio piloto Ernesto Ranzolin, EUA
Museu da Comunicação Social, José Hipólito da Costa, Porto Alegre-RS
Armando C. Burlamaque, Passo Fundo-RS
Nelson Marques da Rocha, Passo Fundo-RS

Por Graziela Marques da Rocha

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Os gaúchos e suas brilhantes carreteiras - por Ari Moro

Alcidio Schröeder ocupa lugar de destaque na galeria formada pelos mais expressivos pilotos de carreteira do Rio Grande do Sul, ao lado de Catarino Andreatta, Breno Fornari, Diogo Luis Ellwanger e muitos outros.

Um de seus feitos mais brilhantes foi vencer na categoria Força Livre, uma prova da Copa Rio Grande do Sul de automobilismo de competição, disputada em 26 de setembro de 1948.

Dessa memorável prova participaram 28 carros, numa distância de 824 quilometros de estradas de chão, com saída de Porto Alegre/RGS e passagem pelas cidades gaúchas de São Leopoldo, Caxias do Sul, Vacaria, Lagoa Vermelha e Passo Fundo, onde pilotos e carros paravam para descanso, consertos e reabastecimento.

Dali partiam a Marau Casca, Guaporé, Bento Gonçalves, Farroupilha, Feliz, São Sebastião do Caí e novamente Porto Alegre. A chegada, para quem resistisse, acontecia na avenida Farrapos esquina de rua São Pedro, bairro Floresta, na capital gaúcha.

Numa das fotos de hoje (acervo do antigomobilista gaúcho Nelson M. Rocha), flagrante da chegada do vencedor Alcídio Schröeder e sua carreteira Ford 1939, número 14, recebendo a bandeirada dada pelo então Governador Valter Só Jobim, avô do ex-Ministro do Superior Tribunal Federal e atual Ministro da Defesa Nelson Jobim.

Em segundo chegou Ernesto Ranzolin, gaúcho radicado em Lages/SC, com a carreteira Ford 1947 número 10 e em terceiro lugar Oscar A Silva com a carreteira Mercury 1941 número 40.

Taça Bardhal

Outro piloto de carreteira gaúcho de expressão cujo nome está gravado naquela galeria é Orlando Menegaz.

Nos dias 23 e 24 de novembro de 1957 ele disputou e venceu, em parceria com outro astro do automobilismo de competição do Rio Grande do Sul - Aristides Bertuol, a II Mil Milhas Brasileiras, tendo como palco o autódromo de Interlagos, em São Paulo/SP.

Na oportunidade, pilotou a carreteira Chevrolet número 4, equipada com motor de Corvette, perfazendo 200 voltas no traçado de 8 quilometros. Em segundo ficou a dupla Catarino Andreatta/Diogo Luis Ellwanger com a carreteira Ford número 2 e em terceiro lugar a dupla Julio Andreatta/Dirceu Oliveira com a carreteira Ford número 6, todos pílotos gaúchos.

A grande experiência dos gaúchos em provas de longa duração explica o sucesso deles nas primeiras Mil Milhas. Na outra foto de hoje (acervo daquele antigomobilista também) aparecem funcionário da Promax (E), radialista Antonio Augusto Meireles Duarte e Orlando Menegaz (Passo Fundo/RS), ao lado da carreteira número 4 e da imensa Taça Bardhal, esta com 1,80m de altura. Este maravilhoso troféu trazia, ao seu pé, plaqueta na qual eram gravados os nomes dos vencedores das provas Mil Milhas Brasileiras.

Agradeço ao jornalista e amigo Ari Moro de Curitiba-PR, a cedência deste que foi publicado primeiramente no Jornal do Automóvel de Curitiba e Paraná Online.
26/08/2010 às 00:00:00 - Atualizado em 25/08/2010 às 20:57:18

sábado, 13 de março de 2010

As carreteras de Passo Fundo e seus audazes pilotos - Relembrando XVI

A postagem original  de Graziela Rocha é do dia 8 de Novembro de 2009, e recebemos à pouco a foto do Governador Walter Jobim dando a bamdeirada a um dos participantes. Agradecemos esse privilégio ao Museu Hipólito José da Costa - MUSECOM - e a Sra Denise, Coordenadora do Acervo Fotográfico.  


