A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Conta Ceregatti conta!

Largada parece o Tide lá em último.




Essa prova da foto da curva da ferradura foi no segundo semestre de 1978, estréia do Tide Dalécio em corridas.
Pé pesado que é, logo no contorno de sua quinta curva já foi além, porém vítima do equipamento...
 
 

Fiquei muito emocionado quando vi essa foto, pois uma parecida, tirada um instante antes dessa e de um angulo mais frontal saiu na edição do dia seguinte no jornal O Estado de São Paulo.
Como lembro disso?
Porque esse "Auto Run" imenso fui eu mesmo que desenhei, recortei e colei com essas mãos, assim como o número 37. Tudo em papel contact azul e preto. A propósito: 37 porque o Alvaro "Bico" Guimarães, nosso amigo de São Bernardo corria com o 38. Um dos maiores demolidores de embreagens que conheci, assim como um dos maiores largadores de Interlagos que vi acelerar.
Ocorre que a Auto Run tinha sido fundada em Santo André pelo Tide e pelo Luis Garcia Perez - hoje homem forte da Koni by LG, em abril de 1978 em Santo André, lá na Avenida Atlantica onde hoje é um supermercado. Eu e o Luis estudávamos nessa época na ETI Lauro Gomes, e nos conhecemos lá fazendo um Formula Vê em 1975...
O Tide Dalécio era mecanico da Motorgirus, funcionário do Toninho, que está pertinho de lá até hoje, na Avenida Pereira Barreto, bem atrás de um prédio comercial enorme.
Esse fusca da foto foi feito em dias, e era o carro de entregas da oficina recém-fundada, comprado a prestação de um parente do Tide. Nem pago estava.
Um dia estávamos lá os tres, e surgiu a idéia de fazer um divisão 3 para o Tide correr, ele que acabava de fazer o curso de pilotagem Marazzi com o Passat azul de seu irmão Renato (o tonto aqui tambem estava lá, acompanhando as aulas e pondo defeito na tocada do rapaz... Sempre fui um entrão metido a besta, mesmo)
Sentados no capo do fusca, alguem disse: "E porque não esse carro aqui?"
Dito e feito: Tomada a decisão de fazer o carro, cada um saiu com uma missão. Lembro bem que o Luis comprou esses para-lamas azuis já prontos e pintados, e foi sem os faróis mesmo, só com os buracos entrando ventania pela frente...
Bloco usado daqui, amortecedores do Bacchi (é assim que escreve? Nem lembro) bielas vindas sei lá de onde ali, Webbers surgidos não se sabe de quem, mais santantonio soldado na madrugada, rodas e pneus usados terminamos o carro. O Tide lembra bem mais do que eu de outros detalhes, assim como o Luis.
Eu só lembro de queimar as mãos com solda, das dores nas costas, das noites insones enfiando a mão na graxa em busca de um objetivo comum... Amizade, juventude, companheirismo, esforço, amor pela coisa e uma enorme ansiedade e prazer por estar ali...
Precisamos contar direitinho e com mais detalhes essa história maluca e maravilhosa dessa nossa primeira (de uma longa série) de aventuras pelas pistas do Brasil, bando de jovens duros, sonhadores e motivados.
Na alinhamento para a largada, o pedal do freio quase não fazia efeito... O pé ia até quase a chapa e o carro andava pra frente e para trás...
Pois o Tide se enfiou no meio do bolo, desceu a um e a dois por fora (acho) contornou a tres e a quatro e na retinha pra ferradura o carro já vinha fumando... Com certeza pela tampa de válvulas, ou alguma guia que já voou só nesse trecho... No meio de um monte de feras já experientes, o estreante já mostrou a que veio.
Escorregou no óleo de alguem ou no dele mesmo, atravessou e deu essa rodada. Nós todos, assistindo excitados o nosso trabalho de dias e noites insones ficamos bem bravos com o Tidão... Eu mesmo queria esganar o irresponsável...
E no dia seguinte, o premio que ninguem esperava: A foto no Estadão, com aquele enorme "Auto Run" bem no meio, em destaque involuntário. Ótimo para uma oficina que estava apenas começando, uma tremenda publicidade.