Inicio descrevendo-as

As carreteras, carros de corrida que iniciaram as competições automobilísticas em Passo Fundo derivaram das "baratas" (coupes) Ford e Chevrolet dos anos 1937 a 1940, de onde eram retirados pára-lamas, pára-choques, bancos e outros itens, com modificações em suspensões, freios e motores num primeiro estágio. Seu nome, herdado dos "hermanos" argentino-uruguaios significa estrada/rodovia.

Um pouco da história

Quarta-feira, 14 de abril de 1926, o jornal O Nacional então bi-semanário noticiava a vitória fácil de uma baratinha amarela (possivelmente uma Ford), num desafio em plena Avenida Brasil centro.

Em 15 de junho de 1928 o mesmo jornal, O Nacional, noticiava a mais longa disputa automobilística do Estado, até então.

Itinerário

Júlio de Castilhos a Passo Fundo com retorno a Júlio de Castilhos até a praça central.

Distância

586 km por um caminho ao longo da via férrea.

Vencedor

Carlos Fumagalli, com Ford contra Cyrus Bastos, com Chevrolet.

A relação entre as notícias, Passo Fundo entrando de pé embaixo nas competições. E no noticiário jornalístico sobre automobilismo, desta vez com repercussão estadual.

Como seria o futuro

O Desenrolar

O próximo evento, envolvendo nossa cidade, ocorreu no circuito do Cristal, em Porto Alegre, no dia 18 de julho de 1943, quando realizou-se a prova para carros movidos a gasogênio - gás pobre produzido pela queima de lenha ou carvão em equipamento pesadão, anti-estético, anti-aerodinâmico, colocado geralmente na traseira das baratas.

Com todos os anti-contra, o gasogênio possibilitou que parte dos automóveis, pick-ups e caminhões continuassem rodando sem a gasolina que era toda importada, consequência da 2ª Grande Guerra Mundial.

O grid de largada foi ótimo, pois 20 e tantos carros alinharam. Ary Burlamaque foi exceção correndo por Passo Fundo com Oldsmobile 1942 e gasogênio à lenha, fabricado pela Indústria Menegaz de nossa cidade. Outro passo-fundense que alinhou foi Guaraci Almeida Costa. Nossos representantes não conseguiram as melhores colocações. Mas os futuros pilotos da terra começaram a fazer o dever de casa. Adquiriram suas baratas, desenvolveram conhecimentos mecânicos, testaram, experimentaram e deram-se por preparados para os embates que aconteceriam ali na frente.

A consolidação

E o grande dia chegou. Era 29 de setembro de 1948, domingo de manhã quando foi dada a largada para a Copa Rio Grande do Sul, na distância de 824 km com saída em Porto Alegre, passando por Caxias, Vacaria, Lagoa Vermelha, Passo Fundo retornando à capital do Estado. O grande vencedor foi Alcídio Schröeder representando Passo Fundo com carretera Ford, que lutou quase 9 horas contra chuva, barro, pouca visibilidade e um ferrenho piloto adversário. Recebeu a bandeirada do então governador do Estado, Walter Jobim. O Leão da Serra, como era conhecido Alcídio, foi o piloto pioneiro da capital do Planalto Médio e passou para os demais, seus predicados, na condução dos bólidos.No ano seguinte, 1949, Aido Finardi, o Rei das Curvas, deu continuidade à participação de pilotos de Passo Fundo em provas automobilísticas.

         Governador Walter Jobim dá bandeirada de largada, a carretera nº 2 arranca na frente.
           (Foto cedida pelo Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, Porto Alegre-RS)

                                                          A Evolução dos Motores


As carreteras Ford que usavam motores V8 59A e 8BA, inicialmente, passaram a usar o equipamento EDELBROOK com dois ou três carburadores o que elevava substancialmente os HP. Usaram depois os motores Ford 272, 292 e 302. A carretera Chevrolet melhorou muito com o cabeçote WAINE, mas deu salto importante quando usou motor V8 Chevrolet/Corvette. Passando a ser candidata a vitória em todas as provas que disputou.


Outras melhorias


Endureceram-se as suspensões, colocando-se mais um amortecedor por roda. A luta com os freios continuava inglória, bem como, contra o aquecimento. Colocaram-se tanques e bomba manual para injetar água no circuito na tentativa de resfriar os motores. Lá pelas tantas apareceu a câmara de ar dupla, que em caso de furo dava um tempo extra para o piloto/co-piloto.

As caixas de câmbio originais de três marchas foram substituídas algumas vezes pelas caixas de quatro marchas dos carros Jaguar.





A grande mexida no Chassi/Carroçaria


Aconteceu com a vinda do ótimo piloto argentino Juan Galvez, que disputou o 8º Circuito da Pedra Redonda - Porto Alegre - em 14 de julho de 1957 e que ganhou com sobras com carretera Ford. Terminada a prova, os pilotos gaúchos e a imprensa assimilaram o que o 'hermano' ensinou: "Hay que sacar hierro". As carreteras gaúchas transportavam mais ou menos 300 kg dispensáveis completamente e que foram eliminados com rapidez depois do ensinamento de Galvez com o uso de furadeiras elétricas portáteis e brocas afiadas.



A quadriculada agitou-se mais seguidamente


Somando-se as participações dos nossos pilotos, competimos no período de 1948 a 1962, em 73 provas disputadas, com 14 vitórias, 12 segundos lugares, 18 terceiro lugares, 11 quarto lugares e 9 quinto lugares como resultados mais expressivos, para os pilotos de Passo Fundo.



Ficaram na história os seguintes pilotos


Aido Finardi - Alcídio Schröeder - Daniel Winik - Ítalo Bertão - Orlando Menegaz - Sinval Bernardon.



As vitórias que mais ecoaram foram


- novembro de 1957: Mil Milhas Brasileiras (Interlagos), vencida por Orlando Menegaz e Aristides Bertuol com a Chevrolet Corvette de Bertuol representante, de Bento Gonçalves-RS;


- novembro de 1961: Mil Milhas Brasileiras (Interlagos) vencida por Ítalo Bertão e Orlando Menegaz com a Chevrolet Corvette da dupla passo-fundense;


- Orlando Menegaz foi o único piloto interiorano, a ganhar duas vezes as Mil Milhas de Interlagos, a prova mais importante do País.



O fim da era gloriosa


Aconteceu a partir da vitória da dupla Chico Landi e Jan Balder com BMW-2002 no circuito da Pedra Redonda (Porto Alegre) em 11 de agosto de 1968. O carro importado, de ótima mecânica, freio a disco nas quatro rodas e caixa de cinco marchas e pesando pouco.

A superioridade da BMW foi flagrante. Simultaneamente, por causa de acidentes, em provas anteriores era proibida a realização de corridas em ruas.Assim brusca e melancolicamente encerrou-se fase importante do automobilismo gaúcho, não sem antes revelar competentes mecânicos preparadores e exímios e audazes pilotos. Com isto abriu-se o caminho para os autódromos de Guaporé e Tarumã. As carreteras ainda hoje despertam os mais variados sentimentos. Nas crianças: medo (pelo ronco) e espanto. Nos jovens: curiosidade dada à aerodinâmica, e nos contemporâneos muitas lembranças que mexem com as emoções, não raras vezes levando às lágrimas.

Daniel Winik é o único piloto ainda vivo. Ele garante que relembrar é viver, sem dúvidas, ainda que as emoções sejam demais, ainda hoje, meio século passado.

Histórias e mais histórias, as brincadeiras que estes audazes e corajosos pilotos faziam, no mínimo, nos deixa saudade.



Curiosidades ligadas as carreteras e seus audazes pilotos.