E eu, orgulhoso por ter sido o maluco que cismou de fazer "o maior Auto Run que coubesse na lateral", que nos boxes parecia ridículamente exagerado mas que deu um retorno imenso...
Busquei por anos e anos essa foto, conversamos muitas vezes sobre ela, e de repente ela aparece aqui...
Me emocionei quando a vi, mandei um mail pro Luis que está lá em Santa Cruz do Sul com a Stock, e fui lá na Auto Run mostrar pro Tide, que tambem muito se emocionou, lembrando de passagens e detalhes que perdi na memória...
Trinta e dois anos se passaram, e graças a voces todo esse tempo voltou, toda essa emoção renasceu, como se fosse ontem.
Agradeço aos amigos, e peço que não economizem nas fotos que possuem, que despejem aqui.
Tenho certeza que em algum momento me verei numa delas, magro e de cabelos ainda pretos, imundo de graxa e feliz como nunca.

Abraços velozes a todos.

Claudio Ceregatti

NT: Pela manhã ao abrir meus e-mails vejo um do Ceregatti, longo como só um cara inteligente como ele escreve resolvi ler mais tarde. Aí me deparo com esse belo depoimento, uma história dentro das histórias que fazem de nosso automobilismo essa coisa maravilhosa, repleta de grandes pilotos, mecânicos, preparadores, gente que como o Ceregatti é, maluco pelo esporte. Obrigado Ceregatti e um abração. 

  

11 comentários:

  1. Grande Commendatore Cerega, é um prazer vê-lo por aqui contando suas histórias mais uma vez.
    E sempre com aquela paixão que lhe é peculiar.
    Testemunha ocular de muita coisa acontecida e vivida no nosso Templo principal.
    Isso é só um aperitivo do que pode vir por aí.
    Ninguem melhor que o Ceregatti para comentar uma deliciosa foto recheada de Fuscas descendo rumo a ferraduira.
    Romeu.

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  2. Otimo conentario, estou ai na largada acho que Amadeo Campos na pole Yoschikuma de passt ao seu lado e eu comendo poeira deles....só na largada, rsrsrs

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  3. FAntastic, meu caro Rui. Fantastic. Adoro essas histórias paralelas, mas fundamentais no grande roteiro de comédia com que Deus nos presenteou: a vida. Vida longa às nossas memórias!

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  4. Ceregatti, me emocionei ao ler esse relato, amor ao automobilismo é isso mesmo , trabalho intenso sem querer nada em troca, só o prazer de ver o nosso carro andando, que maravilha !!!, graças ao apoio de muita gente esta sendo possivel trazer de volta a era da Divisão 3, espero que o Rui coloque mais fotos e que voce possa enriquecer ainda mais com seu relatos.

    Grande Abraço

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  5. Pô Romeu, obrigado...
    Escrevo daqui da filial do paraíso na terra, a praia de Tabatinga. Mesmo cercado de natureza e beleza a gente não resiste a uma espiadinha enquanto a esposa não acorda...
    Falei ontem com o Tidão e avisei do post aqui. Mas ele, como bom piloto, quase não navega na Internet. E o Luis garcia está lá em santa Cruz do Sul com a Stock...
    Lembramo-nos de outros detalhes... Largamos em último (obrigado pela nova foto, Rui...) porque nem deu pra treinar. O cinto estava amarradinho adivinhem com o que? Tire-up? Nada disso, ainda não existia... Era no araminho mesmo. E por aí vai.
    Abraços aos amigos, e corro pra praia que é de graça...

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  6. Belo post e a história também.

    Assisti a esta corrida pois conhecia o Tide, meus carros eram sempre consertados na Auto Run.E sempre estava lá e ficar namorando o D3.

    abraços
    Fotos devidamente tratadas e guardadas a sete chaves.

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  7. Muito legal, mesmo. A foto do grid lá em cima é de emocionar ao ver tanto pinico atômico alinhado. E o texto do comendattore é simplesmente emocionante. Belíssimo post Rui.

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  8. Sem palavras, fotos e textos de arrepiar. Rui, você viu a Brasa do Cilento atrás do Troncon na largada? E aquele fusca bege e marrom não é do Lindau?
    Abraços,
    Fabiano.

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  9. Vi tudo Fabiano, o VW marron e beje é o do Lindau e a Brasilia do Adolfo.
    Só não vi meu #14.

    Um abraço

    Rui

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  10. Acreditei em tudo... Bem, quase tudo! Gosto de um texto bem escrito! Você se transporta e sente a mesma emoção de quem lá estava, décadas atrás! Mas, Ceregatti magro e de cabelos pretos??? Pô, manera! É tremenda cópia paraguaia... Kkkkkk! Abraços, Estopim!!!

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Rui Amaral Jr