- Orlando Menegaz foi o primeiro piloto gaúcho a usar cinto de segurança abdominal (tomado 'emprestado' de um avião DC-3 da Varig em vôo de Chapecó à Passo Fundo). Seus colegas recomendaram que não o usa-se, pois em caso de acidente ele estaria 'amarrado'. E o perigo de incêndio era muito grande;

 
- a famosa carretera Chevrolet/Corvette de números 9, 4, 24 ou 1 desafiada para correr contra um cavalo, de Vacaria-RS, na distância de 100 metros. Após vários testes, Orlando não topou a parada, ele soube antecipadamente do tempo do eqüino... A aposta era polpuda;



- Orlando com a poderosa carretera Corvette foi desafiado por Daniel Winik que correria a pé desde que Orlando largasse de 'capivara' (virado ao contrário). Ninguém explicou nunca o porquê do nome.
Local da largada ponte do Passo até o posto de gasolina na Avenida Brasil a subir, na distância de mais ou menos 300 metros. Tiro dado, os contendores foram à luta. Resultado, Winik ganhou com Orlando nos seus calcanhares.Orlando que ouvia mal, alegou que não ouviu o tiro, da largada, de revólver. Como desculpa;

                          Orlando Menegaz e parte de seus troféus - fazenda no Espírito Santo

- Winik ganhou outra aposta desta vez do Aido Finardi, cuja carretera disputava a Força Livre. Estabelecidos handicap (vantagem), hora e local os contendores apresentaram-se. A condição era que Winik não mexesse no motor de sua carretera que era Standard o que ele cumpriu, mas em compensação retirou a carroçaria completa, por recomendação do Orlando. Como o tiro era curto, Winik ganhou mesmo sentado num caixote e acelerando através de um arame. Aido pagou o churrasco alegando sempre que foi enganado;

- Winik disputou a 1ª Mil Milhas Brasileiras em Interlagos em novembro de 1956 com sua carretera Ford Nº. 34. Como foi rodando de Passo Fundo à São Paulo e para não ter problemas na estrada municiou-se com licença especial... O exímio Sinval Bernardon foi o co-piloto;
 - Outra do Winik: usou metade de uma melancia como capacete e uma soga (corda grossa) como cinto de segurança e exibiu-os para o fiscal do Automóvel Clube do Rio Grande do Sul que vistoriava as carreteras e pilotos, quanto às novas exigências de itens de seguranças.


Winik confirma tudo;


- Orlando perdeu outra, na tomada de tempo para uma das provas, circuito da Boa Vizinhança-RS, seu tempo foi igual à de piloto de Porto Alegre, concordaram resolver no cara/coroa, Orlando escolheu coroa e perdeu. A moeda tinha duas caras. Anos depois, ele ficou sabendo da 'marmelada';



- Antoninho Burlamaque, residiu em Passo Fundo entre 1943 e 1948, trabalhava com o irmão Ari Burlamaque, dono da concessionária GMC: Cadillac, Buick, Oldsmobile e Pontiac, onde conheceu entre outros, os pilotos de carretera e naturalmente, já foi 'contaminado' pelo vírus da velocidade.


Mudou-se para Caxias do Sul-RS e agora, sócio do Ari inauguraram a Auto Palácio Revenda GMC. As plantas da construção civil vieram da GMC dos Estados Unidos.


- Antoninho Burlamaque em 1950, por ocasião da prova Automobilística da Festa da Uva, adaptou um Oldsmobile 1950, novo do ano, para disputá-la, contra as carreteras inscritas.


No treino de adaptação, um pneu dianteiro estourou e o carro desceu um barranco. Depois de marteladas pra cá e pra lá, o Oldsmobile disputou a prova, entrando em 7º lugar. Drama maior viria depois, o Oldsmobile era do João Burlamaque, da concessionária Chevrolet de Guaporé-RS, irmão mais velho.


Em seguida, Antoninho adquiriu a carretera Ford do Alcídio Schröeder, com qual disputou algumas provas, sempre com problema de superaquecimento do motor que tentou resolver com a instalação de uma serpentina de canos d'água, por cima da capota, ligada ao radiador.



Agradeço aos meus queridos mãe e pai Jucélia Anna e Nelson M. Rocha a colaboração neste artigo.



Graziela Marques da Rocha


Passo Fundo-RS



domingo, 8 de novembro de 2009

As carreteras de Passo Fundo e seus audazes pilotos

Carratera Chevorlet/Corvette Nº.1 de Orlando Menegaz com as 4 rodas no ar

Inicio descrevendo-as

As carreteras, carros de corrida que iniciaram as competições automobilísticas em Passo Fundo derivaram das "baratas" (coupes) Ford e Chevrolet dos anos 1937 a 1940, de onde eram retirados pára-lamas, pára-choques, bancos e outros itens, com modificações em suspensões, freios e motores num primeiro estágio. Seu nome, herdado dos "hermanos" argentino-uruguaios significa estrada/rodovia.


Um pouco da história

Quarta-feira, 14 de abril de 1926, o jornal O Nacional então bi-semanário noticiava a vitória fácil de uma baratinha amarela (possivelmente uma Ford), num desafio em plena Avenida Brasil centro.

Em 15 de junho de 1928 o mesmo jornal, O Nacional, noticiava a mais longa disputa automobilística do Estado, até então.

Itinerário

Júlio de Castilhos a Passo Fundo com retorno a Júlio de Castilhos até a praça central.

Distância
586 km por um caminho ao longo da via férrea.

Vencedor

Carlos Fumagalli, com Ford contra Cyrus Bastos, com Chevrolet.

A relação entre as notícias, Passo Fundo entrando de pé embaixo nas competições. E no noticiário jornalístico sobre automobilismo, desta vez com repercussão estadual.

Como seria o futuro

O Desenrolar

O próximo evento, envolvendo nossa cidade, ocorreu no circuito do Cristal, em Porto Alegre, no dia 18 de julho de 1943, quando realizou-se a prova para carros movidos a gasogênio - gás pobre produzido pela queima de lenha ou carvão em equipamento pesadão, anti-estético, anti-aerodinâmico, colocado geralmente na traseira das baratas.

Com todos os anti-contra, o gasogênio possibilitou que parte dos automóveis, pick-ups e caminhões continuassem rodando sem a gasolina que era toda importada, consequência da 2ª Grande Guerra Mundial.

O grid de largada foi ótimo, pois 20 e tantos carros alinharam. Ary Burlamaque foi exceção correndo por Passo Fundo com Oldsmobile 1942 e gasogênio à lenha, fabricado pela Indústria Menegaz de nossa cidade. Outro passo-fundense que alinhou foi Guaraci Almeida Costa. Nossos representantes não conseguiram as melhores colocações. Mas os futuros pilotos da terra começaram a fazer o dever de casa. Adquiriram suas baratas, desenvolveram conhecimentos mecânicos, testaram, experimentaram e deram-se por preparados para os embates que aconteceriam ali na frente.


A consolidação

E o grande dia chegou. Era 29 de setembro de 1948, domingo de manhã quando foi dada a largada para a Copa Rio Grande do Sul, na distância de 824 km com saída em Porto Alegre, passando por Caxias, Vacaria, Lagoa Vermelha, Passo Fundo retornando à capital do Estado. O grande vencedor foi Alcídio Schröeder representando Passo Fundo com carretera Ford, que lutou quase 9 horas contra chuva, barro, pouca visibilidade e um ferrenho piloto adversário. Recebeu a bandeirada do então governador do Estado, Walter Jobim. O Leão da Serra, como era conhecido Alcídio, foi o piloto pioneiro da capital do Planalto Médio e passou para os demais, seus predicados, na condução dos bólidos.No ano seguinte, 1949, Aido Finardi, o Rei das Curvas, deu continuidade à participação de pilotos de Passo Fundo em provas automobilísticas.


Governador Walter Jobim dá bandeirada de largada, a carretera nº 2 arranca na frente
(Foto cedida pelo Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, Porto Alegre-RS)


A Evolução dos Motores

As carreteras Ford que usavam motores V8 59A e 8BA, inicialmente, passaram a usar o equipamento EDELBROOK com dois ou três carburadores o que elevava substancialmente os HP. Usaram depois os motores Ford 272, 292 e 302. A carretera Chevrolet melhorou muito com o cabeçote WAINE, mas deu salto importante quando usou motor V8 Chevrolet/Corvette. Passando a ser candidata a vitória em todas as provas que disputou.

Outras melhorias
Endureceram-se as suspensões, colocando-se mais um amortecedor por roda. A luta com os freios continuava inglória, bem como, contra o aquecimento. Colocaram-se tanques e bomba manual para injetar água no circuito na tentativa de resfriar os motores. Lá pelas tantas apareceu a câmara de ar dupla, que em caso de furo dava um tempo extra para o piloto/co-piloto.
As caixas de câmbio originais de três marchas foram substituídas algumas vezes pelas caixas de quatro marchas dos carros Jaguar.

A grande mexida no Chassi/Carroçaria
Aconteceu com a vinda do ótimo piloto argentino Juan Galvez, que disputou o 8º Circuito da Pedra Redonda - Porto Alegre - em 14 de julho de 1957 e que ganhou com sobras com carretera Ford. Terminada a prova, os pilotos gaúchos e a imprensa assimilaram o que o 'hermano' ensinou: "Hay que sacar hierro". As carreteras gaúchas transportavam mais ou menos 300 kg dispensáveis completamente e que foram eliminados com rapidez depois do ensinamento de Galvez com o uso de furadeiras elétricas portáteis e brocas afiadas.

A quadriculada agitou-se mais seguidamente
Somando-se as participações dos nossos pilotos, competimos no período de 1948 a 1962, em 73 provas disputadas, com 14 vitórias, 12 segundos lugares, 18 terceiro lugares, 11 quarto lugares e 9 quinto lugares como resultados mais expressivos, para os pilotos de Passo Fundo.

Ficaram na história os seguintes pilotos
Aido Finardi - Alcídio Schröeder - Daniel Winik - Ítalo Bertão - Orlando Menegaz - Sinval Bernardon.

As vitórias que mais ecoaram foram
- novembro de 1957: Mil Milhas Brasileiras (Interlagos), vencida por Orlando Menegaz e Aristides Bertuol com a Chevrolet Corvette de Bertuol representante, de Bento Gonçalves-RS;
- novembro de 1961: Mil Milhas Brasileiras (Interlagos) vencida por Ítalo Bertão e Orlando Menegaz com a Chevrolet Corvette da dupla passo-fundense;
- Orlando Menegaz foi o único piloto interiorano, a ganhar duas vezes as Mil Milhas de Interlagos, a prova mais importante do País.

O fim da era gloriosa
Aconteceu a partir da vitória da dupla Chico Landi e Jan Balder com BMW-2002 no circuito da Pedra Redonda (Porto Alegre) em 11 de agosto de 1968. O carro importado, de ótima mecânica, freio a disco nas quatro rodas e caixa de cinco marchas e pesando pouco.
A superioridade da BMW foi flagrante. Simultaneamente, por causa de acidentes, em provas anteriores era proibida a realização de corridas em ruas.Assim brusca e melancolicamente encerrou-se fase importante do automobilismo gaúcho, não sem antes revelar competentes mecânicos preparadores e exímios e audazes pilotos. Com isto abriu-se o caminho para os autódromos de Guaporé e Tarumã. As carreteras ainda hoje despertam os mais variados sentimentos. Nas crianças: medo (pelo ronco) e espanto. Nos jovens: curiosidade dada à aerodinâmica, e nos contemporâneos muitas lembranças que mexem com as emoções, não raras vezes levando às lágrimas.
Daniel Winik é o único piloto ainda vivo. Ele garante que relembrar é viver, sem dúvidas, ainda que as emoções sejam demais, ainda hoje, meio século passado.


Histórias e mais histórias, as brincadeiras que estes audazes e corajosos pilotos faziam, no mínimo, nos deixa saudade

Curiosidades ligadas as carreteras e seus audazes pilotos

- Orlando Menegaz foi o primeiro piloto gaúcho a usar cinto de segurança abdominal (tomado 'emprestado' de um avião DC-3 da Varig em vôo de Chapecó à Passo Fundo). Seus colegas recomendaram que não o usa-se, pois em caso de acidente ele estaria 'amarrado'. E o perigo de incêndio era muito grande;

- a famosa carretera Chevrolet/Corvette de números 9, 4, 24 ou 1 desafiada para correr contra um cavalo, de Vacaria-RS, na distância de 100 metros. Após vários testes, Orlando não topou a parada, ele soube antecipadamente do tempo do eqüino... A aposta era polpuda;

- Orlando com a poderosa carretera Corvette foi desafiado por Daniel Winik que correria a pé desde que Orlando largasse de 'capivara' (virado ao contrário). Ninguém explicou nunca o porquê do nome.
Local da largada ponte do Passo até o posto de gasolina na Avenida Brasil a subir, na distância de mais ou menos 300 metros. Tiro dado, os contendores foram à luta. Resultado, Winik ganhou com Orlando nos seus calcanhares.Orlando que ouvia mal, alegou que não ouviu o tiro, da largada, de revólver. Como desculpa;

Orlando Menegaz e parte de seus troféus - fazenda no Espírito Santo

- Winik ganhou outra aposta desta vez do Aido Finardi, cuja carretera disputava a Força Livre. Estabelecidos handicap (vantagem), hora e local os contendores apresentaram-se. A condição era que Winik não mexesse no motor de sua carretera que era Standard o que ele cumpriu, mas em compensação retirou a carroçaria completa, por recomendação do Orlando. Como o tiro era curto, Winik ganhou mesmo sentado num caixote e acelerando através de um arame. Aido pagou o churrasco alegando sempre que foi enganado;
- Winik disputou a 1ª Mil Milhas Brasileiras em Interlagos em novembro de 1956 com sua carretera Ford Nº. 34. Como foi rodando de Passo Fundo à São Paulo e para não ter problemas na estrada municiou-se com licença especial... O exímio Sinval Bernardon foi o co-piloto;
- Outra do Winik: usou metade de uma melancia como capacete e uma soga (corda grossa) como cinto de segurança e exibiu-os para o fiscal do Automóvel Clube do Rio Grande do Sul que vistoriava as carreteras e pilotos, quanto às novas exigências de itens de seguranças.
Winik confirma tudo;

- Orlando perdeu outra, na tomada de tempo para uma das provas, circuito da Boa Vizinhança-RS, seu tempo foi igual à de piloto de Porto Alegre, concordaram resolver no cara/coroa, Orlando escolheu coroa e perdeu. A moeda tinha duas caras. Anos depois, ele ficou sabendo da 'marmelada';

- Antoninho Burlamaque, residiu em Passo Fundo entre 1943 e 1948, trabalhava com o irmão Ari Burlamaque, dono da concessionária GMC: Cadillac, Buick, Oldsmobile e Pontiac, onde conheceu entre outros, os pilotos de carretera e naturalmente, já foi 'contaminado' pelo vírus da velocidade.
Mudou-se para Caxias do Sul-RS e agora, sócio do Ari inauguraram a Auto Palácio Revenda GMC. As plantas da construção civil vieram da GMC dos Estados Unidos.
- Antoninho Burlamaque em 1950, por ocasião da prova Automobilística da Festa da Uva, adaptou um Oldsmobile 1950, novo do ano, para disputá-la, contra as carreteras inscritas.
No treino de adaptação, um pneu dianteiro estourou e o carro desceu um barranco. Depois de marteladas pra cá e pra lá, o Oldsmobile disputou a prova, entrando em 7º lugar. Drama maior viria depois, o Oldsmobile era do João Burlamaque, da concessionária Chevrolet de Guaporé-RS, irmão mais velho.
Em seguida, Antoninho adquiriu a carretera Ford do Alcídio Schröeder, com qual disputou algumas provas, sempre com problema de superaquecimento do motor que tentou resolver com a instalação de uma serpentina de canos d'água, por cima da capota, ligada ao radiador.

Agradeço aos meus queridos mãe e pai Jucélia Anna e Nelson M. Rocha a colaboração neste artigo.

Graziela Marques da Rocha
Passo Fundo-RS